He's A God And My Best Friend escrita por sawada san


Capítulo 15
Conjuntivite


Notas iniciais do capítulo

Oláa!
Me desculpem pelo atraso, mas acho que vocês já se acostumaram com isso né? Eu tenho algum problema em achar inspiração para terminar os capítulos. Agradeço quem foi paciente e esperou essa capítulo.
Boa leitura!



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Estava quase adormecendo na carteira, quando o professor de geografia se exalta e grita.

– Se eu ver mais alguém dormindo durante a minha aula, irei manda-lo para o Sr. Durrant!

Ferdinand Durrant, nosso querido diretor disciplinar. Geralmente quando os professores não sabem o que fazer com um aluno ou estão sem paciência, o mandam para o Sr. Durrant. As vezes fico a pensar o que acontece por lá, na sala dele. Deve ser tedioso passar o dia fazendo anotações sobre alunos indisciplinados...

Alguém estala os dedos na frente do meu rosto, pisco algumas vezes e olho para o lado.

– Cara, você brisa muito - Oscar diz enquanto ri de mim.

– O pior é quando ela começa a tocar o piano imaginário. Pode cair o mundo, ela não percebe - Belle comenta.
Olho indignada para os dois.

– Dá pra vocês pararem de zoar comigo?

Eles voltam a copiar a matéria da lousa no caderno. Depois de um certo tempo de Ásia e todos esses seres com olhos puxados, como diz a Belle, começo a sentir uma irritação no olho. Acho que é influência dos chineses. Não me aguento mais e começo a coçar desesperadamente até meu olho doer. Belle e Oscar logo percebem.

– Que foi Oh doida? Ta com tique nervoso? - Belle pergunta.

– Cara, seu olho tá muito vermelho - Oscar me avisa.

– É maconha, não se preocupa não, conheço uma ótima clínica, super baratinha e o pessoal é gente boa, meio avoado, mas gente boa - fala Belle rindo muito.

Alguns alunos olham assustados para a gente mas logo voltam a prestar atenção no professor.

– Ah é? Você por acaso já foi lá? - rebato ignorando os olhares dos alunos.

– Talvez... Vai lá na enfermaria, quem sabe tenha remédio para ressaca! Mas sério, sem brincadeira, seu olho tá muito vermelho, vai lá ver o que é - Belle sugeri.

Peço licença para o professor e saio da classe. Escuto o professor resmungar algo como "sempre na minha aula". Vou até a enfermaria, bato na porta e entro. Uma moça um pouco mais velha do que eu estava sentada atrás de uma mesa.

– Pois não - ela cumprimenta.

– Olá, é... Meus amigos falaram para eu vir aqui porque meu olho está vermelho.

Ela se levanta e analisa meu olho esquerdo.

– Ele está coçando? - ela indaga.

– Aham.

– Você tem a sensação que esta com areia no olho?

– Aham.

Ela vai no armário, pega um colírio e me entrega.

– Você está com conjuntivite, pra sua sorte você não precisa voltar para aula. Já que é contagioso, mas acho que você já sabia - ela explica.

Concordo e saio da enfermaria.

Andando em direção ao dormitório. Vejo o Loki sentado embaixo de uma árvore, ele está com um livro no colo, mas parece estar cochilando. Me agacho na frente dele e dou um peteleco em seu rosto. Ele acorda com uma expressão irritada.

– Qual o seu problema? - pergunta mal-humorado, para variar um pouco.

– Muitos. Mas no momento é conjuntivite.

– E isso seria?

– Tá vendo meu olho vermelho? - aponto para meu olho esquerdo - tá infeccionado, e coça muito, mas eu não poço coçar, porque dai piora!

– Você diz como se eu quisesse saber.

– Mas você...

– Você não deveria estar na aula? - sou interrompida.

– Não, estou dispensada hoje - sento do lado dele e pego o livro do seu colo - Nietzsche? É, combina com você - digo em relação ao livro.

– Ele é um humano interessante - Loki concorda pensativo.

