O Livro Do Destino escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 88
Meu livro, meu fim




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Respirei fundo e corremos (eu corri já que ele me acompanhou flutuando) até a porta que chegava na torre.

–Pronta?

–Foi tudo tão de repente. -Me encostei na porta e suspirei - E finalmente... Passei os dedos na porta.

–Deveria se orgulhar já que chegou até aqui.

Fiz que sim.

Ele torceu o lábio.

–Tem mais uma coisa.

–Sim?

–Acha que se você morrer você não vai mais aparecer...?

–Oh... eu não sei... acho que sim, que nem a Laura. Dei de ombros.

Ele riu.

–A Laura continua aqui por quê está esperando alguém... sua mãe continua aqui por que estava esperando o seu pai, se você não estiver esperando nada você simplesmente some... puf!

Refleti sobre aquilo.

–Não tenho nenhuma escolha.

–Tem sim.

–Mas eu já decidi.

Ele revirou os olhos.

–Vou com você.

–Não... você viu o que aconteceu com o João e eu odiaria ver você lutar contra o seu pai.

Ele concordou e sumiu.

Respirei fundo.

–Isso acaba aqui. Murmurei segurando a maçaneta.

–O quê acaba aqui? sua vida? Mariana apareceu de ponta cabeça rindo do nada.

Ri...

–Mariana, diga... você tem medo d'água?

Ela fez uma careta, mas dava para notar um pequeno tremor que lhe invadiu.

–Por que eu teria? eu posso me afogar e voltar.

–Sim... mas é óbvio que sofre com isso... de alguma forma...

Escolhi bem as palavras.

–Sua mãe sabia nadar?

Talvez não foram tão bem escolhidas.

Mesmo assim ela me encarou surpresa por um instante e eu pensei que ela fosse cair no chão de tão assustada.

–Isso não é do seu interesse!

–Calma! minha mãe também não está mais comigo.

–E daí? Ela perguntou grossa.

–Por quê ela não é igual a vocês?

Ela me encarou boquiaberta.

–Por quê meu pai me salvou e me levou para longe.

–Ele é seu pai de verdade?

Ela riu.

–Sim, faz tanto tempo que eu não lembro do verdadeiro.

–Mas se lembra da sua mãe?

–Eu não pude salva-la... quando fui atrás dela ela estava se afogando e eu me afoguei também... ai ele me salvou e matou minha mãe.

–Você deixou ele matar sua mãe?!

Ela riu.

–Foi o pagamento para viver aqui. Ela deu de ombros.

–Então... deixe-me ver se eu entendi: Nenhum de vocês são filhos de verdade do Destino, são só crianças que foram vítimas de algo e que por alguma razão ele resolveu ajudar? por quê?

–Não é da sua conta! Ela gritou novamente.

–Você se sente mal pela sua mãe?

Ela riu, mas eu sabia que era forçado.

–Nunca me sentiria, por isso matei meu pai também.

Arregalei os olhos.

–Você não vê, Mariana? você se sente culpada por isso - A encarei - Mas na verdade você é culpada. Murmurei pra mim.

–Olha, não importa eu estou feliz com minhas decisões.

Dei de ombros.

–Tudo bem.

Ela fez uma careta e sumiu.

Não esperei mais, eu não conseguiria, abri a porta com força e me espantei com o pequeno espaço sem murros onde estava o Destino de costas com sua aparência de pai britânico.

Ele se virou e me encarou com o olhar tranquilo.

–Resolveu desistir de tudo? Ele perguntou.

–Como assim?

–Ah! claro! não tem mais nada pelo que lutar!

–Você está enganado. Fiz uma careta.

Ele deu de ombros.

–Eu posso lutar por mim, por todas as pessoas que nem conheço, por quê, se eu quiser...

–Eu posso destruir uma dimensão inteira. Ele riu.

–Por quê insiste neste jogo ridículo?

–Vai mesmo tentar dar lição de moral sendo que eu sou o livro e você é a leitora?

Arregalei os olhos, ele tinha razão.

–Vê. Você ainda pode se surpreender, não está pronta para morrer.

–E desde quando... Eu...

Ele riu.

Revirei os olhos e respirei fundo.

–Se eu lhe matar vou acabar matando seus filhos e eu adoro cada um deles.

Ele me encarou incrédulo.

–Sério? Ele se aproximou de mim.

–Sei que para você deve ser difícil acreditar, mas adoro a Mariana.

Ele riu.

–E se eu morrer ela pode ficar com meus olhos.

–Isso não prova nada e você vai morrer.

–Certo, mas do mesmo jeito eu ainda a adoro e isso é estranho já que todos odeiam sua família desprezível .

Ele caminhou lentamente em círculos à minha volta.

–E isso me faz diferente dos outros, por isso tenho uma chance a mais.

