Lord's Princess escrita por Brigadeiro


Capítulo 23
22 - Quando é Amor


Notas iniciais do capítulo

Venho por meio desta declarar que esse ano eu termino essa fanfic, em nome de Jesus.

Ademais: perdão novamente.

Quem gosta de Marcela Taís levanta a mão �/

Boa leitura ♥



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“Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue [...] Sei que sou pecador desde que nasci; sim, desde que me concebeu minha mãe [...] Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Não me expulses da tua presença nem tires de mim o teu Santo Espírito. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer [...]” – Salmos 51.

Fechei a capa do livro e olhei para o céu, pensativa.

Era pra eu ter lido mais do que aquele único trecho naquele dia, mas não pude me conter em relê-lo de novo e de novo assim que coloquei os olhos nele. Era diferente dos outros. Tinha uma familiaridade ali, uma identificação maior do que qualquer outra.

Ainda era bastante difícil entender muita coisa sobre esse livro estranho que parecia falar com quem quer que o abrisse, mas eu estava começando a pegar o jeito. Quanto mais li, mais as coisas faziam sentido, e mais eu queria continuar lendo. Tudo parecia estar interligado, e cada página parecia ter algo a me dizer. Mas aquela, em específico... O título dizia que Davi havia escrito aquilo logo após ter sido confrontado por algo que fez, algo muito errado. Eu não sabia o que ainda, mas não importava, porque eu sabia o que eu tinha feito.

Por toda a minha vida até ali eu tinha sido egoísta, soberba, maldosa, vaidosa, e por algum motivo, me sentido maior do que os outros. Talvez por ter vindo de onde vim, ou por ter sofrido tudo o que sofri na infância, eu sentisse que o mundo me devia algo, uma recompensa ou algo do tipo, por ter “vencido” ou o que quer que eu pensasse que tinha feito. Era ridículo o número de pessoas a quem eu tinha assustado, maltratado ou humilhado, e o quanto eu não percebia isso. Eu nunca tive a intenção de ser esse tipo de pessoa, que de longe é admirada e de perto temida, e embora a descrição pudesse soar boa aos ouvidos, agora eu via que não era nem um pouco. Eu precisava de uma boa dose de humildade em minha vida.

Passei os dedos pela capa do livro. Sei que sou pecador desde que nasci; sim, desde que me concebeu minha mãe.

Após um suspiro, fechei os olhos e pensei na minha mãe. Não Esme, mas Renée, a mulher quem me deu a luz. Eram apenas resquícios de lembranças, porque nunca tivemos uma relação próxima o bastante para que minha memória afetiva fizesse muita questão de guardá-la. Ela quase nunca estava em casa, e quando estava nunca era sóbria. Minha melhor memória com ela incluía uma briga gigantesca com meu pai por ter deixado as drogas perto de mim, e eu quase as tinha ingerido. Deveria ser uma memória terrível, mas foi uma das poucas vezes em que me senti sendo cuidada.

Então, a minha infância tinha sido uma completa desgraça, e a minha vida adulta até então, uma sucessão de desastres que só agora eu era capaz de reconhecer. O que Deus podia fazer com alguém como eu?

— Deus, obrigada pelos Cullen — eu sussurrei, quando a imagem da minha mãe biológica foi substituída pela de Esme em minha mente.

Não importava mais quem eu tinha sido até aquele momento. A ilusão de que eu tinha conseguido alguma coisa sozinha tinha sido desfeita, e agora eu sabia que tudo que eu tinha recebido – a vida, a saída daquele inferno que era a casa dos meus pais, os Cullen e minha nova família, a minha voz que me levou até a minha carreira, a minha filha e agora os Masen – tudo tinha vindo d’Ele. Deus tinha me dado coisa demais pra que eu simplesmente ignorasse tudo aquilo.

Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável [...] Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer [...]

— Vou precisar de ajuda aqui — eu disse em voz alta, ainda de olhos fechados. — Acho que...

— Bella!

No momento em que eu estava prestes a falar dela, Alice invadiu meu quarto. Suas mãos estavam cheias de cabides com roupas que ela jogou em cima da minha cama ainda desfeita. Ela parou ao lado da montanha de tecidos e estreitou os olhos na minha direção.

— O que você tá fazendo aí fora?

— O que você está fazendo aqui dentro? — devolvi a pergunta, fechei a porta da varanda e voltei para o quarto. Então dei uma olhada na pilha de roupas. — Espera, isso são minhas roupas?

— Claro que sim.

— Mas como... — comecei, mas desisti da pergunta. Era idiota perguntar o que ela estava fazendo no meu closet logo pela manhã quando ela provavelmente era mais dona dele do que eu. Meu foco mudou rapidamente quando notei as olheiras no rosto dela. — Alice, você dormiu?

— Como você pode pensar em dormir no dia do seu encontro com Edward?

O leve sorriso que se abriu em meu rosto foi involuntário. Então as roupas era por isso. Não que eu tivesse esquecido, seria impossível, mas não tinha imaginado que o meu encontro estaria na lista de prioridades da Alice para aquele dia despois do que tinha acontecido na noite anterior. Ela estava claramente se esquivando de pensar no que tinha acontecido ao fazer sua coisa favorita do universo: cuidar da minha vida.

Disposta a não começar o dia contrariando-a, me sentei na ponta da cama ao lado dos tecidos.

— Certo. O que tem pra mim?

Ela bateu palmas, animada com a minha cooperação.

— Separei algumas peças, mas tudo depende muito de que tipo de encontro vocês vão ter. Para um piquenique, o ideal seria esse macacão de verão, essa estampa floral está divina. Mas se for um restaurante, desenterrei esse vestido com fenda que você não usa há séculos, mas é lindíssimo — ela se sentou ao meu lado na cama, a expressão concentrada nas roupas, então virou-se para mim. — Então, para onde vocês vão?

Dei de ombros.

— Eu não sei. Edward foi bem misterioso sobre o assunto.

— Bella, eu não posso te vestir pra um compromisso que não sei onde vai ser.

— Hey, a culpa não é minha — rolei os olhos. — Se serve de ajuda, eu não acho que vai ser em uma restaurante. Não faz o estilo dele.

— Tá — ela estreitou os olhos, e jogou o vestido elegante para longe com o cuidado com o qual jogaria um pano de chão. — Vamos manter as coisas mais casuais então. Sabe, na primeira vez que saí sozinha com Jasper, ele me levou ao jardim botânico, e eu fui com um conjunto de shorts e camiseta que acho que pode funcionar para você também.

Meus ouvidos foram atraídos pelo nome de Jasper, que escorreu pelos lábios dela através de um sorrisinho discreto. A chance de me esgueirar para o assunto que eu queria apareceu e eu aproveitei.

— Jardim botânico? Você nunca me contou sobre isso — acusei-a.

— Era pra ser um segredo, desculpe.

— E desde quando temos segredos, Ally?

