Jogos Vorazes - 71º Edição escrita por GS Mange


Capítulo 8
O Centro de Treinamento Parte 2: A Aliança começa!


Notas iniciais do capítulo

Antes dos Jogos, os Tributos também terão a oportunidade de treinar algumas técnicas com profissionais, o que pode ser útil para sua sobrevivência na arena. Aprender a lidar com situações diversas, além de observar os outros adversários, já que pela primeira vez estão todos no mesmo lugar, é um dos objetivos dos Pré-Jogos.



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Acordo e sento-me na cama num impulso. Pesadelo. Era só um pesadelo. O relógio ao lado da minha cama marca duas da manhã. Ainda tenho muito a dormir. Sonho confuso. Imagens da Arena de Jogos anteriores com os tributos desse ano e o presidente Snow. Nós os tributos estávamos amontoados, um jogado sobre o outro. Banhados em sangue e larvas de insetos. Corpos putrefatos. Em cima da cornucópia dourada. No topo do corpos estava o presidente Snow todo de branco, com uma flor vermelha sangrando na lapela. O sangue escorre por seu terno, passando pelos corpos amontoado e escorre pela cornucópia. Na frente, todos os cidadãos da Capital, sujos de sangue reverenciando o presidente. Quando de repente reparo que ele, está encima de... De mim! Ele está encima de mim! Os olhos do “meu corpo morto” se abrem e sou sugado pela imensidão verde turmalina, até que, acordei.

Viro-me para um lado, depois para o outro, ponho o travesseiro encima da cabeça. Até que levando da cama. Ando pelo quarto, sem direção. Vou até o banheiro, lavo meu rosto e lembro-me das cenas brutais do meu pesadelo. Volto para a cama. Acendo a luminária ao lado e a observo até que a luz me faz fechar os olhos cada vez mais.

– levante-se senhor Florian – diz Nara sutilmente, como se nada tivesse acontecido – seu dia hoje será exaustivo!

Não respondo, mas levanto. São sete horas da manhã. O que essa mulher quer? Não posso dormir nem mesmo frente a minha morte? Gosto cada vez menos dela. E da Capital.

Alguém bate na porta novamente. Sem palavra alguma.

– já levantei Nara – berro, mas ninguém responde, de forma que penso ser um avox. Abro a porta e vejo que é a mesma mulher do corredor e do jantar. É um alívio vê-la, eles não foram punidos. Ela me entrega o conjunto de roupas escuras.

– obrigado – digo sorrindo, mas ela não retribui, apenas me olha de forma triste. Ela tem seus motivos na certa. Ela sai e eu volto ao banheiro. Tomo um delicioso banho. Perduro por alguns minutos. Saio, sacudo meus cabelos e me visto com a roupa de baixo. O Traje que a mulher avox me trouxe é uma calça de couro, escuro, bem pesada. É um pouco justa, mas não tanto, de forma que fico bem à vontade com ela. Ela tem algumas linhas curvilíneas e alguns furinhos, parecendo poros, só que maiores. A blusa tem um zíper que a fecha no lado direito. Assim como a calça, também tem linhas e furos. Calço as botas pretas e me vejo em frente ao espelho. Noto que tem o número do meu distrito nas costas. Pareço um pacificador das trevas. Saio do banheiro então, não quero pensar nisso.

Quando chego à sala de jantar para o desjejum, todos já estão à mesa, apenas me esperando.

– dormiu bem? – pergunta Nara girando uma colherinha na xícara de café.

– foi uma noite bem agitada – respondo tomando chocolate quente – mas sim, dormi bem. Até que alguém rompeu meu descanso matinal. Era uma voz um tanto quanto exagerada. Fora isso. Tudo bem.

Grover e Rose riem discretamente. Então os percebo e dou bom dia. Daisy também está na mesa, mas não dou muita bola para ela. Quanto menos falar com ela, mais fácil é para mim cumprir meu juramento ao prefeito Geranium.

– vocês treinarão nos Pré-Jogos, no centro subterrâneo. Devem estar lá às dez da manhã. Espero que não se atrasem. Não queremos parecer desorganizados não é?!

– quero mais é parecer mortal – diz Daisy. Mas Nara a ignora.

