A Verdade escrita por mybdns


Capítulo 2
Capítulo 2




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– Anne! – minha mãe disse. – venha até aqui, meu bem.

– O que foi mamãe? – disse entrando em seu quarto.

– Sente-se aqui, meu amor. – disse dando um lugar para mim em sua espaçosa cama e desligando a TV.

– O que foi? Eu não fiz nada de errado. Qualquer coisa que aquele pessoal da escola disser ao meu respeito é mentira.

– Tudo bem. Não, o Sr. Gandia não ligou. Eu quero te confessar uma coisa.

– O quê? Você não é loira não é? Eu sabia! – disse dando risada.

– Eu estou falando sério, Annelies.

– Desculpa. – vi que o negócio era sério, pois ela nunca me chamava de Annelies, só quando estava brava ou estressada.

Minha mãe respirou fundo e olhou bem dentro dos meus olhos. Pude perceber que ela estava um pouco desconfortável, incomodada com algo.

– Anne, você se lembra de quando você me perguntava do seu pai?

– Lembro...

– E eu dizia que ele havia deixado a gente, quando soube que eu estava grávida?

– Sim.

– Eu dizia aquilo pra você não ir atrás dele.

– Ele não deixou você grávida?

– Não. Ele nem soube que eu fiquei grávida.

– E porque você mentiu pra mim? Você tem noção do que você criou na minha cabeça? Me fez ter uma imagem completamente errada do meu pai! E eu nem sei quem ele é.

– Eu sinto muito. Eu pensei que fosse melhor assim. Eu tinha acabado de começar a trabalhar no hospital. E ele sempre foi muito ocupado. Aquilo foi uma loucura de verão. Estávamos no Hawaii, éramos jovens, estávamos iniciando nossas carreiras...

– Como é o nome dele? O que ele faz? – disse.

– Seu nome é Mac Taylor. Ele é detetive da NYPD.

– Onde ele mora? Me diz!

– Calma, Anne. Eu não sei onde ele mora. E ele não sabe da sua existência, esqueceu?

– Porque diabos você está me contando esta história agora? Então quer dizer que eu fui apenas uma loucura de verão?

– Não! Você foi a melhor coisa que me aconteceu, Anne. E eu estou te contando isso agora porque eu vi o seu pai hoje no hospital. Ele estava interrogando uma vítima e eu era a médica de plantão. Nós conversamos um pouco.

– E você nem falou sobre mim?

– Eu não tive coragem.

– Como assim não teve coragem. Você mentiu pra ele e pra mim todos estes anos, mãe.

– Nós temos que prepará-lo. Não se pode contar para uma pessoa que ela tem um filho, assim do nada.

– Faça o que você quiser. Eu não acredito que você escondeu isso de mim mãe. Eu tinha o direito de saber quem era meu pai!

– Me perdoe, meu amor.

– Eu estou muito chateada com você, Srtª Livy. Mais, você é minha mãe né? A única pessoa que eu tenho no mundo é você.

– Eu te amo.

– Eu também. – disse, dando-lhe um forte abraço. – agora eu vou pro meu quarto. Boa noite.

– Boa noite.

Fui para o meu quarto com uma enxaqueca terrível. Eu não podia acreditar no que a minha mãe acabara de me revelar. Eu estava perplexa. Imagine você descobrir que tem um pai com dezessete anos de vida! Isso era demais para a minha cabeça. Me deitei, mas não consegui dormir. Peguei meu notebook e abri no Google. Digitei: Mac Taylor. Pela primeira vez, na verdade não era a primeira vez porque eu já o vi dando entrevistas inúmeras vezes na TV, mas esta era a primeira vez que eu prestava atenção nele. E ele era lindo. Logo vi de onde eu havia herdado o belo par de olhos claros que eu tinha. Queria conhecê-lo, abraçá-lo e poder dizer a ele o quanto eu havia esperado por aquele momento. Mais, eu não podia simplesmente chegar nele e dizer: Oi meu nome é Annelies e eu sou sua filha. O homem iria cair duro no chão. Parei de pensar nisso e pensei na minha entrevista de admissão na Universidade de Nova York. Iria ser daqui a três semanas e eu já estava nervosa. Minha mãe e meu padrasto, Adam iriam viajar para a Flórida para visitar uns amigos e eu precisava voltar para o colégio. Eu estudava na NY Academic, um colégio particular e enorme, que fica em Manhattan. Ele também é interno, e essa é uma das coisas que eu odeio nele. Não gosto de sentir minha liberdade afetada, ficar presa, ser vigiada 24 horas por dia, cinco dias na semana. Me sentia dentro do livro do George Orwell, 1984, aquele que diz: “O GRANDE IRMÃO ESTÁ DE OLHO EM VOCÊ.” Sinto que o “Grande Irmão” está de olho em mim o tempo todo. E tem outra coisa que eu odeio na NY Academic: o bando de patricinhas que existem lá dentro. Parecem pragas andando de um lado para o outro nos corredores, arrumando o cabelo, retocando a maquiagem, exibindo seu uniforme vermelho e azul das líderes de torcida e esbanjando futilidade. Que nojo. Apesar de a minha mãe ser médica e o meu padrasto ser empresário (ele tem uma rede de livrarias) e nós termos uma situação financeira muito boa, eu não preciso ficar me mostrando para todos. Já havia amanhecido e minha mãe iria me lavar na escola antes de pegar o avião para a Flórida. Eu cheguei e fui direto para o meu quarto, colocar o maldito uniforme. Saia xadrez, camisa social branca, sapatinho de salto preto e meias ¾ brancas.

