Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 26
Metade


Notas iniciais do capítulo

Iaí pessoal, tudo bem?
Como o capítulo anterior ficou um pouco pequeno, resolvi postar logo o capítulo 26. Espero que gostem!!! Beijos!!!



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Hoje era uma noite fria. E apesar da minha colcha me aquecer devidamente, a coisa que eu mais desejava nesse instante era ter Raul aqui, me abraçando enquanto durmo. Mas essa seria a minha primeira noite do projeto “vida sem Raul”. Uma das várias noites que eu iria desejá-lo aqui comigo. Uma das várias noites que pareceriam não ter fim.

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Cap. 26

Todos os dias tinham um leve tom de cinza – até mesmo o dia em que passei em medicina e meu pai finalmente acatou a minha decisão, além do dia em que meu avô saiu do hospital, voltando à prisão – por eu não poder ver o cara que mais amei na vida. Nos momentos raros de alegria as feridas pareciam cicatrizadas, mas logo as senti pulsar e doer novamente, lembrando-me daquele que jamais poderei esquecer.

Os primeiros meses na faculdade não foram muito bons – ou foram, e eu não soube distinguir – para uma pessoa como eu, que costumava ser o centro das atenções. Na verdade, eu continuava sendo, só que dos burburinhos, das pessoas que se juntavam para comentar sobre a garota rica e louca que se apaixonou pelo cara que a sequestrou. Eu tinha alguns amigos, é verdade; mas não posso me enganar – eu também já os vira comentando sobre o meu trágico romance.

Apesar de todas as tentativas, minha mãe, meu irmão e Pedro simplesmente não conseguiam não pensar em tudo que aconteceu, mesmo depois de meu pai ordenar que aquele assunto estivesse a sete palmos do chão. Mas até mesmo o grande sr. Arthur, que fazia caras e bocas tentando demonstrar a mais perfeita harmonia familiar, acabava por revelar um grande incômodo interno. Um incômodo que aumentava cada vez que me olhava e via que o tempo jamais seria capaz de me fazer esquecer.

Os dias se arrastavam e eu contava cada um deles, como um próprio presidiário riscando com giz as paredes da cela. Numa pensei o quão duro e difícil seriam aqueles primeiros meses, o primeiro ano. À noite me batia um desespero tão grande que eu era incapaz de conter, e a única alternativa que me restara era enfiar a cara no travesseiro, tentando abafar o som dos gritos e do choro incessante para que ninguém me ouvisse. Mas ao ver a expressão que minha mãe fazia a me ver pela manhã, sabia que tinha sido totalmente em vão.

Mas eu estava tentando parecer melhor. Pelo menos para que meu pai abolisse completamente a ideia de me levar novamente à psiquiatra. O tanto de coisa que eu tinha para estudar me ajudava um pouco com as memórias – não esquecê-las – mas colocá-las por um instante numa caixa bem fechada. Prometi ao meu pai que iria tentar, mas não que iria conseguir. Por mais que eu tentasse, não me sentia inteira, mas sim pela metade.

Depois de 2 anos e 3 meses de dias completamente cheios de rotina, resolvi dispensar Pedro na ida à faculdade. O dia estava frio e eu queria caminhar um pouco e esvaziar a mente dos pensamentos cheios de esperança e angústia. Estava tão distraída que mal percebi que havia entrado na rua errada e que era um beco sem saída. Mal percebi no que aquilo iria suceder.

– Passa tudo, moça, passa tudo! - virei para olhar e me deparei com um homem com os olhos arregalados gritando do meu lado.

O quê?– perguntei, completamente aturdida à situação.

– Tá me zuando? Passa tudo, moça. E não reage! - e quando vi, ele apontava uma arma perfeitamente engatilhada em direção à minha cabeça.

Agora eu entendi. Entendi muito bem. Oh, Deus, o que faço? Meu corpo continuava imóvel enquanto ele repetia as ameaças. Minhas mãos suavam frio, completamente paralisadas, diferente do meu coração, que batia numa velocidade assustadora.

E quando menos esperei, eu ouvi. Dois tiros.

Meu coração falseou por um décimo, e naquele momento tive a certeza de que iria morrer. Mas por quê? Eu... eu não podia morrer!

Quebrei o gelo corporal e olhei primeiro para o meu abdômen. Nada. Minhas pernas, meus braços, minhas costas. Nada. Passei as mãos no rosto e nos cabelos, em busca de qualquer sinal de sangue e... nada. Não havia sido em mim.

Só então, ao olhar pra baixo, vejo de um lado a arma agora esburacada, assim como a perna do homem que me assaltou, jogado no chão, se arrastando para longe, enquanto tenta conter o sangramento com a mão.

– Bora garota, sai daí que tua rua é aquela. - aponta a rua à direita um dos dois homens encapuzados atrás de nós. Mas antes que eu pudesse falar algo, o outro completa:

– Não se preocupe, nós somos policiais. Você tá segura agora, pode seguir seu caminho. E nunca mais ande por aqui. - diz, e eu me pergunto instantaneamente da onde eu reconheço aquelas vozes, principalmente a segunda. Mas sei que não é a melhor hora de questionar, por isso corro ainda completamente assustada para a rua que o primeiro homem indicou, e, quando me vejo, já estou na faculdade, com os meus poucos colegas questionando-me a causa do suor e vermelhidão que toma conta do meu rosto.

Volto pra casa ainda um pouco amedrontada, prometendo a mim mesma que nunca mais iria a pé à faculdade. Pedro estaria agora sempre nos meus planos.

Resolvi não contar aos meus pais o ocorrido, já que tinha certeza de que eles enlouqueceriam com a notícia. Mas passei a noite inteira me perguntando de quem seriam aquelas vozes estranhamente conhecidas, tentando identificá-las de alguma forma, mas sem sucesso. Bem, talvez fossem alguns policiais da penitenciária que eu acabei frequentando uns dias há tempos.

Mas meu pensamento involuntariamente voltava-se de novo para Raul. Agora faltava pouco tempo – 9 meses – e eu estaria na porta o esperando sair. Ah, só Deus e eu sabem o quanto anseio por esse dia.


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