Vitor:

Quando acordei, minha cabeça estava doendo muito e a minha visão estava turva. Eu estava amarrado em uma cadeira e quando eu olhei para o lado vi a Lia amarrada em outra cadeira também. Ela estava chorando baixinho.

-Lia!Chamei baixo.

-Vitor!Disse ela parecendo estar aliviada. –Pensei que estivesse morto!

-Bem que você queria não é? Mais vaso ruim não quebra!Falei rindo.

-Até numa situação como essa você continua sendo um implicante!Reclamou revirando os olhos de raiva. –E eu aqui toda preocupada com você!

-Onde está o cara? Ele fez alguma coisa com você?Perguntei mudando de assunto.

-Ele está trancado naquela sala atrás de você. E ele não fez nada comigo! Pelo menos, não ainda.Disse ela olhando para baixo.

-Você sempre me mete em roubada não é Lia? Se eu fosse o seu pai nem te deixava sair de casa! É muita falta de sorte pra uma pessoa só!Falei bravo.

-Ninguém te mandou vir atrás de mim!Disse ela marrenta.

-Queria que te deixasse aqui com esse louco? Eu vim te salvar e você me trata desse jeito?

-Belo jeito de salvar uma pessoa! Você é um pessimo héroi!Disse ela rindo.

-E você é uma moçinha muito chata!Falei rindo.

-Agora é sério Vitor, a gente tem que dar um jeito de sair daqui antes que ele volte!Disse ela nervosa.

-Deixa comigo que eu tiro a gente daqui rapidinho!Falei já tirando o meu canivete de dentro do meu bolso.

-Se eu for esperar por você vamos acabar mortos!Reclamou ela.

-Fica quieta Lia que assim você fica mais bonita!Falei cortando a corda com o canivete.

Mais alguns segundos cortando a corda e eu estava livre. Me levantei da cadeira sem fazer barulho e fui até a Lia tirá-la da cadeira.

-Ainda acha que eu sou um péssimo héroi?Perguntei enquanto a desamarrava.

-Você não é o melhor do mundo, mas tá bom pra mim!Falou sorrindo quando eu a soltei.

-Vamos embora daqui!Falei segurando na mão dela e correndo até a porta.

-Onde voces pensam que vão?Perguntou o cara saindo da sala.

-Indo embora daqui seu panaca!Falei me colocando na frente da Lia.

-Mais voces não vão mesmo!Disse ele vindo até nós.

-Nós vamos embora sim e você vai ser preso!Falei quando ouvi as sirenes tocando.

Saí correndo com a Lia, no mesmo instante em que a policia chegava ao local. A Ju estava em uma das viaturas e assim que me viu com a Lia, veio correndo até a gente.

-Amiga você tá bem?Perguntou abraçando a Lia.

-Eu tô bem sim! Graças ao Vitor!Disse Lia sorrindo pra mim.

-Eu fiquei com tanto medo de acontecer alguma coisa de ruim com você!Disse Ju chorando.

-Não aconteceu nada Ju!

-Mais poderia ter acontecido! Então antes de marcar um encontro com uma pessoa que não conhece, fala comigo antes tá?Pedi realmente preocupado.

-Pode deixar pai!Disse ela sorrindo irônica.

-Agora vamos pra casa que eu aposto que o seu pai deve estar surtando por causa disso!Falei subindo na minha moto.

-Você vai com o Vitor ou quer ir comigo de taxi?Perguntou Ju.

-Eu vou com o Vitor!Não vai ficar magoada comigo não é?Perguntou Lia.

-Claro que não! Vai com ele assim voces chegam mais rápido!Disse Ju sorrindo.

Elas se despediram e eu tive que esperar a Ju entrar no taxi antes de ir pra casa com a Lia. Era engraçado isso, pois nunca passamos tanto tempo juntos e eu pensei que nunca andaria de moto com a Lia. Se a situação não fosse tão tensa, eu até implicaria com ela por isso. Estacionei minha moto na frente do nosso prédio e descemos da moto.

-Agora vou ter que aguentar o sermão da Raquel! Como se ela tivesse algum direito sob mim!Reclamou ela.

-Eu vou estar com você! Não se preocupe com a Raquel.Falei a abraçando de lado.

-Obrigado!Disse ela sorrindo.

Só a soltei quando chegamos na porta do apartamento do Lorenzo. Mas ela me surpreendeu ao segurar minha mão antes de entrarmos.

-Lia!Gritou Tatá assim que nos viu.

-Você tá bem filha?Perguntou Lorenzo enquanto Tatá abraçava a irmã.

-Eu tô bem sim pai! O Vitor chegou bem a tempo!Disse ela triste.

