POV Ally

Não, eu não fui à biblioteca como tinha previsto e sim à sala onde estávamos momentos antes. Mesmo sendo meio assombrado aquele corredor, a sala tinha uma enorme iluminação, o que eu gostava já que tinha uma enorme fascinação pelo sol. Apesar de eu ser branca, adoro quando os raios de sol atingem minha pele, parece que aquele frio que sinto sempre, some.

Enfim, subi até lá, sentei-me em uma mesa a frente da janela, liguei minha música novamente e fiquei olhando para o lado de fora para ver se via alguém passando. Eu não estava com os dois fones o que me deu uma ajuda a escutar quando alguém se aproximou e entrou na sala.

- Achei que você fosse à biblioteca.

- Ia matar aula de novo Austin? Ou está apenas me seguindo? – Ele estava com um enorme sorriso sarcástico no rosto quando tirou a mochila e sentou-se ao meu lado na mesa.

- Um pouco dos dois.

- Devo me sentir encurralada pela sua perseguição, ou lisonjeada por estar sendo seguida?

- Acredito que nenhuma das opções.

- Tudo bem então. – Sorri e continuei olhando para fora, especificamente para praça que tinha a frente da escola. As folhas das árvores se balançavam de uma maneira inexplicável e eu fiquei admirando-as. As flores que tinham lá também eram lindas, mas com minha alergia não era legal eu ficar muito próxima delas.

- Por que tentou ajudar os dois?

- Hã? – Acho que meu fascínio a natureza me deixou um pouco avoada até por que tinha me esquecido da presença do Austin.

- Você tentou dar um tipo de iniciativa para que eles pudessem ir atrás das duas. Por quê?

- E tem um motivo?

- Talvez. Por isto eu queria saber.

- Eu também, por que da minha parte foi apenas uma ajuda que quis dar.

- Você lê tanto que acha que a vida é como um livro certo? – Ele perguntou, acredito eu, ainda sendo sarcástico comigo.

- Complicada, difícil de entender e com um final feliz? Pode ter certeza que sim.

- Não existem finais felizes.

- Do meu ponto de vista sim, e acho que não sou só eu que está lendo demais.

- Como assim?

- Você gosta de ler loiro, isto eu tenho certeza. Você é inteligente também acertei?

- Uma percepção quase perfeita vindo de uma “nerd” que tem medo das pessoas.

- Olha, julgando-me assim até diria que você é meu pai ou algo do tipo.

- Percebi pelo o jeito que você fugiu quando o Dallas começou a chamar a atenção das pessoas.

- O que mais você percebeu sobre mim? Estou curiosa.

- Você foge dos problemas acertei? Não tem coragem de assumi-los.

- Estou cada vez mais fascinada. – Não pude deixar de rir. - E você? Só por que teve um momento difícil em sua vida não quer que os outros a sua volta sejam felizes também.

- Isso foi uma pergunta?

- Na verdade, uma total afirmativa. – Ele me olhou como se quisesse me desvendar e voltou sua atenção para janela, cuidando o movimento que tinha nas ruas. – O que aconteceu com você para ser tão “anti romance”?

- Nada.

- Uma namorada perdida? Uma garota que o usou como brinquedo? Ou as duas opções misturadas com um pé na bunda? – Ele começou a olhar para as mãos sorrindo.

- Nada que você disser vai me fazer conta algo da minha vida a você.

- Eu sei, por isto estou deduzindo. Agora – levantei-me, peguei a mochila e dei uma olhada em meu celular – temos que ir, pois a aula vai começar.

- Pode ir, ficarei mais um instante aqui e depois vou.

- Você que sabe. Te encontro por ai loiro oxigenado, já que sou basicamente sua babá.

- Seria legal se meu cabelo fosse pintado como você supos.

- Ele não é? – Fiz a minha melhor cara de inocente. – Desculpe, achei que fosse.

- HÁ-HÁ-HÁ. – Sai da sala rindo e me perguntando por que será que ele não quer me falar o motivo do qual foi expulso. Eu sei que deve ser difícil, mas é tão embaraçoso assim?

POV Austin

Não sei o que deu em mim que quando vi a Ally saindo resolvi ir atrás dela. Ela foi para mesma sala em que estávamos antes, só que agora ela estava na frente da janela encarando o lado de fora. Ela é tão inocentemente vulnerável que me faz acha-la linda de um jeito inexplicável...

Quando eu chamei sua atenção à mesma me encarou e sorriu me causando arrepios pela espinha. Conversei com ela meio aleatoriamente e depois ela foi para aula. Senão estou enganando nossa conversa foi quase tão formal quanto um livro. Além do mais foi fácil de decifrar, mas difícil de compreender, assim como ela.

Fiquei ali sentado e pensando. Sabe quando o seu coração é partido e parece que você enxerga tudo preto e branco? Pois é assim mesmo que eu observo tudo. Não vejo mais aquelas cores fascinantes que via antigamente. Na verdade eu nunca via, mas durante um momento consegui e me senti feliz, quase leve, porém tudo voltou a ser escuro novamente. Não tenho mais um coração, ele sumiu. Não tenho mais sentimentos, eles se extinguiram. Tenho apenas essa casca oca em que sobrevivo.

Eu não queria vir para escola, queria ficar em casa ou sumir para sempre. Morrer também é uma boa alternativa quando não se tem mais vida, porém não posso abaixar minha cabeça para os problemas, senão minha fala sobre o jeito da Ally estaria se aplicando exatamente a mim também. Decidi então faltar mais um período de aula já que sei o conteúdo e pego tudo bem rápido. Não irá me fazer falta e depois posso pegar a lição de casa com os garotos.

Enfim, liguei meu dock, botei uma música agitada e tentei arrumar alguns passos de dança que estava criando. Eu danço bem e tudo mais, porém se eu fosse tentar seguir a carreira artística não sei o que aconteceria, até por que além de ser uma carreira instável não sei o que meus pais diriam, principalmente meu pai... Mas se eu conseguisse, seria um sonho em minha lista que eu poderia riscar.