― Aquela garota ali – apontou para Kelsey – não tem nada comigo. Quem foi o babaca que inventou isso logo no meu primeiro dia de aula?

A sala começou a murmurar e o professor ficou irritado e despontado com a atitude do aluno novo. Kelsey por outro lado estava vermelha e sentia que a qualquer momento iria se explodir de raiva. Não bastava ter o seu nome na boca das garotas que pareciam odiá-la. Teria que aguentar as fofocas sobre ter sido rejeitada por Ren, sem nem mesmo poder falar algo ou se defender.

― Senhor Rajaram sente se, depois da aula você pode conversar com seus colegas para esclarecer como é sua vida pessoal. – respondeu o professor querendo mostrar calma, mas percebia claramente que estava a ponto de gritar com o aluno novo – Pessoal, vamos largar de barulho e fazer esse exercício que marquei.

― Professor mais uma coisa – Ren continuava na porta sem dar um passo – o senhor poderia marcar outro exercício mais fácil.

Ninguém entendeu o porquê que o Dhiren falou aquilo, pelo que todos sabiam ele tinha acabado de chegar à escola e não era diretor para pedir que o professor trocasse seu conteúdo.

― Senhor Rajaram, não posso fazer isso. Não importa quem o senhor seja. – respondeu.

― Tudo bem então – Ren disse e foi se sentar com um sorriso no rosto, de acordo com Kelsey ele parecia querer humilhar o professor.

As aulas que passaram continuaram com conversas sobre Ren, Kelsey e aquela cena que o rapaz fizera em frente à classe inteira. Todos estavam achando o comportamento de Dhiren estranho e rude.

O sinal tocou para o termino da aula e Kelsey esperou todos saírem, incluindo Ren que conversava com uma garota loira que durante todo o tempo o mandou bilhetinhos. Após a sala ficar vazia, arrumou seus materiais e saiu direto para a saída. Não estava a fim de tentar fazer amigos naquele lugar.

Antes se perguntassem para ela o que gostaria de fazer, com certeza responderia que seria conhecer pessoas para ver se a timidez passasse. Mas, agora, depois do que passou no segundo dia de aula, tinha ainda mais vontade de voltar para a antiga casa e reencontrar Manu.

Seu pai chegou no horário correto, então não teve tempo de se sentar e analisar os colegas de sala. Quando chegou em casa sua mãe estava fazendo sanduíches de pasta de amendoim e o cheiro doce estava em todo o local.

― Filha venha comer comigo, fiz para nós duas – sua mãe gritou depois de escutar o barulho da porta.

Kelsey sentou em silêncio na cadeira em frente sua mãe e pegou um sanduíche para comer. Sua expressão dizia o quanto estava insatisfeita e triste com essa mudança em sua vida.

―O que aconteceu, meu bem? – sua mãe perguntou.

― Nada, por quê?

― Kelsey eu te conheço muito bem, aconteceu alguma coisa na escola?

― Nada de especial – respondeu tentando dar um sorriso forçado.

― Tudo bem, não vou perguntar mais. Mas se alguma coisa acontecer quero que me fale que resolveremos isso na mesma hora.

― Eu estou bem, não fique preocupada. Acho que é a nova rotina.

―Ah! Já ia me esquecendo, hoje iremos ao shopping para comprar um celular para você. Era isso que você tinha me pedido certo?

― Sim. – Kelsey disse sorrindo e pela primeira vez se sentiu alegre naquele lugar.

― Então, suba, tome um banho que quero sair mais cedo.

A garota fez o que mãe pediu, subiu e tomou um banho. Colocou uma calça jeans preta e uma blusa mais soltinha da cor azul. Para os pés escolheu uma sapatilha preta e pegou uma bolsa transversal com franja. Soltou os cabelos que estavam ondulados pelo coque que havia feito e desceu para encontrar com sua mãe.

― Querida, acho que não vai ter jeito de ir com você! – falou sua mãe quando viu a filha.

―Podemos ir outro dia. – respondeu Kelsey.

― Não mesmo, eu já fui adolescente e sei o quanto você deve estar querendo falar com a Manu. Então, tive uma ideia. Vou te deixar no shopping e enquanto você escolhe o celular eu vou na entrevista de emprego. Pode ser assim?

― Pode. Acho que...

―O que?

―Nada não. Vamos?

