Sheamus ligou para o seu pai falando das novas amizades e ele deixou o irlandês criado a água... Sério aquele moleque não deve comer desde que nasceu. Sanders nem ligava mais pro seu pai. Além de ele não estar em casa, seu irmão mais velho vivia na casa do Jaiminho. O irmão mais velho dele tocava na mesma banda da do irmão do Sanders. O irmão do Sanders era o baterista e o irmão do Jaiminho era o baixista. Sanders até aprendeu um truque e outro com ele.

Eu sei que eu ainda não falei o nome do irmão do Sanders, mas sinceramente, quem liga? Eu não ligo... O importante é que o nome artistico dele era engraçado. Krauser Beck! Mamonas Assassinas mandou um abraço gostoso no coração depois dessa. Todo mundo chamava o irmão do Sanders de Krauser, então no final realmente não importa o nome dele. Ele nem é o personagem principal, vamos esquecê-lo.

Os três chegaram na porta da casa e de lá de dentro já podia ser ouvido o Pantera no talo e gritos de quem tá jogando video-game. Eles tavam jogando video-game. O que membros respeitados de uma banda consagrada no cenário underground e em ascensão que vai começar a fazer show internacional (Bolivia é verdade, mas o mato lá é mais verde, se é que me entende!) devem fazer no tempo livre? Tocar por diversão? Treinar técnicas malemolentes? Nada, jogar Marvel vs Capcom é a resposta dessa sua pergunta.

– Krauser, carai! Não me mata do coração dessa forma! É só o Capitão Commando e você me toma uma surra e quase perde. Tem que ser ruim como o tinhoso pra perder pro Capitão Commando, se fode ai!

– Se fode você, John! Essa porra tá no Hard e quer que eu não leve supapos desse rapecão loiro do caralho?

Era engraçado ver esses dois brigando, mas o Sheamus estava com uma cara de interrogação tão engraçado quanto o discurso erudito daqueles dois. O certo é supor que ele nunca ouviu tanto palavrão numa conversa como aquele dia. Eles brigavam e cantavam:

A now blacked heart
Is reaching out in divinity
Body suspended by chains over razors
And nails it's a penalty
Each razor a vice and each nail

Os três foram entrando e já se aprochegando no sofá do lado dos dois, como sempre era feito todo dia depois da escola dos mais novos. Mas tinha um corpo estranho hoje ali. John que tinha assumido o controle pra derrotar o chefão do jogo Onslaught, pausou a bagaça e ficou encarando o ruivo irlandês. Krauser só faltava cutucar o moleque.

– John, pega lá agua na cozinha. A cabeça desse moleque tá pegando fogo. - Krauser não aguentou a própria piada e começar a rir que nem um demente.

No final até Sheamus tava dando risada.

– Sou Sheamus! Nasci na Irlanda, mas sei português porque minha mãe é brasileira. Prazer em conhecer. - Ele deu uma olhada em John, outra em Krauser. - Mesmo parecendo que a recíproca não seja verdadeira. É a vida! - Deu um sorrisinho e se aconchegou melhor no sofá.

Krauser encarou John, John encarou Krauser. Risadas para todos os lados. John despausou o jogo e voltou suas atenções para o chefão.

– Você é engraçado, cara! - Krauser reparou que o irlandês tinha um case de guitarra. - É uma SG? Sabes tocar ou é só pra pagar de gatinho nos rolê esse case?

– SG, isso mesmo! - Sheamus tirou a guitarra de dentro do case e começou a dedilhar Fear of the Dark nas notas mais agudas da guitarra. Depois que ele começou novamente nas notas certas todo mundo fez aquela voz soturna que o Bruce faz quando canta essa música:

I am a man who walks alone
And when I'm walking in a dark road
At night or strolling through the park

When the light begins to change
I sometimes feel a little strange
A little anxious when it's dark

– Você toca bem, cara! E qual vai ser o nome da banda de vocês?

Os três mais novos se encararam. "Não temos ainda!" Disseram os três ao mesmo tempo.

– Onslaught filho de uma parteira careca! Vou te pegar no cabo de vassoura e atochar no seu...

– Belo nome, John! - Krauser interrompeu o amigo antes que ele falasse demais. Isso porque eles nem tinham bebido aquele vinho da geladeira... Ainda. - Claro que só Onslaught! Você xingando a tv é desnecessário! Concordam?

Jaiminho foi o primeiro a falar. - Que nome de bosta, Krauser! Ir tomar onde o sol não bate você não quer né? Vai pro...

Antes de terminar a frase Krauser já tinha dado um soco no braço do carteiro.

– Concordam!

– Mas é claro! - Falaram os três juntos.

– Que bonitinho vocês três falando juntos! Parecem até os Teletubbies!

– Vai se lascar, Krauser! - Sanders se levantou e abriu o case do baixo que ele trazia consigo. - Vai ter o Línguas Abertas daqui a três meses, e agora que a gente tem um nome... - Começou a tocar For Whom The Bell Tolls com o baixo apoiado na coxa. - A gente vai participar. - Os outros balançaram a cabeça afirmando.

– Um campeonato de covers? - Krauser levantou uma sobrancelha, do mesmo jeito que John fazia enquanto tentava derrotar o Onslaught. - Vocês não vão criar nada? Vão ficar tocando musica dos outros?

– Acho que no começo é válido. Talvez pelo menos até a gente achar a porcaria de um baterista. Esse carteiro de merda ai fica falando que vai tocar bateria. No Línguas Abertas até vai o Jaiminho de batera! Ele não toca tão mal assim! Mas a gente vai precisar de um batedor de panelas profissa depois. - Sanders levantou os olhos do baixo e encarou o irmão. - Você não conhece nenhum batera que sirva pra gente né?

– Até conheço, mas os bons já tem banda. Esperem um pouco que surge alguém. - Krauser coçou o queixo que tinha uns pelinhos mais ralos do Oeste. Barba mal feita do carai! - Mas vocês vão tocar cover do quê?

– Metal! - Sim, os três tavam mesmo parecendo os Teletubbies!

– Que banda seus animais de teta?

Jaiminho disse "Black Sabbath", Sanders disse "Pantera" e Sheamus disse "System of a Down".

– Ê carai! - Krauser deu sorriso que nem condizia com toda aquela atitude tr00zeira! - Toquem todos os metais então! Vai ser divertido ver a adaptação de vocês!

– Mas antes de tudo! - John finalmente tinha zerado o Marvel vs Capcom. - Sheamus! - O garoto o olhou com olhos de sono com a guitarra na mão. - Snowblind do Black Sabbath ou do SOAD?

Ouviu-se um "Teeeenso!" ao fundo, mas ninguém deu sinal de quem era.