London Love escrita por Gi Carlesso


Capítulo 30
Um trato com o diabo dos filmes


Notas iniciais do capítulo

Eu já disse que amo vocês? Se já disse, vou dizer de novo: EU AMO VOCÊS!! Cara, vários leitores fantasmas comentaram pela primeira vez e isso me deixou a pessoa mais feliz do muuuuuuuuuuuuuuuuuuundo! Obrigada por terem saído do anonimato e comentado o último capítulo! Vocês precisam fazer mais isso, foram comentários ótimos! Obrigada de coração, esse capítulo vai para esses que comentaram! :*



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– E então, Scarlet, por que mentiu para mim?

Se havia um momento em que eu queria me jogar de uma ponta, esse era o momento. Tom tinha os olhos fixos em cada mínimo movimento meu, como se com eles, ele pudesse detectar qualquer sinal de uma possível mentira. Por um mero segundo, pensei em mentir, porém percebi que isso apenas adiaria uma briga ainda pior e seria mais complicado. Eu precisava contar a Tom a verdade, estava na hora de colocar as cartas na mesa de uma só vez sem se importar com as consequências.

Mas é claro que haveria consequências. Não apenas para mim, mas também para o próprio Henri, quem prometera para meu pai que não chegaria nem perto de mim. Droga, estávamos ferrados.

– Pai, eu...

– Não quero mentiras. – interrompeu-me ele. – Chega de mentiras, Scarlet. Eu quero só a verdade e não me venha com “somos só amigos”, pois amigos não se abraçam desse jeito.

Deixando-me ainda mais chocada, Tom pegou seu notebook – o qual estava em algum ponto na mesinha que centro que eu não percebera antes – e apontou na direção da tela do aparelho. Ali havia uma espécie de reportagem postada a pouco tempo, onde havia uma fotografia bem ao centro da página com eu e Henri sentados em um gramado abraçados. Eu me lembrava daquele momento vividamente, quando abracei Henri por nossa quase briga em relação a Grace. Porém, mal havia reparado que realmente estávamos abraçados de uma forma muito sentimental, algo que nem poderia se comparar a um abraço entre amigos. A forma com que os braços de Henri se apertavam a minha volta e o jeito em que meu rosto se escondia em seus ombros revelava algo que Tom provavelmente percebera.

– Tudo bem, pai. – levantei-me do sofá de maneira em que eu pudesse ficar de frente para ele, sendo separados apenas pelo braço do sofá. – Vamos falar sobre a verdade. Como você sabe, eu sou a madrinha da The blue, porque os meninos me pediram e me consideram uma grande amiga deles apesar de não nos conhecermos à muito tempo. Eu sou amiga de Will, Noah e Zack. Mas... não sou amiga de Henri Price.

Tom me observava atentamente avaliando minhas palavras sem demonstrar qualquer tipo de expressão. Eu não fazia a menor ideia do que se passava na mente dele, algo que fora o bastante para me deixar um pouco apavorada.

– Continue. – mandou ele com voz neutra.

– Eu...- engoli um seco. – Eu estou namorando Henri há alguns meses.

Foi rápido, claro e direto o bastante para que eu cruzasse meus braços da mesma forma que ele e o encarasse esperando por uma reposta. Estava assustada, claro, porém nem por isso demonstrava usando o que eu aprendera no estúdio de gravações do filme. Ok, eu não estava atuando na frente de meu pai para que ele não soubesse que eu estava apavorada, apenas agia de uma forma para mascarar o que se passava em minha mente.

Tom fechou os olhos soltando um longo suspiro. Eu não esperava aquele tipo de reação calma e controlada, afinal, eu havia mentido feio para ele durante meses e ainda por cima, namorando uma pessoa que ele menos queria.

– Scarlet, eu disse que não queria que se envolvesse com aquele garoto irresponsável. Eu trabalho com artistas e sei como eles agem, são fúteis e ignorantes, só ligam para a própria imagem! E aquele garoto não é diferente! Ele está me enfrentando, Scarlet! Sabe que não posso tirá-lo da banda, porque isso vai afetar a banda e por isso fica tentando me enfrentar! Henri está te usando!

Franzi o cenho deixando totalmente claro meu choque.

– Henri não é fútil e muito menos ignorante, Tom. – Indaguei. Havia deixado de lado o tipo de conversa entre pai e filha, afinal, aquilo estava passando dos limites. Henri me usando? Oi? – Quando conheci ele e os meninos, Henri foi seco e imbecil comigo tentando se afastar de mim! Ele estava fazendo isso por sua causa! Ele fez de tudo para ficar longe de mim, mas... pai, isso é uma coisa que acontece sem as pessoas quererem! Não tem como mandar no coração.

