Eu e Percy corríamos na direção da luz sem nos atrever a olhar para trás para ver se estávamos sendo perseguidos pelos zumbis, provavelmente nem precisávamos olhar para trás para saber que sim. A última coisa que ouvira daquele corredor, foi uma voz furiosa gritar:

- JACKSOOOON!

Ai sim, eu me senti bem e mal. Aliás estava sendo perseguida por zumbis, não é? Eu e Percy atravessamos as portas automáticas do Museu de Ar e Espaço adentrando na área de admissão. A parte principal do museu era uma grande sala com foguetes e aviões pendurados no teto. Três níveis de balcões circundavam, então você podia olhar as exposições de todas as diferentes alturas.

O lugar não estava lotado, somente algumas famílias e alguns grupos de crianças, provavelmente fazendo uma excursão escolar. Eu queria gritar para que eles saíssem, mas pensei que isso só me faria ser presa em um hospício, tipo: "AI GALERA, TODO MUNDO EM PÂNICO GERAL, ZUMBIS ESTÃO INVADINDO O MUSEU!" Não... Não mesmo.

Eu precisava encontrar as caçadoras, Thalia e Hansel. A qualquer momento, os caras esqueleto iriam invadir o museu, e eu não achava que eles se acalmariam para um áudio tour. 

- Ali! - Percy apontou para a figura Punk ao longo do caminho.

Percy me arrastou e corremos até Thalia. Ele estava subindo descontroladamente a rampa para o balcão superior e se choquei com ela, lançando-a dentro da cápsula espacial de Apolo. Hansel gritou de surpresa.

- Megan? Percy? - ele disse confuso.

- Tu! - Zoë... Não é boa hora. - Como te atreves a mostrar tua face aqui?

- Percy! Megan! - exclamou Hansel contente. 

Zoë lhe lançou um olhar feio.

- Quer dizer, Hum... Percy não deveria estar aqui! isso esta errado, foi muito errado! 

– Luke – eu disse interrompendo, tentando recuperar o fôlego. – Ele está aqui e o tal General...

A raiva nos olhos de Thalia imediatamente derreteu. Ela pôs sua mão em seu bracelete prata.

– O que? - ela perguntou. - Onde? E aonde você se meteu? Ficamos preocupados com você!

Ela me deu um empurrão e eu quase cai recebendo um choque da mesma.

- Quer parar de me eletrocutar! - exclamei.

Percy contou a história no final e eu incrementei algumas partes que ele não ouvira.

- O General? Impossível... Tu mentes! - apontou Zoë.

- Eu não sou mentiroso, tá?! - exclamou Percy meio magoado ou irritado.

- Isso não importa agora! Existem guerreiros esqueleto, parecem zumbis...

- O que? – Thalia demandou. – Quantos?

- Doze, mas isso não é tudo. - falei. - Aquele cara, o General, ele disse que ia enviar algo, um “colega”, para distrair vocês aqui. Um monstro.

Thalia e Hansel trocaram olhares. Até que Hansel disse.

– Eu senti, eu tinha certeza de que tinha sentido. Algum odor monstruoso… Ártemis deve ter parado aqui procurando pelo monstro misterioso. Mas nós ainda não achamos nada.

– Zoë – Bianca disse nervosamente, – se é o General...

- Não, não pode ser. - disse Zoë. - Percy e Megan estávam tendo ilusões, alguma mensagem de íris ou algo do tipo.

- Escuta aqui, Ilusões não quebram pisos de mármore que eu saiba! - exclamei já estressada com ela.

- E nem invocam zumbis da terra. - disse Percy. - Tá... Talvez invoquem... Mas a questão é...

- Não podemos ficar parados aqui. - falei.

Zoë respirou fundo, tentando se acalmar. Eu não sabia por que ela estava levando isso para o lado pessoal, ou como ela conhecia esse General, mas presumi que agora não seria o momento pra perguntar sobre isso.

- Se Percy está dizendo a verdade sobre os guerreiros esqueleto – ela disse, – nós não temos tempo para discutir. Eles são os piores, os mais horríveis... Nós devemos ir agora.

- Grande Ideia. - concordou Percy.

- Tu não vais. - disse ela. - Tu não fazes parte dessa missão.

– Ei, estou tentando salvar suas vidas!

- Você é um idiota, Percy. - dei um tapa em sua nuca.

- Ai! Porque eu!?

- Porém, estou feliz por você estar aqui. - falei.

- Então porque me bateu?!

- Dá uma boa sensação. - disse simplesmente.

