O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 90
A contadora de historias




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–Não... você queria o derrotar, lembra?

Tentei encara-lo com dificuldade já que minhas pálpebras insistiam em se fechar.

–Eu quero morrer. Falei tentando me soltar dele.

–Não, você não quer morrer. Ele me sacudiu e eu senti ânsia.

Fechei os olhos.

–Por favor, Julie, agora não... ainda não...

–Me larga...

–Olha, eu vou tentar curar você.

Ele fechou os olhos e murmurou algo depois os abriu e me encarou, fez isso mais umas sete vezes, não adiantou.

Coloquei minha mão em seu rosto.

–Desiste... é sério, sem energia vital não tem mais jeito.

–Olha eu não queria matar o Mike, eu não sabia que gostava tanto dele.

–Não é por causa do Mike, eu só quero ir... tossi.

–Não, você vai acabar vencendo o Destino, você vai o vencer.

Tentei ri, mas apareceu somente um sorriso silencioso.

Fechei os olhos e tentei controlar o pouco de respiração que tinha.

Ele me sacudiu novamente.

–Não fecha os olhos... não faça isso.

Fiz uma careta.

–Não entendo como ainda estou viva. Falei.

–Quem sabe sobrou bem pouquinho de energia vital?

–O suficiente para quantos minutos?

–Não sei...

O fitei.

–Felipe o que está pretendendo fazer?

–Entendi seu plano, eu posso lhe ajudar...

Suspirei.

–Meu pai ainda está lá em cima e...

–Por que ele não te matou? Ele sabe que está do meu lado.

Ele deu de ombros.

Me vi novamente em cima da torre o Destino me fitou e depois olhou para Felipe com ar de desaprovação.

–Já lhe disse para não ter dúvidas sobre que lado está! O mesmo raio azul que atingiu João saiu da mão do Destino, mas Felipe conseguiu se desviar.

–Para, pai. Heather se colocou na frente de Felipe ante que o Destino o encurralasse.

–Saia da frente! Ele gritou.

–Não pai... isso já foi longe demais... quer acabar com todos os seus filhos?

–Você quer parar de viver?

Felipe piscou pra mim e eu fechei os olhos apenas ouvindo o que estavam falando.

–Prefiro, se isso for motivo para você continuar matando-nos.

–Se é assim acabo com você e Felipe de uma só vez, venham crianças, vamos ajudar-me.

–O problema é que agora somos nós 12 contra o senhor. Ouvi a voz do Felipe.

Sorri e lutei contra mim mesma para abrir os olhos e ver todos os 12 em volta de Felipe enquanto o Destino os encarava com ódio.

–Eu quero a minha mãe! você não vai matar a Julie como fez com ela. Mariana gritou e se atirou em cima do Destino.

–Está louca? posso matar todos vocês num instante.

André riu.

–Querido pai, acho que desta vez não. Ele mostrou o livro imenso em suas mãos.

–Vocês vão morrer, não entendem?

–Já vivemos demais.

–Se é assim adeus, queridos filhos.

–Não pai, adeus para você.

Com esforço gritei e todos olharam para mim.

–Sem essa, ninguém vai morrer aqui hoje. Falei rouca.

–Você vai. O Destino gritou e eu vi um enorme raio vindo em minha direção... depois... escuridão.

Enquanto eu passeava pelo mundo dos mortos a cena ainda acontecia...

Felipe engoliu em seco.

–O que você fez?!

–Tenha pena dela, filho, se realmente gostava dela devia estar feliz já que ela não está mais sofrendo.

–Ela estava sofrendo por quê você é um idiota.

–Olhe como fala comigo!

–Ele tem razão pai, você está completamente errado.

–Vamos raciocinar... ela morreu, já acabou, não precisamos entrar em conflito... que aliás só vai piorar as coisas para vocês.

–Não, vamos acabar com isso agora! A Julie me fez ver que eu não trocaria a droga desta imortalidade pela minha mãe, nem pelo meu pai! Mariana gritou.

–Mariana, você está de castigo. Ele respondeu severo.

–Você não manda em mim.

O Destino ficou com os olhos mais vermelhos possível, assim como seus 12 filhos.

–Por que vão lutar contra mim? eu sou imortal por mais 100 anos!

–Assim como nós. Heather respondeu.

O Destino riu.

–Tentar me matar é igual matar vocês.

–Você já falou isso, e nós não nos importamos. Felipe respondeu revirando os olhos.

–Eu sou bem mais forte que você.