Ficamos em silêncio durante alguns minutos, ele encarava o céu, parecia refletir sobre algo. Eu gostaria de saber o que ele pensa. As vezes quando estou tocando piano, Loki está olhando para mim ou para o piano mas não parece nos enxergar. Como se ele estivesse em outro lugar. Ele poderia estar com saudade de sua família mas não é seu estilo, ou também pode estar planejando dominação mundial, é a cara dele, mas sua expressão não é de maníaco. Não sei se é porque ele é um deus mas é muito difícil decifra-lo. Ele com certeza seria um desafio para psicólogos, sua mente parece ser indecifrável e suas emoções inalcansáveis.

Ele olha para mim e arqueia uma sobrancelha.

– Eu sei que sou bonito, mas você não precisa ficar me encarando.

Dou um peteleco em sua bochecha.

– Ei!

– Você é tão modesto - ironizo - Vamos! - levanto e o puxo pelo braço.

Puxo com todas as minhas forças mas ele nem se move.

– Aonde vais?

– Ligar para minha mãe, talvez ela saiba algum remédio caseiro para conjuntivite - explico.

Meio contrariado ele levanta. Vamos até meu dormitório. Na recepção tinha algumas cabines telefônicas para ligarmos para fora do colégio. Loki se senta em um sofá ali perto e eu ligo para minha mãe. Após alguns segundos ela atende.

– Mãe?

– Querida! Oi! Como estão as coisas aí?

– Tá tudo bem aqui, como você e o pai estão?

– Trabalhando muito, mas estamos bem. E os estudos? Ta indo bem?

– Aham.

– Não me convenceu muito. Falando nisso, você não deveria estar estudando agora?

– Sim, é que eu to com conjuntivite. Dai queria saber se você conhece algum remédio caseiro para isso.
Silêncio do outro lado da linha, espero que ela esteja pensando em um remédio e não surtando.

– Conheço um, mas acredito que você não irá gostar. Esprema um limão e depois dilua com água. Pingue no olho. Faça isso três vezes ao dia, em dois dias irá passar.

– Você só pode estar brincando né? Assim eu vou ficar cega!

– O que arde cura...

– E o que aperta segura - completo a frase.

Ficamos em silêncio, era estranho, mesmo estando tanto tempo sem se falar parecia que não existiam muitos assuntos a serem conversados.

– E os amigos? Fez muitos?

– Sim!

– Que bom. Mas querida, tenha cuidado. O mundo de hoje é muito perigoso. Alguns amigos podem não ser o que dizem...

***

Após a estranha conversa sobre amigos com minha mãe, Loki e eu fomos para a cozinha pegar um limão. Depois de convencer o pessoal da cozinha a nos dar um, voltamos para o dormitório.

– Espera - digo e Loki para - tem um pequeno detalhe que esquecemos - ele me olha esperando uma resposta - você é homem, não pode entrar no dormitório.

– Você diz como se fosse um problema.

– E não é?

Ele dá de ombros.

– Sou um deus. Eu faço o que eu quero.

Passamos na recepção e pego minha chave. A moça nem notou o Loki do meu lado. Subimos as escadas e algumas meninas passam por nós, elas também não o notam. Mas que raio de poder é esse? Ninguém o enxerga mas eu continuo a vê-lo. É legal, mas e se ele ficar invisível para todos? Ele pode entrar no banheiro feminino e ninguém perceberia...

– Certo - digo enquanto abro a porta do quarto - só não repara na bagunça.

Meu quarto estava um pouco desorganizado. Em minha escrivaninha haviam muitas partituras espalhadas, junto com alguns cadernos e livros. Na cadeira tinha um mini montinho de roupas para guardar. E eu não tinha arrumado minha cama.

Loki entrou no quarto, analisou e sentou-se na outra cama. Corri para arrumar minha cadeira e escrivaninha. Depois de arrumar tudo, sento na minha cama, de frente para o Loki. Então pegamos o limão e a colher. Todo o processo foi lento e torturante. Cortar o limão, espremer na colher, dissolver com um pouco de água.

Virei minha cabeça para cima e fitei o teto.

– O que exatamente tenho que fazer? - Loki indaga.

