Percy Jackson E A Legião Da Luz escrita por Christhian Costa


Capítulo 20
Episodio 2 Capitulo 10




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Capitulo 10

Edgar

Quando os pássaros gigantes cercaram o navio meu dia já estava sendo tão difícil que pensei “ Ah, galinhas gigantes voadoras azuis, vai precisar um pouco mais que isso para me impressionar agora”.

Os pássaros eram no mínimo diferentes, até para os padrões “bichos esquisitos” que a legião tinha, as asas cheias de penas azuis espessas, tinham uma envergadura de quase 6 metros, comparável a um draconete ( wivern se preferir),  as penas da cabeça tinham mechas douradas que refletiam a luz daquele sol, porém o maior detalhe era que preso às costas dos pássaros havia algo que se assemelhava a uma cela, haviam quatro pássaros cercando o navio, mas só conseguia ver com clareza dois deles e em ambos as celas estavam vazias e aqui culpo meu estado por não perceber o que estava por vir a tempo de reagir.

— Mas merda é essa? — Ouvi Leo gritar dos controles e me virei a tempo de ver dois homens usando uma armadura azul se aproximarem dele enquanto Dakota ficava entre eles e Jonathan já estava no chão — Piratas voadores agora?

Quando consegui me levantar por um momento uma grande vertigem me abalou e sem que eu visse outros dois guerreiros subiram pela amurada da proa e vinham em minha direção, para meu azar esses tinham pequenas balestras como armas e eu estava exposto e zonzo demais para reagir a tempo, mas antes que eles pudessem fazer algo uma corda amarrou o primeiro dos pés à cabeça o fazendo cair no chão, Ana estava em pé, apesar de ainda encostada no mastro, com a mão levantada em minha direção, mas isso a expos e guerreiro mirou a balestra na direção dela, ela tinha acabado de salvar minha vida a segunda vez naquele dia e por mais que ela parecesse me detestar não a deixaria morrer, então ergui a mão esquerda apontada para as costas do guerreiro e convoquei a magia:

— Sclacies Silex — Um círculo de energia azul se formou rapidamente na palma da minha mão e uma pedra de gelo do tamanho de um punho foi disparava com tanta velocidade e força que o guerreiro foi atirado até a amurada do navio onde pareceu desmaiar e precisei de força para não fazer o mesmo por usar energia demais desde o portal, mas ainda me forcei a ir até Ana — Ei, muito obrigado, duas vezes, mas deve haver mais deles e precisamos ir para dentro do navio e chamar os reforços.

— De nada, mas antes precisamos ajudar... — Ana começou a falar, mas foi cortada pelo som dos gritos de um guerreiro em chamas se atirando pela amurada e olhamos a tempo de ver Dakota carregar outro e dar um golpe com ele no chão, digno de luta livre, o soldado não pareceu capaz de levantar depois daquilo — Deixa pra lá.

Corremos até os controles onde Leo apertava botões freneticamente e nada parecia responder, olhando com mais cuidado podia ver sangue escorrendo de um corte acima da orelha, a roupa com rasgos, Dakota tinha um olho roxo digno de um prêmio e ajudava Jonathan a levantar que parecia estar com galo na cabeça.

— Certo senhor abridor de portais — Leo disse se afastando dos controles quando nos viu — O navio não está respondendo, e estamos sendo atacados por piratas voadores de outra dimensão, o que pela barba fumegante Hefesto a gente faz?

— Se abaixa! — Dakota gritou para nos protegermos e vários disparos de balestras atingiram o navio, mais pássaros estavam se juntando aos demais.

— Precisamos entrar, agora — Eu disse me levantando e correndo para as escadas e Ana ao meu lado, Dakota e os outros logo atrás, quando descemos a escada Ana segurou o braço e notamos que havia um longo corte nele.

— Ah, esses grandes filhos da...— De repente Ana caiu para a frente e precisei segura-la — Uh, sonífero...Merda.

Ana apagou em meus braços e a encostei na parede do navio e me virei para Dakota:

— Vocês precisam leva-la para a enfermaria o mais rápido possível e ver quem está consciente para nos ajudar.

— Sem essa de querer segura-los sozinho — Leo disse — Mesmo que consiga não fará diferença se eu não puder fazer os controles voltarem a funcionar e tenho certeza que Dakota consegue carrega-la sem muito esforço.

— Não, você não vai conseguir fazer funcionar dos controles se aqueles caras ficarem atirando — Jonathan falou encostado na parede, estava se esforçando para tentar ficar em pé e o um dos olhos parecia estar criando bolhas de sangue — A viagem deve ter feito o navio entrar em modo de segurança, funcionamento básico apenas, quartos trancados, máscaras de oxigênio, esse tipo de coisa.

— Mas que história é essa, num momento desses não dá pra ter esse tipo de problema, pra que um negócio desses? — Leo disse, parecia realmente aborrecido com o fato de que não tinha conhecimento de tudo sobre o navio.

— Isso não importa agora — Jonathan começou a andar com algum esforço — Há uma segunda plataforma de controle, só tenho que chegar lá e devo poder reativar o navio.

— Tem certeza que consegue chegar lá? — Dakota perguntou.

— Eu preciso — Jonathan respondeu firme — Assim como você precisa levar Ana para a enfermaria, as portas devem abrir independente do estado do navio.

— Então vá filho de Hefesto, contamos com você — Dakota disse para Jonathan que já ia para o interior do navio, então Dakota se abaixou e a carregou Ana — E a vocês desejo uma boa sorte, acertem-nos com força por mim.

— Certo, qual o plano? — Leo perguntou depois de Dakota ir.

— Bem, não tenho um exatamente — Respondi — Mas esses caras são organizados demais para piratas, talvez possam ser as tropas que estão lutando contra Azalas.

— Talvez o tal de Rilvar esteja com eles — Leo disse começando a mexer na parede do navio — Mas mesmo assim eles parecem não estar muito afim de bater um papo amigável.

— E quem é que estaria assim no meio de uma guerra e de qualquer forma se quisermos conversar preciso lançar uma magia sobre o navio já que eles com certeza não falam nenhuma das nossas linguas, mas não tenho energias para isso.