–Só gostar deles não muda nada. Ele deu de ombros.

–Claro que muda, por quê gostando deles quero que fiquem viv... como estão, e isso quer dizer que não vou te matar como todos os outros tentaram.

–Grande ideia! Ele ironizou.

Sorri.

–O que pretende fazer?

–Você não é o livro, você o controla, sem ele é impossível de você continuar perseguindo as pessoas.

Pode ter sido impressão minha, mas no meio daquela cara zombeteira eu vi preocupação que logo desapareceu e voltou a ter um olhar calmo.

–Vai queimar o livro? - Ele riu - 1o: você não está com ele, 2o: se você o queimar vai morrer queimada 3o: obrigado por me contar seu plano.

Ri sarcasticamente.

–Acha que ia te contar? é só uma pequena hipótese, eu poderia tomar esta atitude, mas pensei melhor.

–Você não precisa me contar.

O maldito livro que começou com tudo estava nas mãos dele.

Engoli em seco.

–Mas... - Rapidamente tive outra ideia - Verá que o livro está sempre reescrevendo minhas ideias, então terá que pensar, uma vez na vid... na mort... na sua meia vida meia morte.

Ele deu de ombros e jogou o livro em minha direção.

–Mesmo assim, dê uma olhadinha no final.

Suspirei e me afastei do livro.

Ele deu de ombros.

–Agora, já que resolveu me desfiar não vou lhe deixar sair daqui sem ter tido esta chance. Seu sorriso voltou e o livro flutuou para suas mãos novamente.

Olhei em volta, se eu caísse dali seria uma boa queda.

–Você pode morrer por ali - Ele olhou para o abismo de profundidade infinita - ou aqui.

–Aqui.

A adaga que eu usei para matar Laura surgiu em suas mãos.

Ele perfurou rapidamente uma pequena parte da capa.

Olhei para minha mão que começou a jorrar sangue.

Ele riu.

–Ou que tal... Ele dobrou o livro (como?).

Senti minha garganta apertar.

–Ou talvez...

O livro foi jogado próximo do abismo junto comigo.

–Um simples chute e você saberá o que é paz. Senti ele me fitando.

Respirei.

–Mas quem disse que é agora? Ele fechou os olhos e levantou o livro que começou a escorrer água e depois a manchar.

Minha pele começou a ficar com várias manchas pretas que se abriam aos poucos.

Segurei o nojo e a dor, mesmo pensando que era mais do quê impossível.

Ele riu.

–Tudo bem, Julie, desde quê eu não mexa nestas páginas está tudo bem. Ele folheou o livro.

Como pude pensar que um livro estava me fazendo mal? era óbvio que era um "humano".

–Descansou? pronta para o segundo round?

Ainda recuperava melhor o ar.

Ele jogou o livro num aquário (que eu nem vi ele materializar).

Realmente parecia que eu estava afogando, por quê quando ele tirou o livro do aquário eu estava completamente encharcada.

–Vejamos, eu podia escrever um livro "infinitos modos de matar Juliette"

Ignorei.

–Mas claro, antes disso preciso me certificar de funcionam.

Revirei os olhos.

–Vejamos... 1o modo:

O livro foi tacado no fogo e eu senti minha pele queimar.

–Segundo modo:

Ele jogou o livro numa altura enorme, mas ante que eu caísse de cara no chão ele pausou tudo.

–Terceiro modo:

Algo embrulhado em um pano apareceu na minha frente.

Olhei com curiosidade para o que estivesse lá dentro, mas me lembrei de que foi a curiosidade que começou com tudo.

–Não quer dar uma olhadinha e ver como é uma parada cardíaca?

Fui na ponta dos pés e me ajoelhei ao lado.

–Vamos, abra.

Toquei no tecido macio que logo trocou a cor amarelo encardido por vermelho sangue da minha mão, tirei rapidamente o pano da frente revelado o rosto do Mike.

–Mortinho. O Destino falou se aproximando e rindo.

–O quê!? Falei sem respirar e quase engasguei.

–Pois é...

Examinei sua face, não posso dizer se ele estava pálido ou não pelo fato de ele ser bem branquinho, mas ele não tinha mais pulso.

Senti algo me congelar por inteiro.

–Ok, chega... voltemos ao meu livro.

Mike sumiu.

Minha respiração ficou pesada e eu comecei a soluçar.

Isso tudo é só por quê ele quer que você lute com ele, mantenha a calma, você consegue.

Sorri, mesmo sendo bem mais complicado do quê fingir que eu não estava toda dolorida.

–Pelo menos ele não vai mais sofrer por sua culpa.

–Quem disse que eu não atormento espíritos?

Senti meu sangue ferver.

–Fica calma... Ouvi Felipe sussurrar de algum canto.

–Não dá. Murmurei em resposta.


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