– É claro que tem! – explodiu. – Scarlet, ele não ama você ou seja lá o que for que ele disse! Henri só quer fama, quer aparecer na mídia e de que jeito melhor aparecer em todos os sites e revistas do que namorando a filha de Tom White?! É uma jogada de Marketing, Scarlet!

Jogada de marketing?

– Se é uma “jogada de marketing”, por que ele ficaria comigo por tanto tempo sem aparecer na mídia? Se ele queria fama, teria contado para todo mundo!

Não fazia sentido. Não podia ter sentido. Henri não me usaria para uma jogada de marketing só para aparecer na mídia e conseguir fama sobre isso. Não, ele não faria isso comigo. Eu conhecia ele o bastante para saber que ele gostava de mim, pois fizera de tudo para que nosso relacionamento não fosse entregue de bandeja para fofoqueiros e muito menos para que Tom soubesse. Ele discutiu com o fotógrafo para que ele não vendesse as fotos e ficou desesperado quando percebeu que não conseguiu. Henri não faria isso comigo.

– Não importa. – Tom estava mais sério que antes, tão furioso que seu rosto começava a ficar vermelho. Colocou o notebook que ainda carregava sobre a mesinha de centro e voltou a me encarar. – Não importa o que ele disse até agora. Você pode até ser a madrinha da The Blue, mas quero que esse namoro acabe agora mesmo. Você não vai mais ver Henri Price e se ver, será em eventos e só ficará ao lado de Noah, Zack ou Will. Quero que desminta sobre o relacionamento e conte que estava consolando ele por algum motivo como amiga. Eu cuido da imagem da banda e de seus trabalhos com a música, então, acho que esse namoro não é favorável para a imagem da The blue. Por isso, ele não vai acontecer.

Tom mal acabara de falar que já estava a caminho das escadas pronto para dar as costas e ir embora para algum lugar no andar de cima da casa. Eu estava sem reação alguma ainda encarando o mesmo ponto onde ele estava segundos atrás. Suas palavras não pareciam querer entrar em minha cabeça, como se eu estivesse me recusando de aceita-las.

E realmente estava.

Me afastar de Henri e encarar tudo isso como se nunca tivesse acontecido? Ver os meninos e ele como se eu não o amasse, como se nem nos conhecêssemos direito? Eu não podia fazer isso. Era loucura demais. Aquela era o tipo de tortura que eu não conseguiria aguentar nem ao menos tentando.

Irritada, corri em direção a meu pai, quem se preparava para subir as escadas para impedi-lo e deixa-lo sabendo de minha opinião sobre a proibição.

– Pai, eu sou maior de idade, você não pode me proibir de ver ele! Eu posso até desmentir sobre o namoro, mas não vou ignorar Henri como se ele não existisse!

Tom se virou rapidamente na minha direção, ficando cara a cara comigo parecendo ainda mais enfurecido que antes.

– Você vai sim fazer isso, porque eu sou seu pai! – esbravejou ele. – Você mora comigo e sou responsável por você, Scarlet. Eu já disse, está proibida de ver ele a não ser que ele esteja com os outros garotos da banda! Agora vá jantar, amanhã precisa acordar cedo.

Eu estava furiosa. Tom não me escutava, não importava o que eu dissesse e minhas chances de fazê-lo mudar de ideia estavam se tornando mínimas. Irritada, fechei minhas mãos em punho antes de cobrir o rosto num ato espontâneo. O fato de estar irritada, acabou deixando-me tão nervosa, que lagrimas começaram a escapar de meus olhos, algo que eu não queria que ele visse. Não queria que visse o quanto isso me afetava, apesar de ser algo positivo para mim. Mas, eu sabia que nem ao menos as lágrimas conseguiriam arrancar dele um ato bondoso.

Tom já tinha se decidido.

– Como você pode pensar que pode mandar em mim desse jeito depois de tudo o que eu passei na vida? – minha voz entrecortada havia entregado o choro, porém eu não ligava. Tudo o que se passava em minha mente era ódio e uma tristeza que eu odiava sentir. Levantei meu rosto encarando-o fixamente nos olhos, mostrando a raiva que queria que Tom visse. – Você parece querer dar um bom exemplo como se Henri fosse uma má influencia para mim, sendo que não foi ele que abandonou a filha criança com os avós em outro continente! E se quer saber, eu concordo com ele. Eu não deveria perdoar você, mesmo que tenha me contato sobre minha mãe e o que aconteceu com ela. Se você fosse um bom pai, teria pelo menos tentado me criar.

