London Love escrita por Gi Carlesso


Capítulo 48
Os planos infalíveis. Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Oii, minha gente! Chegay finalmente O/



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Scarlet White

2 de dezembro. 19h e 30min.

Segunda fase do plano.

Eu, os gêmeos, Henri, Ana e Jordan estávamos em frente à casa do diabo completamente boquiabertos com a imagem diante de nós. A casa conseguira superar todas as minhas expectativas, inclusive aquelas que escondi bem fundo em minha mente e pensei que nunca admitiria. Tinha dois andares e uma frente gigantesca, com coqueiros e algumas plantas espalhadas por um jardim perfeito, uma sacada longa que tomava conta de toda a frente do segundo andar e com pelo menos quatro janelas, indicando que a sacada era a ligação entre os quartos. De fora, eu conseguia ver uma pequena parte do fundo da casa, onde uma piscina que parecia enorme cobria um espaço maior que dois de meu quarto na casa de Tom, cabanas pequenas bem à beira da tal piscina e outra parte de um jardim.

A festa já estava bombando e nem sequer era 20h ainda. De acordo com Tyler, ele chamara pessoas famosas, porém boa parte eram pessoas desconhecidas e quase comuns, principalmente algumas mulheres de ótima aparência com vestidos minúsculos apesar do frio que caminhavam em grupos em direção a casa já demonstrando alguma alegria por estar ali. Eu já sentia cheiro de bebida, talvez drogas e cigarro, principalmente do lado de fora, onde algumas pessoas fumavam sozinhas.

Engoli um seco e alternei meu olhar entre meus amigos e a casa diante de nós.

Os gêmeos usavam roupas comuns como jeans e camisetas com estampas engraçadas que ambos sempre usaram desde que os conheci. Henri parecia igual, porém com uma jaqueta de couro preta por cima e seu cabelo ajeitado o fez parecer mais vem vestido que os gêmeos. Ana estava usando o mesmo vestido cor de rosa que a vi usando outro dia, porém acrescentou meia calça preta, salto preto e um casaco também preto por cima para proteger-se do frio, assim como Jordan, quem também usava um vestido, porém sem a meia calça e um casaco por cima, além das botas de cano alto.

Eu, pelo contrário, me sentia a única não tão preparada para uma festa. Usando um jeans skinny preto, botas de couro de cano baixo, e camisa xadrez vermelha e aberta com um cachecol cinza para proteger meu pescoço do frio e uma touca cinza sem estampa, eu me sentia desconectada com aquela paisagem. Pelo menos, o batom vermelho em meus lábios fazia com que eu parecesse um pouco mais arrumada, considerando que meus amigos pareciam prontos para um tapete vermelho ou coisa parecida.

– Eu não sei vocês, mas não acho que esse plano vai dar certo. – Jordan parecia apavorada demais para continuar e se remexia como se estivesse com muito frio.

– Quieta, Jordan. – mandou Ana fazendo uma careta. – Já estamos apavorados o suficiente, ok?

– Não acha que ele vai aprontar alguma coisa, não é? – Henri virou-se para mim esfregando as mãos uma na outra para esquentar. Realmente estava frio ali, provavelmente por ser uma das áreas mais frias de Londres mesmo sem a neve. – Aqui é um bom lugar para uma “armadilha”. – ele fez aspas com os dedos para a palavra armadilha.

Revirei os olhos.

– Tyler não vai aprontar nada, acredite em mim. – resmunguei indicando para que fossemos para dentro. – Vamos, quero encontrar ele antes que fique bêbado demais para lembrar o próprio nome.

Nem preciso dizer que, no momento em que colocamos os pés para dentro da tal casa de Tyler, o plano todo poderia ter ido facilmente para o lixo. Ao contrário do que meu singelo inimigo dissera ao me convidar, havia apenas uns dois ou três artistas muito conhecidos, enquanto boa parte dos convidados eram apenas festeiros que ele deveria ter encontrado pelas pubs por Londres. De fato, agora a festa parecia sim ser alguma espécie de armadilha para nos impedir de seguir com o plano, mas isso não me impediu de continuar.

Era hoje que esse maldito admitia tudo.

