The Innocent Can Never Last escrita por Clarawr


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Demorei mil anos para postar o segundo capítulo, porque ninguém se deu ao trabalho de dar um adianto na minha vida e comentar aqui. Mas como sou brasileira e não desisto nunca, vou postar um pouco mais agora e fazer uma divulgação maneira pra ver se alguma alma aparece.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/391500/chapter/2

Vou para o palco. Fui a última das vitoriosas a chegar. Estou tentando passar por todos eles para me sentar na minha cadeira primorosamente decorada com folhas de pinheiro e ficar amuada sozinha, mas não tenho muito tempo para ficar completamente só. Kamina brota não sei da onde e começa a nos dar ordens freneticamente. Quanto mais os minutos se aproximam das duas da tarde, mais nervosa ela fica. Ela me conduz a uma cadeira bem no meio do palco. Os outros vitoriosos ficam ao meu lado. Acho que eu, sendo a última vitoriosa, sou algum tipo de destaque.

O relógio do Edifício soa, marcando exatamente duas da tarde. A praça ficou povoada e eu nem percebi. Meu coração começa a martelar freneticamente, exatamente como 365 dias e 6 horas atrás. E então um filme da minha colheita passa na minha cabeça.

Eu tinha acordado sentindo uma nuvem negra na minha cabeça, prestes a desabar. Algo estava errado. Não era a minha primeira colheita e eu nunca tinha precisado pegar tésseras, mas alguma coisa na atmosfera pesava, eu sentia um pavor na boca do estômago e meu coração estava apertado no peito. Tentei afastar o desconforto, lembrando-me que haviam mais milhares de nomes e mais milhares de pessoas que precisaram pegar tésseras e que tinham o nome mais de 30 vezes no sorteio. Não podia ser eu.

Mas a corrente elétrica ainda zunia por mim. E foi gradativamente aumentando, até que Kamina me deu a razão. Aquele não era mesmo o meu dia.

– Primeiro as damas! – Ela cacarejou no palco. – O tributo feminino da sexagésima oitava edição dos Jogos Vorazes pelo Distrito 7 é... – Pausa dramática. Eu achei seriamente que eu fosse vomitar o coração. E então, a nuvem negra desabou. – Johanna Mason!

De primeira, eu achei que ela tivesse falado o nome de outra pessoa. Meu cérebro estava tão desesperado para escapar da carnificina, que eu não reconheci meu próprio nome. Só que, uma fração de segundo depois, a ficha caiu. E por incrível que pareça, eu fiquei mais calma do que estava antes de ser escolhida. Porque pelo menos agora eu tinha certeza. Não estava mais com aquela agonia de quem sabe que algo terrível vai acontecer, mas não sabe o que, nem como evitar.

Eu ia morrer. Mas pelo menos a dúvida tinha acabado.

Num piscar de olhos, a lembrança deu lugar a realidade. Agora eu ouvia Kamina no microfone:

– Senhoras e senhores, feliz Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor!

Pelo visto, o prefeito já tinha feito seu pronunciamento. Eu estava tão absorta que nem percebi.

– Primeiro as damas! – Ela enfia a mão na bola de vidro e tira um papelzinho cuidadosamente dobrado. A adrenalina escorre pelo meu corpo. Então, ela desdobra a folha, e eu só posso desejar que a sorte fique do lado dessa pobre menina a partir de agora. – O tributo feminino do Distrito 7 para a sexagésima nona edição dos Jogos Vorazes é... Lizzenie Pillz!

Então eu a vejo. E meu coração se parte ao meio. É uma menina baixinha, que deve ter uns 13, no máximo 14 anos, com cabelos cacheados cor de mel até o meio das costas. Ela parece uma princesinha.

Ela vem abrindo caminho pelo meio da multidão agora aliviada porque não foi escolhida, com os ombrinhos rígidos. E eu me lembro do meu pensamento nessa hora. Do pensamento que deve estar na cabeça dela.

“Vou morrer.”

Lizzenie sobe ao palco, a expressão indecifrável. Olhando fixo para a frente, tentando esconder ao máximo suas emoções. Provavelmente, não quer chorar agora, para não parecer fraca na frente dos outros competidores quando sua colheita for reprisada para os outros distritos. Uma estratégia diferente da minha, mas que costuma ser bastante eficaz.

Não consigo parar de olhar para a menininha do lado esquerdo de Kamina, quando ela se dirige para a bola que contêm os nomes masculinos:

– E agora, o tributo masculino do Distrito 7 para a sexagésima nona edição do Jogos Vorazes é... Roger Pillz!

Meus olhos ainda estão grudados em Lizzenie. Então eu percebo. Os olhos de Lizzenie se fechando tentando conter as lágrimas. As mãos se fechando em punhos. A boca se contraindo, porque ela mordeu a bochecha com força para reprimir um grito.

Roger era o único que não podia ir para os Jogos com ela. Reparo na semelhança de sobrenomes.

Eles são irmãos.

A crueldade da coisa me atinge como um tabefe. Dois irmãos indo para a arena, disputar a mesma edição.

