Princesa (além Do) Para Sempre escrita por focchekaren


Capítulo 2
Dezesseis de abril, no loft, 18h45




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Decidi não ir para a aula de História Integrada II e vir pra casa. É sério, aquela professora deve ter uns novecentos anos, não dizendo que ela não é uma boa professora nem nada, ela parece saber absolutamente tudo sobre História - porque, provavelmente, ela é tão velha que viu tudo o que aconteceu nos últimos séculos com os próprios olhos - mas eu realmente aguentei o semestre inteiro ter aula de História e ter que prestar atenção nas histórias dos escritores arcadistas em plena sexta-feira, quando eu podia (tentar) ficar com o Michael. Ou com o meu gato, Fat Louie, que é a segunda coisa que eu mais amo no mundo (me desculpem pai, mãe).

Então eu resolvi me esforçar um pouquinho mais na última prova para poder faltar as últimas aulas sem perder muita coisa e tudo mais. E a professora gosta de mim, eu acho. Ela diz que conheceu a princesa-viúva Clarisse Renaldi, vulgo minha avó, Grandmère como ela prefere ser chamada, quando ambas eram jovens. E aí ela tem um respeito por mim por causa disso, mas como todos os professores, me tratam como uma aluna qualquer. 

Exceto na hora de chamar meu nome, porque eu acho que eles pensam que vão ser presos pela guarda genoviana se não me chamarem de Sua Alteza Real Amelia (eu já avisei que podem me chamar de Mia, mas não adianta. Na hora da chamada e eles tem que chamar meu nome completo incluindo o Sua Alteza Real, toda a turma fica muito entediada. E com razão). Pensando bem, até que eles tem bons motivos para não ir com a minha cara.

Ih, recebi uma mensagem da Kesi:

Mia, a profe de historia resolveu dar 1 trabalho surpresa valendo metade da nota do semestre,  ela me perguntou onde vc tava, meio desconfiada, depois de dizer qui qm tinha faltado aula ia ficar c/ zero, e eu respondi que vc tinha ido resolver uma emergência da família real. Acho que ela caiu na minha desculpa, dps ti passo o que ela passou no trab, tah? Aproveita seu namo milionário, beijinhos da sua companheirinha de quarto preferida! Kesi

[Recebida de Kesi (+55909123456), 7:10 p.m.]

Oi Kesi, obrigada pela mentira - eu sei o quanto isso é difícil pra você que é católica e tudo mais, mas EU NÃO ACREDITO QUE ESSA VELHA RESOLVEU DAR TRABALHO BEM NO DIA QUE EU FALTEI!! O MEU DIA DE DESCANSO DEPOIS DE SÉCULOS! EU SOU MUITO AZARADA MESMO! QUE DESGRAÇADA! Mia

[Enviada por Mia (+55918087278), 7:12 p.m.]

Eu tinha muitos, muitos motivos pra ficar de mal com a vida. Primeiro: eu passo o ano inteirinho indo perfeitamente para TODA SANTA AULA, fazendo TODA SANTA TAREFA, estudando para TODA SANTA PROVA, mas não, no dia que eu resolvo fugir daquele sanatório ela dá um trabalho surpresa. Valendo nota. Valendo metade  da nota de todo o semestre. Segundo: o Michael não chegou até agora. Depois da mensagem da Kesi eu fui ver Revenge na sala, com a minha mãe, pra me distrair e não ficar completamente neurótica olhando no relógio a cada minuto pra ver se já estava na hora do Michael vir me buscar pro apartamento dele. Mas o seriado acabou e ele ainda não apareceu. E, terceiro: o Rocky, meu irmãozinho de três anos, vai ter o primeiro dia de creche dele amanhã. Acontece que a minha mãe quer voltar a pintar, já que ela é uma pintora talentosa, e diz que ele não a deixa se concentrar e que não vende um quadro por mais de 100 dólares desde que ele nasceu. O que significa que se não fosse o salário de professor de Ensino Médio do meu padrasto, Sr. G e a pensão que o meu pai manda pra ela (mesmo que eu já tenha completado 18 anos e nem more mais com ela direito, ele continua mandando dinheiro todo mês e sempre me pergunta se a mamãe precisa de alguma coisa, se ela está pintando ainda, se ela quer que ele compre algum quadro dela, se ela quer contratar uma babá pro Rocky que ele paga, e blá blá blá. Não me surpreende nada, já que ele me disse que a única mulher que ele gostou de verdade foi ela).