Dessa vez, fora eu quem deu as costas. Mas ao contrário dele, corri para fora da casa não me importando com o barulho alto que a porta fez quando a bati com força. Atravessei o jardim da frente correndo para a parte de trás da casa, pulando as cercas pequenas e os arbustos repletos de flores. Ali, havia uma piscina extensa com diversas cadeiras de sol, as quais estavam colocadas uma ao lado da outra de forma arrumada. Todo o jardim estava silencioso, porém não fora isso que eu queria. Silêncio não era o bastante agora, eu precisava ficar longe de todos os tipos de sons.

Movi meus pés com mais rapidez à medida que chegava mais perto da água, o único lugar que eu poderia ficar em silêncio.

E depois de um salto, afundei na piscina.

[...]

– Scarlet, precisamos terminar de colocar o figurino em você. – estava em um transe total provavelmente encarando algum ponto cego entre a arara com os figurinos e a mesa com a maquiagem. Megan estava ao meu lado com uma das mãos pousadas sobre meu ombro de uma maneira solidária. – Está tudo bem, querida?

Pisquei algumas vezes antes de assentir para Megan, vendo-a sorrir em resposta e mandar um homem e uma garota me ajudarem a vestir as roupas de Valentina. Fazia alguns dias que eu não via os vestidos um pouco vulgares e chamativas de minha personagem, tanto que havia desacostumado em vesti-las direito sem ajuda de alguém da produção. Porém, com o que acontecera na noite passada, minha mente havia ficado ainda mais confusa fazendo com que eu não conseguisse me concentrar em nada.

Depois de sair da piscina mal conseguindo nadar por estar sem ar, subi para meu quarto sem ver ninguém e muito menos jantar. Ana não falara comigo de manhã, apenas disse que voltaria mais tarde da faculdade por conta de alguns trabalhos. Eu não respondi logo de cara ou talvez tenha dito “ok”. Não me lembro muito bem.

Assim que cheguei de manhã no estúdio – várias horas antes das filmagens começarem, na verdade – Jason percebeu logo de cara que eu não estava bem, tanto que me deu alguns conselhos de como organizar as coisas em minha cabeça. Deu-me alguns exercícios que ele mesmo fazia antes de ir trabalhar, os quais poderiam me ajudar a atuar sem misturar os pensamentos do que aconteceu com meu pai.

Às vezes acho que Jason é um anjo.

Dirigi com passos mecânicos em direção ao local da primeira cena, onde eu teria que fazer Valentina dando algumas ordens. Não era uma cena muito complicada, eu teria apenas que soar furiosa e muito mandona, algo que, no momento, seria até mesmo convincente já que estava me sentindo daquela forma.

– Essa carranca não combina muito com você, majestade. – apesar de não sentir vontade nenhuma de me virar em direção à aquela voz que eu conhecia muito bem, olhei de rabo de olho para Tyler ao meu lado. Ele estava sentado no mesmo banco que eu apoiando seus braços sobre os joelhos, de maneira que pudesse encarar-me fixamente.

– Estranho você dizer isso, principalmente por ser apenas o comandante das tropas. Ou seja, não é da sua conta. – imitei a exata voz de Valentina, entrando naquela “piada” que ele criara.

– Se tornou da minha conta quando você me chamou de “zé ninguém” discretamente.

Se aquela conversa acontecesse em outro momento, eu estaria rindo daquela frase de Tyler. Estaria rindo de verdade, pois fora engraçada. Porém, agora eu não tinha vontade alguma de rir, apenas de ouvir o que as pessoas tinham a dizer e falar o mínimo possível.

– Deixe eu adivinhar, White. – murmurou ele estudando-me com os olhos. – Seu pai descobriu sobre seu namorado secreto e não gostou nadinha. Ah, e proibiu vocês dois de se verem, porque ele é famoso.

Franzi o cenho. Ok, como ele sabia?

– Como você...

– Eu leio revistas e sites de fofocas, White. E não precisa ser muito inteligente para entender o que aconteceu.

Bufei. Ótimo, se Tyler já entendera tudo com tanta facilidade, as fãs saberiam tão rápido quanto ele sobre eu e Henri e poderiam acabar me linchando na rua. Era tudo o que eu mais precisava: odiar meu pai, ser proibida de ver meu namorado e ainda por cima, ser ameaçada 24 horas pro dia por fãs raivosas.

Tampei meu rosto com as mãos sem conseguir esconder muito bem o quão desanimada estava com tudo aquilo acontecendo. Não me importava se estava bem ao lado de Tyler e que o odiava o bastante para manda-lo sair de perto de mim, era quase como se aquele momento me fizesse esquecer a aversão que sentia dele. Bom, eu tinha coisas piores para resolver.

– Sobre as recaídas...

