# Jellal Fernandes POV ON #

- Ulquiorra está ocupado? - pude ouvir uma tranquila voz familiar vir da recepção, o que me tirou a atenção do que estava fazendo.

- Ele não está presente, se prefirir, posso te dirigir à sala do vice-gerente. - Neliel a responde de modo simpático. Não pude evitar um sorriso.

- Tudo bem, obrigada.

- Me acompanhe.

Ouvi o som dos passos se aproximarem e ficarem mais altos e pesados. Eu estava estranhamente ansioso para sua chegada, e que parecia estar demorando séculos para que finalmente chegue na porta.

Por aceitar tão facilmente, me dei conta de que ela não sabia meu cargo aqui e por isso aceitou que viesse na sala do segundo gerente. Girei minha poltrona para o lado inverso da mesa, me virando para as janelas e ficando não-visivel para quem for me chamar de fora. Mordi o lábio inferior imaginando que tipo de roupa ela estaria usando, e que por acidentalmente acabou por vir os pensamentos dela sem suas roupas.

Toc-Toc.

- Com licença senhor... está ocupado? - vi por meio de reflexos em uma parte da janela em que não estava coberta pela cortina escura e negra que a minha ruiva preferida havia chegado.

Por sorte, naquele dia eu estava rouco. Se ela ouvisse minha voz, com certeza sairia dali correndo, derrubando a todos e gritando nomes ofensivos a mim. E provavelmente, nem voltar aqui, voltaria. Com medo dessa opção, preferi que Ulquiorra estivesse aqui para atender-la. Mas sacodi a cabeça para remover estes pensamentos, porque obviamente era melhor que era realmente que estivesse falando comigo.

- Pode entrar querida. - alterei a voz, mas de modo que não parecesse falsa ou sarcástica.

- No último dia que vim aqui fiquei devendo alguns documentos para completar nosso contrato, os trouxe hoje.

- Claro, vamos então completar seu contrato com a nossa empresa. - fui me virando aos poucos de volta para a frente para poder olhar-la no fundo de seus olhos castanhos avermelhados. Ela se assustou ao me ver, mas não se deixou por abalar e continuou ali para fazer o que veio fazer.

Assinamos algumas papeladas, verifiquei sua identidade e outros documentos pessoais e encerramos. Ela rapidamente guardou seus papeis e copias em sua bolsa de couro marrom café, se despediu rispidamente e se levantou num movimento brusco para ir embora.

Eu não podia deixar-la ir embora. Não agora em que eu precisava muito falar com ela.

A segurei pelo braço, em seu pulso forte o suficiente para machucar-la. Não me agradava, mas foi meio que necessário. Ela poderia arrancar meu amiguinho facilmente ou deixar meu olho roxo com um estalo de tanta raiva que poderia estar.

- Me solte, seu louco! - ela começou a gritar e tentou separar seu pulso de minhas mãos. Ela não conseguia, ainda bem. Se não, já era Jellal.

Mas eu deveria ser rápido, afinal ela sabe usar muito bem outras partes do corpo.

- Precisamos conversar, Erza.

- Quem te deu o direito de me chamar pelo primeiro nome?

Aquilo foi como uma ferroada nas partes baixas. Quase todos a chamam assim e comigo seria diferente. Ela ficou com tanta raiva assim? É, sou um idiota mesmo.

Ela se remexia toda para se separar de mim, e até deu uma cabeçada em minha testa, o que me deixou um pouco tonto e fora de mim. Não queria chegar a aquele ponto, mas aquilo foi provocativo.

A segurei mais forte e a preensei na parede de modo em que ela não tinha mais nenhuma liberdade de movimento. Colei seu corpo ao meu a preensando e segurando seus braços mais ao alto.

- Sério, nós temos que conversar.

Ela estalou a língua de modo muito irritado mas assentiu.

- Eu quero que entenda que não sou igual aos outros. Apenas me dê uma chance de mostrar que sou diferente e que não farei mal algum. Não sei o que te fizeram, mas eu não fazerei. Se me der essa chance, serei atencioso, carinhoso e...

- Não. Eu já disse que agora sou do outro lado.

Tentei raciocinar suas palavras. Do que ela estava falando? Lado? Que lado? 

Ah, agora lembro do que ela está falando.

- Era sério mesmo aquilo?

- Claro que era! Prefiro mulheres que homens. E você então, um homem que se diz tão diferente mas está quase me estrupando e machucando meu pulso?

Decidi soltar-la e coloquei as mãos sobre minha testa. Como sou estúpido.

- Me d-desculpe...

- Desculpo, fazer o quê... - ela me responde de modo indiferente e acariciando seus pulsos. Eles estavam quase roxos. Grande idiota eu sou.

A fiquei observando por vários segundos, a encarando de jeito nervoso e duvidoso. Tentava ler suas expressões. Ainda não acreditava que ela não tinha saído dali ou me dado um chute nas partes baixas. Ou cortado meu pescoço. Ou me queimado vivo ali mesmo. Ou me xingado dos piores nomes existentes e possíveis. Ou... ah, deu para entender.

- O que está olhando? Você é obsessivo, sabia?

É, eu sabia.

Me aproximei dela, mas decidi recuar e sentar de volta em minha grande poltrona executiva giratória negra.

- Gostaria de saber o porquê de você ter começado a odiar homens tão de repente...

- Não foi de repente. E foi por causa de meu ex. E não quero falar sobre isso.

- Ah, entendo. - suspirei, desistindo. - Se quiser conversar algum dia, sobre. Me ligue.

- Não tenho seu número. - ela bufou. Dava pra perceber que conversar comigo a chateava mas ela mesmo assim ela não tinha saído dali.

Peguei um cartãozinho-patrocínio da empresa, e atrás, no espaço branco marquei meu número de casa, meu número de celular e meu endereço também.

- Agora tem. E meu endereço também.

- Ok. - ela pegou o cartãozinho, o observou e jogou em qualquer canto de sua bolsa.

- E eu quero que saiba que estarei ao seu lado para qualquer coisa. Qualquer coisa. - dei uma piscadelha para ela.

- Tudo bem, qualquer coisa eu ligo. - e assim, finalmente saiu da sala. Dei um sorriso alegre e envergonhado após ela dar as costas e fechar a porta com tudo.

Mas, é, ela não ligaria.

Mas já era um bom começo.