Eu fiquei repassando minha conversa com Paul de novo em minha mente enquanto seguíamos para a cabana de Elijah. "Se você tentar fugir, isso não irá terminar nada bem para o Jack" foi o que Paul disse. Então minha escolha era ficar e todos morrerem ou ir e provavelmente Jack morrer. Saudades do tempo que a escolha mais difícil que eu tinha que fazer era continuar espiando Jack pela janela ou fazer meu dever de casa.
Falando em Jack, desde a nossa discussão mais cedo ele tem andado muito calado. Eu queria muito poder saber o que está acontecendo em sua cabeça, isso sim ia ser um poder útil.
Quando nós finalmente chegamos a cabana de Elijah, nós o encontramos sozinho sentado em seu escritório com um semblante cansado. Ele fez um gesto para que nós sentássemos e dessa vez ele não protestou quando Jack sentou ao meu lado.
– E então? - eu perguntei sem me aguentar de ansiedade. Eu precisava de respostas. - O que vamos fazer?
– Lutar. - respondeu Elijah depois de um longo suspiro. - Não temos outra escolha.
– Você tem alguma ideia de quantos deles estão lá fora? - perguntou Jack.
– Não sei exatamente, mas são muitos. Foi por isso que eu pedi ajuda de outras aldeias e se tivermos sorte, os anjos irão se juntar a nós. O pessoal das outras aldeias chegam aqui em 3 dias, até lá iremos nos reunir e traçar estratégias de batalha para que cada um possa usar seus poderes da melhor maneira possível.
Era um bom plano. Na verdade, realmente não havia outra opção. Mas quantas vidas seriam perdidas? Quantos pais morreriam e deixariam seus filhos órfãos? Quantas mulheres iriam perder seus maridos? Não, é claro que havia outra opção. Eu sempre poderia fugir.
– Quando começam as reuniões? - perguntou Jack.
– Amanhã mesmo. Logo cedo estaremos nos reunindo.
– Ok. Estaremos aqui, não é, Tiffany?
Eu levei um longo tempo para perceber que eles estavam falando comigo, pois eu estava perdida em meus pensamentos. Eu levantei meu rosto e encontrei dois pares de olhos me observando. Elijah tinha aquele olhar de posso-ver-dentro-de-seu-sutiã em seus olhos. Eu não ouvi a pergunta de Jack, mas esses dois claramente estavam esperando por uma resposta. Foi então que Elijah quebrou o silêncio desconfortante:
– Em que você está pensando, Tiffany? E não minta para mim, eu posso ver pela sua aérea quando você está mentindo.
– Eu só... Eu só estou preocupada, só isso. São muitas vidas em jogo.
– Eu sei, mas é a única opção que nós temos. Ou será que você teve uma ideia melhor? - perguntou Elijah.
– Não, claro que não. - E BANG! Aí está uma mentira bem grandona e bem gordona. É claro que eu tinha outra ideia. Fugir. Mesmo que isso fosse provavelmente matar Jack.
Elijah estreitou seus olhos em minha direção. Ele sabia que eu tinha mentido, é claro que sabia. Jack passou um bom tempo nos observando até que percebeu o que se passava ali e disse:
– Ela está pensando em fugir.
– Não é bem...
– Tiffany, não tente mentir para nós. Eu já disse, eu posso ver sua aérea escurecer. - disse Elijah me interrompendo. - Você já parou para pensar em que ideia absurda é essa?
– Eu não acho absurda. Pelo menos muitas vidas seriam poupadas.
– Ah é? O que aconteceria quando eles colocassem as mãos em você? Quando eles lhe trouxerem para o lado deles e começarem a lhe usar em batalhas? Quantas vidas seriam perdidas? Quantas aldeias como essa seriam destruidas?
Eu me encolhi em minha cadeira, não fazia ideia de como responder àquilo.
– Eu também não quero que ninguém morra, Tiffany. - completou Elijah. - Mas essas mortes serão necessárias para que outras não venham a acontecer, para que essa guerra finalmente acabe. Para que você possa finalmente nos salvar.
Aquilo ali mexeu comigo. Mas não de uma maneira boa, de uma maneira ruim. Muito ruim.
– Ah é? Como eu deveria fazer isso? Vocês continuam falando sobre essa profecia e como eu posso acabar com essa guerra, mas adivinha só? Eu não faço ideia do que eu estou fazendo! Eu nem sei o que fazer! Essa pessoas vão morrer por nada!
Eu estava com raiva. Muita raiva. Eu sabia que eu estava perdendo o controle e eu pude ver isso no olhos arregalados de Elijah, minha aérea estava preta.
– Tiffany, você....
– Eu sei, eu sei! - eu disse interrompendo Elijah. - Minha aérea está escura e blá blá blá blá. Você acabou? Por que eu realmente preciso ir para minha cabana agora.
– Sim, mas...
– Ótimo, então. - eu o interrompi mais uma vez e me virei e sai daquele lugar o mais rápido que pude.
Eu não dei mais que alguns passos até que Jack estivesse ao meu lado.
– Você está bem? - ele perguntou.
– Sim. E se você pretende me dar um sermão sobre como não fugir é importante, por favor, guarde para você.
– Não, eu não vou fazer isso. Eu sei que você vai fazer a escolha certa.
Aquilo me fez soltar um risadinha histérica. Ok, eu definitivamente estava perdendo o controle.
– Eu só não quero que essas pessoas morram. - eu disse e eu sentia como se fosse perder meu controle a qualquer momento e me derramar em lágrimas.
Para minha surpresa Jack me abraçou. Nós passamos um longo tempo abraçados, Jack passando a mão em meu cabelo e sussurrando "eu sei" em meu ouvido. A todo momento meu coração parecia que ia explodir de emoção. Eu o amava, o amava tanto que chegava a doer. Eu não podia perdê-lo, se alguma coisa acontecesse com ele eu nunca ia me perdoar.
– Vem. - ele disse quebrando nosso abraço. - Precisamos descansar.
Dessa vez Jack não ficou de guarda. Ele ia precisar de muita força para a reunião de amanhã, então ele dormiu ao meu lado. Já eu estava tão cansada que mal sentei na cama e já estava dormindo.
E eu dormi um sono profundo até que acordei no meio da madrugada com um arrepio que percorreu todo o meu corpo.