— Olha, me disseram que isso seria perigoso para vocês — Leo disse abrindo um compartimento da parede e tirando duas latas douradas como as de refrigerante — Mas néctar é o que costumamos tomar quando estamos feridos ou sem força, esse aqui tá diluído, mas ainda corre o risco de te fazer entrar em combustão.

— Que droga hein, mas já corri riscos maiores que esse — Eu disse pegando uma das latas e abrindo — Um brinde as loucuras da vida.

Quando tomei o tal néctar o gosto parecia interessantemente suco de uva, meu favorito, talvez essa sensação tenha afastado por um momento a sensibilidade do que aquilo estava fazendo comigo, mas quando o êxtase passou comecei a sentir um calor e uma dor tão forte que realmente achei que entraria em combustão espontânea, “ que forma idiota de morrer” foi tudo o que consegui pensar, cheguei a me curvar e derrubar a lata, mas de repente, sem mesmo que eu notasse tudo aquilo passou e um alivio gigantesco lavou meu corpo, me senti verdadeiramente recuperado.

— Ei, Edgar, você está bem, vai sobreviver? — Leo perguntou enquanto me apoiava na parede.

— Vou, vou sim, esse negócio de vocês é meio louco — Respondi ainda um pouco zonzo.

— Seus olhos estão com um brilho azul, isso é normal?

— Não, mas como isso funcionou não temos tempo para perder — Eu disse e estendi minha mão para frente fazendo com que meu cajado aparecesse — Eu vou lançar a magia, mas sabe que isso não garante que eles vão deixar de nos atacar, não é?

— Detalhes — Leo respondeu com um dar de ombros — Agora vamos logo, por mais que eu ame o Argo a ideia de estar em um navio voador sem controles não é confortável.

Quando voltamos ao convés percebemos que deveríamos ter esperado os reforços. Agora haviam mais pássaros em volta do navio e alguns soldados no convés tentando desamarrar o amigo das cordas enquanto outros retiravam um desmaiado através de uma maca, até então pareciam sem vontade de investigar mais o interior do navio e nem ter nos notado, mas para lidar com a situação teríamos que perder essa vantagem.

— Acho melhor começarmos com uma aproximação mais calma, erga as mãos como se fosse se render isso meio que é universal — Eu disse para Leo que mesmo relutante o fez.

Quando os soldados nos notaram eu já havia carregado a magia no cajado e o deixei cair de minha mão para simbolizar a rendição, mas na verdade ele estava distribuindo o feitiço através do navio.

— Calma, isso tudo é um mal-entendido, eu me chamo Edgar e pertenço a legião da luz, não queremos causar nenhum mal, mas por favor precisamos muito falar com Rilvar, seu general — Eu disse o mais diplomaticamente possível.

— Isso, levem-nos a seu líder — Leo disse e agradeci por ele ter ficado atrás de mim ou eu o teria esganado naquele exato momento.

— Eles falam nossa língua? — Um dos soldados perguntou a outro, as vozes pareciam dublagens um pouco ruins, mas pelo menos o feitiço nos permitia entende-los.

— É o que parece, e conhecem ao senhor Rilvar — O soldado respondeu com a balestra em nossa direção — Mas não faço ideia do que é isso de legião da luz.

Meu coração pareceu parar por um momento, todo nervosismo que estava segurando parecia querer explodir para fora de mim, se Echnoi era tão distante a ponto de não ter conhecimento da legião minhas esperanças de diplomacia podiam estar acabadas.

— Eles devem estar querendo nos enganar e atacar o general, não podemos baixar a guarda, viu o que fizeram com os outros — O primeiro soldado disse.

— Então Edgar, mesmo que eu ache bem impressionante o Google tradutor mágico, mas essa é a hora que o plano dá errado, não é? — Leo sussurrou atrás de mim.

— Sim, é sim — Respondi desanimado e ainda com as mãos levantadas, iniciar um combate era a última coisa que queria, mas se esses soldados vissem as coisas dentro do navio a situação podia ficar pior e ainda precisamos fazer o navio voltar a funcionar — Mas acho que tenho um B

— E qual seria? —  Leo perguntou nervoso com os soldados se aproximando para nos prender.

— Esse aqui! — Disse estalando os dedos e a nossa volta uma nuvem de gelo e neve explodiu afastando os soldados — Leo, me dê cobertura, posso nos livrar desses pássaros.

Leo não discutiu e correu disparando fogo para todos os lados fazendo os inimigos recuarem, o tempo que eu precisava, assim esperava pelo menos, segurei o cajado a minha frente e concentrei as energias através dele, meu sangue queimava com a sensação de poder que o néctar dava, em um momento visualizei todos os soldados no convés e os pássaros ao redor do navio deixei que minha mente os alcançasse preparando o feitiço.

— Exarmo — Bradei acertando o cajado no chão e criando uma onda de energia azul varreu o céu a nossa volta e junto a ela as armas e munições dos soldados a nossa volta se perderam no ar, mesmo os pássaros recuaram com o susto causado pela magia.

Os soldados que ainda estavam no navio mesmo sem armas avançaram em minha direção, normalmente depois de usar um feitiço assim precisaria de descanso, mas me sentia com forças de sobra. Quando o primeiro soldado se aproximou acertei o cajado no peitoral dele e ele o segurou para impedir que eu me movesse, mas então eu sorri e deixei a energia fluir para as o soldado e logo uma camada de gelo começa a cobrir suas mãos e armadura, ele soltou o cajado e tentou correr, mas já era tarde demais e tudo que conseguiu foi despencar no chão preso em um bloco de gelo.

Os outros hesitaram quando viram o estado do aliado, foi então que Leo voltou acertando um deles com um martelo bem no capacete e atingindo outro com uma rajada de fogo, o ultimo soldado tentou correr, mas dei um passo à frente e uma fina camada de gelo cobriu o convés a minha frente o que fez o soldado tropeçar e cair, então só precisei me concentrar mais um pouco para que o gelo crescesse sobre ele também.

— Ei, quem disse que podia fazer picolé do meu navio? — Leo disse se aproximando — E o que foi aquilo de antes?