Misturando-se às pessoas espalhadas pelos cômodos espaçosos da casa, eu mandei os gêmeos e Jordan passearem pelas pessoas e fingirem estar se divertindo, enquanto eu, Henri e Ana tentaríamos encontrar nosso alvo principal.

Porém, ao contrário do que eu achei, foi um tanto mais complicado.

Depois de perambular por todo o primeiro andar, não encontrei nem sequer sinal do dono da casa, apenas trombei com um produtor de cinema e uma atriz pouco conhecida que já vi em alguma série teen. Era como se Tyler tivesse nos jogado em um ninho de cobra e fugido com o veneno que nos salvaria.

– Você precisa ir sozinha ou ele vai suspeitar! – gritou Henri em meu ouvido por cima da música alta. Tocava algum mix de músicas típicas de pubs que mal me deixava ouvir os próprios pensamentos. – Eu vou procurar os outros com Ana e você vai atrás dele!

Com dificuldade, demorei para entender o que ele dissera, pois sua voz se misturava com a música e a letra muito constrangedora.

– Ok! – berrei quase perdendo a voz. – Não esquece de avisar o Will! Ele já deve ter encontrado Nathalie!

– Você lembra do plano, não é, Scar?

Engoli um seco. Eu me lembrava do plano que montei tão engenhosamente e com todos os detalhes com os gêmeos como apoio? Talvez sim. Poderia até lembrar de que deveria tentar arrancar alguma coisa de Tyler, uma confissão ou simplesmente qualquer coisa que poderia dar a entender que ele era o culpado de tudo. Mas estava nervosa demais para isso. Para sequer me aproximar dele, teria que relembrar tudo pelo o que passamos e inclusive a vez em que disse “eu estou completamente apaixonado por você, Scarlet” e meu mundo acabou.

Por vários dias de minha vida, eu tentei banir essa lembrança para o lado mais obscuro de minha mente, onde apenas as lembranças mais dolorosas e impossíveis se escondiam. Não queria relembrar a dor em seus olhos ou o fato de que, por pouco, eu quase o perdoei por tudo o que fez comigo no passado. Mas havia Henri e meu amor por ele, no qual me impedia de pelo menos tentar perdoá-lo.

Tyler Blackwell não deveria receber perdão nem ao menos uma vez.

– Claro que sim. – resmunguei um pouco baixo demais considerando a música alta que fazia meus ouvidos protestarem com um chiado alto e irritante. – Eu que montei o plano, não é? Acho que posso me lembrar de tudo.

– Tudo bem, mas cuidado.

Mesmo que eu já estivesse prestes a prosseguir, Henri pousou as mãos sobre meu rosto puxando-me de leve em sua direção apenas para depositar um beijo demorado em meus lábios. Foi um beijo repleto de hesitação e um medo que eu podia sentir de longe, algo como “cuide-se”.

Mas não havia nada tranquilo em sua expressão. Os olhos azuis praticamente faiscavam alertando-me de que estava entrando em uma zona perigosa e ele queria fazer de tudo para que eu não fosse.

– Vou ficar bem. – sussurrei para que apenas ele escutasse. Era como se o mundo ao nosso redor tivesse ficado em silêncio total e apenas nossas vozes podiam ser ouvidas. – Só siga o plano.

Henri assentiu e caminhou em direção ao lado de fora com Ana ao seu lado, quem olhou para trás antes de sair da casa com um olhar que quase dizia “boa sorte”.

Bom, eu precisaria.

Assim que eles se afastaram, eu me vi livre para fingir estar realmente aproveitando a festa de Tyler. Com um copo de bebida em mãos e usando o balcão da cozinha estilo americana como apoio para observar em torno de mim, fiquei por ali um bom tempo. As pessoas já pareciam bêbadas à aquela altura, muitos dançavam loucamente na parte que deveria ser uma sala de televisão e alguns pulavam sobre o sofá de couro como se fosse algum tipo de cama elástica. Eu tive que rir com isso ao imaginar a cara de Tyler ao ver seu sofá novinho em folha com manchas e sujo pelos pés descalços de seus convidados.

