Lord's Princess escrita por Brigadeiro


Capítulo 22
21 - Não é Mais Segredo


Notas iniciais do capítulo

Hey, vocês

Não estou orgulhosa da minha demora, mas estou um pouco da minha persistência em continuar essa história.

Passei a pandemia inteira focada pra esse capítulo sair, e peço perdão pelo tempo que levou. É difícil pra mi, porque eu comecei essa história com 17 anos, e hoje já estou prestes a fazer 25. Eu mudei, minha escrita mudou, minhas ideias mudaram e se eu fosse escrever essa história desde o começo hoje, seria completamente diferente.

Mas eu não vou fazer isso, porque eu sei que demoraria demais e que existem leitoras maravilhosas aqui que amam essa história como ela está, e em respeito a vocês eu vou terminá-la. Isso é uma promessa. A menos que eu morra antes, mas tenho amigas instruídas a virem aqui avisar vocês se alguma coisa acontecer comigo.

Espero que gostem do capítulo, estamos nos aproximando do clímax da história.

Música: Não É Mais Segredo - Marcos Almeida feat. Paulo Nazareth
É uma música que descreve muito bem o estado atual da Bella nesse capítulo.

Boa leitura ♥

(leiam as notas finais, tem algo importante lá)



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De onde vem a calma que invade
E desacelera o temor
Deixa vir os sonhos
Abre caminhos pra seguir

O amor lança fora o medo
Me refaz e me faz sonhar de novo
Minha paz não é mais segredo
Invadiu meus dias mais sombrios
Fez morada em mim
O amor

 

Naquele domingo, eu voltei à igreja de Edward.

Era a mesma igreja pequena, simples, situada no centro daquele bairro afastado da cidade, onde ele tinha nos levado da primeira vez. Quando entrei, senti que alguma coisa estava diferente. Passei os primeiros minutos distraída tentando encontrar o que estava errado, mas as mesmas paredes claras, os mesmos bancos de madeira envelhecida e os mesmos olhares divididos entre bondosos e curiosos me espreitavam a cada passo. Levei um pouco de tempo até perceber, somente no fim do culto me dei conta. A construção e as pessoas estavam iguais. Era a Bella que entrou ali pela segunda que, entretanto, era bem diferente.

Eu nem me dei conta exatamente da diferença até já estar ajoelhada à frente do altar, chorando como no dia do acidente. Na primeira vez em que estive ali, foi uma obrigação. Minhas defesas estavam armadas, eu não estava disposta e nem aberta. Na segunda, entretanto, eu sentia sobretudo gratidão, eu nem sabia o que deveria esperar, mas me sentia ansiosa pelo que encontraria. E então eu descobri que a maneira a qual seu coração está quando você entra naquele lugar faz toda a diferença.

— Tem uma pessoa que eu quero te apresentar — Edward me disse após me ajudar a levantar.

A reunião já tinha se encerrado há algum tempo, quando eu finalmente me levantei. Meus olhos deviam estar completamente vermelhos e inchados depois de tanto choro, mas pela primeira vez, eu não me importei com a minha aparência.

A movimentação agora se tornava mais intensa do lado de fora da igreja do que dentro, os poucos remanescentes eram grupinhos escassos conversando aqui e ali.

— Onde está Edeline? — perguntei após limpar a garganta, tentando me situar no ambiente.

— Bem ali — ele apontou, e a vi junto com Dominique e uma terceira garotinha que rodopiava junto com elas, e Rose e Emmett, que estavam próximos a porta de saída, parecendo nos aguardar junto com meus pais.

Segui o olhar nada satisfeito da minha mãe até onde Alice estava, no lado oposto da igreja, sorrindo de orelha a orelha em uma conversa animada com Jasper. Mordi os lábios, preocupada. Eu podia dizer, pelo vinco de preocupação na testa da minha mãe, que ela iria abordá-los logo logo.

Antes que eu pudesse ir até lá, entretanto, senti Edward segurando a minha mão. O toque levou meu olhar até ele, que indicou com a cabeça uma mulher grande e ruiva que sorria para nós da ponta do altar – esse era o nome certo, Edward tinha me ensinado.

— Bella, esse é o Liam, meu amigo de infância. E a esposa dele, Siobhan.

Edward me puxou para estar à frente deles, mas eu me senti estranhamente tímida. Pelo tom de sua voz ao apresentar o amigo, eu sabia que era alguém importante na vida dele, e senti como se aquilo fosse mais do que uma apresentação informal.

