Eternally Hunted escrita por Ivie Constermani


Capítulo 7
6 - Pesadelos


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal. Saudade de vocês.
Vou explicar os motivos do atraso.
Um: esse capítulo foi meio complicado de escrever e fazê-lo ter sentido. Dois: ando com muitas idéias mas sem inspiração. Três: não sei se vocês estão gostando. Tenho poucas leitoras, e dessas poucas apenas metade comenta. É difícil escrever sem saber se seus leitores estão gostando ou não. Então, por favor, comentem pessoal! Chega de timidez!
Enfim, boa leitura! =)



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Escuridão. De primeira Enid não conseguia ver nada. Era um breu total, nenhum sinal de luz. Ou vida.
Silêncio. Nem um som. Nem a sua própria respiração era audível. Ela sentia que caminhava, mas não ouvia som de passos. Não ouvia o som de nada. Nem de ninguém.
Frio. Ventava. Nevava. Ela sentia sua pele congelar através das roupas. O frio era tão intenso que ela não conseguia respirar sem bater os dentes.
Mas o silêncio era absoluto. A escuridão era intensa. O frio era perturbador. E ela não sabia onde estava, nem por que estava ali.
Tentou falar. Chamar por alguém. Sua voz não saía. Tentou se mover, mas não se movia. Tentou gritar, mas não conseguiu. Algo estava errado.
E então ela percebeu que estava em um filme, ou algo do tipo. Ela o assitia, mas dentro do próprio filme. Estava na cena. Então quem caminhava por ela? Onde ela estava? O que estava acontecendo? Às respostas não vieram, e ela continuou naquilo pelo que pareciam horas.
Luz. De repente a claridade cegou os olhos dela. Quando se acostumou com a luz, abriu os olhos. A luz era vermelha, um vermelho muito intenso. Uma luz tão forte que clareou tudo em volta.
Ela estava em um deserto. Um deserto cercado de montanhas. Não, um desfiladeiro. Nunca havia o visto antes, o que a deixou mais preocupada.
Continuou andando. Não era exatamente ela que andava. Era como se alguém estivesse no sonho e andava por ali, não ela. Mas ela sentia os pés no chão. Ela o seguia.
Zumbido. Um som baixo, quase inaudível, soou nos ouvidos de Enid. Ela decidiu ignorar o som. Mas o volume aumentou. Aumentava a cada passo.
Alguns metros a frente o som fez sentido. Eram gritos. Gritos de pavor, de dor, de desespero, de horror. Gritos que imploravam por ajuda, por perdão, por misericórdia, por socorro. Todos juntos, fazendo uma sinfonia aterrorizante.
Cheiro. Um odor insuportável de carne queimada, de corpos em decomposição, de ferro quente. Cheiro de carne humana.
A pessoa que antes andava agora corria. Enid sentia o que ela sentia, e agora ela estava feliz. Estava chegando perto. Mas de quê?
Os sons estavam tão altos que se Enid pudesse já teria tampado os ouvidos.
A luz ficou mais intensa, assim como o cheiro. A pessoa parou. Enid piscou os olhos algumas vezes até ter certeza do que via. E quando teve certeza do que via não tinha mais certeza de nada.
Vermelha, alta, estilo gótico, aparência rústica, feita de madeira grossa. Era uma porta.