– E não é que minha rainha veio mesmo para minha festa. – alguém disse em meu ouvido. Estava próximo demais e eu podia sentir seu hálito quente contra minha pele quando dizia com um timbre forte. – Achei que ignoraria meu convite.

Usando o sorriso mais sarcástico de minha vida, mal pude evitar virar-me para ele e soltar as palavras para caçoar com a cara dele. Só havia um único problema: Tyler estava um tanto diferente. Os cabelos castanhos escuros haviam crescido um pouco mais do que eu notara da última vez que o vira e agora caiam cheios de charme sobre seus olhos também escuros que mais pareciam um tom de mel do que pretos. A pele morena brilhava pelas luzes da festa e com roupas inteiramente pretas, ele quase podia se misturar com a paisagem. O sorriso largo em minha direção por pouco não tirou meu fôlego caso eu não tivesse me lembrado de quem era seu dono.

Droga, Scarlet, ele é seu inimigo, lembra?!

– Por que eu ignoraria? – perguntei fingindo estar indiferente sobre sua proximidade e bebericando a bebida forte que mais cheirava a álcool do que qualquer coisa.

Ele riu com a pergunta com um meio sorriso que poderia fazer qualquer um cair de cabeça.

Ok, acho que o álcool está fazendo efeito.

– Porque você deixou bem claro que me odeia. – disse e roubou o copo de bebida de minhas mãos e tomou um longo gole mal se importando com meu protesto. – E seus amiguinhos? Onde estão?

Dei de ombros fingindo não dar muita importância para isso.

– Por ai. – murmurei tomando meu copo de volta.

Por ai? – repetiu ele com desconfiança. Claro que Tyler não acreditaria nisso, quem era eu para dizer que não me importava sobre onde meus amigos estavam. – Quer dizer que seu namoradinho já está largando você por ai, é? – ele negou como se estivesse indignado com isso. Hum, até parece. – Poxa, achei que ele tivesse mais medo de te perder para mim.

Ok, eu deveria ter me mantido indiferente, porém aquela frase quase me fez engasgar de tanto gargalhar. Eu tive que me contorcer de tanto rir, soltando um riso pesado de tanto sarcasmo e por ter realmente achado graça em sua presunção. Quer dizer, desde quando Henri tem medo de me perder para Tyler? É quase como dizer que uma mãe entregaria seu filho para um sequestrador! Não faz sentido.

Ainda rindo da frase dele, Tyler parecia ter ficado um tanto ofendido com o riso e por isso, tirou novamente o copo de minhas mãos e o pousou sobre o balcão da cozinha de sua nova casa. Eu estava a ponto de protestar quando ele agarrou minhas mãos e puxou-me na exata direção para onde Henri e Ana foram para encontrar os outros. Ele provavelmente me levava para o lado de fora da casa, onde a música não estava tão alta e poderíamos ao menos ouvir ao que o outro dizia.

– Para onde pensa que está me levando? – berrei por cima das pessoas a fim de que ele escutasse. A música parecia ter ficado ainda mais alta que antes e isso me impedia de tentar falar ainda mais alto. É, ele teria sérios problemas com os vizinhos depois dessa festa.

Em resposta e ainda me puxando pelas mãos, Tyler apenas piscou em minha direção e puxou-me por entre as pessoas bêbadas sem se importar se trombavam com ele ou se derrubavam copos cheios de bebida no piso novinho. Algo me dizia que aquela casa não aguentaria inteira até o final da festa ou até que a polícia resolvesse aparecer. Bom, eu já me surpreendia pelos novos vizinhos de Tyler nem sequer ligassem para a polícia para reclamar do barulho excessivo e pela presença de pessoas caindo bêbadas pela rua.

Ele me arrastou por entre as pessoas afastando-as sem muita dificuldade até estarmos enfim do lado de fora, onde apesar de ainda haver música alta, não era tão ensurdecedora como do lado de dentro. Não fazia a menor ideia do que Tyler faria ou o porquê de ter me arrastado com ele para a área da piscina sem nem sequer ter dado um motivo.

