Sete Chaves escrita por Hakume Uchiha


Capítulo 21
Iminência




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– Você o ama, Lexi? - minha mãe vira o rosto pra me olhar de frente, eu hesito. Mas a persistência no seu olhar me faz seguir adiante.

Amo. - digo num sussurro, tão baixo que nem sei se ela escutou. Mas pelo seu suspiro minha dúvida vai embora.

– Ok. Apesar de eu ainda achar tudo isso muito... estranho, eu vou confiar em você. Certo... nós vamos resolver isso. Prometo.

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Cap. 21

Acordei às 7 horas em pleno sábado. Decidi não tentar dormir de novo, já que não consegui fazer isso direito por toda a noite. Havia tido pesadelos estranhos, absolutamente confusos, sem nexo; mas em todos eles apareciam dois rostos que eu conheço perfeitamente – meu avô e Raul.

Resolvi por em prática meu ceticismo e parar de tentar encontrar explicações para os sonhos sem sentido. Olhei a garagem pela janela e vi que o carro do meu pai já não estava lá; provavelmente teria ido mais cedo ao trabalho pela raiva e a vontade de não olhar na nossa cara.

Desci as escadas direto para a cozinha atrás de um copo de água. Quando vi, minha mãe estava sentada tomando café da manhã, mas não vi surpresa alguma em seus olhos quando ela me fitou.

– Também não consegui dormir muito. - ela disse, sorrindo levemente sem graça.

– Você falou com ele? - fui direta no que queria perguntar.

– Ele saiu antes, sem sequer me dirigir uma só palavra. - disse agora numa expressão mais séria, levando a xícara aos lábios.

– Desculpe, mãe. É minha culpa ele não estar falando com você. - digo, entristecida.

– Ah, Lexi, por favor. Não diga isso, é ridículo. De qualquer forma, você vai ver, ele não conseguirá passar muito tempo assim conosco. Nós vamos chegar a um acordo. Eu prometi a você.

Concordo com a cabeça, desejando acreditar na força e no poder que minha mãe tem sobre o meu pai. Mas logo que ela vê a tristeza voltar ao meu olhar, me faz uma proposta tentadora:

– Então, eu... gostaria de conhecer... esse garoto pessoalmente. Que tal darmos uma passadinha lá quando terminarmos o café? - ela sorri quando vê minha expressão mudar violentamente e um sorriso breve abrir em meus lábios. - Mas é rapidinho, hein?! Não quero que seu pai descubra para ter mais uma acusação contra nós!

Mas estou feliz demais para ouvir as restrições. Pulo do seu lado e a beijo várias vezes nas bochechas, enquanto ela se diverte com o meu ataque.

Uma hora depois estamos os três (é, os três; já que Anthony fez birra querendo mais que tudo no mundo ir com a gente na penitenciária, e minha mãe nada pôde fazer diante disso) na delegacia esperando Raul ser trazido.

Quando seus belos – e ainda brilhantes – fios de cabelo castanhos apontam no corredor, meu coração galopa desesperadamente. E quando os seus olhos azuis fitam os meus, corro pros seus braços, esquecendo completamente que estamos numa sala de penitenciária e sendo observados pelos olhares atenciosos dos policiais e surpresos da minha mãe e do meu irmão Tony.

Seus lábios convidativos sorriam incrédulos para mim, enquanto os meus se abrem num sorriso de orelha a orelha. Ele me puxa para mais perto, e dessa vez é ele quem toma a iniciativa de me beijar.

– Uhmhum – minha mãe pigarreia alto logo atrás de nós, enquanto ouço meu irmão fazer um som de “eca”; fazendo-nos cessar o beijo.

– Raul, essa é minha mãe... e esse meu irmão. - viro-me e digo, agora meio envergonhada por minha mãe ter visto a cena.

– Eu sei. - Raul sorri enquanto os dois acenam timidamente, e, devo acrescentar, aparentando um certo medo dele. - Sei tudo sobre você.

– Então, vejo que vocês se acertaram. - diz minha mãe, lembrando-me de que disse a ela que estávamos um pouco brigados.

– Eu... eu não devia... - Raul estremece um pouco – Eu não tinha o direito de te culpar de tudo.