– ouçam bem – começa Grover – vocês devem observar os outros tributos. Eles vão querer se exibir. Tentem fazer aliados. Terão mais chances se conseguirem isso.

– aliados? Pergunto – teremos de mata-los. Como poderemos fazer aliados?

– sobreviverão mais tempo assim – explica – não começarão os jogos sendo caçados. Isso lhes dará tempo. Coisa muito preciosa na Arena.

Daisy o observa bastante. Desconfiada. É como se estivesse medindo o nível de confiança em Grover na cabeça e anotando todas as informações mentalmente. Eu também guardo suas palavras muito bem. Quando terminamos o café da manhã, Grover me chama para conversarmos mais um pouco. Rose e Daisy fazem isso também.

– não tente protegê-la – diz ele – Daisy. Será inútil. Ela irá aniquilar você na primeira oportunidade – grande novidade – eu não confio nela. Não são apenas seus olhos que me lembram uma cobra. Suas ações também. Ela é esperta. O que é perigoso. Mas não é inteligente. O que é ponto para você.

– tudo bem, tudo bem – digo – mas acontece que eu jurei ao tio dela, o prefeito.

– esqueça o prefeito – diz ele – ele é louco. Está desesperado. Não sabe como é a vida na Arena. Lá, tudo muda. Tudo se torna muito decisivo, mortal.

– acho que é verdade – penso nas edições anteriores – mas preciso mesmo fazer aliados?

– sim - responde rispidamente – é de vital importância fazer aliados.

– posso escolhê-los a minha maneira, ao menos? – pergunto.

– pode. Desde que tenha bom senso – diz olhando fixamente em meus olhos – com bom senso quero dizer os mais capazes.

– os carreiristas? – pergunto, não gostando nada da condição imposta – como eu poderia?

– no que você é bom Florian? – pergunta – no que realmente é bom?

– espadas – declaro – sou excelente em espadas!

– então nem chegue pertos das espadas no treino – diz ele, confundindo-me.

– por quê? – pergunto – Não faz sentido!

– porque o melhor, meu caro - ele enfatiza – fica sempre para “O Grand finale”. É claro.

– É claro – digo concordando – faz sentido – como não pensei nisso antes?

– será o nosso segredo – baixa o tom de voz – nosso “Az na manga”.

– e quanto aos machados e facas? – pergunto esperançoso – devo usá-los?

– certamente – confirma – se demonstrar habilidades ágeis, eles irão te querer no grupo!

Eu? No bando dos Carreiristas? – então me mostrarei um fraco – decido – não quero andar com os Carreiristas. Nem pensar.

– então você terá de fugir e se isolar – explica – do contrário, você será caçado. Imediatamente, ao soo do gongo.

– tudo bem – dou-me por convencido – farei o que combinamos.

– ah, Florian – diz Grover – bom sorte! A propósito, você é bom em luta livre? – ele me olha, torcendo que minha resposta seja positiva.

– um pouco – saliento – sou melhor na defesa.

– tudo bem – diz ele – não mostre isso a eles. Deixe-os pensar que você só em bom em matar a longa distância. – bom em matar? Eu?

Nós nos encontramos com Rose e Daisy, que está vestida exatamente como eu. Só que com um penteado rabo-de-cavalo. Ela e eu entramos no elevador. Sozinhos. Sem se tocar. Sem se olhar. Sem pronunciar uma palavra sequer. Rose aperta um botão do lado de fora do elevador, que se fecha imediatamente e desce tão rápido alguns andares abaixo do chão que a porta logo se abre em nossa porta.

O lugar é gigantesco. Com ringues, paredões, labirintos, hologramas, armas, obstáculos. Quase todos já estão lá. Mais ainda faltam alguns tributos. Todos nós estamos vestidos da mesma forma. Pra variar. Nos observamos por algum tempo. Até que enfim todos os vinte e quatro tributos estão presentes. Ficamos todos um ao lado do outro de acordo com os números de nossos distritos. Logo surge uma mulher, Atala, para nos explicar nossa rotina de treinamento. Coisas básicas e alguns fatos. Nos apresenta as estação onde peritos de cada uma das habilidades nos treinará. Então somos liberados para fluir pelo Centro de Treinamento.