— Ah, a mamãe ainda estava tão desconfiada de tudo e eu não queria que você acabasse comentando algo perto dela que trouxesse de volta todas as perguntas — a expressão culpada dela quase me desarmou, mas mantive minha sobrancelha erguida. — Mas foi tão bom, Bella. Nós andamos de bicicleta, alimentamos os patos na beira do lago, e passamos hora conversando deitados na grama. Ele é profundamente sensível e inteligente, vocês se dariam muito bem, eu sei que sim.

Suspirei com a ansiedade na voz da minha irmã. Eu sempre confiei muito no instinto da minha mãe, e o fato de que isso estava acontecendo entre eles há pouco tempo e mesmo assim Alice já estava mantendo segredos de mim não me ajudava a gostar mais dele, mas era perceptível na voz dela o quanto já estava envolvida no que quer que eles tinham criado entre si.

Olhei para Alice com o máximo de compreensão que consegui reunir no olhar.

— Ele realmente vale a pena, irmã? Vale nossa família, nossa mãe?

Alice levou um minuto inteiro para responder, e eu a deixei pensar. Quando respondeu, sua voz estava mais grave.

— Bella, eu amo a mamãe com todo o meu coração, de todos você é quem mais deve entender tudo o que devo a ela. Mas eu sou a filha dela há muito tempo, e eu amo ser, só que eu quero ser mais do que isso. Eu quero a minha própria família. Sei que pode entender isso.

— Com certeza não posso te julgar — admiti.

Ela assentiu.

— E nem a mamãe deveria — bufou. — Não é como se eu estivesse fazendo uma loucura. Pelo menos eu não corri pra uma clínica de fertilização para ter o bebê de um desconhecido.

Bati de leve no ombro dela.

— Se bem me lembro a ideia foi sua, engraçadinha.

— Eu surgi com a ideia e a mamãe me ajudou — ela relembrou. — Por que ela te apoiou numa loucura dessas, mas não consegue me apoiar agora?

— Você sabe o porquê. Ela viu algo no Jasper que não gostou, Alice. Isso não te deixa com medo? — perguntei, porque eu estava.

— Se ela me contasse o que está acontecendo, talvez eu tivesse, mas eu não enxergo nada e ela não me conta — ela respondeu rápido, e parecia já ter pensado bastante sobre aquilo. — Odeio ficar no escuro.

Puxei as pernas para cima da cama e uma almofada para o peito, deixando um sorriso nostálgico tomar conta do meu rosto.

— Ela sabe. Se lembra da primeira vez em que a vimos?

Os olhos de Alice se iluminaram, e a sombra de um sorriso tornou a passar por seus lábios.

— Como se fosse ontem. Aquela menina, Joan, se lembra dela? Tinha puxado meu cabelo e eu me escondi no armário da quadra pra chorar, daí ela me trancou lá. Fiquei lá por umas duas horas.

— Foram quarenta minutos, Alice — eu corrigi a dramática, me sentindo nostálgica com o fluxo de memórias de nossos dias no orfanato que chegavam. — Eu sei porque passei aquele tempo todo te procurando. Ela me encontrou chorando no páteo e perguntou o que tinha acontecido. Quando contei que tinha perdido minha melhor amiga, ela disse: “Vou te ajudar a procurar. Vamos encontrá-la juntas”.

— Nunca vou me esquecer do momento em que ela abriu o armário para me resgatar. Até hoje não sei como ela me achou lá, eu já tinha desistido até de chorar. Estava encolhida lá no fundo frio de metal, tremendo e esperando a morte — ela riu e eu a acompanhei, porque a Alice criança conseguia ser ainda mais dramática do que a Alice adulta. — Ela só abriu a porta e fez a luz entrar, e para a pequena Alice assustada ela parecia um anjo vindo me resgatar direto do céu. Eu só pulei nos braços dela e ela me abraçou como se tivesse ido ali só pra aquilo.

— Essa é a mamãe — sorri, pensando em como aquela era a descrição perfeita de dona Esme. Ela era daquele tipo de pessoa que chegava na sua vida com toda aquela luz, te abraçava e nunca mais soltava independente do quanto você se debatesse.

Eu sabia que não tinha sido o processo mais fácil do mundo para ela nos levar para casa. Alice sempre tinha sido mais doce, mas eu fui difícil. Meu conceito do que era uma família nunca foi muito claro e eu não acreditava mais em Papai Noel, o que significava que eu não acreditava que Esme estava fazendo aquilo – nos amar – sem intenções por trás. Passei o primeiro ano inteiro esperando ela nos usar para algum esquema de tráfico ou algo parecido, pensando que ela só estava esperando ganhar a nossa confiança para isso. Mal sabia a pequena Bella o que a força do amor de uma mãe podia fazer com uma pessoa.

— Eu não quero perdê-la, Bella — quando voltei minha atenção de volta para Alice, percebi que ela também tinha se perdido em pensamentos por um momento. Ela limpou o resquício de uma lágrima que brilhou em seus olhos. — Não sei o que fazer.

— Você não vai perdê-la. Sabe que não. Não importa o quanto vocês briguem, sabe que ela nunca vai sair do seu pé. Então, boa sorte com isso.

Ela riu.

— Só posso torcer para que um dia ela goste do Jasper tanto quanto gosta do Edward.

— Ele vai ter que trabalhar bastante. Edward é muito gostável.

Essa foi a deixa de Alice para se esgueirar para o assunto que ela queria abordar, e tal eu tinha feito a pouco, ela aproveitou sua chance.

— Quão gostável?

— Muito gostável.

— Bella!

O riso de Alice me fez corar um pouco, o que era absolutamente ridículos dado o fato de que eu era uma mulher adulta e não uma adolescente no primeiro encontro. Entretanto, Edward era uma coisa inédita na minha vida, e as reações que ele me causava também nunca eram muito razoáveis.

— Estou tão feliz que vocês finalmente estão indo em direção ao que sentem.

— Finalmente? — questionei.

— Ah, por favor. Vocês estão indo em direção um do outro desde o dia em que se conheceram. Só são inibidos demais para dar passos mais rápidos dos que o de uma tartaruga, os dois.

— Ou talvez você viva demais no seu mundinho idealizado para ser realista e ir com calma em direção ao futuro — me levantei da cama e comecei a selecionar as peças de roupa na cama, porque ainda havia um encontro para o qual eu precisava me planejar afinal. — Já assistiu Frozen? Podia aprender coisas importantes com o filme.

Alice embarcou no meu ritmo, e seu olhar analítico rapidamente pescou três blusas que ela jogou na minha direção, uma ordem muda para que eu experimentasse.

— Você só diz isso porque se acha a própria Elsa — ela passou para trás de mim, já prendendo meu cabelo para ajudar nas provas. — Já eu faço mais o estilo Anna, obrigada.

— Só cuidado para não se apaixonar por um Hans, irmã — pedi, e falava sério.

Ela deu tapinhas no meu ombro.

— Estou decidida a viver isso e ver até onde o meu relacionamento com Jasper pode me levar. Mas não estou preocupada. Se no final ele for um Hans, sei que minha irmã vai estar lá para me salvar. Mas eu nunca vou saber se não tentar.

