A aposta. escrita por Holden


Capítulo 10
Olá Henri.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora ;-; Mas não consigo postar todo dia, nas férias até dava, culpem minha escola :c
Boa leitura 0/
Tem personagens novos.






Deixem reviews.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/390423/chapter/10

  Sentia pontadas doloridas e fortes de encontro a minha cabeça, meus músculos estavam moídos, meu sono estava inevitável, minha cara amassada e podem ter certeza, minhas olheiras desastrosas.

  Acordar às oito da manhã em um domingo não é para qualquer um, principalmente ser despertada por batidas fortes de panelas vindas do andar de baixo. Poderia ter gritado um “Puta que pariu”, mas lembrei de que não estava em minha casa.

  Espreguicei-me sobre a cama toda desarrumada do quarto e por um momento, percebi que Jeremy não estava mais ali. Sorri com o canto dos lábios em perceber que a chuva já havia passado e o céu estava totalmente límpido!

  Espera... Mas é claro que ele não estava ali! Quem mais poderia estar fazendo ruídos com panelas desastrosamente? E se ele não estava ali... Era uma boa hora para fugir!

  Levantei-me rapidamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Corri para o banheiro e minha roupa toda rasgada do outro dia estava no cesto de roupas sujas (pode parecer nojento, mas eu não tenho escolhas, como vou aparecer em casa com roupas de homem após uma noite fora?) tirei as que Jeremy havia me emprestado e em frações de segundos, estava pronta.

  Desci as escadas na ponta dos pés, com meu par de tênis em mãos e percebi um delicioso cheiro de panquecas com calda vindos diretamente da cozinha, meu estômago implorava por aquilo, mas minha missão era sair dali o mais rápido possível, por que se dependesse do jumento, ficaria ali para sempre.

  A chave estava pendurada na fechadura da porta, o que me fez murmurar um “Graças a deus” quase inaudível. O garoto assoviava uma canção qualquer, terminando o café da manhã, enquanto eu praticava minha estratégia de fuga.

  Estava ocorrendo tudo bem, mas, foi quando o mini demônio (gato) alcançou-me e começou a miar loucamente, Jeremy percebeu e gritou “O que houve garoto?”

  É óbvio que ele viria até mim, então (não me achem um monstro) chutei o bichano o mais longe que pude. Nada aconteceu com ele, mas fez com que o garoto desviasse o caminho e me desse tempo suficiente para destrancar a porta e correr dali como um foguete.

  Entrei no elevador desesperada e apertei o primeiro botão para que ele me descesse até o saguão. Minha respiração estava ofegante e eu já suava frio novamente. Enfim, eu não morri. E consegui sair de lá a salvo.

  Corri até minha casa, o cansaço era o que menos importava agora, as ruas ainda estavam molhadas, consequência do temporal de ontem à noite, e quase tropecei umas trocentas vezes.

  Parei em frente da residência e fiquei meio receosa sobre entrar ou não. Será que o voo para Washington está muito lotado ou sei lá, caro demais?!

- Filhona!- papai apareceu abrindo a porta com um sorriso estampado nos lábios.

  Espera aí? Com um sorriso estampado nos lábios?

- Ãhn... Oi.- sorri meio tímida.

- Como foi na casa da Leni?

  Para tudo. O que?

  Casa da Leni?

- Leni?- papai por sua vez, olhou-me um pouco confuso.

- É, sua amiga, lembra-se?

  Droga, Jane sua idiota! É claro que ele ligou para ela e a mesma, afirmou que eu estava lá.

  Salva pelo gongo. (Quem ainda usa isso?)

- Ah sim! Haha! Nossa! Quanta burrice minha.- indaguei tentando disfarçar o nervosismo.- É que acabei de acordar e... e...

  Perdi totalmente as palavras quando Jack passou pela porta absurdamente sorridente, com um... um... Rato gigante em mãos??

- O-o que é isso?- tremulei nas palavras escondendo-me atrás de papai.- TIRE-O DAQUI!- gritei enquanto minhas pernas bambeavam.- TIRE!

  Tá, eu odeio qualquer derivação de animais. Desde pequenas formigas até as baleias azuis. Odeio todos, T-O-D-O-S! Isso inclui o ser humano.

  Olá garota dramática.

- Esse é o Timmy, meu ofurão.- o capetinha sorriu com satisfação e o aproximou de mim.

- AAHHHH!!- gritei quando o rato maníaco enorme encostou-se a uma parte de meu cabelo.- TIRE! TIRE!- debati-me completamente.

- Jack, vá pra dentro!- papai ordenou.

  O pirralho mostrou-me a língua e agarrou aquela fera ambulante, levando-a para dentro logo em seguida. Respirei aliviada, mas não completamente recuperada. Mas que porra foi aquela?

- O que significa isso?- exigi ainda trêmula.- Não me diga que terei que aturar mais um rato, e ainda por cima gigante!

- Não é um rato Jane, e sim um ofurão.- respondeu bem-humorado.- Desculpe querida, mas seu irmão estava muito triste pela morte do hamster.

- Dane-se! E minha segurança? Como fica?

- E só um animal fofinho, vai se acostumar.- riu da minha desgraça e beijou o topo da minha cabeça piscando para mim logo em seguida.- Não quero que implique com seu irmão, certo?

- Não posso prometer não matá-lo.- indaguei e corri para dentro preocupada em não cruzar com aquela coisa demoníaca.

  Subi e tranquei-me no meu quarto, suspirando por finalmente estar em casa. Joguei os sapatos para longe e caí em cima de minha cama que se encontrava toda acabada, porém todinha minha.