―Sim.

As duas entraram no carro e seguiram para o shopping que era na direção da entrevista de emprego que sua mãe teria que fazer. Kelsey estava achando ruim e ao mesmo tempo um pouco bom escolher o celular sozinha. Por mais que amasse sua mãe, não queria que ela palpitasse em relação ao modelo que escolhesse.

Chegaram ao destino pouco tempo depois e Kelsey se espantou com o lugar. Era enorme o shopping da cidade, tinha um estacionamento grande e fontes de água que deixavam o lugar com uma aparência real.

― Toma o cartão de crédito.

― Obrigada, mãe. – o pegou e colocou na bolsa.

Kelsey saiu do carro e procurou a entrada principal do shopping. Viu uma placa escrita “entrada principal” e seguiu para ela. Entrou no shopping e ficou maravilhada com tantas lojas de variedades diferente. Entrou em uma loja de eletrônicos que ficava logo na entrada para ver se encontrava um modelo de celular que fosse bom e barato.

― Posso te ajudar? – perguntou alguém e Kelsey virou para ver quem era.

― Si-sim – disse um pouco sem jeito.

― Procura algo em especial? – o rapaz que fazia a pergunta era alto, tinha o cabelo ruivo e os olhos calmos, parecia ser da idade de Kelsey.

― Não – ela disse e movimentou a cabeça também sinalizando um não – Procuro um celular que seja bom e ao mesmo tempo com um...

― Preço razoável?

― Sim – ela falou balançando a cabeça incansavelmente.

― Siga-me. Vou lhe mostrar os modelos novos que chegaram.

O rapaz mostrou vários modelos e celulares de diversas cores. Kelsey acabou gostando de um da cor rosa e que abria, afinal era bom e tinha um preço razoável.

― Senhorita? – perguntou ele enquanto redigia o comprovante de compra.

―Kelsey – ela falou um pouco tímida, mas já acostumada com a presença do rapaz.

― Vou fazer um preço bom para você, 10% por cento de desconto.

―O-obrigada, senhor.

―Senhor? - ele deu uma gargalhada longa e sincera. - Tenho a sua idade. Você estuda no mesmo colégio que eu. Te vi hoje lá.

― Me viu? – Interrogou sem jeito.

―Sim, você é aluna nova, estava sentada com o irmão do Kishan. Acho que todo mundo te viu nessa hora.

Kelsey se lembrou da cena de Ren atravessando o refeitório e todos olhando para ele e depois para ela. Sentiu que a sua bochecha estava esquentando e percebeu que corava na frete do atendente. Virou o rosto para disfarçar, mas não teve sucesso.

― Desculpe-me. Acho que não deveria ter comentado sobre isso.

― Tudo bem. – ela disse, engasgando nas palavras..

―Assine aqui, por favor – ele disse e entregou um papel para ela – Meu nome é Castiel

― Kelsey Hayes. – falou olhando para o papel.

― É eu sei. – ele sorriu e apontou para comprovante de compra.

Kelsey sorriu entendendo a piada e pegou a sacola com a caixa do celular.

― Espero te ver na escola novamente. Boa tarde.

―Obrigada. Boa tarde – disse e saiu da loja.

Ela tinha levado o pedaço de papel com o numero de Manu no bolso para que quando comprasse o celular ligasse no mesmo momento para a amiga. Sentou se em uma mesa na praça de alimentação e pediu um suco de laranja em um fastfood.

Tirou o celular da caixa e começou a discar o número da amiga. O telefone de Manu começou tocar e a garota atendeu mesmo não sabendo quem era do outro lado da linha.

― Alô – disse a morena.

― Manuela? – perguntou a garota com um tom nervoso na voz por estar conversando com a amiga.

― Kelsey, é você? – gritou – Não acredito que comprou um telefone. Isso é muito bom!

― Tem dez minutos que comprei um celular. – falou aliviada por reconhecer a voz de Manu e conseguir conversar normalmente.

―Nossa, você deveria ter comprado isso ontem! Fiquei preocupada com você. O pessoal na escola notou sua falta - comentou tentando agradar Kelsey.

― Engraçado isso – suspirou aliviada pela notícia. - Aqui, ninguém notou minha presença...

―Então, você já fez amigos ou amigas?

