Excluídos escrita por Matheus Saioron


Capítulo 15
Capítulo 15- Diferenças que nos tornam iguais




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Aposto dez dollares se adivinharem onde eu dormi naquela noite? No sofá é a resposta certa, e quem acertou vá requerer o dinheiro em qualquer lugar, menos comigo. Não rolou nada, até porque não havia clima para tal eventualidade.

Eu dormi no sofá e Peter simplesmente não dormiu; ficou a noite inteira do meu lado vendo televisão. Quando acordei, eu tinha visitas. Angel, Chris e Rachel estavam lá me privilegiando com a presença deles. Fomos para o meu quarto, afinal ainda estava preocupada com Angel.

-Me desculpe, Laura. – Pediu Angel entrando no meu quarto.

-Ah, que nada, Angel. Ninguém more de véspera. – Falei rindo da situação.

-É por isso que eu te amo, Laura. Apesar de tudo ainda possui forças para nos fazer rir. – Disse o Peter e o Chris assentiu com a cabeça.

-E então, o que era a notícia da mensagem daquele dia, Angel? - Questionei tirando aos poucos o sorriso do rosto. 

-Ah, perto do seu acidente o meu problema vira drama de adolescente. - Acrescentou Angel rindo. - Naquele dia, eu tinha ido à loja comprar umas peças de roupas novas; você acredita que a mulher me olhou dos pés a cabeça e perguntou se eu tinha dinheiro para paga-la? 

-Não... Por quê ela fez isso? - Questionou interessado o Chirs.

-Ah, aposto que é por eu ser negra. A escravidão pode ter acabado, mas o racismo está longe do fim. As pessoas me julgam, mas não falam. Sempre tem aquelas piadas toscas, ou um olhar desconfiado que esconde um preconceito terrível. - Explicou a Angel. - Na hora, eu fiquei sem reação e decidi não comprar mais nada na loja. 

-Por quê você fez isso, Angel? - Não tinha acreditado que ela saiu da loja por causa do preconceito da vendedora. - Você sabia que tinha dinheiro para comprar os produtos da loja...

-Às vezes, temos que ter classe para vermos que não somos bem-vindos em algum lugar. Fiz o melhor, afinal discutir com ela não ia me levar a lugar nenhum. 

-Isso não vai ficar assim. - Falei me levantando da cama.- Ela vai ver o que o preconceito dela pode causa a ela. 

-O que você vai fazer? - Questionou o Peter. - Você saiu do hospital ontem, Laura...

-Eu vou fazer justiça; aproposito sem nada ter a ver com o assunto, eu e o Peter estamos namorando. Não vão desejar parabéns ao mais novo casal? - Dei a noticia pegando a minha bolsa e sorrindo pra Peter. 

-Parabéns, acho que são perfeitos juntos. -Falaram Chris e Angel.

-Vamos! - Gritei abrindo a porta do meu quarto, me sentindo mais saudável do que nunca. 

Quando estava prestes a sair de casa, minha mãe decidiu me fazer um questionário. Se as mães costumam ser protetoras normalmente, elas pioram quando ficamos doentes. Acho meio hipócrita, afinal já estamos com a nossa sentença avaliada. Protestei e sai de casa, seguida por todos, exceto minha mãe, claro.

Chegando na loja, eu perguntei a Angel:

-Qual foi a vendedora? 

-Aquela ali. - Disse sem jeito apontando para um atendente. 

Chamei-a para me atender e disse para ela que eu desejaria ver TODAS as peças de roupas. Ela abriu a boca com sinal de surpresa e antes que ela pudesse protestar eu a pedi para chamar a gerencia. Depois de todas as peças estarem na minha frente no balcão e a gerencia sabendo do ocorrido com Angel. Eu finalizei com "Muito obrigado, mas eu não quero comprar NADA." E a gerente como entendeu a história que contamos tratou de demitir a sua funcionária. 

Voltamos para casa, rindo é claro. Só paramos para tomar um sorvete. O Peter contou do meu tumor para eles que me disseram um triste "sinto muito." Foi aí que eu me lembrei do que a Rose havia me dito - "Ninguém sente muito, afinal ninguém pode compreender nossa dor." - Realmente, ninguém pode nos compreender. 

Muitas vezes, eu me sinto como se estivesse dentro de um jogo. Temos a quantidade de fases para passar e depois, morremos. O mais engraçado é que o "Chefão" do nosso jogo é muito irônico e tem um ótimo senso de humor. Quando encontramos a felicidade, ele vem com mais umas dúzias de problemas para resolvermos. 

Finalmente havia encontrado o Peter, e a vida me traz um tumor? Eu não ia me preocupar, eu quero a felicidade, e quero agora. Tomamos sorte na praça e fomos rindo do episodio com a vendedora até em casa. No caminho de volta, eu já estava sentindo meu braço ficando um pouco dormente, o braço esquerdo. No outro dia, eu tinha que ir para escola e estava ansiosa para isso, me sentir normal é um ótimo começo.

-Chris, a sua mãe deixou o Daniel morar com vocês? - Questionei, afinal eu havia esquecido totalmente esse assunto. 

-Deixou, mas o pai dele não voltou atrás. Então, o Daniel está morando lá em casa. É horrível vê-lo assim. É como se tudo tivesse perdido a cor no mundo colorido dele. - Argumentou o Chris andando e olhando para o chão. 

-Ora, por que você não o chamou para me visitar? Aposto que ele também ia se divertir na loja. E avise-o que eu mandei um abraço forte para ele. 

-Vou avisar sim, Lau! - Disse o Chris me mostrando um largo sorriso.- Eu posso mesmo chama-lo para sair com a gente?- Questionou interessado no assunto. 

-Claro que pode! - Falei, o Peter e a Angel assentiram com a cabeça. - Você pode chama-lo para sair com a gente sempre. Ele é seu namorado, do mesmo jeito que o Peter é o meu. Porque achou que não podia?

-Do mesmo jeito que a Angel se sente discriminada algumas vezes, eu me sinto também. É difícil expor nossas diferenças assim para todos verem. Às vezes, não encontramos forças para isso. 

-Isso é verdade, Laura. - Concordou a Angel. - Pode parecer fácil ir em qualquer loja e comprar o que quiser, andar com quem quiser, namorar com quem quiser, mas coisas que são muitas vezes simples, para nós é muito difícil. O preconceito está nas ruas, e ele não nos perdoa, o preconceito não pensa...

A Rachel que estava ali sem falar nada até esse momento colocou os braços nos ombros da Angel e do Chris e disse:

-Com a gente, vocês não precisam ter medo. Se alguém se quer pensar em agredir vocês tanto fisicamente quanto oralmente, ela vai se ver com a gente. Não é mesmo Laura?

-Com certeza, Rachel. O preconceito pode não pensar, mas nós sim. 


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