Me mantive próxima a Edward, ainda presa ao braço dele, mas sorri e acenei para o casal.

— Muito pra prazer. Sou a Bella.

Assim que disse, percebi que aquela era a primeira vez que e me apresentava a alguém como Bella, e não como Isa. Pela expressão de Edward, ele tinha notado também.

Siobhan sorriu de volta de forma acolhedoras. Liam, porém, parecia animado e seus olhos brilhavam.

— Então você é a famosa Bella — Liam chacoalhou a minha mão fervorosamente, fazendo meu cabelo se desprender um pouco do rabo de cavalo, e os fios loiros dele pularam junto. — Caramba, você é muito mais bonita do que o Edward descreveu.

Aquela frase me chamou a atenção.

— Você não conhecia a minha aparência?

Ele, Siobhan e Edward riram.

— Não sou um grande acompanhante da mídia, então não era um fã. Sinto muito — ele se curvou teatralmente e eu ri. Ele me lembrou Emmett e isso fez com que eu instantaneamente gostasse dele. — Mas posso dizer que a partir de agora, sou.

— Não, na verdade é bom ouvir isso — eu lhe assegurei. — Mas se não é pela mídia, de que forma sou famosa então?

Ele riu mais e Edward ficou vermelho. Aquilo seria bom.

— Ora, pelo meu querido amigo aqui, é claro. Toda vez que nos falamos, ele só sabe falar de você, querida Bella.

— Ele fala, é? — abri um sorriso de canto, cutucando Edward.

— Talvez eu fale um pouco. Você se tornou uma parte importante da minha vida, sabe.

Eu queria beijá-lo bem ali, mas seria indecoroso. Ainda estávamos na igreja afinal.

— Um pouco, sei — Liam tossiu quando Siobhan finalmente interviu, acotovelando-lhe as costelas.

— Você está deixando Edward constrangido! — ela passou a frente de seu marido e estendeu a mão pra mim, o mesmo sorriso gentil ainda no rosto. — É um prazer, Bella. Sou Siobhan.

— O prazer é meu — retribui o aperto firme. — Você é escocesa?

— Nascida e criada. Já tinha quase onze anos quando vim para a América. Foi meu sotaque que me entregou?

— Ele é bem forte — admiti.

— Nunca consegui perdê-lo. É uma parte de casa.

— Bella, lembra quando eu te disse que tinha pessoas a te apresentar que te ajudariam? — Edward questionou, trazendo minha atenção totalmente para seu rosto de novo. Era sempre assim quando ele falava, principalmente quando dizia meu nome. Eu assenti, me lembrando de que precisava responde-lo. — Esta é uma delas. Siobhan é uma pessoa de confiança, e provavelmente uma das mulheres mais sábias que eu conheço. Temos um sistema de mentoria aqui na igreja, para ajudarmos uns aos outros, e a Siobhan concordou em ser a sua.

Me virei para Edward, confusa.

— Achei que você ia me ajudar? — afirmação saiu mais como um questionamento.

— E eu vou, mas é bom que você tenha alguém de fora também, e alguém mais experiente e que te compreenda melhor.

Eu olhei novamente para Siobhan, ainda um pouco incerta. Eu tinha acabado de me juntar a essa nova perspectiva de vida, confiar em uma desconhecida parecia um pouco além das minhas capacidades atuais. Atrás dela, Liam fez sinal de positivo com os dedos, apontando para a esposa, e pensei que até que poderia ser pior.

— Certo, então. Hm... Obrigada?

— Só enquanto você me quiser, quando se familiarizar com a comunidade poderá escolher outra pessoa. Mas eu realmente gostaria de poder te ajudar, acho que podemos nos dar bem — Siobhan me garantiu, e suas palavras carregavam um tom que me fez lembrar de Esme. — Edward nos contou da sua filha... Da filha de vocês — ela se corrigiu rapidamente, e me perguntei quando foi que Edward tinha começado a falar de Eden para os amigos. — Eu também sou mãe, tenho uma menina da idade da sua.

— Sério? — aquilo me surpreendeu, uma surpresa boa. Eu não tinha muito contato com outras mães além de Rosalie, aquilo poderia ser bom.

— Sim. É aquela bolinha de energia bem ali — ela apontou para a criança que instantes atrás rodopiava com Eden e Nick. — Maggie! Vem aqui!

A garotinha se virou automaticamente ao ouvir a voz da mãe. Era uma gracinha, quase do mesmo tamanho de Eden, porém mais robusta e com os cabelos acaju cortados em chanel. Eden correu atrás dela e arrastou a prima junto até nós.