Ops. Tenho péssimas notícias, a profe  me viu mexendo no celular e recolheu ele, a sua msg estava aberta e ela pareceu bem mau humorada no resto da aula, espero qui ela naum tenha visto, estou aflita, a gnt vai se ferrar! Vc vai se ferrar, e a culpa é minha! Kesi

[Recebida de Kesi (+55909123456), 9:45 p.m.]

Kesi, se é brincadeira não tem graça. Esse trabalho vale metade da nota do semestre, se eu não fizer, mesmo que eu gabarite a prova, EU ESTOU RODADA. ISSO NÃO PODE TER ACONTECIDO! ELA NÃO PODE TER LIDO! NÃO! NÃO! DE JEITO NENHUM! VOU MORRER! TODAS AS SEXTAS OUVINDO SOBRE BARROCO, ARCADISMO, TROVADORISMO, AAAAAAAHHHHHHHHHH - MIA

[Enviada por Mia (+55918087278), 9:49 p.m.)

Bem na hora que eu comecei a surtar e chorar o Michael tocou a campainha. Minha mãe atendeu e levou ele até o meu quarto, o que significa que quando ele entrou, ele me viu na cama, com a cabeça no travesseiro, gritando que eu era a pessoa mais azarada do mundo inteirinho.

Não importa se eu sou herdeira de um pequeno país europeu. Não importa se eu tenho muitas roupas legais no armário. Não importa se eu tenho um namorado rico, lindo e que gosta de mim desde que eu tinha 14 anos e era a maior nerd da escola. Nada importa, nada. Porque eu vou ter que passar todas as sextas ouvindo tudo de novo.

Então, quando ele me viu naquele estado, ele largou a pasta de couro dele que ele leva uns documentos e o tablet de última geração no chão mesmo (ele nunca faria isso se não estivesse realmente assustado), sentou do meu lado e acariciou meus cabelos, perguntando com aquela voz macia o que tinha acontecido.

Então eu contei pra ele soluçando, meio sem acreditar ainda no que tinha me acontecido, e ele me ofereceu o ombro dele pra eu chorar ali, enquanto perguntava os detalhes.

- Mas o que tinha exatamente na mensagem, Mia? 

- Pode ler você mesmo.

E entreguei o celular para que ele lesse. Ele ficou um pouco sério e tudo mais, mas quando eu olhei pra ele para ver a reação dele lendo a mensagem, ele começou a fazer como quem queria rir. Aí eu comecei a encarar ele, tipo, encarar de verdade com os meus olhos cinzentos cheio de lágrimas, achando que ele ia achar uma solução perfeita para o meu caso já que ele é um gênio, tipo me mandar dizer para a professora que eu tinha sido abduzida por alienígenas perigosíssimos que estavam com uma arma atiradora de laser na minha cabeça ameaçando atirar se eu não mandasse aquelas palavras para a Kesi e tudo mais, mas a reação do Michael foi diferente:

Ele começou a rir. Isso mesmo. A RIR. Enquanto eu chorava.

Aí eu fiquei toda indignada perguntando porque diabos ele estava rindo, aí, quase chorando de rir, ele disse:

- Mia, você chamou a professora de velha! Ha, ha, ha!

Então eu levantei da cama e saí batendo o pé direto pro banheiro. Minha mãe viu e foi no quarto conversar com o Michael. De lá do banheiro eu não consegui ouvir o que eles diziam, mas ela saiu RINDO do quarto. Ela também. 

Ninguém, ninguémzinho nessa vida me leva a sério. Acho que nunca, nunca mais eu vou sair daqui desse banheiro.


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Notas finais do capítulo

Fiquei muito feliz pelo comentário da Nana Potter, mesmo! Escrever é satisfatório, mas receber pelo menos um elogio é uma sensação maravilhosa. Espero cativar quem vier aqui ler a minha história. Muito obrigada!