Primeiro vou à estação de técnicas de sobrevivência. O perito. Um homem de cabelos grisalhos, aparentemente na casa dos quarenta anos nos ensina a procurar e montar abrigo, procurar água, comida, etc. nessa estação também estão a menina do 9 e do e o garoto do 12.

– nós fazemos assim lá no 12 – diz o garoto – é proibido, eu sei. Mas mesmo com as tésseras ainda há fome lá no 12.

– caçamos lá no 7 também – digo – mas volta e meia, quando um pacificador descobre, a pessoa é imediatamente chicoteado na praça central.

– lá em casa também – responde ele – são pelo menos trinta chibatadas. – ambos olhamos para a menina do 9, que ainda não se pronunciou. – o que fazem lá no – ele tenta saber seu número, mas a menina está de frente para nós.

– no 9? – pergunto enfim.

Ela nos olha e responde sutilmente – só há animais domésticos lá – a cidade é toda murada, para que ninguém ande por ai com porções extras de grãos. – explica – então quando as tésseras acabam – hesita – bem ficamos com fome.

Nós três no entreolhamos por um tempo. Até que cada um baixou vagarosamente suas cabeças. Perdidos a esmo. Lembrando de como é cada respectiva realidade.

– bem – diz o garoto do 12 – meu nome é Colton. Muito prazer.

– o meu é Anise – diz a menina do 9 – muito prazer Colton.

Nesse instante eles me olham esperando por uma apresentação. Mas sei que se eu fizer isso, não terei como voltar atrás. Estabelecerei um contato que pode vir a se tornar uma aliança na Arena. Isso é bom, segundo Grover. Mas eles não são bem os parceiros de ele me recomendou. Não são Carreiristas. São pobres, como eu. O que eu faço?

– E você. – pergunta Colton – como se chama?

– sou o – hesito, olhando em seus olhos – Florian. Muito prazer!

Colton ri. Ele é branco, meio rosado. Cabelos castanho claro, bem penteados, partido de lado. Tem olhos castanho-avermelhado. É da minha altura. Tem alguma penugem em seu rosto e uma costeleta te termina no fim de suas orelhas. Ele é bem magro. O que me faz pensar que ele realmente já passou fome. Mas é bem extrovertido. Está sempre rindo ou tentando animar alguém.

Anise é bem reservada. É um pouco mais baixa do que nós e um pouco mais bronzeada também. Sua pele parece macia e delicada, mas suas mãos são bem ágeis. Seus cabelos são castanhos escuro e bem cacheado. Tão cacheados que até se enrolam um no outro, fazendo um emaranhado. Sua boca é carnuda e rosada. Suas sobrancelhas são bem arredondadas e seus olhos... Seus olhos são castanhos, escuro. Profundos e bonitos. Embora sejam frequentemente escondidos por um rosto baixado para o chão.

– bem, é isso. – digo, querendo evitar um estrago maior – acho que vou treinar em outra estação. Até mais.

– tudo bem – diz Colton – acho que vou ficar aqui por mais um tempo. E você Anise? – ela nada responde, apenas balança a cabeça confirmando.

Daisy está com as tributos do 1 e do 2, eu acho. Praticando lutas com alguns assistentes. Ela sim foi inteligente. Direta. Até parece uma dessas carreiristas. Perto delas estão os tributos do 1, 2 e ambos do 4. É claro que eles ficariam juntos na primeira oportunidade. Eles sabem jogar. Eles tem mais chances do que nós. Os esquecidos pela Capital. Até Daisy parece ter mais chances, agora que está com eles.

A estação de camuflagem me chama a atenção. Entro para ver. O perito já está explicando, mas me junto ao pequeno grupo de 5 pessoas. Ambos os tributos do 11 e do 5 além do tributo do 3. Eles estão se pintando, se cobrindo com folhagens e passando algumas essências que costuma ofuscar os olhos dos outros. Os tributos do 11 são os que estão mais próximo de mim. A menina é negra, e me lembra um pouco a Jamie. Só que com cabelos escuros e curtos, na altura do ombro. Eles estão trançados e jogados para trás. Seus olhos são castanho claro. Ela é baixa, bate pouca coisa acima dos meus ombros. O garoto é mais alto do que eu. Tem cabelos baixos dos lados e um pouco mais volumosos em cima. Tem lábios grossos e é pouca coisa mais claro do que a garota. Suas sobrancelhas são retas e seus olhos também são castanho claro. Eles parecem bem concentrados nas pinturas que estão fazendo em si mesmos, porque ninguém pronunciou uma única palavra desde que cheguei.