– Ok, o que está fazendo? – enfezada, soltei minhas mãos das suas que as seguravam com força. De sobrancelhas franzidas e uma expressão irritada, tentei parecer o mais sóbria possível.

Apesar de já ver tudo rodando apesar de um copo de bebida ingerido.

– Sequestrar você, rainha. – sussurrou ele um pouco perto demais novamente.

Fingi achar aquela sentença engraçada e um risinho um pouco nervoso demais escapou de meus lábios.

– Henri vai saber disso. – eu disse. – E não vai gostar nada.

– Não estou vendo ele por aqui para defender o que é dele.

Com um falso tédio, joguei-me sobre uma das cadeiras da pequena cabana de madeira bem em frente à piscina, a qual me lembrava muito a da casa de Tom. Era num formato redondo e meio irregular, sendo o lado mais fundo o que estava bem a minha frente. As pessoas que estavam nessa parte pareciam mais sóbrias, algumas sentadas à beira da piscina, outras conversavam tranquilamente pelo gramado e alguns bebiam alegremente cantando ao tentar acompanhar a música. Havia uma mulher entre as que cantava, eu já a havia visto em algum filme muito reconhecido internacionalmente, porém não conseguia me lembrar de seu nome, só sabia que já a havia visto antes.

Tyler, ao contrário de mim, sentou-se na cadeira puxando-a com cuidado em minha direção para enfim sentar-se com calma. Ele estava relaxado demais naquela noite, algo que sempre pensei ser o total contrário dele, já que sempre parecia estar em alerta ou apenas alheio ao que acontecia a sua volta. Tyler era uma pessoa confusa e difícil de compreender e apenas agora eu tinha a completa noção disso.

– Você fala como se eu fosse um objeto para o Henri, será que você ainda não aprendeu nada, Blackwell? – eu disse tomando um segundo gole do copo novo de bebida que ele pegou de alguma outra mesa. – Estamos nessa há anos e depois de tudo o que aconteceu, você ainda não sabe ser um ser humano?

Por um momento, pensei que ele fosse ter uma crise de raiva pelo o que eu disse, porém, Blackwell apenas deu de ombros e soltou um longo suspiro relaxado.

– E o que é ser um ser humano para você, White?

– Não tratar os outros como objetos. – lancei de uma só vez. – Sabia que eu tenho sentimentos? Sabia que Henri tem sentimentos? Tyler, o mundo não é como uma fada madrinha do filme da Cinderela, no qual você pode sair por ai realizando seus desejos como bem entende! Não é porque eu... eu não disse que o amava de volta que você pode sair por ai me beijando ou irritando meu namorado! Será que não consegue entender isso?!

Para a minha mais total surpresa, Tyler simplesmente riu.

– Fada madrinha do filme da Cinderela? Essa é sua comparação?

Revirei os olhos.

– Por favor, não me diga que isso foi a única coisa que ouviu.

Ele não respondeu de imediato, na verdade, apenas ficou ali me encarando por um longo tempo enquanto eu mal me movia constrangida por seu olhar estar tão fixo no meu. Blackwell sabia ser um tanto assustador, principalmente quando seu olhar parecia alheio a sentimentos, apenas duas órbitas negras me encarando sem emoções ou qualquer sinal delas.

Mas, interrompendo o medo que me dominava, Tyler riu baixinho.

– Não. – respondeu simplesmente. – Só achei sua comparação bem ridícula.

Eu deveria ter ficado ofendida com aquela fala, porém continuei em silêncio fitando o copo transparente em minhas mãos, no qual o líquido balançava lentamente de um lado para o outro conforme eu o balançava. Repassei o plano em minha mente segunda a conversa que tive com os gêmeos, Henri e inclusive Ana, quem se acabou de rir quando eu disse que tentaria arrancar algo de Tyler. Ela estava certa em rir, afinal, não seria nada fácil.

Porém, eu devia ao menos tentar.

– Sabe... – murmurei no instante em que um homem completamente bêbado passou ao nosso lado gritando algo como “festa na piscina!”. – Ainda não entendi porque convidou a mim e meus amigos. Você nunca foi com a cara deles.