― Não – respondeu Kelsey – não fiz amiga e nem amigo. Só notaram minha presença quando outro aluno novo sentou juntou comigo no refeitório. E bem... Depois que saiu um boato que eu tinha dado em cima dele e depois quando ele gritou para todo mundo que eu não tinha alguma coisa com ele. Foi... Horrível! – as palavras ressoaram e o vento levou todo o peso que estava em suas costas.

― Nossa, isso tudo aconteceu com você nesses dois dias...? – Manu hesitou em continuar a frase, sabia que a amiga odiava ser o centro das atenções – Você tentou esclarecer que foi um mau entendido?

―Não teve jeito.

― Por quê? – perguntou curiosa.

―Porque não tenho coragem de conversar com ninguém.

―Ai, amiga desculpa por não estar ai junto! – lamentou Manu – Queria muito estudar no colégio que está estudando. Parece muito perfeito pelas fotos e larga de ser tímida. Aposto que voltou a ser aquela Kelsey tímida? E esse garoto, como é que se chama?

―Sim e... é Dhiren.

― O nome dele é exótico, mas o mais importante: ele é bonito?

― Não sei, Manu – começou a lembrar dos olhos azuis de Ren e do seu sorriso.

― Como assim? Não sabe ou não quer falar? Anda, me responde! – Manu se agitou do outro lado da linha.

― Tá, vou falar – Kelsey aumentou o tom da voz, exaltando um pouco. - Ele é bonito... Tem os olhos azul cobalto, um sorriso branco, pele bronzeada e cabelos pretos jogados no rosto... Porque parece que ele não gosta de pentear o cabelo...

―Nossa! – Manu gritou do outro lado deixando Kelsey um pouco surda e interrompendo suas palavras – Seu celular tem câmera?

―Tem, por quê?

― Você tem uma missão amanhã. Vai tirar uma foto dele e me enviar. Sabe como fazer isso?

― Não vou fazer isso! Está doida? Não tem jeito, é impossível!

― Vai fazer sim! E é para ontem! Quero ver esse tal de Dhiren o mais rápido possível! Faz isso por sua amiga querida, a Manuzinha que está a uns 200 quilômetros de distância e não pode ver o gato pessoalmente.

―Ele não é assim tão...

― Gato? Aposto que é muito gato e você não quer me falar dos detalhes.

Sentindo que Manu não iria parar de falar, Kelsey gritou:

―Então, tá! Vou tirar uma foto e te mandar, mas não prometo que ela sairá boa, porque ainda não sei mexer direito no celular.

― Combinado, então! - Manu gargalhou. - Amiga, tenho que desligar agora, tenho que cuidar do meu irmão para minha mãe. Não esquece da minha foto, tá?!

― Não vou esquecer. Até mais. Vou te ligar depois.

―Tchau. Pode ligar.

Kelsey desligou o celular, bebeu seu suco e foi em direção a saída do shopping. Imaginou que sua mãe talvez já estivesse esperando. Passou em frente a loja e viu Castiel, ele sorriu delicadamente e acenou. Sua mãe estava com o carro estacionado em frente ao shopping e esperava ansiosamente, como pensara.

― Qual celular comprou? - Interrogou a filha quando essa abriu a porta do automóvel.

― Um comum – falou mostrando para mãe.

―Que graça, Kelsey! – a senhora Hayes respondeu pegando o celular e abrindo para ver como era. – Já ligou para alguém?

― Só para Manu. – disse sorrindo.

―Por isso está alegre?

― Acho que sim - respondeu lembrando da missão. - Como foi a entrevista?

―Foi ótima.

―Conseguiu o emprego? – Disse esperando uma resposta positiva.

―Bom... Eles estavam precisando muito de um administrador de finanças e...

―E? - levantou uma sobrancelha, pois a curiosidade era grande. - Para de fazer suspense mãe.

―E eu fui a escolhida dentre todos os 50 candidatos! - Sra. Hayes vociferou e bateu palmas.

―Que bom, mãe! - a garota falou entrando no clima da mãe.- Isso é muito bom!

Depois de conversarem no estacionamento por alguns minutos, foram para casa. Kelsey escutou o que Madison faria na empresa e o quanto ganharia. Isso a deixou muito feliz, estava realmente alegre pelas coisas estarem dando certo para sua mãe.

Somente algo deixava um pouco receio em seu peito: como tiraria uma foto de Ren depois do que ocorrera?