— Ah desculpe, o gelo deve sumir logo e antes foi um feitiço de desarmamento — Expliquei enquanto usava magia para apagar as chamas do soldado enquanto o prendia com gelo, então o navio se moveu abruptamente nos fazendo tropeçar, mas logo depois voltou ao normal — Acha que Jonathan consertou o navio?

— Ainda não, está só reiniciando, continuaremos no ar sem problemas, mas devemos continuar sem controle por hora — Leo disse olhando desconfortável paras as partes no convés girando e comportas abrindo aleatoriamente — Pelo menos demos um jeito nesses caras.

— Eu realmente espero que ele nos mantenha no ar, de qualquer forma vamos tentar de novo — Respondi. Levantei o cajado e mais uma vez concentrei magia para que pudéssemos falar com os soldados e me agachei próximo do que eu havia apagado as chamas — Consegue me entender?

— Seu maldito, como ousa nos humilhar dessa forma? — Ele respondeu com algum esforço pois tinha sangue escorrendo pela boca.

— Vou aceitar isso como um sim — Respondi soltando a tira do elmo dele para que ele se recuperasse melhor — Olha, sinto muito por tudo isso, mas vocês não nos deram muita escolha e sei que vai desconfiar, mas não somos seus inimigos, se prestar atenção só derrubamos vocês.

Despois que falei me veio à mente o soldado em chamas que se atirou pela amurada, não podia ter certeza, só podia ter esperança de que os pássaros os tivessem pego a tempo, mas o soldado com quem falava parecia estar entrando no papo então esperava não ter que me preocupar.

— Você tem algum nome? — Eu perguntei ao soldado.

— Raimos, me chamo Raimos da casa de Voughan e quero saber o que vocês querem aqui então? — O soldado questionou, notei que apesar de ser de um mundo quase desconhecido ainda poderia colocá-lo no meio de um exército na terra e ninguém veria diferença, até o corte de cabelo dele era no estilo militar — Nunca vi nada como vocês, um navio que voa, magias de fogo e gelo são usadas apenas pelos anciões.

— Eu não uso exatamente magia — Leo disse criando pequenas chamas que dançavam entre seus dedos — Mas se valer de alguma coisa eu também nunca havia visto pássaros como aqueles, que tipo de alpiste vocês dão para eles?

— Não conhecem Ushalts, mas são pássaros sagrados de Neftera, estão em quase todos os lugares de Echnoi...— O soldado falou e arregalou os olhos como se sua mente explodisse e começou a tentar se libertar do gelo, mas sem sucesso — Então vocês não devem ser de Echnoi, são de outros mundos...

— Isso ai, você acaba de acertar a pergunta de um milhão — Leo brincou com o soldado deixando-o ainda mais confuso — Mas sabe, realmente precisamos falar com general Rilvar, fomos mandados por um cara chamado Bolgin.

— Ergh, vocês têm um péssimo gosto para qual deus seguir — O soldado disse com um cara azeda, mas depois assumiu uma expressão preocupada —Mesmo assim acho que tem direito a uma reunião com o general, mas pode haver um problema.

— Qual problema? — Perguntei, mas senti a resposta antes do soldado falar alguma coisa, de repente ouvi o bater de grandes asas e um grasnar muito alto, um único pássaro se aproximou do navio, mas diferente dos outros esse tinha as penas amarelas e era muito mais rápido que os anteriores.

— Nós enviamos uma mensagem ao general — O soldado respondeu querendo se encolher dentro da própria armadura — Que havíamos encontrado uma arma do inimigo e que havia resistência, parece que ele veio pessoalmente averiguar.

 O pássaro pairou ao lado do navio e pudemos ver seu ocupante lançar um gancho que se prendeu na amurada e então se impulsionou para dentro, com uma aterrissagem digna de um atleta olímpico apesar de estar com armadura e duas espadas embainhadas, o rosto era protegido por um elmo como o dos outros soldados, mas parecia ter sido reforçado recentemente, mas Leo parecia não estar intimidado e fez sinal de positivo para mim indo na direção do general antes que pudesse impedi-lo.

— Calma, imagino que seja o general Rilvar, é um prazer recebe-lo a bordo do meu navio... — Leo disse enquanto andava, mas foi cortado pelo general falando em uma língua estranha e desembainhando as espadas — Edgar... por que ele não entende o que eu digo?

— O elmo dele ...— Eu disse só então percebendo meu erro, o revestimento deveria ser para impedir o efeito de magias — Leo, volta pra cá, bem devagar.

— Ah, mas pode ter certeza disso — Leo disse andando de costas não parecendo mais tão confiante — Cadê o Dakota quando a gente precisa, quem sabe eles não possam se entender e bater um papo sobre comandar tropas e esse tipo coisa.

— Espera, já sei, Raimos, você pode falar com ele — Eu disse e fiz com que o gelo que o envolvia se desfizesse e devagar o ajudei a se levantar, mesmo que não visse o rosto de Rilvar podia sentir que seus olhos varriam o navio desde as peças em mal funcionamento aos soldados caídos no chão — Vamos lá, você acreditou em nós, então pode fazer seu general acreditar também.

— Você não pode só me mandar voando pela amurada, seria uma morte mais rápida e menos dolorosa — O soldado disse indo a caminho do general, apesar do tom de pele bronzeado ele obviamente estava ficando pálido, fiquei em silêncio, mas simpatizei com ele naquele momento, mais de uma vez estive diante dos meus tutores com uma grande falha nas mãos e por mais que eu melhorasse esses momentos nunca se tornavam mais fáceis de vivenciar.

Leo ficou ao meu lado enquanto o soldado e o general conversavam, na verdade era mais o general enquanto o soldado que havia se ajoelhado ficava ouvindo.

— Nossa, essa pode ser minha primeira vez em outro mundo, mas já posso dizer que uma bronca soa como uma bronca em qualquer lugar — Leo cochichou enquanto víamos a cena, o general falava tão alto que ficava difícil ouvir o que o soldado tentava dizer para ele, mas de repente Rilvar levantou uma das espadas e sentimos que algo ruim estava prestes a acontecer e antes que pudéssemos pensar bem nosso instinto agiu, apesar de não conhecermos Raimos não queríamos vê-lo morrer por nossa culpa, Leo disparou fogo na direção do general que recuou e eu fui tirar o soldado do meio.

