Quarta-feira, 6:30 AM.

Um ruído irritante alarmou os meus ouvidos, era uma espécie de despertador tocando. Abri os olhos com certa dificuldade, algo estava me impedindo de fazer as coisas normalmente, algo me deixava indisposto. Não sabia o que era. Desliguei logo aquele tal despertador. Eu na verdade nem lembrava que tinha um despertador... Mas que seja. Ele estava tocando e me irritando, então... Eu o desliguei.

Depois retirei o cobertor que estava sobre mim e coloquei meus... Chinelos? Olhei ao redor e estranhei. Um... Quarto? Eu não me lembro de ter um quarto. Ou melhor, eu não tenho um quarto! Eu sou Uriel, um anjo, eu moro no céu e...!

De repente percebi algo.

— Ah... Droga. Onde eu estou?

Observei-me.

— E esse corpo... Não é meu. Algo realmente está errado...

Corri em direção a uma espécie de... Como é o nome desse lugar mesmo? Ah, Banheiro... Sou uma porcaria com coisas terrenas (se é que estou onde agora penso que estou).

Corri ao banheiro e olhei-me no espelho.

— Droga! Não pode ser... — Passei a mão nos cabelos, nervoso.

No céu, eu tinha um corpo de imagem celestial, com cabelos negros e olhos acinzentados. Porém, eu estava loiro e com olhos castanho-claros a meus veres bem enjoativos. Pode até parecer estupidez, mas... Senti-me muito “albino”. Essa “casca” era de cor clara na maioria de suas características! Cabelos loiro-claros, — Num tom idiota quase bege. — Olhos também claros, — Praticamente avelã, tom muito idiota também. — Pele clara e, aliás... Eu estava vestido em um pijama branco (Uma. Cor. Clara!), sem estampa alguma, entretanto havia um decote ou algo do tipo no peitoral. Aquele branco do tecido daquelas vestes estava um pouco bege, por isso combinava totalmente com as “minhas” feições (aquilo não poderia ser eu...). De qualquer modo, ainda era enjoativo.

“Esse garoto deveria ter algum tipo de problema mental...”, pensei bufando e jogando água no meu rosto.

— Casca inútil! Não deve ter mais de 18 anos e provavelmente mora com a “mamãe”... — Falei revirando os olhos.

— Arian, querido! Vai se atrasar para a escola! — A mulher falou abrindo a porta do quarto.

“Arian... Então esse é meu nome? Quase tão ridículo quanto o corpo...”, pensei antes de dizer qualquer coisa.

— Já vou, mãe! — Resmunguei, mas na verdade eu não havia dito aquilo, “Arian” havia ultrapassado as barreiras.

A mulher simplesmente saiu, fechando a porta e murmurando um “assim espero”.

“Arian?”, murmurei mentalmente.

“Olá... Você por acaso é um...?”, perguntou ele mentalmente, tentando se focar o máximo que podia, ele pelo jeito não sabia como funcionava uma conversa mental.

“Obviamente um anjo.”, respondi no tom mais rude que pude. “E você é um humano... Da Terra, certo?”, perguntei.

“Certo, mas... Isso também... É meio que óbvio né?”, perguntou ele. Estranhei a sutileza. Eu fui tão rude e ele... Foi até gentil. Humanos são tão estúpidos assim?

“Claro que não! Eu simplesmente poderia estar no Inferno e não saber disso... Pense mais longe, garoto...!”, adverti num tom de desdém.

— C-certo...! Mas... Você é mesmo um anjo? Você é... Muito rude! — Falou ele em voz alta, acho que não aguentava mais forçar sua mente a pensar alto... Parecia um idiota.

Tomei a boca dele para fazê-lo parecer mais idiota ainda:

— E quem é você para dizer o que eu devo ser?! — Praticamente gritei. — Oras um humano...! — Respondeu ele também em voz alta e continuou. — E...! — Ele diminuiu o tom da sua própria voz. — Pare de usar a minha boca para falar coisas tão rudes... — Reproduzi um som de desdém. — Até parece que vou fazer isso...! E também, de onde você tirou a ideia de que humanos são tão importantes assim? Há, há, há... – Ri, e o garoto se enfureceu e decidiu falar. — Tá! Já chega! Eu tenho que ir pra escola, deixa eu me trocar! — Repreendeu. — Ok... — Falei num tom de redenção, mas mesmo assim, era claro e óbvio que eu não havia me rendido.