Suspirei, mas sorri, deixando-a saber que estava tudo bem. Alice tinha razão em certo ponto. Ela nunca tinha sido imprudente, e nunca tinha arriscado nada. Talvez fosse a hora de ela tentar. Ela estava certa em dizer que eu sempre estaria lá para ela, independente do resultado de suas peripécias. Eu lidaria com a nossa mãe por ela.

Com nossa parceria reestabelecida, Alice se concentrou em mim e na roupa perfeita para o encontro. Segundo ela, encontrar o estilo certo era questão de vida ou morte, e o sucesso ou o fracasso da noite dependia daquilo completamente. Acostumada a simplesmente confiar em Alice para aquele tipo de coisa, deixei-a fazer o que quisesse comigo sendo apenas grata por não ter que surtar sobre minha roupas para aquele dia quando já se havia tanto para o qual surtar.

Passei o restante da manhã trancada no meu quarto com Alice, de forma que mesmo que Edward tenha dormido ali na noite anterior, não o vi antes que saísse. Ainda era uma segunda feira, e ele não perderia um dia de trabalho. Segundo a mensagem que me enviou, ele estaria lá para me buscar logo após seu expediente, às 18h00.

Com a roupa escolhida, Alice me fez tomar um banho de banheira de uma hora para relaxar, porque podia sentir a tensão exalando de mim. Ela não estava errada, eu estava mesmo uma pilha de nervos. Aquele era um território totalmente novo para mim, o dos encontros. Nunca tinha sido daquela maneira antes, de forma combinada, com as duas partes tão conscientes de seus sentimentos, ambos sabendo exatamente para onde queriam caminhar. Era estranho, e pensar em como a noite poderia se desenrolar fazia meu estômago formigar. Eu me sentia prestes a viver algo saído de algum tipo de romance clichê, o que era empolgante e apavorante ao mesmo tempo.

Eden me ajudou a manter minha mente mais leve assim que acordou. Ela tomou o café da manhã comigo e tomamos o banho de banheira juntas, brincando no meio de um monte de bolhas de sabão. Ela fazia esculturas de bolhas como ninguém. E enquanto a via espirrar água por toda a parte entre gritinhos de animação, tentei capturar cada minuto do momento, me sentindo grata novamente por poder compartilhar se suas risadas, aquele sentimento vinha permeando todo aquele dia. Eden tinha me levado até Edward, redefinindo novamente todo o curso da minha vida. Era a especialidade dela, a minha menina preciosa. Ela estava crescendo rápido, e em breve não tomaríamos mais banhos de banheira juntas, mas eu também estava ansiosa para ver de perto a incrível pessoal que ela se tornaria.

Ainda era segunda feira, então tive uma reunião rápida com Emmett na hora do almoço para acertarmos algumas coisas. No dia seguinte ao do acidente eu tinha ligado para Jenks e dito que o plano dele de um relacionamento falso com Mike estava fora de cogitação. Ela ficou furioso e seguia fazendo ameaças de cancelar o lançamento do álbum, o que eu e Emmett estávamos trabalhando para impedir. Tínhamos proposto a Jenks a simulação de uma amizade, ao invés de um namoro, e a participação integral do Newton na turnê, dizendo ao público que nossa amizade tinha levado Mike a interpretar meus sentimentos de maneira errada, um erro que já tinha sido resolvido. Isso consertaria a imagem pública de ambos e acrescentaria os fãs dele na margem de lucro da turnê também. Seriam semanas infernais com Newton na viagem? Sim, mas era um sacrifico necessário. Estávamos aguardando a resposta de Jenks sobre a proposta para começarmos a nos preparar. Se tudo desse certo, o álbum seria lançado no final daquele mês, e a turnê começaria dali a três meses. Era pouco tempo, ainda mais com tantas coisas acontecendo ao nosso redor.

Após a reunião, já no meio da tarde, Rosalie veio com Dominique para ficarem com Edeline por aquela noite. Elas não tinham se visto muito no últimos dias, porque Nick andava muito cansada ultimamente por conta dos medicamentos que estava tomando em preparação a cirurgia que deveria acontecer muito em breve, portanto não tinha muita disposição para brincadeira cansativas. Rose tinha planejado uma noite do cinema com direito a todos os filmes da Barbie possíveis, o que deveria manter as garotas quietas por uma noite. Com Rosalie a cargo de Edeline, o nervosismo retornou com força total quando o foco voltou à minha preparação para o encontro. Edward estaria ali em breve e minhas mãos só faziam suar.

Alice, minha fiel escudeira, me vestiu e maquiou com confiança impecável. Fui rapidamente colocada dentro de uma bermuda bege, camiseta branca estampada e uma jaqueta jeans que ela insistiu que deveria ser usada. Deixou meu cabelo solto, dizendo que daquele jeito seria melhor, e algo na sua voz me indicou que ela tinha falado com Edward e sabia exatamente para onde eu estava indo. E, com aquela pista em mãos, pelo menos eu pude saber que de fato não era um restaurante ou qualquer lugar formal.

— Nada de bolsas, isso vai te atrapalhar — disse ela, após de fazer calçar um par de coturnos com salto baixo. — Você pode colocar o celular e a carteira no bolso, tem espaço. Não vai precisar de mais nada.

— Vai me dizer pra onde ele vai me levar agora? — perguntei enquanto dava um última olhada no espelho, passando a mão pelos fios soltos no meu cabelo.

 Alice soltou um risinho.

— Só precisa saber que ele vai te surpreender.

Uma buzina fina ornamentou a frase misteriosa de Alice, e eu ergui uma sobrancelha antes de ir atrás do som. A varanda do meu quarto não dava para a entrada da mansão, de forma que tive que descer até o térreo para descobrir de onde vinha o barulho.

Quando abri a porta da entrada, a visão de um Edward trajando uma jaqueta de couro em cima de uma moto preencheu minha visão, e fui obrigada a parar na soleira para absorver a cena. Ao me ver na entrada, ele tirou o capacete e sorriu, parecendo pronto para encenar uma versão mais jovem e atraente de James Dean, com a maravilhosa e gigantesca vantagem de estar ali só por mim.

Ele desceu da moto e se aproximou devagar, com outro capacete em mãos. Eu podia sentir Alice quicando do meu lado, mas não dei muita atenção a nada além da visão de Edward vindo até mim.

Ao nos alcançar, ele tomou minha mão e beijou o dorso dela, me fazendo corar feito uma criança. Era ridículo, mas fofo.

— Uau — ele disse ao descer os olhos pelas minhas roupas. — Você está tão linda.

Por mais básica que Alice tivesse me vestido naquela noite, ele não parecia estar dizendo só por educação.

— Eu que o diga — tentei devolver o elogio. — Alice fez isso?

— Está insinuando que não sei me vestir?

— Acho que estou — eu ri.

— Olha só, eu não ficarei ofendido apenas porque... É, foi a Alice mesmo — ele me acompanhou na risada, e olhou para Alice. — Obrigada, baixinha.

Ela abanou a mão.

— Apenas pare de me chamar assim e estamos quites.