–Não é mais forte que 12. Felipe o desafiou.

Os doze andaram em direção ao Destino que foi andando para trás até se aproximar da beirada.

–Isso é pela minha mãe. Mariana gritou empurrando-o ainda mais perto da beirada.

–E pela minha avó. Heather concordou e ele foi se afastando até ficar poucos centímetros da vala.

–E pela pessoa que um dia ia ser minha namorada. Felipe fez uma careta e o empurrou.

O Destino caiu rindo.

–Me atirar de um precipício não vai me matar!

–Irá... se eu desconectar a energia da sua vida. André riu.

O Destino gritou de uma forma tão agonizante que parecia que estava possuído.

~~//~~

–Julie! acabou, Julie, finalmente, vamos, acorde, por favor, vamos, acabou! Alguém me chacoalhava.

Com força abri um olho.

–Deu certo.

Admirei uma cópia de Felipe imperfeita.

–Viu! não sou mais um imortal, o Destino morreu!

Tentei falar algo, mas minha voz estava muito rouca.

–Você morreu, mas usamos um pouco da energia que tinha para que durasse mais alguns minutos. Felipe me encarou com um olhar cansado.

Ri ao notar sardas em seu rosto.

–Por que não me deixou ir?

–Eu vou deixar, mas eu queria que pelo menos pudesse lhe dizer que acabou.

Sorri.

–Acabou! Ele riu como uma criancinha e me abraçou.

–Obrigada.

Me perguntava como todos os 12 ainda estavam ali, vivinhos.

–É... - Felipe descobriu o que eu estava pensando - Tem um pouco de energia em nós ainda... ainda estamos em processo de morte.

–Oh...

Ele sorriu.

–Mas... dói muito? Perguntei.

–É uma dor boa.

Suspirei.

–Você viu como é? Ele perguntou com os olhos azul morto se transformando em um azul mais vivo.

–Como é o quê?

–Morrer, de verdade! Mariana pulou do meu lado e eu ri com sua aparência que mesmo ficando imperfeita a deixava linda.

–Eu... eu não me lembro... Não deu tempo, imagino.

Ela olhou pro chão.

–Vamos, Mariana deixa o Felipe "falar" com ela. Heather riu e todos foram embora.

Sorri fraco e ele se sentou do meu lado.

Senti algo me apertar novamente.

–Antes que você vá eu queria...

O encarei e tentei segurar a dor.

–Eu não sei o que eu queria. Ele riu.

O encarei.

–Pensava que queria um beijo. Falei sorrindo.

–Não seria mal...

Revirei os olhos.

–Vejamos o que eu já fiz por você para receber este beijo... eu já... nossa! que lista longa!

Ri.

–Sabe que se eu te beijar eu vou morrer, não é?

Ele me encarou surpreso.

–Seria uma ação... um meio de você conseguir energia.

Ele revirou os olhos chateado.

–Estou quase totalmente humano.

–Oh...

Ele sorriu.

–Quem sabe morremos juntos?

Ri com um pouco de muita força.

–Tipo...

–Romeu - ele apontou para se mesmo. - e Julieta. Ele apontou pra mim.

Revirei os olhos.

–Vamos... eu sei que você me ama.

Ele riu e se deitou no piso de pedras.

Fiz o mesmo.

–Quer estrelas?

Ri.

–Você não consegue criar mais estrelas.

–É mesmo. Ele falou revirando os olhos.

Observei seu cabelo ficando menos brilhante e perfeito.

Dei de ombros.

–Pelo menos assim não me sinto constrangida de estar ao seu lado.

–Você se sentia constrangida? Ele franziu a testa.

–Sei lá, vai que minha imperfeição destrua sua perfeição. Ri.

Ele fez uma careta.

–E agora que eu sou imperfeito?

–Agora acho que não tem problema, quem sabe você fica até que menos convencido.

Felipe deu de ombros.

Senti falta de ar e engoli em seco.

–Tem algo muito dramático para falar? Perguntei me virando para ele.

–Hum... Eu te amo?

Revirei os olhos.

–Algo que não me enjoe, tipo eu morro e penso "uau, mas aquela frase fechou minha vida com chave de ouro".

Ele fez uma careta e não falou nada.

–Não vai falar nada? Perguntei rindo após alguns instantes.

–O silêncio. Ele piscou pra mim.

Um enorme pânico me agitou e eu senti minha garganta totalmente fechada.

–Desculpe... mas eu não aguento mais. Falei tentando sorrir.