— Seus idiotas o que estão fazendo? — Raimos perguntou desesperado quando o levantei.

— Impedindo sua execução, de nada.

— Ele não ia me executar, ia me expulsar da tropa — Ele respondeu e me senti como um idiota, anos estudando para me preparar para situações como essas e ainda era traído por meus instintos, talvez Ana estivesse certa em não confiar muito em mim, ainda segurando o soldado vi Rilvar se recuperar e preparar as espadas para atacar — Mas acho que agora todos nós vamos ser executados.

— Calma, eu dou um jeito nisso — Eu disse apontando meu cajado na direção do general e disparei um feixe de energia azul, mas ele ergueu as espadas e uma barreira magica fez com que meu ataque se dissipasse pelo ar enquanto Rilvar permanecia firme em sua posição — Ou talvez não.

Quando terminei de falar recuei um passo, mas no mesmo instante o general saltou da posição onde estava e tive que me esquivar para não ser cortado ao meio, Raimos parecia em choque e não se movia mesmo com Rilvar bem à sua frente, mas o general não estava hesitando, acertou um chute em Raimos que o mandou voando até os controles do navio, então ele virou para mim falando algo que não podia entender, ele parecia focado em mim e não notava Leo que se aproximava por trás com um martelo.

— Sabe, eu realmente espero que possamos nos entender depois disso tudo, minha lista de inimizades já está um pouco lotada — Eu disse para o general e rapidamente estendi a mão disparando uma pequena chuva de granizos nele que se defendeu com a barreira, mas nesse momento Leo acertou um grande golpe com o martelo bem no elmo de Rilvar, o som foi como o de um sino de igreja chamando a comunidade para a missa, o general cambaleou um pouco, mas logo se recuperou e focou em Leo.

— Você deveria estar desmaiado, com certeza deveria ter desmaiado — Leo disse recuando ainda com o martelo em punho, então o general avançou contra ele, mas Leo bloqueou uma das espadas com o martelo e disparou fogo no general para afasta-lo.

Disparei a energia contra o general mais uma vez, a barreira dele ainda era me bloqueava, mas Leo correu até ela e a acertou com toda a força usando o martelo como apenas um ferreiro seria capaz de usar, a barreira estilhaçou e Rilvar caiu de costas no chão, estava prestes a congela-lo no convés quando os controles do navio começaram a produzir uma sequência de cliques e estalos estranha assustando Raimos que se apoiava para se manter em pé e chamando nossa atenção.

— Parece que Jonathan reestabeleceu o sistema e transferiu o controle de volta para cá — Leo disse sorrindo, mas então notei um movimento rápido de Rilvar e o vi atirar uma espada na direção dos controles com uma velocidade impressionante, a arma quase atingiu Raimos que parecia aterrorizado, um segundo depois descobri que talvez eu também devesse estar, os controles explodiram quase jogando o soldado pela amurada do navio e com isso o navio começou a perder altitude.

— Ah, porcaria, quer parar de destruir meu navio — Leo disse correndo os controles, Rilvar tentou ataca-lo com a outra espada, mas o ataquei com a energia do cajado o fazendo se esquivar — Não sei nem o que acabou de acontecer, mas preciso que você o segure ou então estaremos todos mortos.

Olhava fixamente quando Rilvar balançou a mão e a espada voltou para ele, Leo estava teve que abrir um tipo de escotilha abaixo dos controles e entrou lá, podia dizer pela quantidade de fumaça que as coisas não iam bem para ele e nem para mim, o impulso do néctar havia passado e enquanto Rilvar tivesse as duas espadas poderia bloquear minhas magias sem dificuldades, segurei meu cajado com as duas mãos e agradeci pelos tempo que treinei combate com armas na legião e com meu mestre, em momentos assim achava ainda mais tolos os magos que negligenciavam esse tipo de luta e faziam pouco daqueles que não tinham controle sobre magia, talvez alguns dos que conheci ainda estivessem vivos se não fosse essa arrogância.

Rilvar atacou primeiro com estocadas tentando achar uma brecha enquanto eu desviava os ataques, mas de repente ele trocou de movimento e tentou acertar meu rosto com um corte e ainda estava segurando o outro golpe dele com o cajado, por uma fração de segundo pude girar o cajado e desviar os dois golpes, ele pareceu surpreso apesar de ser difícil ter certeza com o elmo escondendo o rosto dele. Eu havia ganhado algum espaço, mas ainda precisava agir com inteligência, esperava que os outros voltassem logo, mas as condições do navio não pareciam estar melhorando além da queda ter parado, pensei em como o general me bloqueava e nos golpes dele, até então estive lutando como ele parecia estar acostumado a lutar, decidi tentar algo diferente, desacelerei minha respiração e deixei que a energia fluísse de mim sobre o navio, uma névoa espessa se espalhou pelo convés cobrindo-o completamente.

Rilvar começou a agir como se esperasse ataques de todos os lados e era sábio em o fazer, apesar de não poder congelar os pés dele ainda tinha algumas ideias, quando vi que ele começou a se mover fiz com que um pequeno pilar de gelo crescesse na direção dele como uma lança surgindo da névoa, ele facilmente cortou e despedaçou o gelo com as espadas, mas ele começou a recuar enquanto eu me aproximava, podia mantê-lo ocupado nisso algum tempo, mas precisava derruba-lo para tentar fazer o feitiço tradutor novamente e esperar que ainda houvesse uma forma de explicar tudo isso. Continuei o empurrando com as lanças de gelo enquanto me aproximava, quando estava perto e pronto para o ataque tentei fazer outro pilar surgir, mas ele não cresceu mais que alguns centímetros acima da névoa e me senti sem energia parar continuar com o feitiço, precisava de um tempo que não tinha, Rilvar virou para mim e percebi que tinha apenas um pequeno momento antes da investida dele, segurei o cajado com as duas mãos e voltei a usa-lo como um bastão, repeli o primeiro golpe com a ponta do cajado e a usei para acertar o elmo dele, mas acabei avançando demais e baixando a guarda, com a segunda espada ele consegui acertar meu ombro e sangue escorreu do corte, tentei recuar mas Rilvar acertou um chute em meu estomago que me fez cair no chão, a esse ponto toda a névoa e o gelo já haviam desaparecido, quando me recuperei só vi o general pronto para dar o golpe final e meu reflexo foi erguer o cajado como proteção, ele poderia ter mudado a direção do ataque e teria acabado com minhas chances, talvez tenha achado que poderia cortar através do cajado, mas quando a lamina o atingiu foi como se uma granada explodisse.