– Você tem que pingar algumas gotas no canto do meu olho - explico - dai eu abro o olho e começo a gritar.

– E quando você começar a gritar?

– Você contempla meu sofrimento.

Ele coloca a colher perto do meu olho e então algumas gotas caem. Abro um pouco o olho e o líquido entra. Quando o líquido entra em contanto com o olho não arde muito, mas depois começa a arder demais. Tento abrir o olho, porém não consigo. Pressiono meu olho com a mão, com o intuito de parar a dor. É mil vezes pior que passar xampu no olho!

– Você se contorce como se estivesse morrendo.

– Talvez seja porque coloquei ácido no meu olho.

– Pff. Já fui atravessado por uma arma - ele caçoa.

– Mas é difer... Espera o que? Você já foi atravessado por uma arma?!

– Tem necessidade de repetir tudo o que digo?

– Claro! - digo exasperada - Você foi atravessado por uma arma!

– Você já disse isso... - ele resmunga.

– Mas então, como foi a história? - pergunto animada.

– Nada de mais - Loki diz e se levanta, ele começa a mexer na minha escrivaninha e fica de costas para mim - meu irmão estava lutando contra Kurse, um monstro elfo. Ele estava perdendo então rapidamente criei uma arma e o atravessei com ela, só que o monstro decidiu me abraçar - ele dá uma risada frouxa - Foi isso.

– Você não deveria estar morto? - questiono.

Ele se vira e me fita com um sorriso convencido.

– Sou um deus, não morro tão fácil.

Fiquei a imaginar se ele ganhou uma cicatriz como lembrança, deve ser doloroso ver a marca e lembrar o que sentiu. Antes de formular qualquer pergunta, Loki pega uma folha e se senta ao meu lado.

– Como exatamente você lê as partituras? - pergunta.

– Você não vai querer entender.

– Se eu lhe perguntei então é porque eu quero entender - ele retruca.

– Música é literalmente prima de primeiro grau da matemática - começo minha explicação - a parte teórica é uma chatice, nem os próprios musicistas suportam as aulas de percepção, como um deus impaciente pretende aprender? - termino minha explicação.

– Está insinuando que não tenho capacidade para tal aprendizado?

– Você que disse, não eu.

Loki me fuzila com o olhar.

– Mas sério, entra tantas outras coisas que você poderia me perguntar porque logo sobre isso? É tão chato e complicado - reclamo.

– Eu só queria entender como você lê isso - ele aponta para a partitura - é tão surreal, como essas bolinhas com gravetos podem formar melodias tão aconchegantes? - ele deveria estar muito concentrado tentando desvendar as partituras para ter dito isso.

– Então você acha minha música aconchegante?

– Por acaso eu citei seu nome?

– Por acaso você já viu alguém tocar além de mim?

Mudo. Loki estava mudo. Duas conquistas em um dia: receber um elogio do Loki e deixá-lo mudo.

– Olha como sou demais, deixei o deus astuto sem palavras - ironizo.

– Te odeio.

Sorrio ao ouvir as duas palavras que haviam sido pronunciadas.

– Sabe, para o deus das mentiras você é bem sincero - afirmo enquanto recebo um olhar feio.

Deito-me na cama e fico vigiando Loki, enquanto o mesmo remexe minha escrivaninha. Por enquanto ele só estava vendo minhas partituras e cadernos da escola, mas vai que ele ache um absorvente. Curioso do jeito que é, ele vai querer que eu explique qual a utilidade daquilo. Nem sei se as asgardianas menstruam, caso elas não menstruem significará que Loki não sabe sobre esse assunto e então terei que explicar. Porque se eu não o fizer ele irá me infernizar até a morte.

Rio dos meus pensamentos.

Me aconchego na cama. Aos poucos meus olhos começam a pesar e tudo vai ficando escuro.

***

Acordo com minha bochecha sendo cutucada. Dou um tapa na mão que me incomoda mas não adianta nada. Abro um olho e encaro Loki.

– Isso é muito irritante.

– Eu sei.

– Dá pra parar?