— Nunca.

— Nesse caso mandarei a conta da consultoria para sua casa.

Eu abracei Alice brevemente, transmitindo um pouco da gratidão que sentia por minha irmã que permeava cada detalhe da minha vida, incluindo o estilo do meu acompanhante em meu primeiro encontro de verdade.

— Não deixe ele escapar — ela sussurrou no meu ouvido entre risinhos.

Eu bati de leve em seu ombro, também rindo, e depois me coloquei ao lado de Edward.

— Vai querer dar um beijo na Eden ou podemos ir? — perguntei.

— Tentador, mas hoje a noite é só sua. Eu passarei o dia com ela amanhã — ele me estendeu o capacete que segurava. — Pronta?

Sorrindo de leve, peguei o capacete e caminhamos em direção a motocicleta. Enquanto ele colocava o próprio capacete, eu alisei o estofado de couro. Não era uma Harley ou nada do tipo, mas era bonita.

— É sua?

— A moto? Não, é do Liam. Ele me emprestou, achei que combinaria com a noite. Tudo bem?

Subi na moto e abaixei o visor.

— Melhor impossível.

Observar Edward subindo na moto e dando a partida teria provavelmente sido mais interessante visto de fora, mas já que eu tinha me precipitado e subido antes dele, me restou apreciar o momento de rodear meus braços em sua cintura antes da partida.

Me perguntei se ele tinha escolhido aquele meio de transporte pouco convencional por causa daquilo, mas não fazia o estilo de Edward se aproveitar de qualquer situação que fosse. Não importava o motivo, eu estava aproveitando. Mas havia uma segunda vantagem na motocicleta: a velocidade. Estávamos no início da semana, de forma que o trânsito estava um pouco mais livre do que o comum para Los Angeles, o que permitiu com que deslizássemos através das ruas como vento. Seja lá pra onde estivéssemos indo, aquela vantagem nos daria muito mais tempo para aproveitarmos a noite.

De algum jeito ele deve ter descoberto que eu gostava de motos, pois tinha aparecido com ela sem parecer temer que eu me recusasse a subir ou tivesse medo. Eu não possuía uma e nem costumava andar com frequência por questões de segurança, nenhum prazer momentâneo valeria arriscar tornar a minha filha órfã cedo demais. Mas desde que eu tinha aprendido a andar para um filme que estrelei onde eu era uma policial durona sempre aproveitava quando tinha a oportunidade de subir em uma novamente.

— Desde quando você é um motoqueiro? — questionei, aumentando a voz para fazê-la chegar até os ouvidos nele no meio do barulho do motos e do vento.

— Desde adolescente — ele respondeu no mesmo volume. — Liam e eu aprendemos quando éramos garotos para poder começar a trabalhar como motoboys, mas acabou que usávamos mais para nos exibir e passear do que qualquer coisa. Eu vendi a minha depois que meus pais morreram.

Eu absorvi a informação, pensando em quanta coisa eu não sabia sobre Edward, e em quanto coisa ele também ainda não sabia sobre mim. Surpreendentemente me recordei de que nos conhecíamos a somente pouco mais de seis meses agora, mesmo que parecesse ser muito mais. Me reclinei nas costas de Edward, pousando a bochecha no meio de suas costas, fechei os olhos para aproveitar a sensação de voar sobre a moto abraçada a ele, pensando que teríamos bastante tempo para resolver aquilo naquela noite.

Eu entendi o que ele quis dizer sobre a moto combinar com a noite quando, cerca de vinte minutos depois, ele estacionou em um campo aberto de terra batida cercado por outros veículos. Ele me ajudou a descer da moto e ao tirar o capacete e olhar em volta dei de cara com as luzes de uma roda gigantes e o som de gritos coletivos.

— Um parque de diversões? — perguntei.

— Surpresa — ele sorriu. — Pensei que você estava precisando de um pouco de diversão extra. Não precisa se preocupar com o público, eu conversei com a administração do parque e hoje ele estará fechado para uma excursão escolar. Como sua base de fãs não abrange crianças de 5 a 10 anos, acho que será seguro de fãs histéricos. Me prometeram que as professoras iriam se comportar. Pronta para gritar bastante?

Eu olhei para trás novamente, para o parque e suas milhares de luzes estroboscópicas. Era um daqueles parques de bairro, não parecia ser tão pequeno, mas também não uma Disney World, e certamente estava cheio de barraquinhas de comida e tendas de lembrancinhas com enormes ursos gigantes para se ganhar como prêmio de algum jogo bobo como lançar argolas em uma garrafa. Não era um lugar onde eu escolheria passar a minha noite normalmente, mas aquele lugar, aquele programa, era tão Edward que eu tive que sorrir.

— É perfeito — ele ficou feliz com a minha respostas, e me ofereceu o braço e, após entregar dois ingressos na mão do funcionário na porta, entramos juntos.

Como ele prometeu, só parecia haver crianças por toda parte assim que entramos. Algumas mulheres adultas que presumi serem as professoras responsáveis corriam de um lado a outro também, porém tão ocupada com as crianças que nem perceberam os dois intrusos no meio da excursão. Como Edward disse que tinha falado com a administração, imaginei que eles tivessem orientado os funcionários, de forma que também nenhum deles nos abordou após entrarmos, apesar dos olhares parcialmente arregalados enquanto caminhávamos por tudo, observando o ambiente.

Avançamos devagar parque adentro. Como eu previ, barracas de comida e de jogos adornavam o espaço entre um brinquedo gigantesco e outro. Passamos por um Barco Vicking e pela roda gigante da entrada, e a Montanha Russa despontava no horizonte. Crianças passavam gritando constantemente por nós, o que deixava o clima mais leve, mas eu me sentia ligeiramente deslocada. Meu coração tinha recomeçado a guerra contra minhas costelas, e os gritos ao nosso redor das crianças nos brinquedos parecia ecoar os gritos na minha cabeça também.

Eu estava em um encontro! Com Edward! Estava acontecendo naquele momento exato! Ah!

— Opa — ele me amparou quanto tropecei em um desnível no chão de pedra. — Tudo bem?

Assenti, um pouco vermelha. Olhei em volta, e depois para ele novamente.

— Bella?

— Não sei muito bem como agir em um encontro — admiti, sem graça.

Ele assentiu, parecendo entender o sentimento.

— Nós começamos tudo pelo avesso, não é? — ele riu levemente. — Que tal isso, vamos reiniciar.

— Como assim? — perguntei, já sentindo a familiaridade retornar. Nunca tinha sido estranho estar a sós com ele antes, muito pelo contrário, Edward sempre fez eu me sentir mais à vontade com sua presença.

Ele recuou um passo e fez uma mesura meio exagerada que me fez rir.

— Sou Edward Masen, muito prazer — ele tomou minha mão direito e beijou o dorso. — É um prazer conhecê-la, senhorita. Como se chama?

Eu sorri quando entendi o que ele estava fazendo. Seria mais fácil se tudo o que já vivemos até então – que não tinha pouca coisa – não estivesse no caminho durante aquela noite. Iriamos, como ele disse, reiniciar para podermos fazer o que se fazia em encontros de verdade: nos conhecermos melhor.