– Olhe, eu vou ajudar você ainda. – interrompi. Ok, eu não fazia a menor ideia do que estava fazendo ou falando. – Posso ter mil e um problemas, mas não quero você envolvido com drogas e muito menos atrapalhando as filmagens. Esse filme é muito importante para mim e quero que tudo saia perfeito. Não vou te ajudar porque gosto de você ou seja lá o que foi que está passando na sua cabeça. Só quero ajudar, porque tenho medo de seus problemas atrapalhares esse projeto e ferrar com tudo.

Tyler me encarou com certa surpresa. Ele realmente não esperava que eu concordasse em ajuda-lo sendo que minha vida estava uma verdadeira bagunça, provavelmente muito mais do que a dele. Mas, de qualquer maneira, eu sabia que os problemas de Tyler poderiam ser facilmente resolvidos, ao contrário dos meus, que necessitavam de uma dose de coragem que eu não teria nem se implorasse de joelhos. Eu o ajudaria rápido, porque já tinha algumas ideia em minha mente.

– E qual é o seu plano de me ajudar, White? – perguntou ele curioso.

– Você precisa se concentrar no trabalho e parar de pensar em coisas ruins. Ou seja, nada de ser negativo. Você precisa de distrações, coisas que possam ajuda-lo a esquecer qualquer problema ou coisa que não pode resolver. – eu disse. Poderia até dar certo, mas eu não fazia a menor ideia de qual seria a reação dele. – Eu não posso mais ser vista com Henri, então vou ajuda-lo com a distração. Vamos sair juntos de uma maneira amigável que faça a mídia pensar que você está se dando bem comigo e com o trabalho. Desse jeito, vai passar uma imagem boa para nós dois. E vão esquecer sobre eu e Henri.

Tyler ficou em silêncio por alguns segundos. Talvez estivesse avaliando as opções e se aquilo era realmente favorável para ele. Bom, na verdade era para nós dois. Meu plano resolveria nossos problemas de uma vez só, fazendo com que eu o ajudasse a se recuperar, traria uma boa imagem para nós dois e consequentemente, para o filme. E além disso tudo, as pessoas esqueceriam que eu namorava Henri Price.

E foi então que surgiu em minha mente uma pergunta que eu mesma não conseguia resolver. Eu namorava Henri Price? Eu estava concordando em me afastar dele por causa de meu pai?

É, eu estava fazendo isso.

Não apenas porque estava ficando louca e magoada comigo mesmo, mas sim porque estava cansada de mentir para Tom e achava que ele merecia pelo menos uma vez algo bom sobre nosso relacionamento de pai e filha. Eu não concordava em me separar de Henri, principalmente porque meu coração doía no peito ao pensar nisso, mas tinha que tentar.

Por mais horrível que parecesse.

– Então vai fazer o que seu pai mandou? – Tyler franziu o cenho. – Isso não parece ser muito legal para você, Scar.

– Não importa. – engoli o choro que ameaçava escapar. Tive que piscar algumas vezes para não chorar e entregar o quanto aquilo me destruía por dentro. Isso, porque ainda não falara com Henri. – Aceita fazer isso ou não?

Ele mordeu os lábios de forma pensativa. Eu conhecia muito bem aquela expressão de Tyler – ele estava concordando mentalmente, porém estava avaliando se a situação era muito favorável para ele mesmo. Tyler não dava a mínima de verdade para o que eu estava sentindo, ele só queria se dar bem no final das contas.

– Vamos apenas sair como amigos, certo?

– É claro, Tyler. – revirei os olhos. – Mesmo que me pagassem, eu jamais namoraria você apenas por um truque de mídia. Sinto muito, mas vamos sair apenas como amigos para mudar sua imagem e distraí-lo das recaídas e problemas.

Tyler assentiu debilmente. Ainda havia rastros de dúvida em seu rosto, porém ele parecia um pouco mais decidido que antes.

– E o que você vai fazer com seu queridinho cantor?

Cerrei os olhos.

– Isso não é da sua conta.

Ele nem ao menos disfarçou a gargalhada cínica que soltou logo em seguida.

– Querida, passou a ser da minha conta no momento em que disse que teremos que sair juntos como amigos para melhorar nossas imagens.

– Vai à merda, Blackwell. – revidei ouvindo-o rir novamente. – E então, vai aceitar o trato ou não?

Ele esticou a mão direita em minha direção num sinal para que eu a apertasse. No momento em que fiz o mesmo e senti sua mão cobrindo a minha em um comprimento nada amigável de trato feito, senti que estava fazendo um acordo com o diabo.

– Trato feito, White. – um sorriso malicioso surgiu em seus lábios. – Vai ser ótimo trabalhar com você.


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Notas finais do capítulo

Só eu tenho a impressão que isso não vai dar certo? '-'
Espero que todos comentem esse capítulo também hein? Se eu ver vários comentários, posto o próximo amanhã mesmo!
Beijocas :) x