POV’ Noah

Aquela tal de Angel conseguia me tirar do sério de uma maneira descomunal.

Tudo que ela fazia conseguia me deixar irritado, mas principalmente o fato de que ela não conseguia respeitar o meu espaço.

Quero dizer, ela sentava no meu lugar do sofá, escutava música no meu rádio, comia o meu cereal e tomava banho no meu banheiro. Mas a pior coisa era que ela demorava milênios para tomar banho. Tipo, eu demorava dez minutos para tomar banho, e ela não satisfeita de roubar tudo que era meu, demorava exatamente trinta e quatro minutos e meio no banho.

Tipo o que estava acontecendo naquele momento.

- Mas que droga! Sai logo desse banheiro, Angel! – eu esmurrei a porta mais uma vez. Ela tinha conseguido me tirar do sério. Ela estava fazendo não sei o que, já que o chuveiro estava desligado.

- Já vou! – ela gritou, com aquela voz irritante que só ela tinha.

- Você disse isso há dez minutos!

- Pode me deixar em paz?! Já estou indo!

Depois de uns cinco minutos, a porta abriu. Ela tinha um sorriso petulante nos lábios.

Garotinha idiota, eu pensei.

- Pronto. Satisfeito? – ela perguntou, colocando as mãos na cintura.

- Na verdade não. Por sua causa, eu tenho que tomar banho correndo. A aula começa em menos de vinte minutos – eu dei o mesmo sorriso, e ela girou os olhos.

- Não me importaria de faltar hoje.

- Tudo bem, garotinha burrinha. Por mim, tudo bem. Mas e sua mãe? Ela deixaria?

Angel bufou e me empurrou para passar.

- Você tem dez minutos para tomar café da manhã! – eu disse. - Ao contrário de você, eu me preocupo com o ambiente e economizo água!

Entrei no banheiro e tranquei a porta.

…

- Nem pensar! Eu não ando nessa coisa! – ela gritou, apontando para Michelle.

- Qual é, Anjinho. Michelle é inofensiva.

- E você ainda colocou nome nesse monstro que você chama de moto?! Que ridículo! – ela levantou as mãos. - E a propósito – ela disse se virando para mim e colocando o dedo indicador no meu peito –, nunca mais na sua vida me chame de Anjinho, ou vai acordar debaixo do Oceano Atlântico, respirando por um tubo.

- Tudo bem, me desculpe. Temos exatamente cinco minutos para chegar na escola. Quer ir a pé? Eu não me importo.

Ela bufou e pegou o capacete.

Coloquei o meu capacete e sentei na moto. Ela sentou atrás de mim e me agarrou forte. Enquanto andávamos, achei que ela quebraria minhas costelas.

…

Quando chegamos e eu parei no estacionamento, ela pulou da moto, abriu o compartimento, pegou a mochila e saiu correndo.

Só depois desse gesto que eu percebi que ela tinha pontas rosa no cabelo loiro. Ridículo, pensei.

Esperei ela sumir da minha vista e fui até o portão principal.

Fiquei olhando entre os alunos, para ver se achava algum dos meus amigos, ou se achava minha namorada, Dallas.

Quando a achei, ela arrumava os livros no armário azul. Ela usava aquela roupa de líderes de torcida, que só a deixava mais bonita. Ela tinha aquele sorriso lindo nos lábios.

Corri até ela e coloquei minhas mãos em seus olhos.

- Quem será? – ela perguntou, segurando minhas mãos.

- Adivinhe – eu disse, com a voz mais grave.

- Senti sua falta nas férias, Noah.

Ela tirou minhas mãos de seus olhos e se virou para mim. Colocou seus braços em volta de meu pescoço e me beijou. Só naquele momento que eu percebi que sentia falta daqueles lábios levemente rosados que ela tinha.

Quando fomos para a sala, alguns dos meus amigos estavam lá. Era a aula de inglês avançado, e alguns alunos de outros anos estudavam junto com a gente.

Mas eu realmente me surpreendi quando Angel entrou por aquela porta e olhou para mim. Dallas estava sentada na minha mesa e sorria, e Angel ergueu levemente as sobrancelhas.

Por favor, não venha para cá. Por favor.

Mas ela foi. Sentou ao meu lado.

- Como vai, Noah? – ela perguntou, colocando a bolsa ao lado da carteira.

- O que você quer agora? – eu perguntei, levemente irritado.

- Essa dever ser a sua namorada, não é?

- É claro.

- Não vai a apresentar para mim? – ela colocou os cotovelos na mesa.

- Quem é ela, Noah? – Dallas perguntou.

- Não se preocupe, sou só a nova irmãzinha dele. Mas sabe, eu acho que você merece coisa melhor que ele. Tipo, ele é um porco e...

- Angel, ale essa boca agora! – eu gritei. Olhares desnecessários foram lançados para mim.

- Tudo bem, me desculpe Noah! Só queria conhecer a sua namorada. Somos irmãozinhos agora, não somos? E irmãzinhas precisam conhecer a namorada do irmãozinho  – ela fez uma cara de cachorrinho pidão. Ela era uma garotinha muito atrevida.

- Tudo bem. Pode sentar em outro lugar? Dallas estava sentada aí.

- O.k. Tchau maninho, tchau Dallas - ela chegou até mim e me deu um beijo no rosto.

Ela pegou a mochila e foi para trás. Logo vi que um dos meus amigos, Zach, a chamou para sentar ao lado dela.

Não tive coragem de pedir desculpas para minha namorada.

Mas Angel ia me pagar, e bem caro.