Memórias Póstumas escrita por yin-yang


Capítulo 16
Capítulo Décimo Sexto: Inevitável.




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Mesmo com todo otimismo e perseverança, o cenário do embate não estava nem um pouco melhor. Muito pelo contrário: vários dos nossos morriam em questão de segundos e a habilidade que faz do meu clã respeitado por todo o mundo ninja não é páreo para a grande besta que jogava uma enxurrada de troncos como se fossem farpas. Dávamos o nosso melhor, mas, honestamente, tinha medo de não ser o suficiente. O ataque em nossa direção ficava cada vez mais acirrado, pois estávamos protegendo o ponto central da nossa estratégia — e os inimigos sabiam disso.

— Valeu, Neji! Consegui entrar no meu modo Sennin! 

A voz do Uzumaki podia finalmente ser ouvida atrás de nós. Apesar de esse não ser o momento para tais observações, eu também estava ali para protegê-lo. Embora eu estivesse ali, fazendo meu papel enquanto shinobi tanto quanto meu primo, eu sequer pareço ser notada por ele. Mesmo depois de ter confessado meus sentimentos a ele, mesmo depois de quase perder a vida por ele. Ele não está me ignorando ou desfazendo de mim, mas então por que me sinto tão indigna ou desvalorizada? Por que, mesmo eu fazendo o que todos estão fazendo, mesmo com todo esforço eu e meu primo estejamos executando aquela defesa quase absoluta juntos, eu não sou levada em consideração? 

 

“Fraca. És fraca.”

 

Mesmo que aquela voz não voltasse a falar na minha mente, esse pensamento voltava a sondar. Talvez fosse por conta da exaustão da batalha que isso estava me corroendo, me consumindo, mas aquilo soou como um velho gatilho de infância. De quando meu pai me julgou insuficiente para herdar a liderança do clã. Apesar de nunca almejar isso, não ter o reconhecimento sempre me foi algo extremamente doloroso. Lembrar-me dessa sensação com Naruto não foi legal. Nada legal. A verdade é que o problema estava mais em mim do que nele.

— Concentre-se, Hinata-sama! 

Agora foi a vez de Neji falar. Novamente, era ele que me chamava de volta das minhas armadilhas mentais. Não sei se ele havia percebido meio a tudo isso acontecendo, mas ele me conhece e, mais do que isso, confia em mim e me dá condições para eu lutar minhas próprias batalhas. Não pude fitá-lo nos olhos por estarmos em combate, mas eu sabia o que ele queria me dizer.

Assim, sem perder tempo, passei a proteger o protagonista da ação pela retaguarda enquanto o outro Hyuuga ficaria à vanguarda. 

— Hakke Kuuhekishou! [1]

Ao passo que o louro disparava as Rasen Shurikens [2] contra as caudas da besta e frenava os ataques, disparamos de nossas palmas pressão de ar contra as farpas que ele não dava conta. O herói então se multiplicava em seu tão característico Tajuu Kage Bunshin no Jutsu [3]. Sendo assim, passou a desferir inúmeros golpes como o anterior, porém em maior escala. Graças a isso, havíamos controlado melhor a situação — ao menos, era o que queríamos.

Teria dado realmente certo, conquanto, se conseguíssemos ter algum avanço ofensivo. Com isso, tudo o que fomos capazes de fazer até então foi apenas de não deixar morrer mais gente. Ainda assim, precisávamos continuar — nem que perdêssemos a vida tentando. Não podíamos desistir.

Pouco a pouco, os clones múltiplos eram desfeitos e o chakra de Naruto-kun começava a falhar em sua canalização. Um contratempo extremamente grave dentro do quadro em que estamos, mas não dava para condenar. Era uma situação muito complicada. Por mais que ele fosse um ninja extremamente perseverante e com alta resistência, o corpo cobrava seu preço por tamanho esforço em tão curto intervalo de tempo. A fadiga se torna inevitável.

Foi quando ele cambaleou e aquilo se tornava ensejo para a juubi, a controle de Obito e Madara, investir avidamente contra. Os Hyuugas da linha de frente investem pesado contra as farpas, mas essas são muitas. São rápido demais. Eu sendo a que estava mais próxima dele, não podia permitir que nossa última esperança — e a pessoa que amei por tanto tempo — morresse. Assim sendo, sem pensar duas vezes, eu avancei e me posicionei à frente dele. Estendendo meus braços para protegê-lo, eu estava preparada para receber minha morte.

Tudo aconteceu em uma única fração de segundo. Eu não senti dor alguma. O que ouvi foi algo pior. Muito pior do que eu esperava para mim. Quando olho para trás, vejo Neji nii-san sendo atravessado por uma das estacas que vinham em nossa direção. Eu não havia morrido. Ele havia entrado na minha frente e tomado o golpe por mim. 