-Lia você tem noção do quanto me deixou preocupado? Será que você não pensa na sua familia quando vai fazer uma burrada dessas?

-Desculpa pai! Eu prometo que nunca mais faço isso!

-Claro que vai fazer! É impulsiva e acha que nada desse tipo vai acontecer com você não é?Perguntou Raquel.

-E quem é você pra falar comigo desse jeito? Você não me conhece e não sabe nada sobre mim!Gritou Lia furiosa.

-Eu sou a sua mãe mesmo que você não queira!Gritou Raquel descontrolada.

-Se você soubesse a vergonha que eu tenho de ser a sua filha, não ficaria falando tanta besteira! Você não sabe o que é ser mãe e nunca vai saber!Gritou Lia e a Raquel deu um tapa na cara dela.

O tapa foi tão forte que a Lia caiu no chão. Fui até ela e a levantei do chão com todo o cuidado. Ela estava chorando e isso só me fez ficar com mais raiva da Raquel.

-Você nunca mais encoste suas mãos na Lia! Ela não merece ter uma mãe tão desnaturada quanto você!Gritei furioso. –Desculpa Lorenzo, mas essa mulher não merece a filha que tem!

Tirei a Lia da sala e a levei para o quarto dela. Ela ainda chorava bastante e eu estava começando a ficar desesperado com isso. Não gostava de ver ninguém chorando ainda mais se é a Lia.

-Calma Lia! Não chora linda!Falei quando ela se sentou na cama.

-Ela me odeia Vitor! Porque ela faz isso comigo? Vai embora e volta agora só para dar uma de mãe salvadora do mundo!Disse ela levantando o rosto para me olhar.

-Ela não poderia ter feito isso com você!Falei vendo o rosto dela ficando inchado por causa do tapa.

-Porque todo mundo me odeia Vitor?Perguntou chorando.

-Ninguém te odeia Lia! A Ju te adora e aquela sua amiga maluquinha também. Seu pai e sua vó te amam também. Sem falar na Tatá e no seu namorado que devem te amar bastante.

-Você me odeia.Disse ela triste.

-Eu não te odeio! Só gosto de te deixar irritada.Falei fazendo carinho no rosto dela. –Você é uma garota especial Lia, nunca deixe outra pessoa te fazer sentir diferente. Você é única!

-Obrigado Vitor! Não só por ter me salvado hoje, mas também por tudo! E me desculpe por ter ficado te odiando todos esses anos por uma bobagem de criança. Você no fundo é um cara legal!Disse ela sorrindo entre lágrimas.

-Eu escutei direito? Lia Martins dizendo que eu sou um cara legal? O mundo acabou e ninguém me disse?

-Eu disse lá no fundo! Você é muito irritante garoto!Disse ela rindo.

-Você também é Martins! Agora tenta descançar que você precisa dormir um pouquinho.Falei e me levantei da cama.

-Tudo bem seu mandão! Eu vou dormir!

-E só para que eu saíba, agora somos amigos?Perguntei.

-Eu acho que podemos tentar!Disse ela sorrindo.

-Boa noite roqueira!Falei e dei um beijo no rosto dela.

-Boa noite motoqueiro! E obrigado mais uma vez!

-O meu dia seria uma droga se eu não tivesse uma donzela em perigo para salvar!Falei sarcástico.

-Idiota!Disse ela e jogou um traviseiro em mim, mas eu já tinha saído do quarto dela.

Fui para o meu futuro quarto que ainda não estava pronto e me deitei no colchão que estava no chão. Estava tão cansado que dormi em poucos segundos. No dia seguinte eu soube que a Raquel tinha saído de casa e que iria morar no Hostel. O clima ainda estava muito pesado e a Lia não iria para o colégio naquele dia. Ela nem sequer apareceu para tomar café. Decidi não ir provocá-la afinal eu tinha amor a minha vida não é?

Fui para o colégio sozinho e lá encontrei com a Ju, a amiga maluca da Lia e o tal do Gil. Fiquei sabendo que ele era afim da Lia e que eles tinham até fingido um namoro antes.

-Oi Vitor! Onde tá a Lia?Perguntou a Ju.

-Oi Ju! A Lia não estava se sentindo bem hoje de manhã e o Lorenzo a deixou ficar em casa.

-Eu soube do que aconteceu ontem, obrigado por salvar a minha amiga!Disse Fatinha.

-Só fiz o que era necessário.

-Você é tipo o anjo da guarda da Lia agora!Disse Ju sorrindo.

-Pois vai se preparando anjo! A Lia é a garota que mais se mete em encrenca nesse mundo!Disse Fatinha rindo.

-Vai ser um ótimo desafio!Falei sorrindo.

