O quarto estava normal, nada de outras dimensões. Dei uma olhada geral no local e percebi algo brilhante em cima de uma cômoda. Me aproximei, era uma pequena chave. O que ela abriria? Estendi minha mão para pegá-la e assim que a segurei, desmaiei, caindo em outro sono profundo.

Desta vez, não acordei em outra dimensão, mas sim, em um local escuro. Eu estava deitado em um chão gelado. Levantei-me, coloquei as mãos nos meus bolsos da calça em busca de algo para me ajudar. Encontrei aquela chavezinha que encontrei no quarto de Mari. Será que ela ia me ajudar ali? Comecei a tatear o local em busca de uma saída. Percebi que eu estava no porão novamente. Dessa vez, em outro cômodo, um que provavelmente ficava logo após o quarto das pinturas.

Encontrei a porta que dava na sala anterior e confirmei minha dedução: Era o quarto das pinturas. Encontrei uma vela no exato local onde estava da outra vez, mas era uma vela nova, parecia ter acabado de ser acesa. Peguei-a e voltei ao outro cômodo. Eu podia enxergar com bem mais nitidez agora, graças à luz da vela. O quarto era caracterizado por acessórios relacionados a dança e atuação. Haviam vários figurinos, roupas de balé, alguns scripts jogados pelo chão. Na mesa do centro, uma coisa me chamou a atenção: Um pequeno porta-jóias em forma de baú com a silhueta de uma sereia desenhada em preto. Eu tentei abrir, mas estava trancado. Achei a utilidade daquela chave!

Abri o pequeno baú e ele continha uma pequena bailarina que ficava girando. E tocava Sonata ao Luar, de Beethoven. Ao lado da bailarina, um pequeno compartimento em veludo vermelho, ao abri-lo, encontrei o pingente de Mari, igual aos outros, só que azul. Quando o peguei, novamente adormeci... Dessa vez, sim, eu acordei em outra dimensão, e novamente o quarto de Luna.

Apareci em cima de uma estrela, o cenário estava igual à última vez em que estive no quarto de Luna. Coloquei o pingente azul em meu colar e de repente sou puxado bruscamente para baixo. Foi um movimento tão rápido que numa questão de segundos, ao abrir meus olhos, eu estava no mar. Pelo visto, Mari já havia invadido a dimensão. Olhei para trás e lá estava ela, me encarando com uma expressão de raiva.

Ela me segurou pelo pescoço com as duas mãos e me levou para o fundo do mar. Nos primeiros segundos eu prendi a respiração, pois sou um humano, como vou respirar debaixo d'água? Mas logo em seguida, o pingente azul brilhou e eu pude respirar. Mari havia sumido, me deixando lá sozinho. Eu fiquei parado por alguns segundos olhando por todos os lados para analisar o local onde eu estava. Incrivelmente, além de eu poder respirar debaixo d'água, eu enxergava perfeitamente também. Depois de um tempo olhando, sinto alguém subitamente agarrando meu pescoço: Era Mari, e ela tentava arrancar o colar de mim!

Se ela conseguisse, eu provavelmente perderia o efeito de proteção que o colar proporcionava e não conseguiria mais respirar ali. Eu precisava me livrar dela, mas eu não podia bater em uma garota, ainda mais sendo ela quem era! Então segurei ela pelos punhos e joguei-a à minha frente, foi fácil, já que debaixo d'água as coisas ficam mais "leves". Ela ficou meio desnorteada devido a meu ato repentino, então pude segurá-la pelo pescoço e levá-la à superfície. 

Chegando lá, ela se debatia, tentando escapar de mim. Ela era muito forte,entretanto parecia estar sem forças. Depois de uns minutos tentando fugir, ela desistiu, parecia estar muito cansada, então fechou os olhos e inclinou sua cabeça sobre meus ombros. Eu podia sentir sua respiração ofegante, logo, ela ainda vivia, apenas estava exausta. Não sei como sua força diminuiu tanto de uma hora para outra. Ela parecia ter dormido, tirei delicadamente seu corpo de cima dos meus ombros e a deixei ficar ali, flutuando sobre as águas oceânicas. Com essa cena, adormeci também, voltando ao quarto de Luna.

Bom, agora só me restava mais um pingente. Eu estava ansioso para rever meu amor. Esses dias que passei sem ela estavam me destruindo por dentro, eu sentia um vazio maior do que antes, eu faria qualquer coisa para rever Lunae Lumen, a garota dos olhos de lua, o amor da minha vida, a garota do sorriso mais radiante, do olhar mais encantador, do rosto mais belo do universo, eu precisava dela em minha vida para poder ser feliz.

Deitei-me na cama e fiquei lembrando dos momentos incríveis que passei ao lado dela. Era surreal, num dia eu era a pessoa mais triste do mundo e na mesma noite, meu mundo estava colorido. E agora, uma semana depois de ter a melhor vida que já imaginei ter, o meu vazio e minha dor são ainda maiores. Eu faria de tudo para tê-la novamente. Só não sabia exatamente como, mas eu já estava quase lá.

Olhei para o chão e encontrei metade de uma página do livro. Rapidamente levantei da cama e peguei. Comecei a ler:

"...chega o fim da fase da Lua Cheia e se inicia a fase da Lua Minguante no mundo humano. As fases da Lua, assim como as estações do ano e marés, são inversas na Dimensão dos Espíritos Noturnos em relação ao mundo humano. Quando se inicia a fase de Lua Minguante no mundo humano, na Dimensão dos Espíritos Noturnos, começa a fase de Lua Crescente, e Lunae Lumen é presa naquela dimensão para a transição de Lua Crescente para Lua Cheia e só voltará sob duas hipóteses: Chegar a época de Lua Minguante na Dimensão dos Espíritos Noturnos; ou o humano apaixonado encontrar os quatro pingentes de cada um dos espíritos e libertá-la..."

Fiquei meio sem entender o começo, mas depois me lembrei daquela outra metade da folha que falava sobre isso. Então agora as coisas faziam mais sentido. E comecei a lembrar que realmente, vi Luna pela primeira vez em uma época de Lua Cheia, e ela sumiu uma semana depois, na época de Lua Minguante. Agora que eu pude entender mais sobre isso, eu precisava encontrar aquele pingente!