A aposta. escrita por Holden
Notas iniciais do capítulo
Heei o//// Mesmo com poucos reviews, minha vontade de postar ainda não acabou hehe Porém, eles fazem minha vida tão feliz c:
- E desde quando você manda em alguma coisa infeliz?- perguntei, segurando-me para não perder o controle de meus pés, e tentar chutar uma parte não muito agradável do rapaz.
- Desde quando você colaborou para minha mentira na detenção.- respondeu enquanto destrancava a sala de artes e colocava as caixas no chão do cômodo.
Não pude conter meu espanto. Como uma sala propriamente para artes, uma das melhores matérias a meu ver, estava nessas condições? Será que ninguém se importava?
Esses medíocres.
A sala era bem espaçosa, e havia janelas bem grandes ali. Porém, estava em condições realmente precárias. As paredes eram da cor creme e já descascavam dando visão ao cimento atrás da pintura. Mesas e cadeiras estavam quebradas e os armários pichados, o assoalho de madeira rangia a cada passo que eu dava, e o cheiro de mofo impregnava o local.
- O que acha de começarmos pelas paredes?- a voz do imbecil ecoou atrás de mim. Virei-me e ele encarava todas as paredes, como se estivesse pensando no que realmente fazer. Sua mão direita estava no queixo brincando com a barbicha e a outra na cintura.
Não poderia parecer mais idiota.
Como se isso fosse possível.
- Pra mim tanto faz.- dei de ombros e tirei jaqueta a amarrando na cintura. Prendi meus cabelos em um coque frouxo e estralei os dedos, causando um barulho desagradável no ambiente.
Caminhei novamente até as embalagens e tirei rolos para cobrir primeiramente, as paredes de tinta branca.
- É melhor deixar essa parte comigo.- o idiotão resmungou enquanto caminhava até mim e tirava o objeto de minha mão. Ou pelo menos tentava, já que eu não largava de forma alguma.
- Por quê?- perguntei um pouco mais alto que o desejado.- Acha que sou incapacitada de fazer isso só porque sou do sexo feminino?
Ele suspirou alto e profundamente, como se lidasse com alguma criança. Passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os e pareceu contar até três. Teoricamente, tentando conter a fúria.
Mas só aumentava seu grau de babaquice.
- Ótimo.- começou.- Vá em frente. Eu concerto o assoalho, mas tente não fazer muita bagunça.
Fiz questão de ignorá-lo e peguei uma escada, que se encontrava recostada em um canto. Um pouco pesada, confesso, mas não daria o gostinho de pedir ajuda para aquela criatura.
Carreguei-a até a escada e peguei uma lata de tinta branca, deixando-a escorada no topo da escada. Coloquei o rolo lá dentro e comecei a pintar a parte de cima, enquanto ouvia os batuques de martelo de encontro ao assoalho.
Essa era minha chance. Aqueles $500,00 dólares estavam no papo.
- Então... Jeremy.- dei ênfase ao nome dele por pura pirraça. Mas acho isso soou um pouco sexy demais.- Sabe, você atraiu bastante olhares com seu showzinho ontem.
Ele riu. Não um riso qualquer, um riso de deboche, de gozação. Já mencionei de o quanto odeio que riam de mim?
Pois é. Já. E eu odeio.
- Meu showzinho?- respondeu ainda rindo.- Não lembro de ter jogado suco em ninguém. Muito menos de ser um hippie revoltado.
- Eu não sou hippie!- gritei.- De qualquer forma, você atraiu bastante olhares femininos, em especial um...- indaguei me recompondo.- Leni é minha amiga faz três anos e...
- E você quer empurrá-la pra mim, certo?- curto e direto.
- Isso soa um pouco grosseiro, mas em outras palavras, sim.- respondi ainda passando o rolo sobre a parede.
- Bom, ela é bem bonitinha, mas não vejo a razão de ficar com ela, só porque você quer.
- Ora, eu... Não estou pedindo para que fique com ela. Porém eu estou te ajudando a arrumar isso aqui...
- Por que eu estou lhe ameaçando.- sorriu vitorioso.
Maldito.
- Você acha que eu me importo com isso? Minha moral já esta baixa com essa escola, uma fofoca a mais ou a menos não fará diferença.- esbravejei.
- Então por que está aqui?
- Gosto de artes.- sorri lembrando-me do meu gosto pela pintura.- E então? Por que não sai com ela?
O garoto suspirou pesadamente e continuou martelando o assoalho com força.
- Irei pensar no seu caso, não pense que isso vai sair de graça.
Bufei.
