―Vou ser então, de agora em diante – ele pausou e sorriu -, mais do que um amigo. Vou ser o seu namorado.

*****

Kelsey voltava para a sala de aula abraçada com Ren. Apesar, de estar inteiramente ruborizada e com vergonha de olhar diretamente para os olhos dele, sorria. Sorria porque agora parecia ter tirado um peso de seus ombros, por ter dito “sim, o que sinto é bem mais do que deveria sentir por um amigo”. Nunca imaginara que Dhiren poderia corresponder o seu amor. Nunca imaginou que seria tão feliz como agora.

―Ren – falou enquanto andava -, eu serei sua namorada e amiga.

―Obrigado, Kells. – respondeu apertando de leve o queixo dela e sorrindo.

Dhiren estava contente, sentia que agora estava inteiro. Aquele sentimento, que fazia sua pulsação acelerar, as mãos soarem e tudo a sua volta sumir para somente olhar para Kells, era a melhor coisa que lhe acontecera em todos os anos que já vivera. O vazio que tinha em seu peito, que o fazia desistir de procurar uma solução para a maldição, agora desaparecera e fora domado por alguém quente, sorridente, tímida e, claro, com cheiro de creme adocicado que lhe lembrava pêssego.

Entraram no prédio da escola sorrindo. Os alunos os encaravam com curiosidade, como sempre, Ren era o centro das atenções e desde que chegara ao colégio sempre fora o alvo dos boatos. Agora, ao lado de Kelsey deixava explicito para todos que Ambre era somente um passado e que os comentários que surgira sobre os dois, não passaram de simples comentários. Kells, por outro lado, não estava se sentindo tão bem assim sendo “fuzilada” pelos olhares, mas sabia que amava Ren e estava disposta a se acostumar com isso, afinal ele é o dono da escola e o seu namorado.

―Kelsey, vamos para a sala. Depois, quando a aula terminar, daremos essa notícia aos seus pais.

―Meus pais? – perguntou com a voz trêmula.

―Sim, seus pais. Não quero que eles pensem que quero me aproveitar de você – sua bochecha ficou corada e percebendo isso abaixou o rosto.

Nesse momento, Kells se lembrou de Tifany, a pessoa que mais surtaria e gritaria ao saber que agora ela e Dhiren estavam juntos. Chegaram à porta da sala e instantaneamente Fany se levantou da cadeira e arregalou os olhos. Como aquilo estava acontecendo? Pensou enquanto passava a mão em suas pálpebras para limpar a visão. Sim, estava acontecendo – Ren e Kelsey juntos, abraçados como um casal, quase normal se não fosse pelo tom vermelho que insistia em colorir os rostos deles.

Os dois se separaram e cada um fora para o seu lugar. Na sala a reação das pessoas não foi diferente do resto da escola. Alguns murmúrios surgiram e de repente todos estavam conversando sobre eles. Kelsey sentia suas bochechas ficarem vermelha e apressou para chegar até sua carteira.

―O que foi isso? – Tifany interrogou batendo a mão da carteira da amiga.

―Isso? – respondeu hesitando, pois sabia que Ren a estava escutando.

―Sim, isso. Por que vocês dois estavam abraçados? Viu o tanto de gente que estava encarando essa cena... Um tanto bizarra?

―Bi-bizarra?

―Sim. Bizarra, Kells foi muito estranho vocês dois estavam – ela pausou para pensar -, estavam... Sei lá! Entende?

Kelsey queria rir, pois via que Fany estava realmente chocada. A expressão dela dizia claramente que Kells devia explicações e detalhes que passaram nas conversas que tiveram. Dhiren escutava tudo e sorria por causa da situação imposta por Tifany, ele gostava de quando Kells se sentia contra a parede e ruborizava, mostrando que além de tímida tinha um pouco de ingenuidade em seus gestos.

―Estamos juntos – Kelsey disse em um tom baixo para que somente Tifany escutasse.

―O que? – gritou em resposta – Como assim? Ontem mesmo você estava afastada dele – começou a falar baixo quando percebera que a turma olhava para ela -, ontem mesmo você estava se afastando dele. Eu não entendo... Sinceramente, o que está acontecendo?

―Eu disse - respondeu no mesmo tom -, estamos juntos. Eu o amo, você mesmo sabe disso e ele disse que queria ficar comigo. Do meu lado.

