Pelo Olhar de Um Anjo escrita por Brenda Andrade


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Não sei se vai adiantar pedir desculpas pela demora, mas eu vou pedir mesmo assim... me desculpem pessoal :/ mas a minha situação na escola não está nada boa ):



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Mule abriu um sorriso irônico e então se dissolveu, junto com a cadeira e a sala branca.

Pai e filho se abraçavam.

- Tome cuidado Dean. Se eu não telefonar em uma semana, já sabe o que fazer.

Dean não precisou confirmar nada. Não com palavras.

Do lado de fora do motel, o impala 67 preto os esperava, como se fosse um cachorro bem treinado. Dean simplesmente amava aquele carro.

Uma chave voou da mão de John para Dean que, com o ótimo reflexo que possuía, a pegou surpreso, já sabendo o que aquilo significava.

- Pai, o que...

- Fique com o Impala. Agora ele é seu.

- Mas o senhor ama esse carro...

- Não mais que você.

Dúvida: o amor do John pelo carro não era maior que o do Dean pelo carro, ou o amor do John por Dean era maior?

Isso não importava realmente, pois era curiosidade.

Dean sorriu para as chaves em suas mãos e não pude decifrar seus pensamentos. O sorriso trazia um pouco de preocupação. Talvez porque John estava indo em direção a uma missão perigosa. Talvez estivesse preocupado se teria responsabilidade suficiente para cuidar daquele carro. Talvez por não ter certeza se queria, se algo ruim acontecesse ao seu pai, tirar seu irmão de uma vida normal e segura.

O rapaz, que já não se sentia apenas um rapaz, entrou no carro, colocou uma fita do mettalica no toca-fitas e ligou o veículo.

- Vamos lá, bebê... agora somos só eu e você. – entrei no carro, ainda invisível para Dean – como sempre foi e como talvez sempre seja – e seguimos em direção a Santa Clara.

A viajem poderia ter sido descrita como calma se fosse qualquer um dentro daquele carro invés de Dean. Ele cantava alto todas as músicas que tocavam e sempre estava tocando música. Primeiro foi um álbum inteiro do mettálica, depois um álbum de ACDC, em seguida Led Zepling. As expressões das pessoas que passavam por ele, ou estavam em um posto que ele parasse para abastecer, eram como se perguntassem "Qual o problema desse cara?". Mas Dean não se importava com nenhum olhar direcionado a ele. Ele simplesmente pisava fundo no acelerador e continuava cantando.

Quando chegamos a Santa Clara, Dean direcionou o carro para o primeiro motel que apareceu e foi em direção à recepcionista. E é claro que ele não deixaria uma mulher daquela passar despercebida. Ela era morena, tinha a pele bronzeada e seus olhos eram verdes. Em sua boca, um tom forte de vermelho a deixava mais bonita do que era, mas talvez um pouco... vulgar. Se Dean se importava com isso? Bom...

- Quarto para dois? - perguntou a moça, sem nem mesmo olhar para ele.

- Depende... - a morena olhou para Dean. - ... que horas você termina aqui?

A mulher deu um sorriso, o qual reparei, fez com que o sorriso conquistador de Dean passasse a ser triunfante. Ele sabia que ela tinha aceitado o convite que não fora feito.

- Às onze. - respondeu ela.

- Então sim, um quarto para dois, por favor.

- Nome?

- Patrick Smith. - mentiu Dean, entregando um cartão de crédito para a recepcionista.

- Eu sou Jenna. Aqui está sua chave. Segundo andar. - o cartão acompanhou a chave.

- Obrigado. Ahm... posso pegar? - perguntou Dean, apontando para o jornal que estava no balcão.

- Claro. - respondeu Jenna.

Dean subiu as escadas, lendo a primeira manchete do jornal, que dizia:

HOMEM ASSASSINADO DENTRO DA PRÓPRIA CASA.

Paul Neith, de 27 anos, foi assassinado às 04:00 de ontem, na garagem de sua própria casa. Polícia afirma que está fazendo o possível para achar o assassino e garante que não houve arrombamento. A morte foi executada com um tiro na cabeça, o que leva uma questão a ser levantada, pois a arma do crime não foi encontrada, dispensando a possibilidade de suicídio.

Aquilo estava escrito apenas na primeira página do jornal, então Dean leu o resto da reportagem para verificar o nome dos parentes, caso tivesse algum, de Paul Neith, para maiores informações. A única pessoa próxima a Neith que o jornalista citara fora sua esposa Katherine Neith. Isso não era o bastante, então primeiro ele teria que ir pessoalmente conferir o que tinha acontecido. Entrando no quarto do segundo andar, trocou a roupa casual que vestia por um terno simples com gravata preta listrada de branco, procurou dentro da mala que trouxera consigo uma identidade falsa de agente do FBI e saiu em direção à cena do crime.

Eu costumava ajudar Dean indo à cena do crime primeiro e deixando as pistas mais claras. Porém, assim como John, eu teria que aceitar que, aquela criança que eu odiava por ter a obrigação de protegê-la de coisas tão insignificantes havia crescido. Então eu simplesmente cheguei à cena do crime antes para não ter que sentir o balanço constante do Impala. Poderia isso ser agradável para um humano, mas para um anjo, acostumado a se teletransportar para onde é que tenha vontade de ir, com certeza não o era.