— Mamãe, eu tenho uma amiga nova! — ela saltitou ao meu redor, apontando para Maggie.

— Estou vendo, e que amiga mais linda!

Edward estendeu os braços e ela pulou para ele.

— Eden, esses são Siobhan e Liam, os pais da Maggie e amigos do papai — ele a mostrou para o casal.

— Acho que estou cego! — gritou Liam, tapando os olhos com a mão. Eden arregalou os olhos surpresa antes que ele revelasse a brincadeira. — Ou será que foi só o brilho dessa princesa linda que ofuscou a minha visão?

Nós rimos, mas Eden permaneceu com os olhos arregalados, e me olhou em busca de respostas.

— Ele só está brincando, meu amor.

— Não ligue pra ele, pequena, é um bobão — Siobhan piscou pra ela, em seguida olhou Nick. — Conte a ela, Nick.

— Tio Liam é um bobão — Nick abafou a risadinha ao dizer a frase.

— Rose vai ficar muito feliz com seu novo repertório — Edward revirou os olhos.

Foi quando Eden se esticou no colo de Edward até alcançar meu rosto, onde espalmou as mãozinhas na minha bochecha até me formar um bico.

— Mamãããããããe a Maggie pode ir lá em casa brincar amanhã? Poooor favor?

Eu hesitei, olhando nervosamente para a família. Concordar significava ter Siobhan ou Liam na minha casa acompanhando a filha, e o velho habito de não confiar em estranhos retornou.

Siobhan percebeu a minha hesitação.

— Maggie tem aula amanhã, querida. Ela não pode faltar.

Todas as três crianças suspiraram tristes, e me senti mal. Porém, algo estava faltando. Aguardei alguns segundos, olhando para a minha filha e seu rostinho decepcionado. Esperei. Nada.

Eden tinha recebido um não, e não estava gritando, chorando ou exigindo o que queria. Eu me senti terrivelmente orgulhosa dela.

— Que tal no sábado então? — perguntei, com a disposição renovada. Eu podia aguentar estranhos na minha casa por algumas horas. E, quem sabe, eles podiam até vir a deixar de serem estranhos com o tempo.

Os adultos aprovaram a empreitada, e em questão de segundos as três garotas estavam saltitando novamente, a alegria inabalável. A conversa com Siobhan e Liam durou apenas mais alguns minutos de planejamento para a tal visita quando eu reparei um movimento estranho na porta.

Era a minha mãe. Ela parecia inquieta, discutia em voz baixa com meus pai, Rosalie e Emmett, e olhava com a fúria de cem gnus selvagens para onde Alice e Jasper agora conversavam com um casal.

— Algum problema? — Edward captou a movimentação ao seguir meu olhar.

— Talvez. E não parece bom. Com licença — pedi, e me afastei deles, deixando Eden com Edward.

Esme já estava alcançando Alice. Eu consegui interceptá-la antes que chegasse neles.

— Mãe — chamei, parando pelo braço. — O que foi?

— Não acredito, não acredito no que ele fez — ela ainda olhava para Alice e Jasper, com raiva.

Olhei pra eles novamente. Estavam apenas conversando com um casal mais velho.

— O que ele fez, mãe?

Ela sacudiu a cabeça, trancando os lábios em uma linha fina.

— Eu não posso... Não vou... — sua voz tremia, e os olhos estavam quase úmidos. Tomei suas mãos nas minhas, preocupada, perguntando-lhe o que estava acontecendo.

Ela se soltou das minhas mãos e caminhou até eles com passadas largas. Eu a segui, alarmada, sem entender o que estava acontecendo.

— Alice! — interrompi a conversa deles, me jogando na frente de Esme antes que ela puxasse Alice de lá aos gritos. — Precisamos ir!

— Bella, não seja mal educada com sua irmã — minha mãe ralhou comigo, e eu a encarei extremamente confusa.

Seu rosto agora era uma máscara de serenidade, e ela foi até Alice, e pousou as mãos no ombro dela protetoramente.

— Obrigada, mamãe — Alice beijou a bochecha dela. — E nós já vamos, Bella. Jasper só estava me apresentando seus padrinhos. Lia, Elias, essas são minha mãe, Esme, e minha irmã, Bella.

— Muito prazer — disse Lia.

O casal consistia em uma mulher franzina muito baixa e um homem sorridente muito magro, ambos de meia idade, já com um pouco de cabelos brancos. Eles estavam de braços dados e pareciam ansiosos.