– Está perto da hora do almoço. Não deveríamos ir indo para o refeitório? - ele disse enquanto continuava a cutucar minha bochecha.

–Sim, só vou pegar um casaco - respondo. Estávamos perto do inverno, o clima esfriava constantemente.

Quando saímos do dormitório percebi que Loki usava apenas uma camisa xadrez, sem nenhum casaco!

– Você não sente frio, não?

– Sou bem resistente a baixas temperaturas - responde em um sussurro.

Chegando ao refeitório pegamos as bandejas e fomos nos servir. Como os alunos ainda estavam nos últimos minutos de aula, não tínhamos pressa para escolher uma mesa. Loki ia na minha frente montando um prato que a cada segundo ficava maior. Ele é magro de ruim. Bom, pelo menos nisso os livros estão certos, ele come muito. No entanto eu ia selecionando minha comida. Um pouco de arroz com lentilha por cima, umas três folhas (grandes) de alface, bastante cenoura e uma rodela de tomate. Recusei algumas coisas tipo um assado com aparência duvidosa.

Colocamos nossos pratos na mesa e começamos a reclinar as cadeiras com o encosto apoiado na borda da mesa, isso transmitia a mensagem "essa lugar está guardado, xô".
Alguns minutos depois de termos nos sentado, o refeitório começou a lotar. Logo o pessoal chegou para sentar na mesa.

– Eis aqui o casal do século, cujo encontro ocorreu a partir de uma horrenda criatura em chamas. O que os senhores fizeram nessa gloriosa manhã de nuvens cinzas e vento gelado?

Belle e eu estávamos segurando o riso com a "bela" performance que Dan acabara de fazer.

– Me deleitava ouvindo os gritos de dor da donzela enquanto derramava ácido em seus olhos cor de chocolate - Loki respondeu.

Tom e Belle o olhavam assustados enquanto Dan tentava assimilar o que ele havia dito.

– Nossa última aula foi de literatura - Kaio explica.

– Faz sentido - comento.

Ficamos em silêncio durante alguns minutos, até Luke resolver quebrá-lo.

– Caramba, comendo tanta cenoura assim você vai acabar ficando laranja - Ele refere-se ao meu prato.

Na minha frente vejo Belle e Dan numa tentativa falha de segurar o riso. Reviro os olhos. Eu realmente não deveria ter contado aquela história para eles.

– Porque vocês dois estão rindo? - Kaio os questiona.

– Porque isso já aconteceu - Belle diz, depois de controlar o riso.

– Como você conseguiu ficar laranja? - Loki pergunta inconformado enquanto me encara.

– Conta essa história direito - Luke pede com um sorriso brincalhão.

– Quando pequena eu era bem chata para comer, minha mãe fazia testes para ver as comidas que eu comia. Um dia ela percebeu que tudo o que tinha cenoura eu comia. Então ela passou a colocar cenoura em tudo, suco de cenoura, sopa com cenoura, cenoura ralada, cenoura com laranja. Só que eu comecei a ficar com a palma da mão amarela e o tom de pelo meio amarelado. Fiquei com excesso de vitamina A - conto minha experiência com cenouras.

Eles começaram a comentar como eu ficaria amarela. Depois discutiram se alguém ficaria verde de comer muito espinafre ou brócolis. Conversamos durante uns quarenta minutos. Quando deu 1 hora o pessoal foi embora pois hoje temos aulas a tarde.

Loki e eu voltamos para o meu quarto. Era hora da segunda dose do limão. Obviamente eu não estava animada para sofrer mais um pouco. Enrolei tanto que o Loki preparou tudo sozinho e ficou em pé na minha frente esperando para derramar o limão.

– Maldição, porque eu tinha que pegar conjuntivite? - reclamo.

– Porque você é humana. Vai olha para cima - ele ordena.

Antes de olhar para cima pego na mão dele.

Ele me encara com uma sobrancelha erguida.

– Minha mãe fala que quando ficamos de mãos dadas com alguém a dor é dividida - explico.

Ele parece não se importar.