Decidida a entrar na brincadeira, agarrei a barra dos meus shorts e dobrei os joelhos em um cumprimento.

— O prazer é meu, Sr. Masen. Sou Bella.

— Só Bella? — ele ergueu uma sobrancelha e eu pisquei para ele.

— O sobrenome você só pode ficar sabendo se eu gostar da noite.

— Uau. Estou lidando com algum tipo de agente secreta, uma pirata em fuga ou algo do tipo?

— Algo do tipo.

Ele gargalhou e recomeçamos a andar. Seu braço me rodeou pelos ombros, me trazendo para perto e passamos a caminhar assim, nos mesmos passos.

Mais uma criança passou correndo por nós.

— Sabe, eu nunca estive em um desses.

— O quê? Não acredito — ele se surpreendeu. — Nunca esteve em um parque de diversões antes? Como isso é possível?

— Bom, quando eu era criança não havia dinheiro e nem quem me trouxesse, e depois de adulta eu frequentemente levo Eden... Desculpe, eu tenho uma filha pequena, ela se chama Edeline. Eu a levo a Disney e aos parques dos estúdios com frequência, mas nunca estivemos em um parque de bairro assim.

Edward chacoalhou a cabeça de leve, rindo meio descrente.

— Fico muito feliz por poder corrigir esse lapso gravíssimo da sua infância então. Onde quer ir primeiro?

Olhei em volta, um pouco confusa com tantas opções. Os brinquedos gigantes eram uma alternativa tentadora, mas os jogos pareciam divertidos também. Então, à nossa esquerda, uma máquina chamou a minha atenção.

— Ah, a máquina de bichinhos! — exclamei, apontando para a caixa de metal e vidro repleta de bichos de pelúcia. — Meu sonho é ganhar um bicho dessa máquina e vencê-la.

Edward olhou para a máquina de depois para mim, uma sobrancelha erguida.

— Jura? Seu sonho é ter um bichinho dessa máquina?

Dei de ombros.

— Quando você já realizou os maiores sonhos da sua vida, os próximos tendem a ir baixando de nível.

— Deve ser mesmo muito recompensador ser agente secreta.

Ele sorriu aquele meio sorriso adorável que surgia em seu rosto quando algo o surpreendia positivamente, e avançamos em direção à máquina.

— Ok, então vamos realizar mais um.

— O que vai fazer?

— Te ganhar um bichinho dessa máquina.

Eu observei animada enquanto Edward puxava um punhado de moedas e as colocava na máquina, encarando a garra da máquina como se ela fosse sua maior inimiga. Observei com ansiosidade ele manejar habilmente o pequeno joystick e direcionar a garra de metal até o urso desejado. Estava mirando em uma pelúcia de um gato rajado, mas a garra passou raspando por ele e subiu de volta vazia.

— Valeu a tentativa, mas é impossível vencer essa máquina.

— Na maioria das vezes que alguém diz que algo é impossível, na verdade o que faltou foi persistência. Me passa mais moedas.

Eu lhe passei as moedas, e ele tentou novamente. E tentou novamente, e tentou novamente. Isso se repetiu por algumas dezenas de vezes, e eu torci por todas elas como se fosse aquela em que ele conseguiria. Lá pela segunda dezena, e depois de tantas moedas que teria sido mais barato comprar uma pelúcia na loja de presentes, e garra finalmente se frendeu embaixo das patas do gato, içando o bichano para cima até finalmente soltá-lo na abertura de saída.

— Isso!

— Não acredito, você venceu a máquina — exclamou, pulando em volta dele como uma das crianças que nos rodeavam. O observei puxar o bicho da saída da máquina, olhando admirada para ele.

— Eu disse, o segredo é a persistência — ele piscou para mim e me entregou o bicho, que agarrei junto ao peito imediatamente. — Vai dar um nome para ele?

Eu ri.

— Eu não tô velha demais pra dar nome pra bicho de pelúcia?

— Você não me parece velha demais para nada.

— Uau, você sabe elogiar uma mulher — aprovei o gracejo, e pensei por um minuto no nome adequado. Meu olhar se desviou da pelúcia para Edward, encostado na máquina derrotada e aguardando enquanto me olhava. — Vamos chamá-lo de Sonho.

— Muito adequado — ele assentiu. — Certo, primeiro objetivo cumprido. Para onde agora?

Sorrindo maliciosamente, voltei a enganchar meu braço no dele e o puxei em direção à montanha russa.

— Prepare-se para gritar feito uma garotinha, Masen.

 

...

 

— Cor favorita?

— Verde — respondi rápido, para poder perguntar de volta. Estávamos jogando aquela brincadeira de 20 perguntas, que apesar de parecer boba era muito divertida. — A sua?

— Azul.

— Cheiro favorito?

— Cheiro favorito? Que tipo de pergunta é essa?

— Não importa, é minha vez, responda.

— Eu sei lá... Cheiro de grama molhada, eu acho. É delicioso.

— Boa resposta. Eu gosto do cheiro da manhã — ele contou antes que eu perguntasse, me deixando intrigada.

— A manhã tem um cheiro?

— Tem, é completamente diferente do cheiro da tarde e da noite. É um aroma refrescante, de recomeços. Quando acordar amanhã, pare alguns minutos pra respirar fundo na janela.

— Vou fazer isso com certeza — afirmou. — Minha vez. Personagem de série favorita?

Ele pensou por apenas alguns segundos.

— Amy Santiago, de Brooklyn 99.

— Eu amo essa série! — bati no ombro dele, feliz.

— Todo mundo gosta, é uma ótima série.

— Huuum, a minha nutricionista vai me matar — eu disse enquanto colocava mais um pedaço de algodão doce gigantesco na boca. Edward bateu seu ombro com o meu e esticou a mão para o doce. — Sai, você já comeu o seu.

— Vai me negar algodão doce, sério?

— Sim, porque você já comeu o seu!

— Eu criei um monstro.

Eu comecei a rir, deixando um pouco de açúcar pular para fora da minha boca. Chocada, mas ainda risonha, aceitei o guardanapo que ele me ofereceu sem que eu pedisse e limpei a boca sob o olhar atento de Edward.

— Sabe, isso daqui foi genial — girei o dedo ao redor do parque, por onde crianças ainda corriam. O som das risadas e gritinhos era revigorante e tinha dado à noite um toque caseiro maravilhoso, e fora alguns olhares aqui e ali dos poucos adultos no local, não tínhamos sido incomodados nem uma vez. — Como fez para que os professores e funcionários nos ignorassem? Subornou alguém?

Ele riu porque sabia que eu estava brincando.

— O quê? Está sentindo falta de ser parada e elogiada a cada passo?

Foi a minha vez de bater no ombro dele.

— Não, bobo. Mas estou surpresa, sim. É difícil pra mim vir em lugares assim, geralmente eu tenho uma seleção pequena de lugares onde consigo ir sem ser incomodada, você já presenciou isso.