O homem, Elias, estendeu a mão e cumprimentou a mim e a Esme.

— Eu já te vi na TV — ele piscou em minha direção.

— Me dizem muito isso — brinquei.

— É muito bom ver Edward feliz — acrescentou Elias, após soltar minha mão. — Você faz bem a ele, então já gosto de você.

Apesar de ter de corrigi-lo, eu sorri.

— Ele é um grande pai para Eden, mas não estamos juntos — ainda, acrescentei em mente.

— Jasper está dizendo a mesma coisa sobre esta jovem encantadora aqui — ele indicou Alice, que ficou vermelha. — Mas não acredito em nenhum dos dois.

— Tio Elias, por favor — as bochechas de Jasper imitavam a de Alice.

Eles eram fofos. Eu realmente esperava que minha mãe os deixasse ficar juntos. Tentei procurar algum sinal de desagrado em seu rosto com a fala de Elias, mas dona Esme ainda parecia perfeitamente calma em seu sorriso inafetado.

O que absolutamente não combinava nada com ela. Havia algo errado.

— É uma jovem maravilhosa essa que tem em mãos, senhora Esme — continuou Elias, ignorando o afilhado completamente, olhando para Alice.

Minha mãe manteve o sorriso, mas percebi suas mandíbulas enrijecendo.

— Obrigada, ela é realmente um tesouro inestimável — ela passou a mão levemente pelo rosto de Alice, num carinho de orgulho. — Não existe felicidade maior do que ser a mãe dela.

Cruzei os braços e estreitei os olhos.

— Certo, estou ficando com ciúmes — declarei.

Minha mãe riu e me puxou para junto dela.

— Ser mãe de vocês duas. Três, com seu irmão. Amar vocês todos é a missão da minha vida — apertou minha bochecha e a da Alice.

Jasper se remexeu, um pouco sem jeito, e eu olhei para trás, era meu pai que tinha vindo até nós.

— Agora eu é quem estou com ciúmes — ele a abraçou pela cintura e beijou sua cabeça, então estendeu as mãos para Lia e Elias. — Carlisle Cullen, pai das mocinhas e marido da moçona.

Elias foi quem respondeu o cumprimento.

— É uma bela família que tem, Sr. Cullen.

— Obrigado. São, de fato. Não abriria mão dela por nada nesse mundo.

Minha mãe o beijou com emoção.

O que raios estava acontecendo?

— Eu estava apenas apresentando meus padrinhos para Alice, Sr. Cullen — Jasper interviu, tentando apaziguar a tensão que eu não fazia a mínima ideia de quando, como ou porquê tinha sido estabelecida. — São amigos dos meus pais há anos e parte da minha família.

— E pessoa maravilhosas — Alice assegurou, sorrindo para eles.

— É muita bondade sua, querida — respondeu Lia.

— Foi um enorme prazer conhecer vocês, mas precisamos ir agora. Boa noite — Esme encerrou a conversa, aproveitando-se do abraço ao nosso redor para nos puxar sutilmente.

Alice acenou um tchau relutante para Jasper enquanto papai nos rebocava para a saída do templo. Ela também parecia confusa com sobre como aquela apresentação tinha se desenrolado, mas eu já tinha parado de tentar entender a minha mãe há muito tempo. Por isso apenas ignorei o assunto e voltei para perto de Edward, que agora tinha Eden no colo.

Deitada no ombro dele, os olhos dela estavam começando a vacilar.

— O que foi que aconteceu lá, Bella? — Emmett me perguntou em voz baixa, antes de entrar no carro com Rosalie.

— Quem dera eu soubesse, Em. Jasper nos apresentou um casal e mamãe não parecia brava, mas também não parecia feliz, embora tivesse tentado bastante fingir que sim — dei de ombros. — Essa foi nova pra mim.

Emmett suspirou. Aquilo nos trazia um mau pressentimento de que dona Esme Cullen estava para aprontar.

— O que acha? Vamos para casa essa noite?

— Claro! Eu não perco o desfecho disso por nada.

Batemos um high five rápido e ele entrou em seu carro, onde Rosalie e Dominique já estavam. Meus pais já tinham partido com Alice, de forma que só sobramos eu e Edward, que terminava de afivelar uma garotinha adormecida em sua cadeira, e então entrou no banco do motorista. Todas as vezes que estávamos juntos, era ele quem diria agora, desde o acidente ele andava um pouquinho paranoico.