De rabo de olho, percebi que Tyler ficara com os ombros rígidos assim que terminei. Sua posição já não estava nem um pouco relaxada compara a antes e isso só me fez pensar uma única coisa.

Peguei você.

– Hum... – Tyler deu de ombros sem olhar-me diretamente nos olhos. – Talvez eu estivesse tentando fazer as pazes com eles. Principalmente aquele seu... namorado.

Franzi o cenho.

Fazer as pazes? – repeti desconfiada. – Isso é sério?

– Bom, na verdade não. – Blackwell começou a rir no mesmo instante e aproximou a cadeira novamente para perto de mim. Agora, estávamos à uma cabeça de distância e eu mal sabia como agir. – Estava mesmo é tentando avaliar o nível de competição.

Pela segunda vez em tão pouco tempo, eu franzi o cenho. Não havia sequer um pingo de lógica no que ele estava dizendo, mesmo que fosse algo vindo de Tyler. Eu não conseguia compreender o que diabos era a tal competição dele e o que isso poderia significar.

– O que? – perguntei sem esconder minha confusão.

Próximo a nós, um grupo grande de convidados se atirou na piscina nova de Tyler a fim de estender a festa até lá. O resultado? Bom, não foi um dos melhores. Fomos atingidos por ondas de água no instante em que o grupo pulou e a música acabou ficando ainda mais alta para o lado de fora da casa, no qual estava muito mais agradável que o de dentro.

Irritada, eu me afastei de Tyler nem que fosse por um segundo para não ser atingida por mais nenhuma onda ou atropelada pelos bêbados que corriam em direção à piscina relativamente grande. Porém, o meio tempo em que me afastei, foi o suficiente para que ele me tomasse nos braços em uma espécie de abraço, onde seus braços prendiam os meus esticados em contato ao resto do corpo e nossos rostos ficassem tão próximos que eu podia sentir sua respiração quente em minha pele.

– Parece que a competição não é nada acirrada. – comentou ele ousado ao tirar meu cabelo do rosto e puxar meu queixo para cima bem em sua direção. – Já que ainda não vi seu namoradinho por aqui para me impedir de continuar.

– Ele vai mata-lo. – ameacei mesmo que, por dentro, estivesse quase gritando por ajuda. Talvez Henri ou meus amigos nem sequer estivessem próximos de nós e isso significaria que o plano iria por água a baixo.

– Tem certeza disso, White? – questionou pressionando mais os dedos contra a pele de meu queixo. Não havia escapatória. – Se ele fosse mesmo me matar, já teria o feito depois que eu acabei com o futuro da bandinha dele.

O que?

Meus olhos se arregalaram quando enfim eu ouvi sua confissão. Ele simplesmente havia jogado na minha cara que o havia feito, que desviara o dinheiro para acabar com a banda e incrimina-los. Com apenas uma ameaça e um sussurro, ele me dissera que havia de fato feito o que já sabíamos apesar de existir ainda uma incerteza

Eu estava a ponto de me soltar para correr dali quando seus braços me impediram rodeando-me com força e colocando-me com as costas pressionadas sobre a mesa da mini cabana à beira da piscina. Não havia como fugir, eu estava encurralada entre o criminoso e uma maldita mesa de madeira que parecia estar tentando quebrar os ossos de minha coluna.

– Foi você...

Minhas palavras foram interrompidas no instante em que seus lábios me impediram de continuar. Fortes e insistentes, ele os pressionou contra os meus a fim de abri-los e transformar aquilo em um beijo real e forçado. Porém, ao contrário de sua última tentativa, eu estava preparada e com muito mais força de vontade para impedi-lo de conseguir o que queria.

Bom, pelo menos eu tentei.

Quando Tyler enfim conseguiu abrir meus lábios e invadir-me apesar do movimento frenético de meus braços batendo em seu peito para afasta-lo de mim e os empurrões, alguém o afastou tão depressa que mal tive tempo de raciocinar sobre o que acontecia. Num instante, Tyler estava contorcido com o rosto voltado para o chão e Henri o jogando para o lado após um soco muito bem dado na região do estômago. Blackwell mal teve tempo de se recuperar e um Henri furioso já o jogava segurando-o pela gola da camiseta em direção á piscina lotada.

