Quando o céu começou a ficar laranja a minha angústia aumentou. Eu estava inquieta no banco, perguntando a cada 5 minutos quanto tempo faltava, tentando me acalmar. Jack, que parecia estar no modo "posso quebrar o nariz de qualquer um em segundos", estava tranquilo e inabalável. Eu, então, tentei me acalmar. Eu me ocupei em limpar meu rosto, pentear meu cabelo e trocar de roupa (camuflada pelo banco de trás claro, não me entendam mal).

Quando eu voltei para o banco da frente Jack me avisou que nós havíamos chegado, mas eu olhei em volta por um bom tempo só vi árvores. Quando eu já estava perdendo minhas esperanças, eu senti uma coceira em algo dentro de mim e segundos depois eu pude ver casas e pessoas. Eu, que estava esperando ocas, ou algo do tipo, fiquei surpresa ao ver que as casas eram de tijolo, pequenas, claro, mas tão boas quanto a minha. O que me surpreendeu também foi o número de pessoas.

– São todas como você? - eu perguntei surpresa.

– Sim. - ele respondeu, parando o carro a meio-fio e pegando a bolsa. - Escute, eu preciso que você fique calada. Não fale nada. Eu vou tomar conta de tudo, você só tem que concordar com o que eu disser.

Eu acenei e sai do carro. Jack logo se colocou ao meu lado e nós seguimos em direção a um grupo de pessoas que pareciam ser os líderes daquele lugar. Quando nós nos aproximamos, todos fizeram uma reverência para nós e, como Jack imitou o movimento, eu também o fiz.

– Bem-vindos a nossa comunidade. - disse um homem alto que, apesar da cor grisalha de seus cabelos, não parecia ser mais velho do que o pai de Jack. - Meu nome é Elijah e eu sou o líder desse bando. E esses são Isaiah, Rosemarie, Antoni e Linda. - disse ele, apontando para os casais ao seu redor.

– Meu nome é Ian e essa é a Melaine. - Jack disse apontando para mim. Eu tentei manter o meu rosto o mais calmo possível. O homem, Elijah, me olhou dos pés aos últimos fiapos de meu cabelo. - E nós estamos em busca de abrigo.

Elijah demorou um longo tempo para responder. Ele trocou olhares com os casais ao seu lado, mil palavras sendo ditas através de seus olhos. Minhas mãos começaram a tremer. Eu tinha a impressão de que eles sabiam quem nós éramos de verdade e que provavelmente não iriam nos aceitar, pois temiam a fúria de meu genitor ou algo do tipo.

– Claro. - disse Elijah e meus joelhos quase cederam de alívio. - Vocês são bem-vindos aqui pelo tempo que for preciso. Venham, vamos até a minha casa para que possamos conversar com mais privacidade.

Eu troquei um olhar com Jack, mas ele apenas deu de ombros e começou a seguir Elijah. O caminho até a casa de Elijah pareceu uma eternidade. Algumas pessoas nós lançavam olhares como se pudessem ver através de nós. Outros nos olhavam com raiva, e eu observei uma mãe puxando sua filha para trás dela. Jack seguiu o meu olhar e sussurrou em meu ouvido.

– Uma parte deles acham que nós somos híbridos que estávamos abraçados com a escuridão e a trocamos pela humanidade. Eles acham que somos espiões ou algo do tipo.

–E a outra parte?

Jack me lançou um olhar de lado e eu entendi a mensagem em seus olhos. A outra parte sabe sobre nós.

Droga. Estamos ferrados.