- Megan esta certa. - disse Thalia, hesitando como se estranhasse com o fato de concordar comigo. - Mas já que esta aqui, vamos voltar para a van.

– Esta decisão não é tua! – Zöe atirou.

Thalia fechou a cara para ela.

- Você não é a lider da missão, Zoë. E sim, não me importo quantos anos você tem, você continua sendo uma infantil irritante e teimosa!

– Tu nunca tiveste sabedoria quando se tratava de garotos – Zöe rosnou. – Nunca pudeste deixá-los para trás!

Thalia parecia que ia socar Zöe. Então todo mundo congelou, eu ouvi um rosnado tão alto que parecia que o motor de um dos foguetes estava arrancando.

Abaixo de nós, alguns adultos gritaram. A voz de uma criança pequena apontou:

- Gatinho!

- Droga. - falei quando meu olho seguiu o dedo da criança. 

Algo enorme veio pela rampa. Era do tamanho de uma pick-up grande, com garras prateadas e um pelo dourado brilhante. Eu havia visto esse monstro antes. Dois anos atrás, eu o vi brevemente do trem. Agora, ao vivo e em cores, parecia ainda maior e mais perigoso.

– O leão da Neméia – Thalia disse. – Não se mexam.

O leão rugiu tão alto que repartiu meu cabelo. Seus dentes brilhavam como aço inoxidável.

- Corremos agora? - perguntou Hansel.

- Não, espere... - disse Thalia.

– Separai-vos ao meu comando – Zöe disse. – Tentai mantê-lo distraído.

- Não entendi metade do que ela disse... - Percy sussurrou para mim enquanto recuávamos devagar.

- Idem. - falei. - Acho que isso simplifica.

Então o leão reagiu e eu tirei do bolso, uma caneta de tinta azul com tampa removível, Anaklusmos. Destampei. Percy tirou do bolso uma caneta, mas não era como a minha, era daquelas com botão e tal. Mais modernas. Ele apertou o botão e automaticamente aquilo se transformou em uma lança. Corta-Ondas.

Flechas assobiavam por mim, e Hansel tocava uma cadência tweet-tweet penetrante na sua flauta. Eu me virei e vi Zöe e Bianca subindo na cápsula de Apolo. Elas estavam disparando flechas, uma após a outra, todas batendo sem ferir no pelo metálico do leão. O leão bateu fortemente na lateral da cápsula, esparramando as Caçadoras de costas. Hansel tocou um frenético, horrível tom, e o leão se virou para ele, mas Thalia entrou em seu caminho, segurando Aegis, e o leão se retraiu.

- Thalia! - gritei.

“ROOOAAAR!”

O leão rosnou e arranhou o ar, mas recuou como se o escudo ardesse em chamas. Por um segundo, eu achei que Thalia tinha tudo sob controle. Então eu vi o leão se agachando, os músculos de sua perna tensionando.  Eu sabia que o leão ia saltar.

- Percy...

- Eu sei...

Me afastei e corri para o outro lado. 

- Ei! - eu não sabia o que eu estava fazendo, mas queria tirar o leão de perto dos meus amigos. - Ei! Gato de rua mutante! 

O leão de Neméia se virou para mim me dando toda a atenção. Ouvi Hansel balir meu nome. Ataquei o monstro.  um bom golpe no flanco que deveria ter cortado o monstro em um miau mix, mas a lâmina apenas ressoou contra o pelo em uma explosão de faíscas. O Mesmo me procurava com as garras enquanto arranhava o ar. Uma hora, suas garras passaram raspando na área abaixo do meu joelho. 

 Eu recuei contra a grade. Mesmo que fosse só um arranhou, arrancou tamanho sangue de mim, tudo ficou turvo e não... Não podia desmaiar agora.

- MEGAN! - ouvi Percy me gritar. - Tente distrai-lo! Eu tenho um plano.

 Ah, o leão já está bem distraído aqui. Mas de qualquer modo continuei desviando dos dentes - que por acaso eram como agulhas gigantes e amareladas. Acharam o que? Que Monstros escovavam os dentes? - As Caçadoras até tentaram ajudar.

- Hansel! Tire todos daqui! - ouvi Percy gritar.

O Leão saltou para mim, meia tonelada de monstro, e eu não tinha escolha, tudo o que me sobrara era me virar e pular. E foi isso o que eu fiz.

Eu pousei na asa de um antiquado avião prateado, o qual balançou e quase me derrubou no chão, três andares abaixo.