Logo, a gritaria se espalhou pela casa tapando até mesmo a música ensurdecedora do lado de dentro. As pessoas, que antes nadavam alegremente e dançavam ao mesmo tempo, agora corriam de forma desesperada para fora da água quando se deram conta da briga entre os dois, os quais pulavam um sobre o outro quase como se tentassem se afogar.

E de fato tentavam. Tyler tentou se defender segurando Henri pelos cabelos compridos e empurrando-o com força para baixo para dentro da água com profundidade um tanto funda. Por segundos intermináveis eles ficaram submersos até que enfim vi Henri sugando o ar para seus pulmões e mandando Tyler se afastar de mim ou de qualquer outra pessoa.

– Scar! – ouvi Ana em meio das pessoas. Logo, pude avista-la ao lado de Jordan, quem corriam em minha direção parecendo completamente boquiabertas com a situação da piscina. – Ai meu Deus!

– Alguém faça alguma coisa! – exclamou Jordan desesperada. – Eles vão acabar se afogando!

– Onde estão os gêmeos? – com as mãos nos ombros de Ana, eu meio que a balancei para tirar sua atenção da briga que acontecia e volta-la para mim. Com sucesso, Ana piscava de forma frenética e os lábios estavam entreabertos. – Droga, Ana, onde eles estão?!

– Eu não sei! – respondeu desesperada. – Ficaram conversando com uns convidados do Tyler e depois não os vi mais!

Eu estava em completo choque. Deveria tentar apartar a briga, mas também deveria ao menos tentar encontrar os gêmeos, pois algo de ainda pior poderia acontecer. Já não bastava a suspeita de que eles roubaram o dinheiro, uma briga em uma festa de um ator de Hollywood e alguns bêbados demais poderia causar de vez o fim da The Blue.

Mesmo que confusa, eu fiz a única coisa que me veio em mente. Rapidamente, segui para a beira da piscina onde eles ainda tentavam se matar e tentei chamar suas atenções. Mas de nada adiantou. Henri parecia furioso demais mandando Tyler ir para o inferno e nunca mais tocar um só dedo em mim. Já Blackwell, eu só conseguia ouvir palavras misturadas a água que ele cuspia ao ser quase afogado.

– Parem com isso! – berrei ao me aproximar mais da beira. – Henri, saia daí! Por favor!

Minha tentativa fora em vão. Eles nem sequer pareciam ter percebido minha presença na beira da piscina e muito menos os olhares chocados e curiosos dos convidados sobre os dois.

Irritada, eu tentei ficar bem à beira, onde acabava o concreto e começava o piso azul claro da piscina de forma irregular. Porém, assim que tentei gritar uma última vez com eles, senti meus pés escorregando no piso e logo não encontrei mais o chão.

E assim, mergulhei na escuridão.

[...]

Meus olhos se abriram com dificuldade no início logo que senti a luz forte. Eu deveria estar em algum lugar com alta luminosidade, talvez muitas janelas e poucas cortinas. Confusa, tentei me levantar apenas o suficiente para ficar sentada sobre as almofadas macias que pude distinguir, porém assim que tentei, uma dor de cabeça um tanto violenta me impediu de prosseguir. De leve, toquei a pontinha dos dedos sobre o local que a dor parecia atacar e tive que fazer uma careta ao tocar um local sensível e muito mais dolorido do que pensei que estaria.

Novamente tentei me colocar sentada e pelo menos dessa vez consegui. Apesar de minha cabeça parecer estar pesando toneladas, a pousei encostada à parede logo atrás da cama e aos poucos fui tentando reconhecer o local onde estava – guarda roupas num tom de branco, prateleira de livros, pôsteres de bandas de rock... eu conhecia aquele quarto.

– Tome, é um analgésico. – disse alguém ao meu lado. Tinha a voz grave, porém num tom doce e um tanto educado. – Vai melhorar a dor de cabeça.

