Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 24
Troca




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– Tenho uma proposta a lhe fazer. - ele levanta o dedo, esperançoso.

– Vai ser igual a primeira? - digo, lembrando-me de quando ele quis que eu escolhesse entre ir embora ou ser internada numa clínica psiquiátrica.

– Não. - ele responde rápido – Me desculpe por aquilo, filha, é que... bem... eu estava tão desesperado que perdi a noção... - ele balança a cabeça, tentando afastar o pensamento, depois volta a olhar para mim, determinado – Isso está mais para um acordo. Ambos vamos ter o que queremos. Eu prometo.

– Então você vai querer que eu me afaste dele a troco de... - paro esperando uma resposta, analisando seu olhar.

– A troco de eu conseguir reduzir a pena dele. E então... você aceita?

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Cap. 24

Fico paralisada com o que acabo de ouvir. Isso era tudo o que eu queria desde que Raul foi preso – e comecei pedindo ajuda a minha mãe, que achou que eu estava doente – e então meu pai aparece e simplesmente me oferece assim, como quem estende uma bandeja de doces. Quando minha boca ia se abrir para dizer que aceito, lembrei-me de que isso estava sendo muito fácil para ser verdade. Eu deveria ler primeiro as “letras miúdas” dessa proposta.

– Certo, mas... - demoro na pronúncia da palavra, exaltando a contradição. - Que tipo de afastamento é esse que você quer em troca?

– Ouça, antes de eu explicar, quero que saiba que meu advogado, no dia do julgamento, disse que se pegasse a causa do garoto conseguiria reduzir dois anos de pena. Assim só sobrariam três. - ele diz, com a voz mais esperançosa do mundo.

– Oh, Deus, isso é maravilhoso! - digo, absolutamente animada, mas logo lembro que ainda não sei o verdadeiro preço a ser pago e digo, dessa vez séria – Maravilhoso demais para ser de graça.

– Isso é um acordo, Lexi. Tem que ser bom para as duas partes.

– Então o que eu tenho que fazer? - digo, já imaginando o quão ruim será de acordo com a enrolação.

– Durante esses três anos que ele ficar na cadeia, você não pode, de maneira alguma... vê-lo, falar com ele ou saber qualquer coisa referente àquele garoto. E então... você topa?

Suspiro. Alto. Jogo minha cabeça para trás, afundado-a no sofá. Estou derrotada. A parte dele do acordo era tudo o que eu queria, mas o preço a pagar... oh, Deus, eu não posso passar um dia sem vê-lo. Imagine três anos?!

– Arthur, por favor, reconsidere... - minha mãe começa a interceder por mim, mas ele faz sinal para que ela o escute.

– Ela precisa disso, Helena. Ela vai pra faculdade, fará novos amigos, quem sabe não gosta de um rapaz? Um rapaz bom, direito e...

– Um rapaz que não salvou o seu pai mesmo depois de tudo que ele fez. - digo, meu rosto já quente e as primeiras lágrimas surgindo.

– Lexi, por favor. Veja o que estou lhe dando em troca! As duas coisas serão boas para você! Terá uma chance de sair do círculo desse rapaz, parar de se preocupar e de se responsabilizar por ele! São só três anos. Prometo.

– E depois? Depois poderei vê-lo? - digo, enxugando as lágrimas antes que molhem as bochechas.

– Depois... sim. Mas esse garoto, ele não é quem você pensa. Duvido que depois de sair da cadeia ele vá procurar você. No mínimo vai procurar a sua quadrilha e sumir do mundo.

– Ele não faria isso. Ele me ama também.

Olho para o meu pai, vejo-o revirar os olhos e bufar. Depois estende a mão de volta, esperando que eu a pegue e sele o nosso acordo.

– Então eu preciso dizer a ele.

– O quê?

– Preciso falar sobre isso. Sobre o nosso acordo. Vou vê-lo amanhã e direi tudo. Trato feito? - digo, e o vejo sorrir enquanto aperta a minha mão.

– Absolutamente.

Durmo mal, pior do que o de costume. Minha mente gira sobre a decisão que tomei, revelando os prós e contras, se preparando para a reação de Raul. No final das contas ele iria achar ruim, não iria?

Mas penso sobre o que meu pai me disse: “Mas esse garoto, ele não é quem você pensa. Duvido que depois de sair da cadeia ele vá procurar você. No mínimo vai procurar a sua quadrilha e sumir do mundo.” Isso... bem, isso não iria acontecer. Não podia acontecer. Mas o tormento na cabeça era tão grande que até passei a considerar essa ocasião em algum momento.

O horário de visita era à tarde, e meu pai fez questão de me levar. Ele deu a desculpa de que queria agradecer, mas eu sabia que era apenas para não me deixar a sós com Raul, além de reafirmar o acordo.

– Raul! - digo ao vê-lo, minha voz falhando no final. Corro para seus braços, afundo o rosto no seu pescoço, tentando aproveitar cada cheiro, cada toque, tudo, absolutamente tudo antes de ter de deixá-lo por três anos.

– Ei... - ele me puxa para olhar meu rosto – Veio me dar a boa-nova? Então, o velho apagou? - diz, sarcasticamente, com um sorriso totalmente brincalhão no rosto.

– Raul, por favor... - reviro os olhos e aponto para trás, onde meu pai está sentado num banco fazendo sua pior cara de desaprovação.

– Eu sei, eu sei... - ele não tira o sorriso dos lábios – Sou bom demais, não sou? Salvei o velho! Mas que ironia do destino!

– Obrigada. De verdade, muito, muito, mas muito obrigada. Eu mal sei como te agradecer de algum modo que não seja com um “obrigada”!

– Ah, mas eu sei... - ele dá um sorriso malicioso e me puxa para um beijo longo, sem se importar com o fato de meu pai estar nos observando.

Uhmhum. - meu pai pigarreia alto, que faz com que Raul me dê espaço para respirar e lembrar o que tenho a lhe dizer, enquanto ele ri da situação.

– Ei, escute, eu... - interrompo-o antes que ele me agarre de novo – Eu preciso te contar uma coisa.

Ele para e semicerra os olhos, analisando a minha expressão séria.

– Eu... eu fiz um acordo com... com o meu pai. - digo, virando a boca de lado, esperando sua reação.

– E... que tipo de acordo é esse?

– Um tipo que vai reduzir a sua pena para três anos. - digo, esboçando um sorriso.

Primeiro, ele arregala os olhos. Depois os semicerra tanto que parecem duas linhas, linhas que durante alguns segundos analisando meu pai por sobre o meu ombro, que apenas sorri e balança a cabeça afirmando.

– E o que diabos ele quer que você faça em troca? - ele diz, quebrando o silêncio, alterado.

– Eu... eu tenho que... - gaguejo ao tentar falar. Mas não consigo. Então abaixo a cabeça; sei que é infantil, mas não tive outra saída.

– Alexia... - ele puxa meu rosto para olhar nos meus olhos – O que você tem que fazer em troca?

– Desculpa, Raul... eu não tive escolha... - digo, os olhos já enchendo de lágrimas.

– Diga. - ele fala, limpando com os dedos as primeiras gotas nas minhas bochechas.

– Esses três anos que você ficar preso... eu... eu não vou mais... não vou mais poder te ver.

E num milésimo de segundo, sua expressão muda. Ele olha pro meu pai de um jeito tão...assustador que eu me encolho. Acho que eu subestimei o quanto ele iria discordar.


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