– Oi Anne! – disse Maya, uma das patricinhas que dividiam o quarto comigo. Ela era esnobe, mas tinha um coração bom.

– Oi Maya. Bonita a sua blusa.

– Ah, você gostou? Foi meu pai que desenhou. – o pai de Maya era estilista.

– Legal.

– Oi meninas. – disse Safira, outra menina que dividia o quarto comigo. Ela era bem gordinha e tinha o cabelo ruivo. Vivia chorando pelos cantos por ser gorda, por nunca achar um namorado etc, etc.

– Qual é a primeira aula? – perguntou Emma, que não era do meu quarto. Ela era a menina mais inteligente da sala, sem dúvida nenhuma.

– Você não sabe, Emma? – perguntei.

– Não.

– É Literatura, Julia.

– Preparadas para o furacão? – perguntou Maya.

– Não. – respondi. – será que ela não consegue ficar de bom humor nenhum dia? Ela me estressa.

– Isso tudo é falta de homem. – disse Alexx, uma das meninas mais rebeldes da sala, entrando em nosso quarto.

– Eu acho que ela sofreu muito no passado. – disse Emma, por fim.

– Olha só, a Madre Tereza de Calcutá, sempre querendo defender as pessoas, por mais ruins que elas sejam. – disse Alexx.

– Ela não é uma pessoa ruim, Alexx. Ela é só um pouco rude. Apenas isso.

Escutamos o sinal tocar e fomos para a sala logo, com medo de o inspetor não nos deixar entrar. O inspetor era outra coisa, sim uma coisa que eu odiava naquele colégio. Era um homem horrível, não digo na aparência, porque ele até que era charmoso. Mais o Gabriel não tinha o menor jeito para tratar as pessoas, era um mau caráter, arrogante. Sentei-me ao lado de Naomi, minha melhor amiga. Ela era brasileira, mas tinha se mudado para NY ainda pequena. Apesar de ela ser patricinha e capitã das líderes de torcida, era a pessoa mais nobre e bondosa que eu já havia visto. Tinha um coração muito puro e não media esforços para ajudar aos outros. Sua família era dona do hospital que minha mãe trabalhava.

– Oi Anne.

– E ai, Naomi?

– Você não vai acreditar no que aconteceu.

– Sua unha quebrou?

– Eu estou falando sério, Annelies.

– Okay. O que aconteceu?

– Eu e o Diego estávamos fazendo compras no shopping ai quem a gente encontra? O Caleb, o Sam, e o Noel.

– Ah, o trio ternura.

– O Sam me chamou pra sair com ele.

– Sério? Que legal.

– É só isso que você fala? Legal? É mais que demais. O Sam é o cara mais gato da escola, além de ser jogador de futebol.

– Eu estou feliz por você, Naomi. – disse sem dar muita importância, mas estava feliz por ela. O Sam era um cara muito bacana e Naomi merecia um cara assim

– Obrigada. Você e o Allan brigaram? – perguntou Naomi, percebendo minha tristeza. Allan era quarterback do time de futebol americano da escola e meu namorado há seis meses. Ele era um cara legal com vinte e seis centímetros a mais que eu.

– Não, claro que não. Eu preciso contar uma coisa pra você.

– Você está grávida?

– Não! Pelo amor de Deus, isso não.

– Então o que é?

– Minha mãe me contou um segredo ontem, antes de o meu padrasto chegar.

– O que é?

– O meu pai não nos abandou quando soube que minha mãe estava grávida, como ela sempre me contou.

– Não? Onde ele está então?

– Bem, ele mora em NY e nem soube que minha mãe ficou grávida. Ele trabalha no NYPD.

– Jura?

– Juro. Ele é lindo, sabia?

– Como você sabe?

– Ele é detetive da polícia criminalística. Eu só digitei seu nome e apareceu uma foto. Simples assim.

– Martins, Evans. – disse a professora de literatura, chamando nossa atenção. – vocês não calaram a boca desde que coloquei meus pés nesta sala.

– Desculpe Srtª Losano. – dissemos, simultaneamente. Ela virou-se para o quadro e escreveu seu nome e a data.

– Abram seus livros na página 42. – ordenou.

– Você vai atrás do seu pai? – perguntou-se Naomi.

– Não. Eu queria, mas vou dar um tempo.

– Com licença, Srtª Losano. – disse Allan, parando na porta e olhando para mim – posso entrar?

– Que horas são, Hudson? Você está atrasado.

– Mais é que eu estava tre...

– Não quero mais desculpas, Allan. Vá para a sala do Sr. Gandia.