Eu entrei em choque e meu corpo todo paralisou. Naruto o segurou a tempo antes que fosse diretamente ao chão. Minha respiração fica irregular e quase esqueço como o faço quando nossos olhos se encontravam e o vi sangrar pela boca. 

— Nii... san... 

Eu queria falar, mas minha voz não tinha força suficiente para ser ouvida diante do aperto no meu peito. Meu Neji nii-san está morrendo. Morrendo.

Morrendo. 

 

 

— Tragam a equipe médica!

A voz do Uzumaki parecia ecoar distante de mim naquele momento. O meu redor começava a ficar disforme e minha pressão oscilava. Meus olhos ardem como em chamas, mas, ao invés de fogo, apenas lágrimas inundam minha visão. Sem sustentação, eu desabo de joelhos ao chão. Isso não pode estar acontecendo. Não. Ele não pode morrer. Não pode. Se tivesse sido eu ali como deveria ser, o mundo não estaria perdendo muita coisa, mas ele... Neji nii-san era o filho que meu pai tanto quis, é um dos ninjas prodígios de Konoha. Isso não pode estar acontecendo. Isso não pode acontecer. Não.

— Naruto...

Minha mente só voltou a focar no momento quando ouvi a voz dele surgir, mesmo que tão rouca e dolorosa. Ele havia se negado a receber socorros. Por quê? Eu o olho em agonia. Eu não quero perdê-lo. Não, destino. Pare.

— A Hinata-sama... pretendia morrer por você. – Meu corpo todo gelou. Mais lágrimas emergiam a cada palavra. – Então tenha em mente... Que a sua vida… Não é mais só sua... E agora... Isso também inclui a minha...

Ao fim de sua fala, ele sorriu gentil para mim, mesmo com todo o sofrimento, mesmo com toda agonia. Quando nossos olhos voltaram a se cruzar, eu havia entendido o desejo dele.

 

Que sobrevivêssemos a essa guerra e fôssemos felizes. Que pudéssemos viver o tanto quanto pudéssemos por todos aqueles que já partiram. Ele havia se sacrificado… por mim?

 

O pranto embaçou completamente a minha visão e eu não pude fazer outra coisa que abaixar a cabeça e deixar as lágrimas caírem no chão coberto de sangue. Quando a nitidez voltava para mim, eu observo uma tanzaku verde cair do meu bolso com a movimentação. Ela estava um pouco amassada e velha, mas inteira o suficiente para ver a caligrafia infantil escrita no nanquim. Aquilo não teria tido importância em um momento como aquele, não fosse pelo nome dele assinado ao fim do papel. Meus olhos então fizeram uma rápida leitura, ainda que vaga, do que estava ali: 

 

“Que a nossa promessa se realize para todo o sempre.”

— Hyuuga Neji

 

 

A voz de Naruto ao fundo novamente parecia perder todo o sentido e forma ao fim da minha leitura. Eu tentava recordar quando aquele papel havia sido colocado no meu bolso, já que nem meu era aquele desejo.

Tentei puxar na memória — talvez como uma fuga para não ter que enfrentar aquela situação que eu já parecia ter intuído logo quando a Juubi aparecera — quando então um choque correu pela minha mente e arregalei meus olhos ao perceber tudo o que havia acontecido. As várias lembranças de um amanhã já vivido e sofrido se fazem presentes e, diante de mim, eram todas revividas. Os ressentimentos, as angústias; a descoberta tardia, a saudade culposa e o remorso latente — tudo isso eu senti na pele, eu vivi autenticamente. Isso tudo não é delírio nem fuga. Eu não posso mais voltar. Eu não quero mais lamentar.

 

Eu não o deixarei partir. Eu vou salvá-lo. A qualquer custo.

Eu não o deixarei partir. Eu tê-lo-ei de volta. A qualquer custo.

 

Outra vez, eu estava naquele vazio quase absoluto, naquela escuridão que agora me era tão familiar. À minha vanguarda, estava a mulher que outrora sussurrava para mim. Agora, ela estendia a mão para que eu a aceitasse. Eu estive a renegando o tempo todo porque acreditava veemente que não precisava dela. Da grande sombra que habitava em mim, mas que devia ser eliminada. Entretanto, eu estava equivocada.

 

Eu não tenho que rejeitá-la. Ela sou eu.

Eu sou Izanami, a deusa da Morte e da Escuridão.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

[1] - Variante do Hakke Kuushou. Vide imagem: http://de.narutopedia.eu/images/f/f3/Kuuhekishou.png
[2] - https://naruto.fandom.com/pt-br/wiki/Libera%C3%A7%C3%A3o_de_Vento:_Rasenshuriken
[3] - https://narutobook.fandom.com/pt-br/wiki/Tajuu_Kage_Bunshin_no_Jutsu



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