A Fatinha me olhou de um jeito estranho quando eu falei isso.Eu não sabia o motivo mas acho que tinha alguma coisa haver com a Lia. Seja lá o que for, resolvi deixar isso pra lá e curtir o meu primeiro dia de aula no Quadrante.

Lia:

Não fui ao colégio e ainda tive que escutar os sermões do meu pai. Pelo menos eu sabia que a Raquel não estava mais morando com a gente. A manhã se passou lenta e chata. Quando a tarde finalmente chegou a pirralha da Tatá foi para a escola e a minha vó foi fazer compras. Meu pai foi trabalhar e deixou bem claro que eu estava de castigo de novo. Então fiquei tocando guitarra no meu quarto.

Estranhei o Vitor não ter vindo encher o meu saco hoje. Por falar nele, eu tinha ficado surpresa com a atitude dele ontem. Eu realmente não esperava por isso. Ele me defendeu do Lobo e da Raquel também. Agora eu conhecia um lado do Vitor que eu nuna tinha visto antes. O lado que se preocupa com as pessoas e que não é tão arrogante e chato. Tinha que admitir que eu estava feliz por ele estar alí comigo naquele momento. Foi importante pra mim e me deixou mexida.

Estava no meu quarto tocando guitarra, no tédio total. Então resolvi sair do quarto um pouco. Pensei que não tinha ninguém em casa mais quando cheguei na sala, escutei um barulho vindo do sotão que agora iria ser o quarto do Vitor. Fui até lá e o encontrei pindando um das paredes de verde.

-Nossa você tá mesmo cheio de trabalho!Falei vendo a bagunça que estava feita alí.

-Estou mesmo! Porque não deixa de ser preguiçosa e vem aqui me ajudar?Perguntou ele sorrindo.

-Não sei se vale o esforço!Falei mas mesmo assim entrei no quarto e peguei um dos pincéis e começei a ajudá-lo.

-Olha só o que eu achei!Disse ele apontando para uma das paredes.

Ela era verde também, mas tinha uns desenhos pretos de galhos subindo pela parede. Era lindo e tinha pássaros também.

-Caramba! Muito legal Vitor! Seu quarto vai ficar incrivel!Falei realmente surpresa.

-Valeu! Agora vamos voltar ao trabalho se não vamos acabar isso nunca mais!Disse ele voltando a pintar a parede.

-Vitor?!Chamei.

-Que foi?Perguntou se virando pra mim.

-Verde combina com você!Falei passando o pincel na cara dele.

-Você é uma trapasseira!Disse ele enquanto eu apenas ria da cara dele.

-Parece o Hulk!Falei gargalhando.

-Você  também fica linda de verde!Disse ele e passou o pincel na minha cara.

-Agora você me paga!Gritei e começamos uma guerrinha de tinta.

Eu já estava completamente melada de tinta e ele também! Meu cabelo não tinha mais nenhuma mecha azul. O chão do quarto estava todo sujo de tinta e escorregadio também. Isso me fez escorregar e cair por cima do Vitor. Ele nos girou e ficou por cima de mim.

-Agora você vai pagar por ser tão insuportável!Disse ele e começou a fazer cocégas em mim.

-Pará Vitor!!Gritei morrendo de rir.

Consegui me soltar dele me levantei e saí correndo do quarto. Ele veio correndo atrás de mim e íamos sujando a casa de tinta por onde a gente passava. Consegui chegar no banheiro mas não consegui fechar a porta a tempo.

-Te peguei de novo!Disse ele rindo.

-Vitor a gente precisa de um banho cara!Falei tentando recuperar o fólego.

-Tem razão, precisamos de um banho!Disse ele  e me pegou no colo me levando até o box e ligando o chuveiro.

-Não!Gritei mas já era tarde.

Ele me colocou debaixo do chuveiro com água fria. Eu batia nele mas de nada adiantava. Ele me mantinha num abraço apertado e em baixo da água. Nós já estávamos ensopados e morrendo de frio. Olhei para ele e começei a rir. Nós ainda estávamos melados de tinta e completamente ensopados.

-Nós somos dois malucos!Falei rindo.

-Completamente malucos!Disse ele me olhando intensamente.

Naquele momento foi inevitavel não olhar para a boca dele. Ela estava tão perto da minha e ele se aproximou ainda mais. Eu podia sentir sua respiração se misturando com a minha. Meu coração disparou e eu ansiava por tocar meus lábios nos dele. Nada mais importava naquele momento a não ser a necessidade de beijá-lo.

Ele olhou para mim mais uma vez como se esperase a minha aprovação. Como eu não fiz nada para impedi-lo ele se aproximou mais. Eu fechei os meus olhos me entregando aquele momento sem me importar com mais ninguém.  Ele me puxou para mais perto e...