Pensei na mãe de Lizzenie e Roger e não pude impedir meus olhos de varrerem a área dos adultos. Não a encontrei.

Vi Roger caminhando, os olhos fixos no chão. Ele era alto e musculoso. Devia ter a minha idade, logo, mais um irmão mais velho. Ele tinha o mesmo cabelo cor de mel da irmã.

Subiu no palco e ficou do lado direito de Kamina, que pediu uma salva de palmas para os dois. Ninguém comentou nada sobre o parentesco deles. Talvez Kamina tenha se esquecido do sobrenome dos dois assim que os pronunciou.

Se as pessoas que estavam no palco não perceberam, o resto do Distrito 7 inteiro percebeu. As pessoas aplaudem silenciosamente, os olhos ainda meio arregalados. Era muito azar para uma família só.

O prefeito fala mais algumas coisas, ouço o hino de Panem e a colheita acaba. Lizzenie e Roger são levados para a custódia. Tenho uma hora para me despedir da minha mãe e voltar em casa. Depois devo embarcar no trem que me levará até a Capital, onde ficarei enquanto os Jogos rolam.

Levanto-me da cadeira rapidamente, ansiosa por aproveitar o máximo de tempo possível ao lado de minha mãe. Dispenso Kamina quando ela vem saltitando em minha direção:

– Já sei! – Eu rosno. – Volto em uma hora. – E viro as costas.

Minha mãe está me esperando no gargarejo da área dos adultos, com um olhar ansioso e preocupado na cara. Deve estar se perguntando como eu vou lidar com isso tudo. Meu primeiro jogo como mentora e já dou de cara com algo assim. Tinha que ser comigo, mesmo.

Talvez eu estivesse me subestimando. Talvez eu fosse forte o suficiente para passar por essa pedreira e os danos não seriam tão profundos. Enquanto me aproximava de minha mãe, senti algo muito próximo da determinação crescer dentro de mim. Eu nunca mais seria a mesma, claro. Não tem como. Mas eu não ia dar a Capital o prazer de me destruir

– Eles são...? – Minha mãe nem continuou a pergunta.

– São. – Eu respondo, e minha voz dura a assusta.

– Meu Deus... – Ela me olha, o pavor estampado na cara.

– Eu sei. Mas vai dar tudo certo, mãe. – Agora sou eu quem a tranquiliza. Eu decidi que não vou mais sofrer. Só que o fim dos sentimentos ruins não é assim tão instantâneo. Então, enquanto houver qualquer resquício de tristeza, pesar ou amargura dentro de mim, não vou mais deixá-los chegar até a senhora Stefania Mason. – Não sou a única mentora.

Andamos até minha casa, meus pés trilhando o caminho para a Aldeia dos Vitoriosos do Distrito 7. Volto a meu quarto e fico sentada na cama por um tempo. Não sei ao certo quanto, mas impaciente do jeito que sou, logo estou irritada. Não sei muito bem o que quero fazer, entretanto não quero continuar parada em casa. Minha outra opção é o trem.

Sei que era para eu evitar esse caminho a todo o custo e só chegar lá no minuto em que as portas do trem estiverem fechando. Só que eu me sinto exatamente como no dia da minha colheita: sabia que algo horrível estava pronto para estourar na minha frente, mas ainda preferia saber a exata dimensão do horror a ficar muito tempo me escondendo. Então, num jorro de coragem, decido ir para o trem e enfrentar o que me espera lá.

Minha mãe se oferece para me levar até o Edifício da Justiça, mas eu recuso. Não decidi aguentar o rojão sozinha? Então, pronto. Vamos fazer isso direito. Digo que estou bem e quero respirar um pouco sozinha. Mas me permito um último abraço. E ela me lembra:

– Não esqueça. Estou sempre com você. Aqui – Ela toca minha cabeça de leve. – E aqui. – Ela pousa a mão sob meu coração.

Seguro sua mão em meu peito e sorrio, para demonstrar que está tudo bem. E de repente, até está mesmo. Fiquei muito tempo enrolada na minha tristeza para perceber que podia me desapegar dela. Agora é a hora de me soltar dos nós.

Saio de casa sob o olhar de minha mãe e um raio de sol ilumina meu rosto. Respiro fundo o ar aquecido e caminho decidida na direção do Edifício da Justiça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

EHEUEHEUHEUHEUEHUEHEUHE FALA SÉRIO QUE EU NÃO ZOEI DEMAIS EM MANDAR DOIS IRMÃOS PROS JOGOS? Ok, parei com o sadismo, só acho que foi uma ideia muito cruel minha (Não que eu tenha orgulho disso. Tá, na verdade, tenho um pouco, sim. Mas só porque fui capaz de bolar essa trama rs) e, enfim, acho que foi bem bolado e se você não acha não tô nem aí. Rs, brincadeira, se você não acha é porque você tá lendo e se você está lendo você é uma pessoa bacana e maneira, então, para ficar mais maneiro ainda mande um comentário. Beijos no core de todos ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Innocent Can Never Last" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.