O almoço é servido em pequenos carrinhos individuais. Cada pega um refeição e se senta em algum lugar. Eu pego minha porção e vou me sentar num canto. Passo por Colton e Anise que estão comendo juntos. Eles estão olhando pra mim. Devem pensar que vou me sentar com eles. Mas passo direto. Almoço sozinho num canto. Observando os outros. Tirando minhas conclusões. Depois de descansarmos voltamos a treinar nas estações. O dia termina rapidamente depois disso. Estou tão exausto que sou um dos primeiros a entrar no elevador. Sou o único que não está conversando. Há mais ou menos mais sete tributos no mesmo elevador. Quando a porta se abre em meu andar eu passo rapidamente em direção ao meu quarto. Caio na cama e apago.

Estou tão cansando que nem sonhei com nada esta noite. Já passa de uma hora da manhã. Levanto-me tomo um banho quente e me deito novamente. Os primeiros sinais da fome começam a surgir. Quando amanhece, levanto-me escovo os dentes, tomo outro banho e visto outra peça de roupas de treinamento que puseram em meu closet. Tomo meu café da manhã lentamente. Pães, ovos mexidos. Suco. Leite e cereais. Acho que com essa dieta me sentirei muito mais disposto hoje no treinamento. Troco algumas palavras com Grover e Nara, nada de importante. Ele percebeu meu estado de cansaço e com certeza vai deixar essa conversa pra outra hora.

Fui o ultimo a chegar. Dirijo-me lentamente apara a estação dos Nós e redes. Fico observando-o curiosamente, trançar uma rede inteira a partir de folhas de coqueiro, que estão postas ao lado dele. É impressionante. Tento fazer igual, mas tudo o que consigo fazer é quebrar as folhas. Anise chega e senta-se ao meu lado.

– pensamos que você gostaria de ficar sozinhos, mas isso não é nada bom. – diz ela, tentando tecer uma rede nos folhas.

– vocês são um desastre – diz Colton rindo de nós – pior impossível?

– você consegue fazer melhor? – pergunto.

– na verdade não. – diz ele – nem tento. Acho que não precisaremos usar folhas na Arena.

– e porque você acha isso – pergunta Anise curiosa.

– não sei – diz ele – só sei que sei.

– isso não faz sentido para mim – digo voltando a fazer minhas tentativas de nó.

– e isso aqui também não – diz Anise jogando sua folha no chão, frustrada. Podemos ir para outra estação?

– vem também Florian – diz Colton – achamos que você precisa de companhia. Não se pode seguir sozinho.

– tudo bem – dou-me por vencido – vamos para qual então?

– para a de fogueira primitiva – sugere Anise, empolgada.

– para a de fogueira primitiva então – infere Colton com um sorriso no rosto.

Somos um desastre em quase todas as estações. Não conseguimos nada além de faíscas a partir de atrito entre pedras. Nos nós, nem se fala. Paramos para comer um pouco. Trocar informações sobre os outros tributos. Como os do distrito 6, por exemplo. A menina é uma ruiva magricela, cujo qual não sabemos o nome. Tem longos cabelos, e franja. A coloração me lembra um pouco os cabelos de Lavender. Ela é pálida de mais. Olhos azuis cristalinos. Nariz pontudo. Ele é bem ágil com os hologramas. Aliás, ambos são. Ele é loiro. Alto e magricelo também. Carter é o nome dele. Parecem débeis para lutas e armas, mas são inteligentes. Isso é inegável.

Quando o dia termina nós pegamos o mesmo elevador. A porta se abre em meu andar. Despeço-me deles e entro no apartamento. Cansado, porém aliviado. O dia hoje foi melhor e mais útil do que ontem.


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