O carro tinha sido encontrado antes que a seguradora pudesse recuperá-lo, mas além de uma pequena denúncia de carro abandonado que foi rapidamente desfeita por Emmett, ninguém no restante do mundo notou o que acontecera. Mas as sequelas permaneceram em nós, era inevitável. Estradas ainda me davam frio da barriga, e enquanto Edward estivesse disposto a dirigir pra mim, eu aceitaria.

Ter ele comigo todos os dias tinha se tornado natural. Ele estava sempre por perto, preocupado, e eu não o afastei em nenhum momento, o que era novo para mim também. Tinha sido uma semana repleta de coisas novas. Chegávamos juntos na gravadora e esperávamos um ao outro para ir embora, então íamos nos reunir com nossa família ou então fazer algo só com Eden e nos distrairmos. Os amigos de Edward tinham razão, não dava mais pra fingir que não agíamos como uma família.

— No que está pensando? — perguntou Edward, sem tirar os olhos da estrada.

Eu olhei para trás, para a cadeirinha onde minha filha dormia.

— Nas coisas novas.

— Coisas novas? — ele sorriu. — Tipo o quê?

— Eden não fez birra quando eu disse não pra ela hoje, percebeu?

— Percebi, sim — o sorriso dele aumentou

— Fiquei tão orgulhosa dela — suspirei.

— Eu também fiquei, muito.

— Obrigada — eu pousei a mão no braço dele, e Edward olhou para mim quando parou no farol vermelho. — Foi você, não pense que eu não sei. Você ensinou tudo isso pra ela, tudo que eu não fui capaz.

— Você sempre foi capaz — ele tomou minha mão na sua e sorriu aquele sorriso sincero que me deixava tonta. — Só cedia muito fácil.

O farol ficou verde, e eu bati nele.

— Ai! O que? Você sabe que sim. E cedeu de novo hoje, logo depois que ela acatou o ‘não’, não foi?

Dei de ombros.

— Claro, ela merece uma recompensa.

Ele apenas riu, e balançou a cabeça como quem diz ‘não acredito’.

— Sabe no que mais eu estava pensando? — retomei a conversa, agora mais animada e usando o meu melhor tom conspiratório. — Na reação da minha mãe com aquele casal.

Edward me olhou rapidamente.

— Lia e Elias? Não entendi o que aconteceu, ela parecia bem. Estava sorrindo.

— Exato. Mas um minuto antes de sorrir ela estava prestes a matar o Jasper e aquele casal junto, e no segundo seguinte, PUF, Esme sorridente — eu argumentei. — Você conhece aqueles dois?

— Sim, eles fazem parte da igreja há anos. Me ajudaram muito quando meus pais morreram. São pessoas muito boas.

— Bom, a minha mãe não achou.

— Agora até eu estou curioso — Edward franziu o cenho. — Olha só isso, você me transformou num fofoqueiro.

— Não é fofoca se é um assunto de família — rebati.

— Continue dizendo isso, quem sabe se torna verdade.

— Acho que já vamos descobrir, de qualquer maneira.

Estávamos passando pelos portões de entrada naquele momento. Edward estacionou na frente da casa e eu desci rapidamente ao perceber que todos os outros já haviam chegado. Dava para escutar vozes gritando logo após a porta, e eu me assustei. Edward pegou Eden da cadeirinha e entramos apressados.

— Eu não tenho que me explicar para você, Alice! — Esme estava no centro da sala, de frente para Alice, tremendo e apontando o dedo na cara dela.

— Quando se refere à minha vida, você TEM SIM!

— Hey! — eu gritei mais alto, chamando a atenção de todos para a porta.

A sala parecia estar dividida em duas. Emmett e Rosalie estavam um pouco atrás de Alice, parecendo muito confusos e assustados, o que também podia se dizer de Dominique, com os olhinhos arregalados atrás da mãe. Meu pai, por sua vez, estava atrás da minha mãe, com uma mão em seu ombro, parecendo dividido.

E, finalmente, lá estavam Alice e Esme, parecendo dois galos de briga no centro da sala, bufando uma para a outra. Alice chorava.

— Dá última vez que eu chequei, isso aqui ainda era uma família — eu avancei e me coloquei entre elas. — Edward, coloque Eden no quarto do Emmett, por favor. Lá é a prova de som.

Ele subiu com nossa menina, e eu me voltei para minha família ao meu redor.

— Dá pra alguém me explicar o que está acontecendo?

— Sua irmã está me desobedecendo!

— Mamãe quer arruinar a minha vida!

Esme e Alice falaram ao mesmo tempo.