Ele me encarou sério e se sentou do meu lado.

–Tem algo que eu possa fazer? Ele sussurrou.

Minha visão ficou embaçada.

Revirei os olhos.

–Ah... antes que eu me culpe por toda a eternidade...

O beijei e fechei os olhos finalmente, depois de sentir paz e descobrir o que meu pai queria dizer com ser livre e eu vim pra cá"

Julie respirou fundo após tão longa narrativa e se ajeitou na cadeira ansiosa pela resposta que eu iria lhe dar.

–Tenho que admitir que a maioria das pessoas não pensam em contar sobre como morreram para mim...

–Deve ser por que a "Dona Morte" não é retratada como alguém muito simpática. Julie respondeu rindo nervosa e depois parou e olhou pro chão.

Ela tinha razão ao dizer que quando ficava ansiosa suas bochechas inflam.

–Mas... mesmo assim quis a contar pra mim, por quê? Tentei não falar com meu tom amargo como sempre.

Ela olhou para outro canto antes de me fitar.

–Por quê é uma história e todas as histórias merecem ser contadas.

Ri.

–Mas você não irá acaba-la?

–Como assim? Ela perguntou franzindo a testa.

–A historia acabou por quê você morreu?

Ela deu de ombros.

–E o Felipe? a Lorraine?

Ela suspirou e depois riu.

–Você gostava dele? Insisti.

Ela me encarou apreensiva e depois concordou de leve.

–Mas e o...

–Mike?

Fiz que sim.

Ela suspirou e me lançou um olhar engraçado.

–Eu... não sinto o mesmo pelo que sinto pelo Felipe... é que... eu não sei...

Sorri, é complicado me fazer sorrir.

–Mas o que aconteceu com ele? Insisti.

–Com o Felipe? Ele já deve estar por aqui. Ela olhou em volta para ver se o encontrava.

Disso eu já sabia... eu mesma o busquei, mas infelizmente não era para cá que ele vinha.

–Então você já sabe que ele ficou ali do meu lado até morrer. Ela deu de ombros ao desvendar o que eu pensava.

–E a Lorraine?

Ela sorriu.

–Ela está ótima, ela e o Henrique.

Concordei calmamente.

–Mas queria saber algumas coisas antes que fosse embora.

Ela me encarou sossegada.

–O Felipe... quando o Destino o adotou... como o Felipe iria morrer?

–Incêndio. -Ela respondeu rapidamente- no final, o Destino tinha pena das crianças que ficavam sem pais e as adotava.

–E quem estava no caldeirão?

Ela suspirou.

–Eu... era o meu futuro...

–Como se sente pelo fato de saber que não vai mais ver o Felipe?

Ela suspirou triste.

–Sabe... se eu não tivesse acabado de ouvir sua historia juraria que queria voltar.

–Não! não quero voltar!

Caminhei em direção a janela e olhei em volta enquanto ela me encarava ansiosa.

–Você sabe que vai reencarnar? quem sabe você o encontre novamente?

Ela me encarou e sorriu.

–Não acho que seria a mesma coisa.

–Se ele realmente gostar de você acho que sim...

Julie brincou com os dedos.

–Mas adoraria ouvir mais, saber mais e...

Ela riu.

–Então só deixe alguma coisa que me faça pensar nisso para sempre... Insisti.

Ela riu mais.

–Sabe... eu omiti a parte quando consegui o livro.

–Como assim?

–Eu li meu futuro, digo, quem não iria ler?

Ri.

–E eu posso lhe dizer com total firmeza, eu mudei completamente o meu final... Eu mudei o meu Destino.

Suspirei.

–Obrigada pela historia, ficará em minha mente por um bom tempo. Falei com um suspiro do ar que não tenho.

–Sabe... eu preciso parar de contar minhas historias, você precisa fazer as suas também. Ela me encarou sorrindo.

À acompanhei até a porta.

Ela agradeceu e saiu.

A observei enquanto ela ia embora...

Vi o sapato dela no chão da sala... provavelmente os havia esquecido.

Ri.

Até depois da morte...


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Notas finais do capítulo

Awnnn, Ok, agradecendo a todos que leram, acompanharam, favoritaram, comentaram e me fizeram acabar meu primeiro livro (ok, eu não sei acabar as coisas considere isso um grande feito ^^) O fim ficou meio vago, mas acho que assim qualquer um pode inventar o final que quiser... (Depois que eu revisar a história e a editar inteira eu marco com finalizada, ok?)