Um som agudo irritante preenchia meus ouvidos junto a uma grande dor de cabeça, abri os olhos, mas as imagens pareciam embaralhadas e rodar em confusão, sabia que o general ainda estava no convés só não conseguia vê-lo e nem ouvi-lo, meu ombro ainda doía bastante e quando minha visão voltou ao normal percebi que havia sangue em minhas mãos, sem dúvidas o meu, ainda estava zonzo e confuso quando comecei a ouvir de novo e quando levantei o olhar vi Raimos usando meu cajado para lutar contra Rilvar, mas não estava indo bem, a única coisa que parecia manter o soldado vivo era o fato de que o general ainda estava debilitado pela explosão. Assisti incapaz de fazer coisa alguma quando Raimos foi desarmado e derrubado no chão por um soco monumental, nesse momento notei que o general estava cansado e com dificuldades para se manter em pé, tentei usar magia, mas não conseguia me concentrar, pensei que ele executaria Raimos por traição naquele momento, mas algo o fez se afastar, Evan havia aparecido disparando flechas a uma velocidade incrível, junto dele subiram Dakota portando um grande escudo retangular, Nicholas com o machado enorme de duas laminas e atrás deles Amber com sua gatinha que ficaram próximas a escada.

— Caramba, quem é esse cara pra te deixar desse jeito? — Evan perguntou ao se aproximar de mim, ele me ajudou a ficar em pé e me apoiou enquanto andávamos — Vamos, é a segunda vez que tenho que te carregar nessa missão, vão dizer que você está perdendo o jeito pra isso.

Pensei em responder, mas preferi guardar energias, enquanto nos dirigíamos a escada para o interior do navio vi Dakota investir contra Rilvar usando o escudo como proteção, o general atirou as espadas para tentar para-lo, mas assim que as espadas atingiram o escudo Nicholas que estava avançando logo atrás de Dakota tomou a frente surpreendendo Rilvar, antes que ele pudesse fazer as espadas voltarem Nicholas já havia desferido vários ataques que forçaram o general a recuar, mas quando conseguiu recuperar as espadas desviou os ataques do machado e quase acertou um corte mortal em Nicholas, mas Dakota avançou com seu escudo e acertou em cheio o general.

— Oh, nossa — Amber disse quando nos aproximamos e viu o estado do meu braço, não podia culpa-la quando eu mesmo não queria olhar, passou pela minha mente o quanto aquela garota parecia assustada, essa vida podia tragar qualquer impiedosamente — Você precisa ir pra enfermaria ou pode perder o braço.

— Não se preocupe, já passei por momentos piores e temos um problema maior aqui — Respondi apesar de não estar prestando muita atenção, estava concentrado na luta de Dakota e Nicholas contra Rilvar, usando o escudo eles tinham uma vantagem, mas a sincronia entre eles não parecia estar funcionando então acabavam criando aberturas e sendo feridos.

— Certo, é melhor eu te deixar aqui — Evan disse pegando o arco novamente e mirando o general — Vou ajuda-los, Amber levo-o para a enfermaria por favor.

—  Não — Amber respondeu rispidamente, notei que ela estava com as mãos fechadas e parecia resignada a algo além de a gata que ela tinha permanecer ali apesar da situação de perigo.

— Olha, eu sei que não somos da mesma equipe ou sei lá o que, mas eu estou pedindo, eu preciso ajudar na luta — Evan tentou explicar.

— Não, eu vou acabar com isso agora, sei que posso — Amber respondeu balançando a cabeça então correu na direção da luta sem que pudéssemos segura-la.

Olhamos atônitos ela se aproximar do general, Dakota e Nicholas tentaram cobri-la, mas foi então que Amber estendeu os braços com as mãos abertas, por um momento a ideia de que ela queria ser atingida me chocou então percebi algo diferente, nas mãos e em volta dela tufos de névoa começaram a surgir, tentei avisa-la que ele podia se defender de magias, mas ela lançou o ataque muito rápido uma nuvem de névoa acertou a barreira do general e se dispersou se causar efeito, mas Amber continuava com a mão na direção de Rilvar e de repente ele largou as espadas no chão com violência e se afastou delas, não conseguia ver bem, mas todos pareciam confusos como eu, tentei olhar mais perto e senti meus olhos arderem um pouco e de repente vi o que estava acontecendo, no lugar das espadas haviam duas serpentes escuras como breu, mas ao mesmo tempo ainda eram as espadas como se houvesse duas camadas de realidade, só então percebi que era exatamente isso que estava acontecendo, Amber não estava só criando uma ilusão também estava de alguma forma alterando a própria realidade a um certo nível, a névoa que ela manipulava se entrelaçava formando um tipo de tecido magico quase imperceptível, mas ela não havia terminado, o general começou a desesperadamente tirar as peças da armadura, só me concentrando pude ver que Amber as transformara em insetos e vermes que Rilvar sentia roerem sua carne, todos ficamos atônitos com o que Amber havia acabado de fazer, nem Dakota e Nicholas pareciam confortáveis com aquilo, só então notei que Raimos estava acordado, não sabia o quanto ele havia visto, mas parecia tão assustado quanto nós enquanto olhavam para o general agonizando em um canto do navio.

— Bem, acho que isso resolve — Amber disse cambaleando para trás, mas Nicholas a segurou antes que ela caísse.

— Vou leva-la para a enfermaria, não acho que esse cara vá causar mais algum problema — Nicholas disse carregando Amber para dentro do navio apesar de não parecer confortável com aquilo, como se a garota fosse uma bomba prestes a explodir e fazer todos convulsionarem.