— Elas estão gritando já faz uns dez minutos, desde antes de saírem do carro — disse Emmett. Ele e Rose estavam alguns passos afastados da baderna, não dava pra saber se era Rose quem tentava se esconder atrás dele, ou se ele quem tentava se esconder atrás de Rose.

Olhei para o meu pai, e ele ergueu as mãos como quem diz: “eu tentei parar, mas você conhece essas duas”.

De fato, entre todos os membros da nossa família, o embate mais perigoso seria um entre nossa mãe e Alice, o que pensei que jamais aconteceria, porque Alice sempre foi paciente e compreensiva e Esme mimava Alice mais do que tudo no mundo.

— Já que não quer me ouvir, talvez ouça sua irmã — Esme suplicou. — Bella, me ajude aqui, por favor.

— Te ajudar no que, mãe? — pedi, porque ainda nem tinha entendido o que estava acontecendo. — O que foi que aconteceu lá hoje? Por quê estão brigando?

— Ela acha que Jasper não é uma boa pessoa — Alice acusou, e parecia extremamente magoada. Seu lábio inferior tremia e ela não estava com cara de estar disposta a ser compreensiva naquela noite.

— Não foi o que eu disse — Esme corrigiu. — Ele pode até ser uma boa pessoa, mas não pra você. Não é você que ele quer, Alice, ele está te manipulando.

— Não está! Você nem deu uma chance pra ele!

— Eu dei várias, sabe que sim. Tentei ignorar a sensação que estava sentindo, a de que ele estava escondendo alguma coisa. Deixei ele visitar a minha casa, o tratei bem, mas chega. Eu não posso... — mamãe fechou os punhos com força, e parecia agoniada, se esforçando para se controlar. — Permitir.

Não parecia que era aquilo que ela queria dizer. Meu pai a envolveu pelos ombros, murmurando algo em seu ouvido. Eu não sabia o que fazer. Minha mãe já tinha tido muitas desavenças com as pessoas a quem seus filhos queriam namorar, e algumas foram muito feias, mas ela nunca parecia afetada daquele jeito.

Alice precisava ouvi-la, porque eu sabia que minha mãe podia ser maluca, mas nunca injusta. Se Esme acreditava que havia algo errado com Jasper, então havia algo errado com Jasper.

— Alice... — chamei-a, com a voz calma. Ela me olhou brevemente, e foi o suficiente. — Escute, não devíamos ouvir a mamãe, só um pouco? Ela nunca errou antes, você sabe. Talvez ela esteja certa.

— Eu tentei, só que ela não quer dizer o que viu no Jasper que o torna tão terrível — exclamou Alice, indignada. Então virou-se novamente para Esme: — O que ele fez? O que você acha que ele quer?

Esme não respondeu. Cerrou os lábios e recuou para o abraço de Carlisle, fazendo a expressão de Alice beirar o desespero.

— Viu? Ela nem sequer faz sentido! — minha irmã tornou a gritar.

Alice tinha certa razão. Era um pouco injusto que mamãe não desse pelo menos uma justificativa válida. Nas outras vezes ela tinha deixado bem claro o que tinha visto de errado em nossos pretendentes.

Pelo canto do olho, vi que Edward já estava de volta, parado no pé da escada, tão imóvel quanto Emmett e Rosalie. Eu os entendia, nem eu mesma queria estar no meio daquela batalha, mas alguém precisava intermediar aquilo. E meu pai, que geralmente era a voz da razão, parecia inteiramente do lado da minha mãe naquele caso, o que me fez começar a temer que talvez Jasper fosse um assassino canibal ou algo do tipo.

— Eu já disse: não tenho que me explicar pra você — Esme reergueu a voz, e sua expressão se fechou. Eu sabia o que aquela cara significava. A discussão acabava aqui. — Você não vai mais vê-lo, Alice. Nunca mais. Afaste-se dele e daquela família. Vamos encontrar outra igreja para nós.

Os olhos de Alice se encheram de lágrimas enquanto seu olhar se tornava mais e mais magoado.

— Mamãe! — ela gritou, e então se virou para mm, pedindo socorro. — Bella!

Droga! Ao mesmo tempo em que eu confiava no julgamento da minha mãe, também queria pegar Alice trancá-la num cofrinho e lhe dar tudo que pudesse tirar aquele olhar de seu rosto.

— Mãe, pode pelo menos explicar o que foi que aconteceu hoje? — implorei por alguma sanidade. — O que te deixou tão agitada?

Ela negou com a cabeça.