De novo o maldito líquido entra em contato com o meu olho. Não sei exatamente como descrever, afinal arde, muito. Quanto maior a ardência mais eu aperto a mão do Loki. É impressionante como as mães estão sempre certas, mesmo quando parece idiota. Segurar a mão dele amenizou um pouco a ardência, isso foi bom.

Depois da pequena sessão de tortura, expulso o Loki do meu quarto. Eu tenho que estudar, posso ter sido dispensada da aula hoje, porém a matéria continua. E também preciso de um pouco de privacidade, gosto de passar um tempo sozinha.

Peguei meu livro de química e joguei na minha escrivaninha. No momento, química é a matéria que eu menos entendo. Sentei na escrivaninha e comecei a estudar. Ler o livro, escrever o que for importante no caderno, grifar, encarar o teto e fazer tudo de novo. Algumas horas depois de estudo, escuto a porta do quarto sendo aberta.

– Você não tranca a porta do quarto?

Viro em direção a porta e vejo Belle fechando e trancando a mesma.

– É que o Loki saiu e eu esqueci de trancar - na mesma hora que eu falei, me arrependi.

– Ah, o Loki esteve aqui? Isso explica porque a cama está desarrumada - ela diz com uma cara sugestiva, sugestiva até demais.

Fecho o caderno e vou até a cama, para arruma-la.

– Não sua pervertida, é que eu dormi e esqueci de arrumar - explico.

– Com o Loki?

– Não!

– Okay, mas o que ele estava fazendo aqui, então? - Belle pergunta.

– Ele passou a manhã comigo.

Ela sentou na cama, na minha frente, e ficou me encarando.

– Você ainda quer que eu acredite que não aconteceu nada?

– Não sei se você lembra, mas eu gosto do Luke - lembro ela, com esperança que ela esqueça o assunto.

– E daí? O Loki não é de se jogar fora, já penso ver ele sem camisa?

Só com a ideia eu já fico vermelha. Não pretendo ver ele sem camisa. Nem tinha imaginado isso! Agora fica difícil não pensar nisso, principalmente com a ideia da cicatriz. Eu realmente fiquei curiosa a respeito da história que ele contou mais cedo. Quão grande será que é a cicatriz?

– Sabia que você ia imaginar ele sem blusa! - Belle alega triunfante.

– Eu não estava...

– Agora imagina o Luke! - ela me interrompe empolgada.

– Para! - grito. Sinto meu rosto esquentar mais uns 50º C.

Continuamos a conversar, até que decidimos ir caminhar pelo campus um pouco. Eu também precisava de ar, Belle falava cada besteira.

Quando passamos pela quadra, alguém chamou a Belle. Viramos na direção do grito e vimos uns garotos, eles pareciam estar jogando. Belle foi saltitando até lá, acho que é o Oscar e uns amigos. Infelizmente não estou vendo o Luke.

Belle e Oscar se beijam como cumprimento. Os amigos dele assobiam e comentam, parecem crianças.

– Eai, Anna - ele me cumprimenta.

– Oi - respondo.

Parece que isso atraiu a atenção daqueles meninos para mim. Eles ficaram me encarando. São dois garotos. Um deles, eu reconheci, era o garoto que tentou me beijar no ônibus.

– Ah, então você é a Anna! - um garoto loiro de olhos azuis (e bonito) se pronuncia - Sou o Ben.

– Você é A Anna ou só uma Anna qualquer? - pergunta um outro menino loiro, só que um tom mais escuro.

– Como assim? - ele me deixou confusa.

– É que o Luke...

– O que tem o Luke? - o próprio Luke o interrompe.

– Não, é que eu pensei que ela é a Anna que você vive falando - nessa hora a Belle me cutucou - mas eu lembro de você, você tem namorado.

Nesse instante a Belle, o Luke e o Oscar olham para mim. Dá para ver a confusão estampada no rosto deles.

– Como assim você tem namorado e eu não sei? - Belle praticamente berra.

– Ué, aquele cara de olhos verdes - o menino comenta, para piorar a situação.

– Mas que surpresa, não sei como ninguém desconfiou - Luke ironiza.