Raimos se aproximou de mim depois que Nicholas levou Amber para dentro, mas ele ainda olhava constantemente na direção da escada.

— Raimos, desculpe por isso — Eu disse quando ele ficou ao meu lado vendo Dakota amarrar o general com uma corda sem grandes dificuldades — E obrigado, acho que você salvou minha vida ao lutar contra seu próprio general.

— Não se desculpe por isso, ninguém nunca se arriscou assim por mim ou pelo menos ninguém nunca foi tão tolo — Ele respondeu tirando o elmo e o deixando sobre o convés, o rosto dele era um amontoado de hematomas e cortes e temia que eu não estivesse diferente — Sabe, hoje deve ter sido o dia mais confuso da minha vida, primeiro vocês aparecem com um navio voador dizendo ser de outro mundo, lutei contra meu general e agora aquela garota...

— Como assim, o que tem Amber? — Eu perguntei, mas de repente senti uma forte dor em meu ombro, o corte parecia estar piorando.

— Você precisa de cuidados — Raimos respondeu e pareceu sentir dores em suas costelas que provavelmente estavam quebradas — Acho que todos precisamos.

— Isso não é bom — Evan disse olhando ao redor do convés — Não acho que haja espaço na enfermaria para todos eles, além de que aquele lugar está uma catástrofe.

— Como assim? — Perguntei.

— Macas caídas, gente desmaiada, remédios e sei lá o que mais quebrados no chão, sem mencionar que todo o navio estava em curto-circuito — Evan disse.

— Navio em curto-circuito! — Repeti de repente me lembrando que Leo ainda não havia voltado — Rápido, venham comigo.

Os levei até a escotilha que ainda estava envolta em um pouco de fumaça, mas o cheiro de queimado era terrível, por um momento pensei o pior, mas então outra pessoa se juntou a nós.

— Ei, por favor, abram espaço — Jonathan disse nos surpreendendo, ele tinha curativo na cabeça e carregava um bastão de bronze em uma das mãos quando se aproximou da escotilha — Leo, vou jogar a peça, cuidado com a cabeça.

Jonathan deixou a peça cair dentro da escotilha, pelo menos eu não a ouvi bater no chão e nem reclamações de Leo, ele então se dirigiu a nós, mas antes de começar a falar olhou para Raimos como se estivesse desconfiado.

— Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui, dá pra ver que perdi um bocado — Jonathan disse alternando a atenção entre Raimos e os soldados no convés. Eu contei a ele resumidamente a história, mas ainda assim não parecia estar muito à vontade perto de Raimos — Entendo, as coisas estão muito confusas por aqui.

— Nem me diga — Evan respondeu.

— Mais importante, vão conseguir consertar o navio? — Perguntei

— Não exatamente, mas vamos poder reabilitar a maioria das funções dele — Jonathan disse olhando para os restos dos controles do navio — Sabe, quando Leo mandou uma mensagem por código morse até os controles auxiliares dizendo que um maluco tinha explodido os controles com uma espada eu não acreditei a principio, qual o problema desses caras?

— Se um navio voador aparecesse sobre suas cabeças durante uma guerra tenha certeza que você também teria problemas — Raimos retrucou deixando Jonathan surpreso.

Antes que mais insultos acontecessem mais pessoas vieram de dentro do navio, elas carregavam kits de primeiros socorros e algumas outras coisas, legionários e semideuses ajudando aos soldados de Rilvar, Evan praticamente me obrigou a me sentar na escadaria e receber cuidados, ele não parecia ligar para patentes quando o assunto eram cuidados médicos, Raimos ajudou a falar com os soldados enquanto eles iam acordando para que eles aceitassem os cuidados, tenho que dizer que isso ajudou bastante, mas o general continuava resignado em um canto do navio, estar amarrado não devia ajudar a ter boas impressões, mas ele era simplesmente perigoso demais pra ficar solto antes que tudo ficasse explicado.

— Ei, será que tem espaço nesse degrau para mais um? — Dakota surgiu ao meu lado, eu me afastei para que ele sentasse também, mas como ele ainda usava a armadura havia pouco espaço sobrando para as pessoas passarem — E esse braço, acha que aguenta mais um dia de batalhas?

— É bom que aguente — Eu respondi mexendo o braço, ainda doía sob o curativo, mas graças aos cuidados dos filhos de Apolo ali eu me sentia bem melhor, até então nunca havia visto uma cura por poesia.

— Realmente — Dakota respondeu contemplando o céu — É tudo tão igual a terra, e vocês lidam com esse tipo de coisa o tempo todo, não se sentem perdidos com isso, digo, por ficar tanto tempo longe da terra?

— Não é exatamente o tempo todo, só a maior e mais exaustiva parte do tempo — Respondi — E acho que depois de um tempo a maioria não sente tanta falta da terra, eu em particular considero Arcadia meu lar muito mais que a terra, quanto mais tempo na legião mais mundos se conhece, mais pessoas e culturas, é claro que há os que sentem saudades da terra, mas quando isso acontece sempre dá pra achar uma vaga em algum lugar lá.

— Entendo, então, Jason está em algum canto desse mundo enfiado até o pescoço em problemas — Dakota disse — Acha que depois de tudo o general ainda vai nos ajudar?

— Não sei, só podemos esperar que sim — Respondi pensativo, era preocupante se o general não quisesse ajudar de forma alguma, meus pensamentos foram cortados por uma voz pedindo ajuda.

— Ei, podem me ajudar a subir, não é nada legal esquecer o capitão dentro da escotilha — Leo gritava de dentro da escotilha, Dakota e eu fomos até lá para ajuda-lo, quando tiramos Leo de dentro da escotilha ele parecia ter tomado um banho de carvão e graxa, quando ele decidiu se alongar espalhou uma nuvem de pó preto pelo lugar — Nossa, pensei que ia me sentir como uma sardinha enlatada para sempre, agora, cadê o cara que fez isso com meu navio, tenho umas contas pra acertar com ele e uns murros na cara dele também.