— Não importa o que foi. Ela vai me obedecer e ponto final. Eu tenho meus motivos.

— Ah, eu sei quais são seus motivos— Alice soluçou, e agora chorava pra valer. — Me manter presa a você pra sempre. Só porque me adotou não significa que é minha dona! Não sou um cachorrinho de madame!

— Alice! — eu, Emmett e meu pai exclamamos ao mesmo tempo.

A frase voou até a minha mãe como um tapa na cara, isso foi bem claro. Mas ela não abaixou a cabeça, apenas engoliu a mágoa.

— Você não está falando sério — respondeu.

Mas Alice não parou.

— Você sempre manteve a gente nesse rédea curta, com essa desculpa de saber o que é melhor. Se não ia me deixar viver, era melhor nem ter...

— Já chega, Alice — Carlisle finalmente fez valer sua voz de pai, e a interrompeu. — Não diga o que não é verdade só porque está com raiva, filha, você pode se arrepender depois. E não vai desrespeitar a sua mãe desse jeito. Ela te ama, e não merece ouvir essas coisas.

— E eu mereço ter minhas escolhas tiradas de mim? — Alice abaixou a voz, e havia um pouco mais de respeito quando falou. Mas naquele momento pensei que talvez Jasper fosse mesmo uma má companhia, pois nem estavam namorando ainda e já era o motivo pelo qual Alice enfrentava nosso pai pela primeira vez na vida. — Eu nunca dei trabalho pra vocês, nunca levantei a voz ou desobedeci, mas essa é a primeira vez que eu me apaixono por alguém. Eu estou apaixonada pelo Jasper, e quero viver isso. Se eu estiver errada, deixem que eu erre! Eu não sou mais criança É a minha escolha.

— Não dessa vez! — Esme exclamou. — Não é tão simples.

— É sim!

— Calma. Alice, não é assim, filha — Carlisle tentou novamente. — Nós te amamos.

— Então me deixa viver isso, papai.

Carlisle olhou para a esposa, e por um segundo deixou transparecer uma expressão tão torturada quanto a dela. Só peguei um vislumbre, mas pareceu haver bem mais naquele simples olhar do que qualquer um podia captar.

Então olhou de volta para Alice.

— Me desculpe, querida. Deve ser como sua mãe falou.

Os lábios da minha irmã tremeram por um segundo, então ela virou as costas e correu porta afora.

— Alice! — minha mãe gritou, mas ela já tinha batido a porta.

Eu peguei as mãos dela, que a essa altura também já estava chorando. Ela tremia. Nunca, desde que entrei nesta casa pela primeira vez, eu tinha visto uma briga como aquela na família. E se algum dia suspeitasse de que haveria, jamais pensaria que seria protagonizada por Alice.

— Fique calma, mamãe. Eu vou atrás dela — disse aos meus pais, então me virei para Edward. — Pegue Eden e me encontre no carro.

Ele assentiu e eu soltei minha mãe para ir atrás da minha irmã.

Alice estava na frente do meu carro, parcialmente encostada. Seus pequenos ombros tremiam em reação ao choro, e ela cobria o rosto com as mãos. Eu me apressei até ela, cobrindo seu corpo com meus braços assim que a alcancei.

— Bella — ela chorou enquanto me abraçava.

Eu esfreguei as costas dela enquanto deixava ela se acalmar. Eu nunca tinha visto Alice tão sentida. Não era tanto um choro desesperado, mas magoado. Queria entrar no carro para fazê-la se sentar, mas a chave não estava comigo.

Foi quando Edward saiu atrás de nós. Eden adormecida em seus braços. Ele diminuiu o passo ao caminhar até nós, me dando tempo de decidir o que fazer com a minha irmã.

— Alice — chamei, uma pergunta muda na voz.

— Eu vou embora — ela fungou por fim, após alguns minutos.

— Alice — repeti, dessa vez em forma de reprimenda. — Não pode ir assim. Você está um caco, mamãe está um caco. Precisa voltar e falar com ela.

Ela negou veementemente.

— Não vou ceder dessa vez, Bella. Não posso — ela recomeçou a chorar.

— Oh, Alice.

Tentei abraçá-la novamente, mas ela se esquivou.

— Vou pra minha casa. É melhor eu ficar sozinha.

— Nem pensar!

Edward nos alcançou, e finalmente abriu o carro. Ele habilidosamente prendeu Eden na cadeira sem acordá-la, e então virou-se para nós duas.