O leão balançou fortemente em minha direção, e eu caí na próxima peça, uma estranha aeronave com lâminas como um helicóptero. Eu olhei para cima e vi o leão rosnar – dentro de sua boca, língua e garganta rosadas. Claro...

- Zoë! - gritei. - Mire na boca!

O único problema era que o monstro se movia muito rapidamente. Entre suas garras e presas, eu não conseguia chegar perto o suficiente sem ser feita em pedaços.

- Distraia-o! - ouvi Percy gritar. - Eu Já volto!

O monstro bufou. Uma flecha zuniu por ele, errando completamente, e eu pulei da nave espacial em direção ao topo de uma peça térrea da exposição, um enorme modelo da terra. Eu deslizei para baixo da Rússia e pulei do equador.

O leão da Neméia rosnou e se estabilizou na aeronave, mas o seu peso era muito. Uma das cordas estalou. Conforme o aparato balançou o leão pulou para o Pólo Norte do modelo da terra. Segurei um grito.

Fechei os olhos, ouvi Zoë gritar com Percy:

- Não é hora para comprar lembrancinhas, garoto! 

Grupos de crianças estavam correndo e gritando. Hansel tentou guiá-las para longe do monstro justamente quando a outra corda da aeronave estalou e a peça espatifou-se no chão. Thalia pulou do segundo piso queixando-se e aterrissou em frente a mim, do outro lado do globo. O leão nos considerou, tentando decidir qual de nós matar primeiro.

Zöe e Bianca estavam acima de nós, arcos prontos, mas elas se mantinham movendo em volta para ter um bom ângulo.

- Ele precisa abrir mais a boca! - gritou a princesa persa.

O leão rosnou do topo do globo.

- Thalia...

– Hi-yah! – Ela apontou sua lança e um arco de eletricidade azul em forma de aranha disparou, atingindo o leão na cauda.

“ROOOOOOOAR!”

O leão se virou e pulou. Thalia rolou para fora de seu caminho, segurando Aegis para manter o monstro no limite. Então foi ai que Percy voltou para o campo de Batalha. Com uma porção de pacotes prateados nos braços. Eu me senti tão inútil naquela hora. Tentei me erguer, mas o corte na minha perna ardia em chamas, aquelas garras não eram garras comuns...

O leão parecia saber que era melhor não abrir muito a boca.

Ele vociferou para Thalia, golpeando com suas garras. Ele até mantinha seus olhos apertados em pequenas fendas.

Thalia golpeou o monstro e recuou. O leão a pressionou.

- Percy! - ela gritou. - Não sei o que você esta pensando... Mas...

"ROAAAAAU"

- FAÇA LOGO! - berrou ela.

Finalmente me ergui do chão.

Mas a aeronave em que eu estava sacudiu, Thalia escorregou pousando em um foguete Titã, eu permaneci ali, escorreguei para frente indo parar bem em frente ao leão.

- Megan! - ouvi Hansel gritar.

- Rápido! - a voz de Thalia.

- Abaixe! - agora foi a de Percy para mim.

Fiz o que ele mandou.  Foi naquele momento em que as garras do leão passaram zunindo por cima da minha cabeça arrancando alguns poucos fios de cabelo. Rolei por baixo do seu corpo e parei no outro lado, quase despenquei. O leão iria atrás de Thalia, quando eu gritei.

- Ei! - então me arrisquei, lancei Anaklusmos na sua direção, Ela não atingiu o leão, mas foi o suficiente para chamar a atenção do monstro. Ele se virou na minha direção e rosnou.

Eu estava frita agora.

Percy se aproximou de nós, ele atacou o leão com a lança, jogando-a em sua direção. Sem efeito. Então Percy jogou um daqueles pacotes de comida espacial direto na boca do leão. Os olhos do leão ficaram selvagens como um gato com uma bola de pelo na garganta.

– Zöe, fique pronta! – gritou Percy.

Atrás de mim, eu podia ouvir pessoas gritando. Hansel estava tocando outra horrível música em sua flauta. Eu me afastei do leão. Ele conseguiu desengasgar o pacote de comida espacial e olhou para Percy com puro ódio. Ele não perdeu tempo e o atacou.

- Percy! - gritei e empurrei ele para o lado. 

O Leão arrancou uma pequena tira da jaqueta mágica de Jake... Ops.

Percy rolou para longe, mas ele gritou.

- Megan! Pegue! - ele atirou um pacote para mim, então eu sabia o que tinha que fazer agora.

- Hora do Lanche... - murmurei.

