O Choro Das Ninfas escrita por Pessoana33


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

AVISO: neste capítulo não estava muito inspirada, mas espero que percebam como são as vidas das mulheres (neste mundo que eu inventei).... E espero que gostem :))



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/400489/chapter/7

Juliette

.Eu não sou coisa nenhuma.

Não sou o sol que caminha pelo céu todas as manhas.

Não sou a noite cintilante vestida de estrelas.

Não sou o peixe que corre em águas salgadas.

Nem um pássaro que sobrevoa sobre a liberdade.

Não sou nada. Sou um espaço vazio, á espera de ser meio cheio.

Hoje é o dia do adeus. Adeus a Jenisse, às meninas, e adeus este lugar que por uma vez achei que fosse o meu “Lar”. Este lugar até podia estar infestado de atrocidades, de gritos mau dados pela noite fora, de meninas de corpos magrelos, e de homens macabros, mas aqui não era o inferno, porque eu conheci lugares próximos ao inferno, lugares que chegavam a queimar.

Aqui, conheci meninas como eu que sofrem tanto ao mais do que eu. Meninas que têm os mesmos medos, mesmos sonhos, e a mesma esperança que eu. Aqui, senti menos sozinha, e a escuridão era só por metade e não por completo. Havia uma haste de luz. Um pouco de esperança. Mesmo sabendo que na verdade ela não existe, e nunca há-de existir para nós.

Hoje eu serei vendida, como trapo velho, já usado.

Jenisse pinta o meu corpo, e a tinta dourada entranha-se em cada parte de mim. Dourado não me veste bem, porque é uma cor alegre que irradia felicidade, na verdade nem sei o que isso é. Felicidade é uma palavra que eu ouvia da boca do meu amado avô. Ele dizia que quando uma pessoa estava feliz via cores por todo lado, tudo era azul, vermelho, amarelo, rosa, todas as cores do arco iris. Eu nunca vi o arco iris, e nunca fui feliz, se um dia cheguei a sê-lo, já não me lembro como era. E agora a cor cinza salpica em meus olhos, e tudo é triste, e feio e nefasto. Cinza é cor que me vestia melhor, porque essa cor retrata o que sou.

Pingas de lágrimas caem na minha pele, e borram a pintura. Levanto o meu olhar e vejo olhos injectados de dor, tristeza, culpa, e medo. Olhos de Jenisse.

– Perdoa-me. – Chora Jenisse.

– Não tenho nada para perdoar. Só tenho de te agradecer, por tudo que fizeste por mim. Obrigada.- Digo num tom calmo e sincero, porque Jenisse foi a minha única família por pouco tempo.

***

Em pé, nua, em frente aos donos do meu destino. Minha vida não me pertence e nunca me pertenceu. Nunca segurei as rédeas da minha vida. Outros puxaram-nas, e fizeram dela o que sou hoje. Sou menos do que nada. Sou um corpo frouxo, que anda pelos pés dos outros.

As meninas ao meu lado choram, porque têm de chorar, porque esta vida é uma vida de choro. De mágoas. De uma vida que não vale a pena viver.

Seus donos exigem que elas se calam, e elas engasgam-se com as suas próprias lágrimas.

Medo, dor, tristeza nos olhos delas. Seus olhos falam por elas. O que será que os meus olhos dizem? O que será que eles vêm? Não quero que eles falam por mim, e não quero que ninguém me veja.

“Uma mulher que não tem nada esconder”. Ouço as palavras de Warner. Será que ele tem razão? Será que eu não tenho nada esconder? Será que todos viram cada detalhe que constitui o meu ser? Não, eles não me viram. Eles não sabem quem eu sou. E eles não me conhecem. Eu sou mais que um corpo despido. Sou mais do que nada. Tenho algo escondido dentro de mim, eu sinto isso.

Eu quero acreditar, que um dia irei solta-me destas correntes que me prendem, e serei livre. Livre para voar para longe. Não haverá ninguém que será capaz de me prender.

Um dia. Espero por esse dia.

O meu dono empurra-me para o pedestal, e toda a atenção cai sobre mim. Todos olham para mim com seus olhos gordos, olhos famintos, olhos que não me podem ver. Podem ver o meu corpo. Mas nunca chegarão a ver a minha alma, ou que ainda resta dela.

Não consigo ver os seus rostos, porque estão cobertos por mascaras de todos os feitios e cores. Desconheço as suas expressões. Mas posso ouvir as suas saborosas gargalhadas. Eu sou a piada, e sou o motivo dos seus sorrisos. Eu não posso sorrir, e também não vou chorar. Porque estou cansada de chorar por aquilo que não tem remédio. Esta é vida que tenho. Este é o mundo que vivo. E eu não posso mudar nada. Só me resta sonhar. Fecho os olhos. E sonho que sou o vento, e ninguém me pode ver. Sopro os meus medos para longe, porque eu sou vento e ninguém me pode tocar. Sou frio do Outono. A tempestade de Inverno. E ninguém me pode ver, e ninguém me pode tocar.

– Juliette, a menina que ninguém pode tocar, 6000 moedas quem dá mais? – Ouço a voz do juiz e eu só tenho anciã do vómito. E o meu sonho foi estilhaçado. Já não sou o vento. Eu sou um pedaço de carne que se vende no açougue.

Quero esconder o meu corpo. Tento cobrir os meus seios com os meus braços. Eu sinto frio e dor. São os olhos deles que furam minha pele. São os seus sorrisos frios que gelam todo o meu corpo.

Ouço um zumbido, e esse zumbido penetra em minha mente. E doí minha cabeça, e os meus ouvidos. Que som é este? Que dor é esta?

Sinto uma fisgada de dor em meus braços que ainda carregam feridas. Abro os olhos e vejo o meu antigo dono a bater nos meus braços com uma vara de madeira.

– Não te escondas. – Ele rosna.

Doí, e só quero gritar, mas não tenho voz.

Tudo á minha volta redopia, e não consigo ver mais nada.

O que esta acontecer comigo?

– 10.500 moedas, e vai uma, e vão duas, e vão três. A menina que ninguém pode tocar é requisitada por 10.500 moedas. – Diz o juiz.

E depois ouço os aplausos. E depois o silêncio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

---> Quem será que comprou a Juliette?
E o que será que esse zumbido e essa dor que ela sente?
Se querem as respostas não percam os próximos Capítulos x'DD