POV. Ane

Senti meu corpo esquentar com o aperto de mão, como se eu estive próxima ao fogo. Uma onda de calor atingindo minha pele, fazendo-a formigar. Tinha algo diferente no homem a minha frente, apesar de sua aparência parecer amigável  seus olhos demonstravam outra coisa, uma outra personalidade, algo escondido.

— Tudo bem Sr. Slyke — disse Soraya

—Ah, por favor, me chame apenas de Walter — pediu sorrindo. — Vamos, vou mostrar o apartamento a vocês — Walter gesticulou para que o seguíssemos.  Pegamos o elevador para o 12º andar. —Então vocês são todas maiores de idade? — perguntou

—Sim, mas temos uma  ‘’xodó’’ entre nós— Soso foi quem respondeu — A Ane, ela tem apenas 18 anos.

Walter não fez nenhum comentário nessa resposta apenas soltou um pequeno risinho que soou como sarcasmo. Revirei os olhos.

Chegamos ao andar, e quando saímos do elevador pude notar que havia uma faixa amarela bloqueando a entrada de um dos quartos.  Limitei-me a questionar sobre aquela faixa quando notei que Walter passou rapidamente pela porta sem olhá-la.  Aquilo me intrigou, mas deixei pra lá, observando ao redor também notei que os apartamentos estavam todos quietos demais, como se não tivesse ninguém morando ali.

—Todos trabalham fora — Ouvi o Slyke dizer  — Por isso o silêncio.

Como ele sabia o que eu pensara? Será que falei alto? Ok meu limite pra coisas estranhas estava completamente lotado.

POV. Surya

Caminhamos até a ultima porta do corredor. Era branca com a numeração 560. Walter tirou a chave do bolso do paletó e abriu a porta, gesticulando para que entrássemos primeiro.

—Primeiro as damas— disse

—Obrigado — dissemos em coro

—Como podem ver a mobília esta protegida por lençóis— disse Walter retirando os lençóis — para não pegarem poeira, vocês pediram um apartamento já mobiliado, então esse é o único disponível e está de acordo com o pedido— mesmo que suas palavras não tenham sido uma pergunta seu olhar esperava uma resposta.

—Está sim— Concordou Soraya — vindo de um dos cômodos provavelmente da cozinha — Ah tem quantos quartos?

—Três

—Somos cinco  — Disse Ane — isso quer dizer que vamos ter que dividir os quartos.

— É o único jeito — Foi a vez de Déia dar sua opinião

—Depois a gente resolve quem vai com quem — Soraya retomou a posição de ‘’líder’’ do grupo.

—Então como podem ver aqui é a sala — Walter gesticulou para o cômodo onde continha uma estante, dois sofás pequenos e uma mesa de canto tudo coberto por lençóis —  e aqui é a cozinha — informou entrando no cômodo de onde Soraya havia saído a poucos minutos.

—É... Pequena — me ouvi dizer e me arrependi  no mesmo instante. Todos me olhavam como se eu tivesse dito algum palavrão. Mas era verdade, tinha uma pia branca, no seu lado direito um fogão de quatro bocas, um armário de três portas. Do lado esquerdo a geladeira e um bebedouro. No canto perto da porta uma mesa de seis cadeiras, e um pequeno balcão com um vaso de flores de plástico. ‘’Como vamos nos mexer nessa caixa?’’

—Ahm.. Vamos ver os quartos? — pediu Ane quebrando o silencio que havia se formado — já quero ver com qual vou ficar...

—E dividir — Completou Déia sorrindo ironicamente pra Ane que deu língua

—Ah claro, venham por aqui

Voltamos para a miniatura sala e entramos num pequeno corredorzinho que possuía quatro portas.

—Aqui é o primeiro quarto— Disse Walter e abriu a porta. O quarto tinha as paredes rosa claro, duas camas de solteiro e um guarda-roupa médio. No meio das camas um pequeno criado mudo com um abajur. — Vamos pro próximo — saímos daquele e entramos na porta da frente. O quarto era praticamente igual ao outro exceto pelas paredes que era azul bebe. — Vamos ver o ultimo — Esse era um pouquinho maior que os dois primeiros. As paredes eram brancas, tinha cama de casal e um guarda roupa grande, uma janela e porta que só podia ser o banheiro. Tinha algo nesse quarto que não havia em mais nenhum, ele era frio.

  —E aquela porta ali é o banheiro — disse Walter de volta ao corredor.

—Ótimo vamos ficar com esse — Soraya como sempre tomando decisões por todas. Devo admitir ela era uma boa ‘’líder’’, mas às vezes isso irrita demais. — Amanhã já viemos para cá, é claro se já estiver tudo certo. (N/A: Eu NÃO sei como funciona isso, então eu imaginei que fosse desse jeito).

—Ah sim, amanhã vocês podem pegar a chave com Josh e bem vindas meninas.  —Walter falou apertando nossas mãos.

Estávamos  esperando pelo elevador , Walter Slyke dava algumas informações sobre os antigos inquilinos daquele apartamento. Ele parecia escolher as palavras fazendo com que sua história não parecesse verdade, ou escondesse algo por trás. ‘’Preciso conversar com as meninas’’. Suspirei. Parei de prestar atenção naquela ‘’história’’ fiquei em silêncio tentando esclarecer a confusão que se formava em minha mente, tantas coisas estranhas já acontecera só em um dia.  Enquanto tentava me reorganizar mentalmente um ruído no teto me chamou a atenção, parecia que uma corrente tivesse sendo arrastada. Olhei para as garotas, mas nenhuma demonstrou ter ouvido. Menos o senhor Slyke que volte e meia olhava para cima, e movia a boca como que pedido pra que alguém ficasse em silêncio. O ruído invadiu meus ouvidos novamente dessa vez com mais nitidez e eu tinha certeza que era uma corrente.

—Que barulho foi esse?—Mya perguntou alarmada

—Vem do andar de cima — Ane completou assustada

—Deve ser alguma janela aberta— Walter disse afrouxando o nó da gravata— Irei dar uma olhada depois

— Tomara que isso seja apenas uma janela aberta— Déia sussurrou ao meu lado. Tinha algo errado ali, aquele barulho com certeza não era de uma janela aberta o que me fez pensar  ‘’Walter esconde alguma coisa. O.k. Como Ane diria meu limite pra coisas estranhas estava completamente lotado’’.

—Ah.. o elevador chegou

—Até que fim— ouvi Ane e Déia falarem juntas e correr pra dentro do elevador

—O que tem no andar de cima? —Perguntei olhando fixamente pro Slyke

—Ninguém mora no andar de cima, Srtª Montenegro — Disse

—Como sabe meu sobrenome?—Ok pergunta totalmente estúpida — não me lembro de tê-lo dito.

Walter semicerrou os olhos.

—Eu disse a ele— Soso ralou

—Exatamente —Concordou —e respondendo sua pergunta anterior, NÃO a nada no andar de cima. —Completou dando ênfase no ‘não’.

Fingir-me dar me por convencida —Se você diz — dei de ombros — Mas por que ninguém mora lá?

— Porque aquele andar está em reformas — Disse seu tom de voz informava que o assunto acabaria ali

Suspirei.

O que há naquele  andar? Por que Mya agira daquele jeito estranho no hall? Por que Walter ficara nervoso com aquele ruído?  Tem muita coisa errada acontecendo, disso eu tinha certeza.