Ele cometeu o erro de rugir para mim, e eu joguei um sanduíche de sorvete em sua garganta. Felizmente, eu sempre fui uma arremessadora muito boa. Antes que o leão pudesse parar de engasgar, eu atirei o pacote de Percy direto em sua boca, como Percy fez.

Os olhos do leão saltaram. Ele arregalou sua boca selvagemente e ficou nas patas traseiras, tentando ficar longe de mim.

- Agora! - gritei.

Imediatamente, flechas perfuraram a boca do leão – duas, quatro, seis. O leão refugou ferozmente, virou-se, e caiu para trás. E então ficou quieto.

Alarmes soaram pelo museu. Pessoas debandavam pelas saídas. Seguranças estavam correndo em pânico sem ideia do que estava acontecendo.

Thalia estava caída no chão, Hansel a ajudou a se erguer de novo. Percy se levantou e correu até a mim.

- Você esta bem?

- Ei! - falei - Não é a primeira vez que enfrento um monstro, tá? 

Ele riu.

Zöe e Bianca pularam do balcão e aterrissaram do meu lado. Zöe olhou para Percy de modo cauteloso.

– Aquela foi… uma estratégia interessante.

- Foi incrível. - corrigi.

– Ei, deu certo. - disse ele.

Ela não argumentou.

O leão parecia estar derretendo, do jeito que monstros mortos faziam às vezes, até que nada mais restava além de seu pelo dourado brilhante, e mesmo isso parecia estar encolhendo para o tamanho de um leão normal.

- Pegue, Herói. - disse Zoë.

– O quê, a pele do leão? Não é, tipo, uma violação dos direitos dos animais? 

– É um espólio de guerra – ela me falou. – É teu por direito.

– Você o matou – Percy disse.

- Eu acho que o teu sorvete fez isso. Justo é justo, Percy Jackson. Apanha a pele.

Percy o fez, conforme eu olhava, o couro mudou e se transformou em um casaco – um sobretudo marrom dourado.

- Não é muito o meu estilo, mas tudo bem. - disse ele.

- Aquilo foi demais! - disse Hansel sorrindo de orelha a orelha. - Combo Jackson!

Percy e eu trocamos olhares e sorrimos.

- Trabalho em equipe. - disse Percy me erguendo o casaco de pele.

- Não. - falei. - Aliás já tenho um empecilho mágico emprestado.

Apontei para o casaco da invisibilidade, meio rasgado, mas ainda mágico. 

- Se Jake não estiver morto, ele vai te matar. - disse Percy.

- Eu sei. - falei. 

Mas mesmo que Jake ficasse bravo por causa do casaco, eu estaria feliz por poder ouvir ele me chamando de Cabeça de alga outra vez.

– Nós temos que sair daqui – Hansel disse. – Os seguranças não vão ficar confusos por muito tempo.

Eu notei pela primeira vez quão estranho era os guardas não terem se apressado para nos prender. Eles estavam indo em todas as direções exceto na nossa, como se estivessem desesperadamente procurando por algo. Alguns estavam indo de encontro às paredes ou entre eles.

- Você fez aquilo? - perguntei.

- Sim, mas não vai durar muito.

– Os seguranças não são nossa maior preocupação – Zöe disse. – Olhai.

Atrvés das paredes de vidro do Museu, eu pude ver. Doze ao todo. Homens cinzentos andando pelo gramado e com roupas de camuflagem, eles estavam longe demais, o que era bom... e temporário. Mas mesmo estando longe, eu sabia que eles olhavam especialmente para mim.

- Droga... - murmurei. - Eles estão atrás de mim.

- Vão vocês, eu fico. - disse Percy. - Vou ocupa-los.

- Não vai não. - puxei ele. - Não é agora que te achei que vou perder você.

Pensam que eu disse aquilo determinada ou algo assim? A Verdade é que eu não queria perder Percy, eu não ia deixar... Não ia perder mais ninguém. Duas pessoas haveriam de morrer na profecia, e não ia ser Percy, eu morreria antes.

Percy me olhou... Bom, não sabia dizer a expressão em seus olhos, algo como pena, ou é... Pena mesmo. Ou culpa. 

– Tu és parte desta missão agora – Zöe disse de má vontade. – Eu não gosto disso, mas não há mudança no destino. Tu és o sexto da profecia. E não vamos deixar ninguém para trás.

- Eu vou...

- Você não me ouviu? - falei alterada, eu não olhava para ele, apenas para os guerreiros esqueletos zumbis, minha voz estava mais rígida. - Eu não te dei opção Percy... Eu não vou perder você de novo.