– Tudo bem, você não precisa... - e ele me interrompe dizendo:

– É sério. Ouça Lexi, é tudo minha culpa. Me perdoe. A cada dia que passa penso na quantidade enorme de erros que cometi. E é só isso que tenho feito: erros!

– Não diga isso! Se não tivesse me sequestrado, nós não teríamos nos conhecido! - digo, me sentindo mal por sua expressão de derrota. Ele suspira.

– Não importa. Eu sei o que fiz. Só não sei o porque de você estar aqui com sua mãe e seu irmão. - ele aponta pros dois e sua expressão transforma-se em divertimento e dúvida.

– Bem, é que... - e antes que minha mãe possa concluir a sua fala, nós ouvimos um grito que vem da recepção:

Onde ele está? Pai!– e imediatamente reconhecemos aquela voz. Todos nós. Inclusive Raul. É a voz do meu pai.

Entre na enfermaria. Ele está lá!– a voz de um policial ecoa pelas paredes.

Então vejo minha mãe esquecer completamente do que ia dizer e correr de volta à recepção; Anthony logo atrás dela. Olho para Raul, assustada, e corro em direção à eles, esperando que ele também me siga. Mas quando olho pra trás vejo que ele foi barrado pelos policiais, para que não saísse da salinha. Respiro fundo, querendo voltar pra ele, mas sabendo que preciso saber o que está acontecendo, decido seguir em frente.

– O que está acontecendo, Arthur? - ouço minha mãe questioná-lo logo que a acompanho.

– Helena?! Lexi?! Anthony?! - meu pai arregala os olhos quando nos vê. - O que vocês estão fazendo aqui?!

– Nós apenas... ahm... - minha mãe se enrola com as palavras dando-o tempo para se enfurecer conosco.

– Eu não acredito nisso! Você trouxe ela aqui para vê-lo?! Você está ficando louca? - ele esbraveja, ecoando pelas paredes da sala de enfermaria.

Mas antes que minha mãe comece a retrucar a acusação, ouvimos meu irmão gritar:

– Vovô?! - todos nós olhamos para a frente, para os policiais e principalmente para o que eles estavam carregando: meu avô, só que mais magro, o rosto meio arroxeado, como se estivesse sufocando. Ele apertava o lado esquerdo do peito com a mão direita e sussurrava o nome do meu pai.

– Oh meu Deus! - falamos em uníssono enquanto meu pai o amparava e o colocava numa maca aparentemente velha.

– Ele se queixou de dores fortes no peito, então resolvemos chamá-lo. - um dos policiais se dirigiu a meu pai, tentando se justificar.

– E onde estão as enfermeiras? - meu pai grita enquanto meu avô se contorce em cima da maca.

– É horário de almoço, senhor. Não pudemos fazer nada, além da ambulância que chamamos e já deve estar a caminho. O melhor a se fazer é esperar! - diz o policial.

– Esperar? Meu pai está morrendo! Vou levá-lo agora mesmo a um hospi... - e antes que meu pai consiga terminar sua frase, todos vemos meu avô deixar a cabeça cair sobre a maca, e os braços se estenderem no ar. Nossos olhos se arregalam enquanto ele desfalece bem à nossa frente.

– Pai! Ah, meu Deus! - meu pai se abaixa e cola o ouvido no tórax do meu avô. Vejo-o ficar completamente pálido ao dizer – Seu coração... não está batendo! Não... não! Oh meu Deus, oh meu Deus! - ele treme enquanto se distancia do corpo estirado na maca. Todos nós sem acreditar naquilo.

– Não há nenhum médico, ninguém que possa fazer alguma coisa? - minha mãe irrompe diante do silêncio assustador da sala, me fazendo enxergar uma luz, como uma lâmpada que acende após todas as evidências de estar queimada.

Existe alguém que pode fazer algo. Alguém que deve ter estudado o suficiente para saber os primeiros socorros e assim poder tentar salvar a vida de alguém com parada cardíaca. Alguém que eu conheço tão bem que sei que é capaz, só não sei se fará. Porque era por isso que ele estava vivendo. Era isso que ele queria que acontecesse.

Mas não temos opções. Se há alguma chance de salvar o meu avô, essa chance está nas mãos dele. Nas mãos da pessoa que mais quis vê-lo morto em toda a vida.

Eu ia chamar Raul.


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