A garagem onde acontecera o assassinado era grande o bastante para uma garagem normal, mas não o bastante para caber dois carros. No chão, a poça de sangue que havia sido limpada ainda deixava vestígios, mesmo aos olhos humanos, e em cima deles estava marcado, com algum tipo de tinta branca, o formato de um corpo. Eu já havia visto aquela mesma marca,  às vezes com o formato do corpo em ângulo diferentes, mas sempre se encontrava no mesmo lugar onde o corpo de um pessoa morta fora encontrado. Havia um cheiro forte, além do sangue e ainda além do mofo do lugar, que vinha de algum lugar não muito longe da marca do corpo. E vinha do chão. Agachei-me sobre o local e descobri que cheiro era aquele. Pólvora. Definitivamente Paul Neith levara um tiro, mas que tipo de pessoa usava, nos dias de hoje, uma arma de pólvora?

Não tinha muito o que descobrir naquele lugar. Na verdade, não tinha nada além do que os policiais já haviam descoberto. Dean não demorou a chegar e eu observei-o enquanto examinava a cena do crime. Ele verificou exatamente as mesmas coisas que eu havia verificado minutos antes, e chegou à mesma dúvida que eu tive quando encontrou pólvora no chão.

Ele então decidiu visitar Katherine.

- Katherine Neith? - pergutou Dean, à porta da casa onde soubera que Katherine poderia estar.

- O que quer com ela? - perguntou uma mulher de não mais de 30 anos, com cabelos pretos e olhos verdes.

- Eu sou o agente Roth, gostaria de fazer algumas perguntas a ela.

A mulher o encarou, como se fosse soltar fumaça pelo nariz e fogo pela boca, queimando Dean sem hesitação.  Coloquei dois dedos entre suas sobrancelhas para aliviar a tenção. Seu olhar suavizou um pouco.

- A policia já veio aqui. - ponderou ela, finalmente.

- Eu sei disso, mas terei que insistir.

- Posso ver sua credencial?

Dean pegou a carteira do FBI e a abriu.

- Entre.

Dean deu um passo para frente, mas a mulher bloqueou o caminho.

- Por favor, não pegue pesado com ela. Ela está sofrendo muito. - seus olhos eram apenas súplica.

- Tudo bem. - prometeu Dean, mas eu o conhecia bem. Ele simplesmente não se importava muito com o sofrimento da viúva.

- Por aqui. - indicou a mulher, passando por ele.

Ela o conduziu pela sala, onde à direita havia a cozinha da casa. Em uma cadeira branca, uma mulher sentava-se, apoiando os braços na mesa, que também era branca, assuando o nariz repetidas vezes e fazendo um esforço para não continuar chorando. Seus cabelos castanhos claros provavelmente seriam bonitos se não estivessem muito mal presos em um rabo de cavalo e cheio de frizz. Em volta dos seus olhos havia olheiras fundas e maquiagem borrada.

- Senhora Neith? - perguntou Dean, se aproximando e puxando uma cadeira para sentar. - Eu sou o agente...

- Roth - completou ela, tristemente. - Ouvi você chegando.

- Ah, claro, eu... A senhora pode nos dar licença, por favor? - perguntou Dean, dirigindo-se para a morena que parara na porta da cozinha.

- Eu não acho que seja uma boa...

- Está tudo bem. - mentiu Katherine.

- Certo. - disse a morena, com sarcasmo, mas saiu do cômodo em direção à sala de estar.

- Senhora Neith, tentarei ser o mais breve possível.

A mulher não disse nada.

- A senhora notou algum cheiro estranho na casa de vocês antes do ocorrido?

Ela pensou.

- Não, nenhum cheiro.

- Problemas na fiação? Frio em um dia de calor?

- Não, nada. O senhor disse que é do FBI?

- Sim.

- Mas o que isso tem a ver com...

- Senhora, tentamos olhar por todos os ângulos possíveis. Seu marido aparentou algum comportamento estranho nos último dias?

Ela hesitou. Consegui perceber seu nervosismo.

- Não, ele estava normal. - ela estava mentindo, sem dúvida.

- Entendo... bom, obrigada pelo seu tempo. - Dean levantou-se e foi guiado pela morena até a porta.

Eu continuei observando Katherine chorar compulsivamente. A minha vontade era aparecer para Dean em algum sonho e dizer-lhe que ela tinha algo a ver com o que  acontecera com Paul Neith. Mas meu dever não era ajudá-lo e sim apenas protegê-lo. Dei as costas para a mulher em prantos e caminhei em direção à porta, esquecendo-me completamente do teletransporte.

- Sabe de mais algum parente ou amigo de Paul Neith que eu possa ter contato? - perguntou Dean, já do lado de fora da casa.

É, ele sabia que Katherine estava mentindo. Ainda não sei porque o subestimava tanto.

- Bom... - a morena falou o nome de um irmão e quatro amigos, e o endereço de cada um.

Dean entrou no carro e seguiu em direção à casa do irmão de Paul - Caio Neith.

Dean perguntou a Caio sobre o comportamento de Paul nas últimas semanas, e a resposta não fora a mesma de Katherine.

- Ele andava meio paranoico, assustado com tudo. Uma vez, à noite, estava andando com ele pela rua e um gato preto passou por nós... devia ter visto o pulo e o grito que ele deu. Na hora eu ri, mas percebi que ele continuava assustado. Era como se um fantasma estivesse ao lado dele o tempo todo. - fora o que Caio dissera. E fora o que os quatro amigos também descreveram como comportamento de Paul nas últimas semanas antes do assassinato.

Dean passou em uma lan-house no caminho de volta para o motel. Já estava anoitecendo quando ele saiu de lá com uma conclusão formada sobre o caso. Eu não prestei muita atenção no que ele havia pesquisado, então não fazia a mínimida ideia do que poderia ter acontecido com Paul. 


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Notas finais do capítulo

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