— Emmett e Rose vão ficar. Estão tentando acalmar Esme. Ela não parece bem.

Mordi os lábios, o coração dividido. Abandonar a minha mãe chorando era contra minha natureza, mas Emmett estava com ela e eu ainda tinha Alice chorando nos meus braços aqui.

Minha irmã pareceu captar a essência dos meus pensamentos. Me soltou e cruzou os braços.

— Fique. Eu vou pro meu apartamento.

— Aquele projeto de caverna que mais parece um closet gigante e sem vida humana? Ah, mas não vai mesmo. Entra, você vai pra minha casa — eu abri a porta de trás mais próxima e apontei pra dentro. Ela começou a negar, mas a interrompi. — Você está sem carro, Alice. E este é o meu carro, então eu decido o destino. Suas opções são: ficar aqui, ou vir comigo.

Ela não discutiu. Entrou no carro e fechou a porta, calada. Não parecia ter forças eu realmente querer discutir. Fiz um joinha para o Edward, que me olhava preocupado, e entrei no banco do passageiro. Ele tomou seu lugar como motorista e dirigiu para casa, em silêncio.

Alice não disse mais nada pelo resto da noite. Quando chegamos, ela apenas saiu do carro e subiu para seu quarto, sem falar comigo ou com Edward. Eu a deixei ir. Conversaríamos pela manhã.

Colocamos Eden na cama juntos, Edward e eu. Gastamos alguns minutos parados na porta, observando-a dormir como bons pais babões que éramos, então voltamos em direção aos nossos quartos. Edward dormiria na mansão naquela noite. Ele me abraçou na metade do corredor, e eu suspirei de encontro ao peito dele.

— Que dia.

— Que noite — ele murmurou entre meu cabelo. — Como você está?

— Confusa.

— E cansada — ele leu em meus olhos, então abaixou-se e beijou minha testa. — Vou deixar você dormir.

Ele me soltou na porta do meu quarto, já virando-se em direção ao seu próprio. Parecia tão errado que Edward ainda ocupasse um dos quartos de hospedes depois de tudo. Todos já considerávamos aquele quarto como dele há muito tempo, mas a decoração impessoal parecia errada. Eu precisava dar um jeito naquilo.

— Espera — chamei. Ele se virou. — Nosso encontro, amanhã. Está de pé, certo?

Um meio sorriso despontou em seus lábios.

— Está? Pensei que depois de tudo que aconteceu hoje...?

— Ah, não. Não ouse achar desculpas para se livrar de mim, Masen.

Faíscas de animação cintilaram nos olhos verdes, me senti subitamente ansiosa. Desde o dia em que ele tinha me chamado pra sair que eu não conseguia pensar em outra coisa, obcecada com o dia marcado. Principalmente porque ele nunca me disse onde iriamos ou o que faríamos, e não era da minha natureza deixar-me ser conduzida daquela maneira. Se adiássemos mais, eu enlouqueceria. Sem falar que a alternativa era me sentar em casa e ficar preocupada com Alice, que eu sabia que não seria segurada ali por muito tempo.

— Como quiser — ele assentiu, sorrindo. — Esteja pronta amanhã, ao crepúsculo.

— Estarei.

Ele piscou para mim, já abrindo a porta do próprio quarto, no final do corredor. Eu fechei a minha, contendo a vontade de saltitar até a cama.

Naquela noite, eu sonhei com ele.


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Notas finais do capítulo

Eu percebi que eu me sinto mais inspirada a escrever quando estou em contato com pessoas que gostam da saga, e que gostam da história.

Só tenho contato no whatsapp com uma de vocês, e gostaria de ser mais próxima. Pelos comentários, vi que muitas de vocês se identificam com coisas que acontecem na história e quero poder estar em contato com vocês pra ajudar também. E, além disso, gostaria de ter vocês por perto pra poder enviar imagens e montagens que complementam a história e fiz há algum tempo, e que não podem ser postadas aqui.

Então, queria criar um grupo de Whatsapp com vocês, leitoras, que quiserem estar perto. Assim, além de poder ajudar vocês, mandar spoilers e fazer amizades, vocês vão poder me cobrar e fazer eu postar mais rápido hehehe.

Quem quiser, só me mandar o número do contato de vocês, pra eu poder montar o grupo. Mandem pelo comentário, ou se não se sentirem a vontade de deixar o número exposto, mandem por Mensagem Privada aqui no Nyah! mesmo. Ou peçam meu número e eu envio pra vocês, se acharem melhor.

Espero ver vocês em breve por lá.

B ♥



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