Acordei com o meu corpo doendo. A luz fraca do sol invadia a sala. Ao me levantar, percebi que havia dormido no tapete, meu corpo doía muito, o tapete não era nada confortável. 

Subi as escadas com muita dificuldade segurando no corrimão. Por que eu tinha dormido no tapete? Ah, é verdade, depois que saí da delegacia fui até um bar e bem, quando se está muito triste e se encontra um bar, você bebe muito. Mal consegui dirigir até minha casa, deitei no chão mesmo. 

Junto com a ressaca, vieram as lembranças, meus pais estavam mortos, eu estava sozinha no mundo. Bom, com os meus tios, mas nunca seria o mesmo. 

Me joguei na cama assim que abri a porta do meu quarto. Resolvi ficar lá mesmo, não me levantei para tomar banho, para ir ao banheiro e nem para comer. Eu não sabia que horas eram, não estava afim de arrumar minhas malas ou de atender meu celular que tocava desesperadamente. 

Adormeci novamente. Sonhei com os meus pais, com uma lembrança que eu tinha na verdade, de quando eles me levavam ao parque da cidade para comer batatas fritas e correr na grama. 

Me assustei com o barulho de alguém batendo na porta do quarto. Levantei rápido com o coração acelerado e abri a porta. 

-Elli, como entrou aqui?  - perguntei para a minha melhor amiga que estava parada na porta.

-A porta estava destrancada. Você sumiu a dois dias. Eu soube dos seus pais. - vi que ela chorava - Sinto muito. - ela me abraçou e eu não tive vontade de retribuir.

-Todos sentem, mas isso não os trará de volta. 

-Não precisa ser tão fria ta legal? - ela entrou no quarto e sentou na cama, eu fiz o mesmo.

-Desculpa mas está difícil. - eu chorava, na verdade, chorava desde que havia ouvido a notícia. 

Elli me abraçou e assim ficamos por alguns minutos enquanto eu chorava exorbitadamente. 

-Você precisa arrumar as malas. - ela disse - Vai se mudar na semana que vem, se quiser eu te ajudo.

-Não quero me mudar. - falei e percebi que parecia uma criança birrenta.

-E não queremos que você mude. Mas é preciso. 

Suspirei e me levantei. Andei de um lado para o outro no quarto enquanto passava a mão nervosamente nos meus cabelos. 

-Tudo bem, me ajuda a arrumar as malas? - pedi e Elli assentiu. 

Eu sentiria muita falta dela. Desde que me entendo por gente, ela é minha melhor amiga. Se pudesse, a levaria comigo, dentro da mala, ou da bolsinha de produtos de beleza, sei lá. Queria que ela fosse porque ela é o que me restara, a pessoa mais próxima de mim depois dos meus pais era ela.

Olhei para o sorriso dela, para os cabelos castanho escuros, os olhos castanhos também. Como eu sentiria falta disso.

-Quando terminarmos, - ela falou - quero que venha em um lugar comigo.

-Não quero sair hoje. 

-E na sexta? - ela insistiu.

-Tudo bem. - suspirei desanimada - Eu saio com você sexta, eu vou embora mesmo. 

Tentei dar um sorriso fraco mas estava difícil. Sei que eu precisava superar mas realmente, não era coisa fácil. Eu estava tentando mas não era fácil.