Em algum momento tínhamos nos esquecido da brincadeira de não nos conhecermos, porque não precisamos mais. Pouco tempo depois do primeiro brinquedo, toda estranheza tinha ido embora e sem que nos déssemos conta éramos nós mesmo novamente. E nos dávamos muito bem juntos.

— Foi um dos motivos pelo qual escolhi esse lugar para te trazer. Eu conheço alguns funcionários então não foi difícil conseguir o contato do dono e falar com ele. Não paguei nada além dos ingressos, ele ficou absolutamente encantado com a ideia de te ter aqui, ofereceu até fechar o parque — ele riu de leve. — E ao mesmo tempo não queria que você tivesse que se preocupar com o que falar ou quem ouviria, por isso escolhi o dia da excursão. Mas acima de tudo eu queria te dar um dia normal, um dia que se parecesse mais com o meu mundo.

— Acho que é justo, eu te fiz mergulhar no meu mundo e você se adaptou sem reclamar. É justo que eu conheça o seu, e até agora estou adorando.

Ele sorriu.

— É bom ouvir isso. Eu vinha muito aqui quando era pequeno. A minha mãe adorava esse lugar.

Minha atenção saiu do algodão doce e voltou a ser toda dele, porque ele tinha me contado apenas fragmentos do seu passado até então. Ele olhava para a roda gigante com certa nostalgia agora.

— Próxima pergunta: como eram seus pais? — perguntei, porque só sabia dos fragmentos de conversas quebradas derivadas do passado da Rosalie.

Ele sorriu com a pergunta.

— Eles eram ótimo, ótimos mesmo. Daquele tipo de casal que você não consegue imaginar que um dia viveram separados antes de se conhecerem. Minha mãe sempre nos acordava com a luz do sol e um beijo, e tomávamos café da manhã juntos na mesa todos os dias, era meu momento favorito do dia. A nossa casa era pequena, mas eles faziam ficar grande, sabe? Meu pai construía cabanas de lençol para mim e Rosalie, e nas noites em que não tínhamos luz, eles faziam peças de teatro inteiras na parede com as sombras na luz de lanternas. 

Tentei imaginar aquilo, mas o máximo que consegui chegar foi o de uma cena de filme de época clichê que não me trouxe muita veracidade. Fazia sentido que os pais dele fossem pessoas tão única que pareciam até fictícias, porque só assim poderiam ter criado um homem como Edward.

— Deve ter sido uma infância muito boa — comentei. Ao passar pela lixeira mais próxima, joguei o palito do algodão doce nela. — Eu gostaria de tê-los conhecido.

— Eles iam te amar, eu tenho certeza — ele sorriu um tanto quanto melancólico, e eu me arrependi de ter feito aquela perguntar. Não era para nada deixa-lo triste naquela noite.

— Hey, ainda não fomos na Roda Gigante — apontei para o gigante luminoso diante de nós.

— Parece uma ótima maneira de fechar a noite. Vamos lá.

Nós caminhamos até a fila de crianças que esperavam até que as que estavam em movimento descessem para que pudessem subir. Eu o cutuquei.

— Sua vez de fazer perguntas — apontei.

Ele assentiu, parecendo se lembrar daquilo. Antes de falar, porém, ele levou a mão até o meu rosto para colocar uma mecha do meu cabelo atrás do meu ouvido, fazendo o sangue correr por minha veias tão rápido que eu podia sentir meu coração pulsando.

— Como eram seus pais? — ele devolveu a minha pergunta, me pergunta de surpresa. Minha primeira reação foi desviar o olhar, o sorriso leve sendo substituído por uma expressão fechada sem que eu me desse conta. — Não precisa falar se não quiser.

— Não, eu... — umedeci os lábios, sem saber direito por onde começar. Eu queria que ele me conhecesse, a Bella real os traumas e a infância horrível que querendo ou não fazia parte de quem eu era. E de certa forma aquele parecia um bom lugar para aquilo, rodeado por crianças que não estavam nem aí para o que eu estava dizendo, em uma noite tão agradável e no meio de um jogo que tornaria tudo mais fácil. Tentei começar de uma forma leve. — Meu sobrenome de batismo é Swan, sabia?

— Isabella Swan? — ele arqueou uma sobrancelha e eu assenti. — É estranho. Cullen combina mais com você.

Sorri.

— Concordo. Mas mesmo que eu os Cullen não tivessem me adotado, eu não teria mantido esse sobrenome de qualquer jeito. Ele pertencia a um alcóolatra, que por acaso era o meu pai. E a uma dependente química, que vinha a ser minha mãe. Minha infância foi uma sucessão de desastres dos quais é melhor você não saber, acredite — respirei fundo, observando o quanto Edward estava sério me ouvindo. — Eu amadureci bem cedo por ter que aprender a cuidar de mim mesmo desde sempre, e conforme eu cresci passei a ter que cuidar deles também. Os dois quase nunca estavam sóbrios para se darem conta do que estava acontecendo ao seu redor, e como nenhum dos dois tinha emprego passávamos bastante necessidades, e eu estava esperando pacientemente para completar a maior idade e dar o fora dali quando tudo aconteceu...

Mordi minha bochecha, olhando em volta como tinha adquirido o hábito de fazer. Mas não havia ninguém ouvindo além de Edward.

Ele buscou minha mão, entrelaçando novamente nossos dedos e eu sorri.

— O que aconteceu? — ele me incentivou a continuar.

— Em uma noite, depois de uma briga bem feia, minha mãe decidiu que iria embora e me levaria junto. Ainda me lembro dela jogando as nossas roupas em uma mochila enquanto gritava que meu pai nunca mais nos veria. Ele estava bêbado como sempre, e durante a discussão ele empurrou ela da escada. Então, é. Meu pai matou a minha mãe, e então ele foi preso. Eu tinha onze anos. O serviço social me levou para o orfanato onde conheci Alice, e depois os Cullen nos acharam. O resto é história.

Evitei o olhar de Edward após terminar a história. Eu nem me lembrava de qual tinha sido a última vez em que a contei dessa forma, e me sentia estranha depois de ter relatado tudo como se fosse uma história de dormir. Senti os dedos de Edward brincando com a ponta dos meus, e ele me puxou para si, rodeando meus ombros com os braços e pousou os lábios contra meus cabelos.

— Sinto muito que você tenha passado por tudo isso.

Eu suspirei contra o peito dele, me sentindo estranha. Pensei que ficaria irritada se detectasse qualquer sinal de pena na voz dele, mas não havia nada ali. Aquilo não era pena, era conforto. Eu sorri.

— Está tudo bem. De certa forma foi a melhor coisa que me aconteceu, porque as funcionárias do abrigo eram ótimas, eu ganhei Alice, e recebi tudo em dobro com os Cullen.

— E como você chegou até eles? — ele perguntou, ignorando o fato de que era a minha vez de fazer uma pergunta. Deixei passar, porque falar da minha família sempre me deixava feliz.