— Oh, calma, ainda precisamos do cara — Eu disse ficando no caminho de Leo, o que não foi uma boa ideia pois o pó que ele estava espalhando me fez começar a tossir — Leo, você poderia ir tomar um banho por favor, tipo, antes que acabe matando alguém asfixiado.

— Eu acabei de impedir que o navio despencasse dos céus e não ganho nem um obrigado, nem uma enchilada me esperando ao menos — Leo murmurou enquanto se dirigia ao interior do navio deixando um rastro de pó escuro para trás.

— Sabe, acho que devíamos tentar falar logo com o general antes que Leo volte — Eu disse a Dakota.

— É verdade, mas desde que o amarrei está ali sem dizer nenhuma palavra — Dakota respondeu.

Olhando para o general ele parecia já ter superado os efeitos do ataque de Amber, na verdade parecia mais chateado e confuso, quando olhava para os soldados dele juntos do outro lado do convés via troca de olhares nervosos e cochichos apressados, o único que estava diferente e afastado dos demais era Raimos, jogado contra a amurada do navio ele parecia estar acabado, havia tirado a armadura e usava apenas uma camisa que parecia de seda azul-turquesa e calças e botas de couro marrom, a aparente expulsão dele devia estar deixando-o naquele estado, então decidi ir falar com ele, mesmo porque havia algo que ele devia me explicar.

— Raimos? — Eu disse para chamar a atenção dele quando nos aproximamos.

— Hã? Ah, Edgar, o que houve? — Ele perguntou parecendo surpreso.

— Queria que você terminasse de falar aquilo sobre Amber — Respondi me sentando ao lado dele, Dakota parecia preferir ficar em pé, não que eu estivesse reclamando já que ele criava uma boa sombra sobre nós.

— Ah, não é nada, eu só fiquei impressionado por um momento, nada demais — Raimos respondeu e por mais que fosse através de uma magia de tradução ainda podia perceber o quanto ele estava abatido, a voz dele estava carregada em tristeza.

— Mesmo assim gostaria que me explicasse isso, mas depois de dizer o porquê de estar tão mal assim — Eu disse — Quer dizer, isso tudo aqui foi uma loucura, mas imagino que seu general vai entender porque estava nos ajudando e vai revogar sua expulsão.

— Não, você não entende — Ele respondeu balançando a cabeça — Ele não me expulsou por ajudar vocês, pelo menos não só por isso, fui expulso porque onde quer que eu esteja as coisas dão errado, falhei nos grandes portões e desde então foi uma sequência de falhas até aqui onde o general, assim como todos os outros antes dele, se cansou de mim e expulso eu não tenho nada, nem ninguém.

— Caramba, vocês estão no meio de uma guerra, derrotas acontecem, seus oficiais não têm porque te culpar por isso — Eu respondi indignado pela forma como Raimos era tratado.

— Eles tem um motivo na verdade, mas eu preferi não falar sobre isso, afinal, você não entenderia — Ele respondeu começando a se fechar para a conversa.

— Okay então, poderia ao menos me falar o que te impressionou no que a Amber fez? — Eu perguntei decidindo ir direto ao ponto antes que ele cortasse a conversa.

— Ah, se você faz tanta questão de saber — Ele respondeu dando de ombros, o que era um costume que aprendi ser comum em quase todas as dimensões —  Bem, aqui em Echnnoi temos vários deuses e vários tipos de magia, mas entre os deuses os mais cultuados são Neftera e Noretae, as rainhas do céu e filhas de Égide, e as magias ligadas a elas são tidas como as mais sagradas e o que a garota usou parecia muito com uma dessas magias, a mais rara delas na verdade, e por isso eu digo que foi apenas um erro meu.

— Hum — Eu tentei pensar em que essa informação podia ser útil — Digamos que a magia de Amber coincidentemente seja a mesma magia que essa das suas deidades, em que isso implicaria?

— Não sei dizer ao certo, como eu disse, são sagradas e por isso as pessoas em geral quase não sabem nada, mas que no mínimo ela seria tratada como uma sacerdotisa e... — Raimos parou por um momento enquanto ele pareci entender onde eu queria chegar — Ah, você quer usar Amber para convencer o general a ajudar, não é?

— Exatamente, talvez assim possamos consertar as coisas — Eu disse me levantando e estendendo a mão para Raimos — Quer me ajudar a ter uma conversa com seu antigo chefe?

Raimos pegou minha e levantou, depois disso pedi que Dakota fosse buscar Amber e se possível Jonathan além de que explicasse a situção, a hora de acertar nossos próximos passos havia chegado, enquanto isso tentamos falar com o general que se recusava a dizer uma palavra, amarrado daquele jeito parecia uma criança fazendo birra, passamos cerca de cinco minutos infrutíferos até que Dakota trouxe Amber, na verdade eu quase disse que ele havia trazido meio navio já que com eles vieram Jonathan, Leo, Ana, Nicholas, Evan e aquela garota, Cecilia, ao ver Amber se aproximar o general abaixou a cabeça e começou a entoar um cântico incompreensível, o que era estranho pois o feitiço tradutor devia funcionar.

— Raimos o que ele está fazendo? — Eu perguntei desconfiado.

— Ele está fazendo uma prece às deusas irmãs — Raimos respondeu aliviando minha dúvida. Ao olhar para os outros soldados no convés eles estavam imitando o general, Amber havia acabado de ganhar um fã-clube.

— Hã, o que foi? — Amber parou parecendo desconfortável por subitamente ser o centro das atenções, então ela se dirigiu a Rilvar ficando a pouco menos de um metro de distância — Me desculpe pelo que fiz com você, só queria que mais ninguém se machucasse.

— Eu lhe peço perdão minha senhora — Rilvar respondeu com sua voz grossa e firme — Nunca imaginaria que estivessem transportando alguém que pudesse usar a magia sagrada.

— Ah, sim, é claro, está desculpado — Amber enrubesceu de repente, mas olhou para Leo e os outros a sua volta e respirou fundo — Agora, como alguém que usa a magia sagrada eu gostaria que ajudasse meus amigos aqui, sabe, viemos todos por um chamado do deus Bolgin que disse para pedirmos sua ajuda sobre a montanha de calcário.