Enid acordou de súbito. O despertador apitava loucamente avisando que já eram 7h. Um sol fraco entrava pela janela, mas o vento estava frio. Sinais da chegada do inverno.
Ela foi ao banheiro e passou muito tempo embaixo da água fria, no chuveiro. Só assim ela conseguia se concentrar no pesadelo.
Que diabos foi aquilo? Um sonho estranho, sem sentido. E acabou numa porta. Numa porta! Que sentido aquilo fazia?
Saiu do chuveiro e vestiu-se toda de preto, calça legging e camisa de botões dourados e All Star com estampa xadrez. O cabelo estava terrivelmente rebelde naquele dia, e ela apenas fez um rabo-de-cavalo. Lápis de olhos, batom vermelho, brincos de pérolas. A imagem no espelho dizia que ela estava ótima.
Não tomou café da manhã. Não estava com fome. Na verdade ela estava enjoada, sentia um frio constante na barriga que a deixou nervosa.
Dirigiu calmamente, parou na loja de Donuts e comprou uns de chocolate, e quando chegou na escola, se deparou com uma surpresa, talvez agradável (ou não). Vine Cipriano.
Ele estava de preto também, como sempre, mas por baixo do sobretudo usava uma camisa social azul muito escura, e seus cabelos estavam expostos sem o chapéu de sempre.
Ele simplesmente estava ali, parado no estacionamento enquanto as meninas cochichavam sobre ele e faziam gracejos.
Enid se aproximou, hesitante. Ele olhou para ela e deu um sorriso fraco, sem vontade. Mau sinal.
- Oi - ela o cumprimentou.
- Enid.
Ele continuou em silêncio, olhando em volta. Enid pigarreou.
- Quê você tá fazendo aqui? - perguntou.
- Estou de vigia.
- Vigia? Vigiando o quê? - Enid riu.
- Vigiando alguém. Vigiando você. - Dessa vez ele deu um sorrisinho sincero.
Enid parou de rir imediatamente.
- Como?!
- Estou te vigiando. Depois da mensagem de texto que você enviou ao Evan ele surtou e me mandou vigiá-la - ele explicou.
Depois da cena no banheiro ela simplesmente mandou um SMS dizendo que o vulto voltara e desligou o celular.
- O Evan surtou?
- Eu tive que dar um calmante para ele! - Vine levantou uma sobrancelha para intensificar a situação.
- E como ele está?
- Dormindo. Dopei ele. Mas vai acordar daqui alguns minutos. - Vine olhou para ela. - Você vem comigo.
- Hã?
- Está com problema de audição? - Vine tocou a orelha exposta de Enid. - Você vai para casa dele comigo. Tem que dar algumas explicações àquele garoto antes que ele tenha outro ataque.
Enid assentiu e enfim reparou que ele estava com seu Porsche turbinado preto.
- Mas não posso faltar. Vai manchar meu histórico escolar e o pessoal das universidades verão e eu nunca serei aceita.
Vine revirou os olhos.
- Dei um jeito nisso - disse ele simplesmente e abriu a porta do carro. - Entra.
Enid apenas assentiu e entrou. E ela já imaginava como ele havia "dado um jeito".

Evan estava visivelmente abalado. Seu cabelo que normalmente ficava penteado em topete estava desgrenhado e caído sobre os olhos, tinha enormes olheiras e o rosto estava pálido e amassado, além dos olhos vermelhos.
Enid o encontrou apenas com uma calça de moletom, tomando uma aspirina. Ele apenas levantou os olhos para Vine e fez uma careta de dor.
- Porra, você não acha que exagerou na dose do calmante? Minha cabeça está explodindo - ele disse, ainda grogue e com a voz rouca.
- Você estava precisando. - Vine sorriu. - Agora que está calmo nós podemos conversar civilizadamente.
Evan ainda não havia notado a presença de Enid na sala e coçou a cabeça, encostando no sofá.
- Evan - disse Enid.
Evan abriu os olhos de súbito e os arregalou.
- Enid! Você não devia estar na escola?
- Devia. Mas o Vine foi lá me buscar. Precisamos conversar.
Evan passou a mão no cabelo para ajeitar e bateu na própria cara com muita força, deixando o lugar vermelho.
- O efeito do calmante tá demorando a passar... - ele suspirou.
Enid sentou ao lado de Evan, que pôs o braço em volta da cintura dela e a segurou com um pouco mais de força, como se quisesse protegê-la até mesmo ali. Vine sentou na poltrona de frente para o sofá e pigarreou antes de falar.
- Conte-nos o que aconteceu - pediu.
Enid se encolheu ao pensar no assunto e Evan a aproximou ainda mais para si, beijando a bochecha dela.
- Eu estava na educação física jogando vôlei - ela começou, a voz baixa. - Aí eu levei uma bolada e fiquei com dor de cabeça e fui tomar um comprimido que eu tinha na mochila, mas quando cheguei no vestiário eu encontrei... a coisa - explicou.
- E como foi? - Evan perguntou e deu um beijinho no ombro dela. Era uma técnica que ele usava para acalmá-la, enchê-la de beijos.
- A coisa veio até mim, eu corri, aí ele apontou para mim e disse umas palavras estranhas que me fizeram quase desmaiar. Depois disso eu corri e encontrei com o Cezar. Ele me ajudou.
Evan a encarou absorvendo as informações e depois se levantou de súbito.
- Esse Cezar Simoneove...
- Cezar Simeonov. - Enid o corrigiu.
- Tanto faz. Esse cara é estranho. Ele estava por perto nas duas vezes que o feiticeiro apareceu. Ou talvez ele seja o feiticeiro!
Enid riu. Evan e Vine a encararam muito sérios e ela parou imediatamente.
- Está brincando, né? Cezar é só um garoto búlgaro! Não é um feiticeiro, ele nem sabe que esse mundo sobrenatural existe!
Vine balançou a cabeça, pensativo.
- Precisamos desconfiar de tudo e de todos - ele disse. - Vou fazer uma pesquisa sobre esse búlgaro. Há coisas que precisamos saber.
Evan assentiu para ele e Vine saiu. Enid se aproximou mais de Evan e o deixou abraçá-la. Ela precisava daquilo. Perto dele, mesmo em perigo ela se sentia segura.
- Vai ficar tudo bem. Prometo. - Evan sussurrou. - Não vou deixar nada acontecer com você.
Enid o beijou. Um beijo lento, calmo, delicioso. As línguas apenas exploravam as bocas e dançavam juntas.
- Eu te amo - ela sussurrou.
Evan sorriu.
- Eu sei. Também te amo. Amo muito. E por isso não vou deixar nada ruim acontec...
- Shhh. - Enid pôs um dedo sobre seus lábios. - Já disse que está tudo bem. Posso enfrentar qualquer coisa ao seu lado.
- Eu te amo.
Amor talvez fosse pouco para descrever o que Enid sentia por Evan. Era muito mais que isso, muito mais intenso. Com ele ela era tudo. Sem ele não era nada. Simples assim. Um completava o outro, juntos formavam um tudo, longe era apenas duas partes. Amor, paixão, respeito, desejo, carinho, confiança.
Eles estavam aos beijos quando Vine entrou na sala novamente.
- Meu Deus, vocês não podem nem ficar sozinhos por alguns segundos que já se pegam! - Vine revirou os olhos. - Anda, separem-se. Enid volta para a escola comigo.
- Agora eu quero ficar aqui - ela resmungou.
- Pensei que você não quisesse manchar o seu histórico escolar. E ainda dá tempo de ver a terceira aula.
Enid olhou para Evan, tristonha.
- Tenho que ir. Mas eu volto.
- Te amo.
Enid deu um beijo nele e se levantou. Antes de sair sorriu para ele e disse:
- Eu sei.