– Não não não não - digo rápido - você entendeu tudo errado, eu disse aquilo para você não me beijar - acuso o menino.

– Para ele não o que?! - Luke soou meio irritado.

Só vi o Ben reclinar e sussurrar para o menino do ônibus.

– É, parece que ela é A Anna, você tá ferrado Mike.

Aconteceu uma pequena confusão, até a história ser explicada, o tal do Mike quase apanhou. Isso confirmou minha suspeita de que o Luke é ciumento. Quando tudo se acalmou, Luke e eu saímos de lá. Ele ia para o dormitório e eu não queria continuar lá na quadra.

– Que confusão, né? - Luke comenta.

– Nem me diga.

– Foi mal pelo Mike, ele é bem idiota.

– Tudo bem, eu tive sorte de não estar sozinha naquele dia, se eu não tivesse acompanhada com certeza o Mike teria me beijado.
Ele parecia pensativo agora.

– Era o Loki que tava com você, né? - ele pergunta.

– Sim.

– Mas vocês nunca tiveram nada mesmo?

– Não - respondo rindo - você não é muito fã do Loki, certo?

– É, tipo, sei lá. Vocês tão sempre juntos e tal, parece uma... - ele parou de falar e ficou me encarando.

– Uma? - essa conversa estava pegando um rumo interessante.

– Não, nada - ele disse meio tímido.

– Ah, vamos lá, o que você ia falar?

– Você é muito curiosa.

– Fala - insisto mais uma vez.

– A curiosidade matou o gato.

– Diz!

– Sabe do que o gato morreu? - nego com a cabeça - de cócegas.

Fico sem entender, até ele começar a fazer cócegas na minha barriga. Tento correr dele mas ele é mais rápido. Eu não consigo parar de rir. Até que encosto em uma árvore e ele fica de frente para mim.

– Okay, okay! Desisto! - grito em meio as cócegas.

Ele fica sorrindo para mim, com as mãos ainda na minha cintura. Estamos bem próximos, e parece que ele quer acabar com a distância. Antes de ele acabar com o espaço entre nós, eu coloco a mão na frente, segurando ele. Não sei exatamente o porquê.

– To com conjuntivite. Melhor não ficarmos tão perto - explico rápida.

– É, é. Verdade - ele se afasta.

Ficou um clima estranho.

Foi quebrado pelos meninos que estavam na quadra. Eles estavam passando e chamaram o Luke. Ele se despediu e foi até eles.

Está começando a escurecer, e com isso o clima começa a esfriar. Na pressa eu sai sem casaco, só uma blusa de manga comprida. Como a biblioteca da faculdade é o prédio mais perto, corro até ela para me esquentar um pouco. Como o nome diz, essa é a biblioteca da faculdade, a diferença dessa para a biblioteca da escola, é que aqui tem mais livros. Tipo de direito e tal.

Bebo água no bebedouro e sento no sofazinho, tentando me acalmar. Meu coração está bem acelerado, por causa da corrida e do quase beijo. O beijo que eu tanto quero e que eu mesma estraguei. Não me entendo.

Paro na frente da porta e suspiro, não estou pronta para o frio. Quando vou abrir a porta, alguém abre ela para mim. Olho para o lado e vejo o Loki. Ele não me encarava, e sim a noite lá fora. Saio e ele vem logo atrás de mim. Me encolho quando sinto o vento gelado. Muita burrice a minha ter esquecido o casaco. Porém, sou surpreendida com uma jaqueta colocada nos meus ombros. Dessa vez ele não tinha esquecido o casaco. Eu até recusaria, mas estou morrendo de frio. E ele mesmo disse que é bem resistente a temperaturas baixas. Fomos até o dormitório feminino, em silêncio. Ele entrou comigo. Eu estranhei, mas ai lembrei que ele ainda tinha que pingar o limão para mim.

– Obrigada pela jaqueta - agradeço.

Ele dá de ombros.

– Já disse, não sinto frio.

Me sentei e ele pegou a colher.

Mais uma vez segurei a mão dele.

Mais uma vez ele pingou o limão no meu olho.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!