―Sério? Isso é fofo, mas muito estranho. Vou ficar de olho nele.

―Você é do contra sabia? – Kelsey disse rindo – Até vinte minutos atrás estava me dando um apoio exagerado para que eu conversasse com Ren ou ficasse perto dele. Eu é quem não consigo entender.

―Eu sei que sou um pouquinho complicada, só que você e o Dhiren são bem mais. Isso eu tenho certeza absoluta.

Ficaram rindo e achando graça do que acabaram de dizer uma para outra. Kelsey sentia se bem quando pensava que Ren gostava dela também, como causa disso ficou o resto da aula sonhando acordada com a possibilidade de agora eles ficarem juntos para sempre. Talvez estivesse sonhando muito, mas imaginar tê-lo ao seu lado era algo que lhe enchia de alegria.

O sinal do recreio batera e ela esperou Dhiren para irem juntos para o refeitório. Fany que estava dando uma força para o relacionamento dos dois, disse que precisava adiantar algumas matérias e que usaria o intervalo para fazer isso.

Ren quando a viu apertou a mão dela e, praticamente, a arrastou para o refeitório para que pudesse ficar o máximo de tempo ao lado de Kelsey. Sabia que a noite não poderia estar junto dela, como homem, por causa do tigre e isso o chateava. Agora, que tinha a jovem para si gostaria de fazer coisas que casais fazem como: comer juntos, passear no parque, ir ao cinema ou até mesmo estudar juntos.

―Kells, vamos rápido precisamos pegar uma mesa – disse apressado enquanto a conduzia pelas escadas.

―Tudo bem – respondeu tentando acompanhá-lo.

―Vou comer o que você gosta e você o que eu gosto, feito?

―Fe-feito. – concordou, mas sentiu seu rosto ficar quente.

Passaram pelo corredor que se ligava ao refeitório, Ren andava rápido e Kells corria atrás dele, pois sua mão estava dada à dele. Quando chegaram ao local Dhiren mirou em uma mesa e andou até ela. Sentaram no banco, um de frente para o outro. A sensação que Kelsey tinha era a de que estava sendo filmada, por causa do tanto de gente que olhava para eles.

―O que você vai pedir? – Ren perguntou sorrindo, demonstrando que estava animado para saber o gosto dela.

―Bem... Acho que você não vai gostar muito do que costumo pedir – respondeu baixo, mas tentando elevar o volume de sua voz.

―Pode falar eu encaro qualquer coisa. Claro se for comida vegetariana. – disse em tom de brincadeira.

―Então, tá – Kells sorriu achando graça e pronunciou no mesmo volume que ele – Sanduíche vegetariano com chá gelado.

―Sério? E você disse que talvez eu não fosse gostar? Não teve graça Kelsey, pode falar de verdade o que você gosta de comer.

―Ma-mas – ela não entendeu o porquê daquele comentário -, é isso que normalmente eu peço.

―Isso é verdade?

Kells assentiu com a cabeça.

―Nossa. Estranho... Esse gosto, porque normalmente eu também como isso. Temos um gosto muito comum. Isso é bom! – Ren exclamou e riu, pois achou graça dela estar tão tímida com a reação dele.

Dhiren buscou dois sanduíches e dois chás gelados. Comeram em silêncio, mas trocando olhares. A necessidade de estar sempre afogando no olhos azuis cobalto de Ren fazia com que Kelsey suspirasse.

― Oi, para vocês dois – Kishan sentou ao lado de Ren e deu um tapa na costa do irmão, quase o engasgando.

―Oi – Kells respondeu vendo que Dhiren tentava engolir o último pedaço que colocara na boca.

―Está doido Kishan! Quase engasguei – ele disse e logo tomou um pouco do chá. – O que você quer?

―Desculpa querido irmão – Kishan respondeu com sarcasmo -, mas a gente tem um problema e acho que você não vai gostar.

―Um problema? Mas...

―Na parte da manhã do Sr. Kadam foi visitar o Nathaniel e dar apoio a mãe da Ambre. O que ele viu não foi agradável. O cara estava com marcas de darda.

―Isso é impossível. Como alguém poderia aparecer com isso.

―É isso que vamos ter que descobrir. – Kishan disse encarando Kelsey.