Ela estava bem ali, quieta, parada, na dela. Estava pintando as unhas de roxo. Estava vestida de roxo, com botas de cano longo e salto fino pretas e um vestido violeta de mangas justo ao corpo marcando a cintura e com a saía curta e de babados. Linda.
O cabelo hoje estava liso, caído nos ombros. Quando ventava, balançava. Seus olhos ficavam lindos no sol, umas mistura de verde-musgo com marrom e cinza. Totalmente de qualquer cor que Dany já tivesse visto.
Maxine Uri levantou a cabeça, tirando os olhos das unhas e o olhou. Sorriu. Um sorrisinho mínimo e lindo que deixou seus olhos semicerrados. Linda.
- Oi - ela disse.
- Olá. - Dany pareceu nervoso, mas sorriu.
- Quem é você? - ela perguntou e assoprou as unhas.
- Dany. Dany Fells. E você é Maxine Uri.
Ela sorriu para os dedos.
- Todo mundo já sabe quem eu sou. É sempre assim?
Dany riu de leve.
- Digamos que, hum, sempre. Mas eles vão parar de falar sobre você. É porque você é novata e... As meninas acham que você é como uma ameaça a beleza delas.
Maxine riu. Uma gargalhada rítmica e contagiante.
- E por que?
- Porque você é bonita.
Ela ficou séria por um minuto e Dany achou que estava fazendo a coisa errada. Mas depois ela corou de leve e sorriu e mordeu o lábio inferior. Aquilo foi extremamente sexy.
- Obrigada, Daniel.
- Pode me chamar de Dany.
Ela balançou a cabeça.
- Não. Daniel é um lindo nome. Por que não chamá-lo assim?
Dany refletiu.
- Estou acostumado com Dany.
Maxine ficou séria.
- Dany é feio. Dany te diminui. Daniel é um nome muito bonito e combina com você. Vou te chamar de Daniel.
Dany se preparou para falar mais, ou pedir o número do celular dela, mas Cezar chegou. Sorridente, confiante, cheio de si. Ele beijou a bochecha de Maxine, que pareceu se derreter por ele.
- Dany, parceiro! - Cezar exclamou. Àquele sotaque chato!
- Oi. - Dany respondeu, seco.
- Maxie, esse é um amigo meu, Dany. - Cezar sentou ao lado dela e pôs o braço nos seus ombros.
- Eu sei. Já conheço. - Maxine sorriu para Dany.
- Ele é ótimo com a matemática. - Cezar não parava de sorrir e Maxine estava fascinada pelas covinhas dele.
- Sério? Vou precisar de umas aulas particulares! - Maxine falou. - Não consigo me dar bem com o Plano Cartesiano.
Dany se levantou. Ele percebeu bem o que estava fazendo. Estava interrompendo o momento do casal. Estava óbvio que Cezar já estava pegando ela. Dany pensava que ela tinha atitude, mas se deixou levar por um par de bíceps.
- Só me falar que eu te foi uma ajudinha. - Dany se afastou. - A gente se vê, Maxine.
- Tá legal, Daniel.
Ele se afastou, irritado. Ele havia gostado dela mesmo, achado que ela era uma garota diferente das outras. Mas não. Ela era igualzinha.
Mas, quando dizia seu nome, Dany sentia algo intenso por dentro. Algo diferente de tudo o que havia sentido.