— Esme é arquiteta, você sabe, e ela tem uma ONG que trabalha reformando orfanatos, abrigos e outros serviços de assistência social. Ela estava reformando o lugar onde eu estava e ia muito lá, na maioria das vezes levava o Emmett, e ficamos amigos. Uma coisa levou à outra... Eles nos adotaram, nos amaram, nos transformaram em quem somos hoje. Eu não sei se existem palavras o suficiente para expressar o que eles significam para mim — sorri quando a imagem dos meus pais surgiu na minha mente.

A fila finalmente estava andando, e Edward me ajudou a subir na cabine cambaleante do brinquedo. Nos sentamos um de frente para o outro, meio exprimidos no espaço pequeno enquanto começava a subir.

— Tudo bem, acho que é a sua vez de perguntar — ele retomou a brincadeira, deixando meu passado para trás.

— Quantas namoradas você já teve?

— Uma só, no ensino médio, mas não foi nada sério. Acabou pouco tempo depois da morte dos meus pais e não significou muita coisa. Depois disso fiquei focado demais em cuidar de Rose e Nick para pensar em namoro.

— Qual era o nome dela?

— Não, é minha vez de perguntar — ele negou.

— Não é justo, você fez duas perguntas seguidas ainda a pouco!

— E você não reclamou na hora, agora não vale mais.

— Não é justo — neguei veementemente, batendo no joelho dele. — Anda, o nome.

— Você vai fazer o quê? Caçá-la e deportá-la? — ele brincou.

— Então ela não é americana?

Ele riu, me fazendo rir de volta. Seu sorriso era doce e me fazia ter vontade de contar piadas infinitamente para ele nunca sair do rosto dele.

— Tá legal, o nome dela era Irina. Ela era estoniana, eu acho. Não me lembro direito.

Estreitei os olhos para ele.

— Sobrenome?

— Não, é a minha vez!

— Edward!

O empurrei pelo ombro, mas ele agarrou minhas mãos daquela vez, me prendendo nas suas.

— Bella, faz mais de dez anos. Eu nem me lembro mais dela direito.

Fiz um bico nos lábios que o fez rir. Ele afrouxou o aperto nas minhas mãos, mas não as soltamos. Ficamos daquele jeito, inclinados um em direção ao outro, de mãos dadas.

— Bom, fico feliz que tenha mudado de ideia e começado a pensar em namorar novamente — assim que me dei conta do que falei, fiquei vermelha de vergonha e pigarreei para disfarçar. — Tá, sua vez de perguntar.

Eu sabia que ele não ia devolver a pergunta porque eu me lembrada de já ter dito a ele sobre meu primeiro e único namorado que minha mãe espantou para a Austrália, e que depois disso nunca mais tive nenhum relacionamento sério. Ele demorou um pouco para perguntar, um sorriso torto brincando em seus lábios.

— Tem algo que eu sempre quis perguntar, mas nunca surgiu uma oportunidades...

Esperei, e quando ele não disse mais nada eu puxei o dedo dele.

— Fala.

— Como foi a gravidez da Eden? — ele me olhou ao perguntar, e eu sorri com a pergunta.

Aquela era uma parte da minha vida que eu tinha escolhido guardar só para mim e minha família. A mídia acompanhou toda a minha gravidez, mas eu não forneci nada mais do que informações genéricas para eles. Aquela parte da Eden sempre foi reservada apenas para quem a amasse de verdade.

— Fico feliz que perguntou — contei. — Você sabe que ela veio de uma inseminação, certo?

— Sim. Todo mundo sabe, eu acho.

— Pois é. Isso aconteceu porque tudo com o que sempre sonhei foi a maternidade. Acho que minha infância me fez ficar obcecada pela ideia. Eu queria viver esse tipo de amor, essa ligação com alguém. E mesmo depois que eu e Alice fomos adotadas e eu pude conhecer o sentimento, a vontade de ter uma criança só minha nunca foi embora. Mas tentei sair em encontros e nunca deu certo com ninguém que conheci, e a dificuldade piorou depois que fiquei famosa. Então Alice sugeriu a inseminação, e o resto é história — sorri. A roda gigante estava girando, nos permitindo enxergar a cidade das luzes da forma mais linda, mas meus olhos prefeririam continuar em Edward. — A gravidez foi muito tranquila, o melhor período da minha vida, eu diria. Não trabalhei por mais de um ano, fiz questão de separar aquele tempo para curtir. Lembro que Eden se mexia demais, então eu sempre soube o quão sapeca ela seria. Eu não quis saber o sexo antes, só descobri no dia que ela nasceu, e escolhi o nome naquele dia também. Só olhei para o rostinho dela e pensei que ela era o meu paraíso. Eu nunca quis ser famosa, nunca quis ser rica, tudo que eu sempre quis foi uma família, então Éden é o meu sonho realizado.

Edward parecia fascinado por cada palavra que saía da minha boca, e o amor nos olhos dele trasbordava. Eu precisava me lembrar de mostrar a ele todos os álbuns de foto que eu tinha dela em casa, sabia que ele adoraria.

Ele pigarreou.

— É muito louco como isso funciona, a inseminação quero dizer.

Dei de ombros.

— Melhor um desconhecido do que alguém que poderia se tornar um problema.

Ele assentiu, mas sua expressão estava coberta por uma sobra enigmática agora.

— E você não faz ideia quem é o doador? — ele perguntou.

Neguei.

— Não, foi tudo feito de forma sigilosa e anônima, eu não quis saber e ele também é proibido por lei de ser informado.

— E você nunca cogitou procurar por ele?

— Não. Sou muito grata por ele ter feito a doação que me trouxe Eden, e ele deve ser muito bonito porque convenhamos, ela parece um anjo. Mas nunca o procuraria. E se for algum maluco? Muito assustador. E não importa mais, você é o pai dela agora.

Estávamos inclinados para frente na pequena cabine do brinquedo agora, os joelhos se tocando e as mãos pairando uma próxima da outra. Era como se só a menção da nossa filha tivesse aquele poder magnético de nos aproximar.

— Você estava sozinha, quando fez o procedimento? — ele perguntou mais uma vez, e eu percebi que o jogo tinha acabado e dado início a uma conversa casual e intima ao mesmo tempo.

— Sim. Minha mãe quis me acompanhar, mas eu preferi viver aquele momento sozinha. Por quê?

Ele franziu o cenho, incomodado.

— É um ambiente muito frio, o dessas clinicas. Esterilizado demais para um lugar onde crianças são concebidas.

Estranhei o tom de voz dele, soava como se ele estivesse visitando uma memória.

— Não tive o bebê na clínica de fertilização, tive no hospital — inclinei a cabeça para olhá-lo. — Mas como sabe como são essas clínicas? Já esteve em uma?

Edward ficou em silêncio por um momento, e li em seu olhar que deveria lhe dar tempo. Enquanto eu aguardava, ele aproximou seus dedos dos meus, tomando minha mão para enlaçá-la na dele. Ele olhou para o céu, parecendo nostálgico e um tanto quanto triste, então finalmente suspirou.

— Eu tenho um filho. Em algum lugar do mundo.

Pisquei três vezes.