— Ah, a montanha, é claro, como pude ser tão tolo — Rilvar respondeu se contorcendo sob a corda — Neste momento de grande necessidade surge uma maga sagrada trazendo este navio, a arma que pode nos dar a vitória.

— Ei, meu navio não é uma arma — Leo disse — Bem, não exatamente, mas com certeza não para você.

— Leo, silêncio tá legal — Ana disse dando um murro no ombro dele, ela parecia estar bem recuperada depois do dardo sonífero — Continuem.

— O que quer dizer com “nesse momento de grande necessidade”? — Amber perguntou.

— As forças do inimigo ocuparam a montanha, estávamos juntando forças para um grande ataque, mas nossas esperanças de atravessar os grandes portões eram pequenas, mas agora com esse navio podemos atacar por cima e então...

— Não — Raimos interrompeu — Não podemos atacar por cima dos portões é suicídio.

— Ora e o que você sabe fracasso de soldado — Rilvar retrucou com raiva — Minha senhora, se me permitir trazer nossos pássaros para esse navio, talvez duas dúzias deles poderíamos...

— Esperem aí — Cecilia disse chamando a atenção de todos — Ele diz que agora com um navio voador há chance pois podem atacar por cima, mas se eles têm esses pássaros gigantes, o que os impedia de fazer isso antes?

— É isso o que eu quis dizer — Raimos continuou — Nas torres dos grandes portões há armas capazes de atingir grandes altitudes, nem mesmo os Ushalts conseguem voar alto o suficiente para escapar do alcance delas, além de que esse navio é enorme, vão poder nos ver de longe.

— Você ia nos levar para morte seu louco — Evan disse irritado.

— Vamos ver você continua com essas ideias depois de falar com meu machado outra vez — Nicholas desafiou.

— Me ouça senhora, com seus poderes você poderia proteger o navio, torna-lo invisível não é? Já vi outros com esse poder o fazerem — Rilvar explicou

— Esperem, parem, não acho que temos muita escolha aqui — Jonathan disse tomando a frente da conversa — Esses portões, como eles funcionam?

— Jonathan não sei se você tem assistido filmes demais ultimamente, mas eu realmente prefiro não fazer parte de um esquadrão suicida — Leo retrucou.

— Leo, calma, deixa ele falar, precisamos do máximo de ideias que pudermos nesse momento — Eu disse tentando acalmar a todos.

— Bem, os portões funcionam com um sistema de engrenagens e correntes controlado de uma sala — Raimos respondeu a Jonathan.

— E você... — Jonathan se dirigiu ao general — É certo que haverá forças terrestres atacando o portão?

— Sem dúvida, independente do que decidam atacaremos, mas não entendo onde quer chegar — Rilvar respondeu.

— Ele quer se infiltrar nesses tais de grandes portões e abri-los — Cecilia disse enquanto ajeitava os óculos.

— Não apenas isso, mas também destruir as armas de altitude deixando o Argo fora de perigo.

— E vocês chamaram minha ideia de suicídio — Rilvar respondeu — Como pretendem chegar lá? E quando chegarem vão entrar pela frente com todos aqueles monstros esperando vocês?

— Estava esperando alguém perguntar — Jonathan disse tirando um aparelho do cinto, parecia um tipo de controle remoto, ele apertou uma sequência de botões e ouvimos o som de uma comporta se abrir então vimos algo voar ao lado navio, um pequeno barco de bronze com quatro escudos em suas laterais — Já tinha o projeto há algum tempo, mas quando Jason teve que descer sozinho do navio e toda essa situação começou decidi que era hora de terminar, cabem quatro pessoas nele, atinge altas velocidades e os escudos encantados fazem com que seja difícil identificar a distância.

— Incrível — Cecilia disse se aproximando da amurada do navio, todos pareciam impressionados com a invenção de Jonathan, mesmo Leo tinha voltado com o sorriso para admira-la — Mas ainda tem o problema de entrar nesses portões.

— Eu cuido disso — Raimos respondeu — Quando eu fazia parte da guarda do portão e fomos atacados tivemos de usar uma passagem secreta, ainda deve estar lá, e a melhor parte é que o túnel fica próximo à sala das correntes.

— Então, acho que esse é o melhor plano que temos, a não ser que alguém tenha bolado outro — Eu disse e todos pareceram concordar — Só precisamos definir quem vai.

— Inacreditável... — Rilvar resmungou e se dirigiu a Raimos — Depois de tudo ainda é você que pode garantir nossa vitória, talvez seja uma pena ter de te expulsar, você pode não ser o desperdício que todos dizem.

— Quanto a isso, você não poderia readmitir Raimos ou algo assim, isso tudo foi mesmo um mal-entendido no fim das contas — Questionei o general.

— Infelizmente não há nada o que eu possa fazer sobre isso — Rilvar respondeu.

— Tudo bem Edgar — Raimos disse me agradecendo, ele ainda parecia triste com a situação, mas logo mudou de assunto — Com certeza eu tenho que ir para mostrar a passagem e o funcionamento do portão.

— Além de mim já que por hora só eu sei pilotar o barco — Jonathan disse.

— Eu vou — Cecilia disse ficando em posição de sentido.

— Não, não vai — Dakota disse surpreendendo a todos — Estão se esquecendo que vamos ter que entrar na montanha para encontrar Jason e haverá conflito, por isso quero que você fique aqui Cecilia, caso algo aconteça comigo quero alguém capaz para cuidar dos Romanos aqui.

— Muito bem então, eu vou — Ana disse tomando a frente de Cecilia que ainda estava desconcertada — Quem será o último do quarteto?

— Eu — Evan disse dando um passo à frente e me surpreendendo, então se virou para mim — Por favor, encontre e resgate Catarina, eu confio em você.

— Bem, eu não sei vocês, mas toda essa situação de missão suicida me deixou morto de fome — Leo disse — Não quero arriscar a vida assim de barriga vazia, que tal fazer uma última refeição.

Dito isto o estômago de todos decidiu reclamar e pedir sua própria última refeição, então tivemos um breve momento para nos preparar para a batalha a frente.


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