Henri estava sentado à beira de sua cama com a mão esticada em minha direção com um pequeno remédio branco repousando na palma. Ele usava roupas quentes, como calça jeans azul clara e um moletom de capuz verde musgo. Apesar de um meio sorriso estampado nos lábios, ainda não pôde mascarar o fato de que havia um hematoma em seu olho esquerdo e uma linha vermelha, quase um corte, se estendia fina dos lábios até quase o fim do queixo.

Em silêncio, eu peguei o analgésico e aceitei o copo de água que me ofereceu logo em seguida.

– O que... o que aconteceu? – gaguejei um tanto tonta apesar de não sentir que tudo rodava a minha volta. – Não me lembro de nada.

Henri pegou o copo agora vazio e colocou-o sobre a escrivaninha logo ao lado da cama, onde um violão estava posto logo acima, ocupando todo o espaço da mesa.

– Sorte sua que não consegue se lembrar. – disse ele numa clara brincadeira. – Eu estava com Ana e Jordan procurando por você quando cheguei na parte de fora e encontrei ele a agarrando. – Henri fez uma careta. – Eu... hum, fiquei um pouco irritado demais e arrumei uma briga bem feia com ele. E você tentou nos separar, mas acabou escorregando na beira da piscina e bateu a cabeça.

Com o cenho franzido, aos poucos eu conseguia me lembrar de tudo o que acontecera. Lembrava-me de ter tentado ter uma conversa amigável com Tyler, porém após ele dizer algo um tanto revelador, ele me agarrou e quando estava me beijando, Henri surgiu de repente e começaram a tal briga. Logo, eu me lembrava de boa parte do que acontecera na festa de meu colega de trabalho bad boy, principalmente a parte de escorregar e mergulhar numa escuridão barulhenta e molhada.

– Fiquei desesperado quando você caiu na água. – murmurou ele mais para si mesmo do que para mim. Encarando aos próprios dedos, Henri parecia solitário e triste pelo ocorrido, sentimentos que combinavam com o hematoma em seu olho e os outros que deveriam existir pelo corpo. – Me livrei de Tyler e tirei você de lá. Foi... assustador, Scar.

Mesmo que estivesse com uma dor de cabeça dos infernos e sentisse uma fraqueza se espalhando pelos meus membros, forcei meu corpo para me aproximar um pouco mais dele até estar sentada bem atrás dele. Minhas pernas estavam envoltas pelo cobertor, porém ainda assim pude me aproximar mais até enfim estar ao seu lado para poder abraça-lo pelas costas. Ficamos daquele jeito por um longo tempo até eu senti-lo virando-se para trás a fim de depositar um beijo em minha testa.

– Obrigada por me salvar. – eu disse num tom brincalhão e sério ao mesmo tempo. – Sabia que você seria meu herói a final de contas.

Henri começou a rir.

– Eu? Herói? – ele negou com um enorme sorriso triste nos lábios. – Exagerada.

Antes que eu pudesse responder, um som alto de alguém abrindo a porta do quarto com força me interrompeu e ali, surgiu um Will de mãos na cintura e expressão decepcionada.

– Ah, por que será que eu sabia que vocês já estariam se agarrando a essa hora da manhã? – questionou sarcástico. – Deus me livre, margarida, desgrudem um pouco!

– Bom dia para você também, Will! – exclamei rindo. – Ao que devo sua entrada triunfal?

Combinando com minha pergunta, ele fez uma pose ainda mais elaborada que a primeira, só que com o quadril um pouco mais empinado para o lado, a mão direita sobre o cabelo castanho escuro e uma expressão fatal nas feições.

Claro, eu e Henri começamos a rir de novo.

– Os gêmeos acabaram de chegar. – disse ele voltando ao normal. – Nem queiram ver as caras daquelas criaturas. Parece que foram eles quem brigaram. Fora que Noah está mais tonto que galinha depois do abate.

Franzi o cenho.

– Galinhas depois do abate? Mas elas não perdem as cabeças, Will?

Revirando os olhos, ele indicou para que descêssemos logo.

– Não importa, elas ficam tontas de qualquer jeito! Andem, margaridas, temos muito o que conversar.


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Notas finais do capítulo

Eu (sinceramente) acho que o Will tem probleminhas... hahahah
o que acharam? Mereço comentários? Tomara que sim! Beijos xx