— Perai... O quê?

Os dedos dele apertaram os meus, estavam levemente suados.

— Faz alguns anos, Nick estava doente e naquela época ainda não sabíamos o que era. Estavam suspeitando de um tumor e estávamos apavorados. Eu tinha acabado de ser demitido e o exame que ela precisava fazer era muito caro. Foi quando vi o folheto de uma dessas clínicas chegou até mim, e eu acabei topando fazer uma doação em troca do pagamento. Não m orgulho do que fiz, e me arrependi muito.

— Você ajudou uma família, só eu sei o quanto isso pode ter feito a diferença na vida de alguém — disse, tentando consolar a tristeza em seus olhos. — Foi algo bom.

Ele sacudiu a cabeça.

— Eu não consigo me esquecer de que existe uma criança minha em algum lugar do mundo que nem sabe que eu existo. Eu cheguei a voltar na clínica, eu implorei que me dessem o nome e endereço da doação, mas eles se recusaram. A informação era protegida por lei. Só o que me disseram foi que o casal que comprou minha doação era estrangeiro, moravam fora do país, e que tinha nascido um menino.

— Edward... — tentei chamá-lo, detestando aquele tom de tristeza nos olhos dele que eu nunca tinha visto antes.

— Eu sempre penso nele, em como deve ser seu rosto, se é feliz, se ele sabe como nasceu... Eu daria tudo para vê-lo apenas uma vez.

Eu deixei-o viver sua frustração por um momento, porque podia imaginar a sensação. E se eu soubesse que Eden existia, mas nunca pudesse conhecê-la? Eu jamais superaria.

Buscando fazer o sorriso tornar ao seu rosto, me lembrei de algo que o faria tornar a se concentrar no presente.

— Eu não sabia que escolas faziam esse tipo de atividade até hoje — comecei o assunto de forma cautelosa, tentando não deixar tão aparente minha tentativa de desviar sua atenção das lembranças tristes. Funcionou, porque ele sempre parecia ter completo interesse por tudo que se relacionava a mim. — Eu quase não frequentava a escola quando morava com meus pais, depois disso as aulas aconteciam dentro do abrigo, e então a escola onde Esme nos matriculou só fazia excursões para museus.

— Onde quer chegar? — ele voltou a sorrir torto, percebendo que havia mais por trás do comentário.

Sorri.

— Venho pensado nisso, e acho que precisamos matricular Éden em uma escola. O que acha?

Ele aumentou seu sorriso, parecendo encantado com a ideia.

— Eu sou totalmente a favor — ele respondeu. — Obrigada por me incluir na decisão, isso é importante para mim.

— Você é o pai dela, faz parte das decisões agora — dei de ombros, com um leve frio na barriga tomando conta ao declarar a constatação. Eu não era mais a única responsável pelas decisões na vida da minha filha e aquilo era gigante, mas tentei me lembrar de que eu jamais teria tomado aquela decisão se Edward fosse uma vírgula menos responsável, bom ou íntegro do que era, e eu sabia que ele jamais a decepcionaria. Ele era bom para ela, isso era o importante. O medo girava misturado na bola de sentimentos dentro de mim, junto com a ansiedade, a esperança e aquele sentimentozinho novo que subia do estômago para o peito dominando todo o resto. Antes que eu perdesse a coragem, puxei a minha carteira do bolso e tirei de lá o documento que eu tinha guardado para entregar a ele. — E falando nisso...

Ele olhou desconfiado para o papel, e o pegou com cuidado das minhas mãos.

— O que é?

— Abra.

Eu o observei começar a ler o papel, e enquanto seus olhos marejavam o meu sorriso se abria. Eu me aproximei e me apoiei no ombro dele para ler junto.

Eram a nova certidão de nascimento e uma cópia da identidade de Edeline. Com o nome de Edward constando agora no campo “pai” ao invés da palavra ‘desconhecido’.

Suas mãos tremeram um pouco ao abaixar a folha, e seus olhos pousaram nos meus. Eu reconheci a emoção ali, era muito parecido com o que havia nos meus próprios olhos sempre que eu parava para admirar a minha filha.

— Parabéns, papai — brinquei, porque ele se parecia muito com alguém que tinha acabado de receber um teste de gravidez positivo em mãos. Eu nunca deixaria de me surpreender com o quanto ele tinha passado a amar Eden.

Ele não me respondeu com palavras.

Ao invés disso, sua mão foi até a minha bochecha e ele me puxou para si, e antes que eu pudesse me dar conta os lábios dele estavam sobre os meus. Com o sangue quente nas veias e um arrepio na espinha subindo por todo o corpo, tomei a liberdade de circundar seu pescoço com as mãos, trazendo-o para mais perto. Ela se lembrava de como tinha se sentido quando tinham se beijado naquele dia no estúdio, mas agora algo estava diferente. Não havia hesitação, nem temor. Edward agora me beijava com certeza e vontade, e fechei os olhos ao sentir aquela sensação marcante de algo forte e permanente se acomodando em meu peito.

Apesar da firmeza, os toque de Edward era gentil e seu beijo pareceu envolver cada centímetro dos meus sentidos. Ignorei a necessidade de respirar quando ele pousou a mão livre na base das minhas costas, garantindo que eu não me afastaria. Como se eu quisesse.

Ele suspirou antes de se afastar, e a primeira coisa que percebi quando abri os olhos foi a bagunça do cabelo dele e como o fazia parecer ainda mais lindo. Ligeiramente trêmula e tentando recuperar o fôlego, eu sorri de volta.

— Eu queria fazer isso desde o dia no estúdio.

Senti vontade de gargalhar.

— Se você não tivesse feito, eu faria.

Ele alcançou as minhas mãos em sua nuca, e as segurou juntas, brincando com meus dedos por alguns segundos. Quando seus olhos subiram de volta a mim se demoraram em meu rosto.

— É bom saber que estamos na mesma página.

— Estamos no mesmo livro inteiro, eu diria. Um do qual somos os autores.

Ele sorriu e levantou uma das mãos para suavemente guardar uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

Suspirei, risonha.

— Você não vai fazer aquela coisa brega de pedido de namoro, vai?

Ele levou uma mão ao peito teatralmente, uma expressão chocada falsa no rosto.

— Agora não mais.

— Deixe-me poupar seu trabalho indo direto para a resposta.

Aproveitei suas mãos nas minhas e o puxei para a frente novamente, bem menos sutil do que ele tinha feito, e o beijei novamente por mais meio segundo. Ele riu contra a minha boca e nos separou para me olhar.

— Isso significa o que?

Dei de ombros.

— Interprete como quiser.

Ele cerrou os olhos e, após lentamente guardar os documentos de Eden no bolso, puxou minha mão livre para entrelaçar nossos dedos.

— Se eu decido, então... Estamos juntos?

Enrolei meus dedos nos fios de cabelo atrás de sua nuca e assenti.

— Estamos juntos.


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Notas finais do capítulo

Orem aí que através da fé o próximo pode sair ainda em fevereiro (que começa depois de amanhã).

Té mais.



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