- O que você quer?
- Verei depois. Agora termine de pintar isso, temos muito trabalho pela frente.- ordenou.
- Não me de ordens, seu idiota!
- E você, pare de ser tão estressadinha.
- Não estou estressada!
- Então me fale o nome disso...
- Ora seu...
Antes de terminar o belo corte que eu falaria pra ele, sinto meus pés balançarem e a escada me deixar na mão. Quem poderia medir esforços com aquela coisa velha e enferrujada? Só posso dizer que vários pregos se desprenderam dela e eu senti meu corpo ser empurrado de encontro ao chão sujo daquele local. Fechei meus olhos rapidamente e sinto cair em algo quente e fofo.
Ai meu deus eu morri.
- Jane!- ouvi uma voz grossa e rouca ecoar perto de meus ouvidos.- Jane! Você poderia sair de cima de mim agora?
Ai meu deus eu não morri.
Abro meus olhos rapidamente e me assusto com o rosto de Jeremy tão perto de mim. Sua respiração ia de encontro a minha bochecha e suas mãos entrelaçavam minha cintura.
Alguns segundos se passam e o balde da tinta branca cai, minuciosamente sobre nós. Despejando todo líquido um pouco mais sobre mim e meus cabelos e o restante na face do garoto.
- Sabia que era melhor EU fazer o trabalho.- murmurou me jogando para o lado e limpando seu rosto com brutalidade.
- A escada quebraria de qualquer jeito, merda.- passei os dedos sobre o couro cabeludo e percebi que estava perdida para tirar aquilo dali.
Jeremy se vira e me encara com aqueles penetrantes olhos azuis, por um momento eles pareciam indecifráveis e com um tom de azul mais escuro, diria que era raiva, mas logo desisti de entendê-lo.
Jeremy é tão complicado quanto eu.
Ambos estávamos sérios, mas como num passe de mágica, reparo em como o garoto estava horrível com aquela tinta sobre a face e solto uma estrondosa gargalhada. Não demora muito e o tal ser me acompanha nas risadas diabólicas também. Eu deveria estar tão acabada quanto ele.
- Você está horrível!- indaguei ainda rindo.
- Cara se olha no espelho.- respondeu-me no mesmo tom.
Ficamos mais um tempo ali e ele se levanta me ajudando logo em seguida.
- Vamos terminar logo com isso.
O garoto me ajuda a terminar de pintar a parede e logo o assoalho também já estava pronto. Trocamos as carteiras e cadeiras por móveis novinhos e coloridos, como uma verdadeira sala de artes merece. Mesmo a contra gosto, o rapaz me ajuda na faxina.
- Só falta colorir as paredes.- murmurei após todo trabalho pesado ter sido acabado.
- Ah, branco está de bom tamanho.
Caminhei até as tintas coloridas, ignorando seu comentário anterior. Enfiei as palmas de minha mão em cada cor. As primeiras escolhidas foram verdes e azuis. Corri até as paredes e comecei a carimbá-las com força nos locais.
- O que está fazendo??- berrou.- Ficou louca?
- Tente! É divertido!- respondi sorrindo ainda carimbando as mãos sobre a textura branca e límpida das paredes.
Meio desconfiado, ele caminhou até outros dois potes de tintas, colocou com cuidado as mãos ali, na cor roxa e amarela, e repetiu minha ação, carimbando as paredes ao seu redor. Logo éramos dois bobos ali, indo e voltando nos potes de tinta, inovando a cada palmatória nas paredes.
Passamos a tarde ali, nos divertindo com as mais diversas cores de tintas. O resultado final foi bem agradável, nem estava parecendo à sala velha e imunda de mais cedo. Com certeza eu amaria ter aulas de artes ali.
Nosso estado estava lamentável. Meus cabelos estavam coloridos e a roupa totalmente tingida. Digo o mesmo de Jeremy.
- Poderíamos virar Picasso.- exclamei olhando o resultado final nas paredes.
- Colocar mãos em tinta, não é algo de se admirar, Marie Jane.- exclamou olhando seu relógio de pulso, todo manchado também.- Já está tarde, precisamos ir.
- Tem razão, organize as tintas.- retruquei pegando minha jaqueta e a vestindo.
- Ei não me de ordens!- ambos rimos.
- E ai.- comecei meio receosa.- Você vai sair com a Leni?
- Ainda com isso na cabeça?- respondeu bem humorado.- Ta legal, com uma condição.
Bufei e revirei os olhos. Já estava farta de favores.
- Fala.
- Passe novamente a tarde comigo amanhã.
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