– Poxa, professora, deixa o nosso quarterback entrar. – disse Caleb.

– Não se intrometa, Marín. Vá, Hudson, depois conversamos. – Allan saiu de cabeça baixa.

Ela continuou e o dia foi passando. Já era noite quando fui para a biblioteca estudar um pouco. Sentei-me na cadeira para resolver uns exercícios de Física. Nem percebi que Allan estava dormindo no sofá, com a TV ligada bem baixo.

– Anne?

– Allan? O que você está fazendo aqui? Porque não vai dormir na cama?

– Sabe, eu tava aqui assistindo o jogo dos NY Jets e eu acabei dormindo. E você o que faz aqui com esse pijama extremamente curto e sexy? – disse envolvendo seus braços em minha cintura.

– Eu tava estudando um pouco. Fazendo os exercícios de Física. Lá no quarto não dá pra fazer nada com aquelas meninas sempre falando e falando e falando.

– A gente podia namorar um pouquinho, né?

– Você ficou louco? Vai que o Gabriel aparece?

– Você tem razão. Eu vou estudar com você.

– Pega uma cadeira então. – ele puxou uma cadeira e nós ficamos estudando até as dez e pouco.

– Sabe o que eu queria?

– O quê?

– Café.

– Você precisa dormir.

– Eu sei.

– Nada de café. Agora, vamos dormir. – dei-lhe um beijo e fui para o meu quarto. As meninas ainda não haviam parado de discutir. Eu deitei na minha cama e cobri minha cabeça. Cochilei por uma hora e nem vi quando as meninas se calaram. Fomos todas despertadas por alguns barulhos estranhos vindos lá do jardim.

– Vocês ouviram isso? – disse Lucy.

– Parecem tiros. – disse Naomi.

– Acho que é algum menino atirando bombinhas. O Téo sabe fazer isso. – eu disse.

– Você tem razão. – disse Naomi. – vamos voltar a dormir.

Voltamos a dormir. No dia seguinte, fomos acordadas antes da hora, por Gabriel.

– Meninas! Vistam-se logo e deixem tudo como está.

– O que aconteceu, Gabriel? – Lucy perguntou.

– Bem, Srtª Gandia, um colega de vocês foi encontrado morto no jardim.

– Quem?

– Luke Anderson.

Luke Anderson era um dos meninos do time de futebol, estrelinha do colégio, um dos mais populares, mais cobiçados pelas garotas. Era um cara legal, ninguém ali teria motivos para matá-lo. Ficamos estáticas, morrendo de medo, obviamente. Colocamos qualquer roupa e fomos até o salão principal, onde estavam todos os alunos da escola. Procurei Allan e ele estava perto de Sam, os dois visivelmente abalados.

– Eu não acredito que mataram o Luke, velho. – disse Sam, com lágrimas nos olhos.

– Eu também não. – disse Allan, também chorando.

– Eu sinto muito, eu nem sei o que dizer. – disse.

– Você estava ajudando ele né? A passar de ano. – disse Caleb, aparecendo do nada.

– É eu estava. A Sra. Acosta deu uma segunda chance a ele, pra fazer a última prova de História. O Allan me pediu para ajudá-lo.

– Ele era um cara bacana.

– A Brenda não me parece muito triste. – comentou Sam. Brenda era a namorada de Luke. Era uma baixinha loira chata e arrogante que queria ser top model.

– Ela deve estar em estado de choque, coitada. – disse Caleb.

– Coitada? Ela é o ser mais abominável da face da Terra. – disse Allan.

– Nossa, Allan. Ela acabou de perder o namorado. – eu disse, chocada com o que ele disse.

– Você não sabe do que eu sei, Anne.

– E o que você sabe?

– Que ela é uma vadia.

– Isto tá na cara. Mais você acha que ela seria capaz de...

– Bem, eu sou o Detetive Don Flack e nós somos da criminalística. Nosso pessoal irá falar com cada um de vocês, okay? Não se dispersem. – o belo detetive de olhos azuis interrompeu nossa conversa. Logo que Caleb saiu da minha frente, percebi o homem ao lado do Detetive Flack. Era Mac Taylor. Meu coração disparou. Fiquei pensando se era ele que iria me interrogar e pegar as digitais e o DNA como eles sempre fazem. A maioria do pessoal já havia sido interrogado quando uma mulher muito bonita de cabelos cacheados veio falar comigo.

– Olá, eu sou Stela Bonasera, posso lhe fazer algumas perguntas?

– Claro.

– Como é seu nome?

– Annelies Marie Evans.

– Srtª Evans, você estudava com Luke?

– Estudava sim ele era um dos melhores amigos do meu namorado também.

– Entendo. E ele possuía algum inimigo, algum desafeto?

– Não que eu saiba. Eu já o vi discutindo com muitas pessoas, mas só por assuntos bobos, como futebol ou algum trabalho mal feito.

– Obrigada. Posso colher suas digitais e o seu DNA?

– Claro. – ela fez o processo e me dispensou. Na verdade, todos nós fomos dispensados e as aulas foram suspensas até que as investigações fossem encerradas.



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