No dia seguinte Enid teve o mesmo pesadelo. Escuridão. Silêncio. Frio. Luz. Cheiro. Gritos. Porta.
Acordou no mesmo horário, mas naquele dia estava chovendo. Uma tempestade caía do lado de fora. Ventava e trovejava.
Ela se arrastou até o banheiro e tomou um banho morno rápido. Vestiu-se com jeans e camiseta e estava pronta para a escola. Não conseguiu comer, então saiu.
O caminho para a escola foi difícil. Havia uma bifurcação na estrada, a pista estava molhada e trovejava tanto que Enid achou que a qualquer minuto seu carro ia ser atingido por um raio.
Decidiu, então, ouvir uma música. Pulou entre as estações do rádio. Estava chiando, dando interferência. E aí, de repente, o chiado começou a fazer sentido. Parecia uma fala estranha, como se fosse uma cobra. A língua parecia russa, ou latim, ou mandarim, ou francês. Ou tudo isso misturado.
O chiado aumentou e aumentou, deixando-a surda e ela perdeu a direção na estrada, fez curvas perigosas. A mente de Enid estava trabalhando muito rápido, a cabeça latejava, o nariz começou a sangrar. Ela sentia que ia explodir.
Então, desesperada, ela chutou o rádio. O chiado parou imediatamente, mas o carro derrapou e foi parar batendo em uma árvore.
Enid ainda estava lúcida. E sabia que precisava sair dali. Saiu do carro, atordoada, e se curvou para vomitar num arbusto. Seu nariz ainda sangrava, a cabeça ainda doía, mas era bem menos que antes. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo, e ela não sabia se queria descobrir o que era. Talvez fosse melhor ficar na ignorância.
Voltou ao carro e pôs um chiclete na boca. O nariz parou de sangrar e a dor de cabeça diminuiu mais. Conseguia dirigir, então deu ré no carro e avançou para o lado contrário da estrada. Enid só se sentiu segura quando estacionou na frente da casa de Evan.

Após contar tudo o que houve para ele, Enid achou que Evan ia pirar. Mas ele parecia calmo. Na verdade ele apenas suspirou e disse:
- Isso está piorando...
Enid ficou esperando que ele dissesse alguma coisa, mas ele permaneceu pensativo e quieto olhando para o carpete vermelho da sala.
- Bem, meu amor, tenho uma coisa para te contar! - Evan disse, animado. - Tem uma pessoa que você precisa conhecer. Uma pessoa que eu não via a muito tempo, que está na cidade. Uma pessoa que é muito importante para mim.
Enid levantou uma sobrancelha. Ele realmente não estava preocupado??? Mesmo depois de falar sobre a sua quase morte na estrada??? Então essa pessoa deveria ser muito importante!
- Hum, tá, e como se chama essa pessoa? - Enid perguntou, desanimada.
- Eu costumo chamar de Max.
Enid revirou os olhos, demonstrando seu total desinteresse.
- Legal, vamos conhecer seu amigo Max.
Evan sorriu, e Enid desconfiou daquele sorriso.
- Amiga. Max é uma menina - e depois acrescentou: - Se chama Maxine. Maxine Uri.


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Notas finais do capítulo

E aí? Comentários, por favor, de todos! Recomendações são super-duper-hiper-mega-bem-vindas.
Beijosssss =*



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