  Dormi por longas horas, afinal, era domingo, e não seria o demônio de olhos azuis, minha amiga tarada cheia de tesão por caras bombados, o rato gigante do meu irmão ou meu próprio irmão que tomariam isso de mim.

  Sinto que ando ficando muito revoltada nesses dias.

  Já eram seis da tarde (sim, seis da tarde), e o sono só me tomava mais e mais. Foi quando pulei da cama, lembrando-me de uma feira de artes modernas que chegaria hoje na cidade! Havia esperado dois meses por isso! Havia economizado minha mesada inteira para gastar em quadros e peças de jóias hippies e artesanais.

  Corri para o banheiro e tirei aquela roupa suja que já estava me incomodando, até estranhei os dois terem despercebido a mancha de fondue e rasgos que havia provocado nela.

  Bem, menos mal pra mim.

  Lavei meus cabelos castanhos que estavam novamente ensebados e penteei com força desfazendo eternos nós que haviam ali. Coloquei uma saia longa em um tom marrom dégradé com uma blusinha branca que deixava um pouco da barriga a mostra (só um pouco, não sou nenhuma safada, apenas livre) e uma sandália de dedos que havia comprado na feira do ano passado.

  Desci e esqueci completamente de que não havia comido nada hoje, a empolgação era bem maior. Peguei minha carteira e sai.

  A feira estava completamente lotada, pessoas de diferentes estilos em cada lado, todas com o lema da liberdade e sorrisos estampados por todos os lados. Havia hippies largados na praça principal, alguns fumando, outros apenas admirando o sol... Era realmente tudo incrível! Havia peruas coloridas estacionadas em todos os lugares.

  Passava por várias tendas observando quadros, artesanatos, jóias... Tudo era extraordinário!

- Hey!- uma voz masculina ecoou atrás de mim.

  Virei-me, era um garoto um tanto alto. Por um momento fiquei meio perdida, achei que havia me confundido com alguém, ou que simplesmente o aceno fosse para outra pessoa

- Você mesma.- indagou com segurança dando a mão para mim, para que eu não fosse levada em meio a multidão.

  Ele poderia me sequestrar ali mesmo. Mas e daí? Acho que minha vida estava um pouco sem sal esses dias mesmo.

  Brincadeira, eu estava ficando completamente louca, isso sim. Dar a mão para um completo estranho não parecia tão perigoso quanto viver minha vida a cada dia.

  O moço puxou-me para dentro de uma tenda. Lá era bem espaçoso até, e havia várias pessoas pintando quadros dos mais diversos estilos, minha boca ficou aberta no formato de um “o” perfeito.

- Uau.- murmurei olhando os arredores.

- Essa é a minha tenda.- ele apareceu atrás de mim.

  O fitei rapidamente. Usava um cabelo no estilo “dreadlock”, uma calça folgada e preta juntamente de uma camiseta branca com várias estampas, parecia que o mesmo havia pintado. Seus olhos eram de um tom esverdeado claríssimo, e sua pele era de um belo bronzeado, ele era lindo, para ser mais exata.

- É maravilhosa.- sorri.- Mas... Hum... Por que me chamou?

- Acho que não deve ser desperdiçada.- respondeu com voz calma e preguiçosa. Puxou um cigarro e após algumas baforadas soltou um sorriso torto para mim deixando seus dentes perfeitamente brancos e alinhados á mostra (nossa! Fumar e ter dentes brancos eram uma sorte só! Demônio de olhos azuis também era assim, o maldito). Percebi que ele não tinha covinhas como Jeremy... Mas era bonito do mesmo jeito. E por um momento, esqueci o ódio que tinha por cigarros.

- Como assim?

  Não me respondeu e puxou um apoio para tela e também uma própria tela branca próximo a si. Pincéis de diferentes finuras, tintas variadas, um banquinho e ficou perto de mim.

- Estou querendo dizer... Que daria um belo quadro.- respondeu sem expressão ou emoção alguma.

  A essência hippie me admira.

  Não falei nada, apenas deixei que se aproximasse e tocasse em meu rosto. Um choque eletrizante tomou conta de meu corpo e fiquei um tanto confusa naquele momento.

- Não, ainda não está bom...- murmurou remexendo na posição que eu deveria ficar.- Acho que deveria sorrir, gostei do seu sorriso.

- Eu... Obrigada.- então sorri. Um sorriso verdadeiro, onde raras vezes eu conseguia dar.

  Fiquei parada enquanto o garoto que eu não sabia o nome, porém lindo, me pintava prestando cada atenção em meu traço. Ele pintava absurdamente rápido, e com uma perfeição de dar inveja. Parecia que enquanto fazia seu trabalho, viajava em um mundo só seu, e todos os detalhes ao seu redor eram igualados a nada, porque simplesmente não existiam pra ele. Não naquele momento.

- Pronto.- voltou ao mundo real em cerca de meia hora depois.

  Mexi-me quase que desesperadamente saindo daquela posição, senti certas dores nas costas, mas me espreguicei, por fim, caminhando até o quadro.

  Estava perfeito, cada detalhe, cada traço, cada parte, meu deus... Esse cara era anormal!

- Nossa... Brilhante!- surpreendi-me.

- Apenas lhe transmiti para a tela, você é a verdadeira obra de arte.- indagou puxando mais um cigarro e o acendendo sem emoção alguma.

- E você é bem atrevido.- ri.- Como se chama?

- Eu tinha um nome... Costumavam me chamar de Matthew, quando eu vivia preso.- disse olhando para o nada, como se recordasse de uma época de sua vida.

- Preso?- assustei-me.

  Ele riu.

- Preso não significa que eu vim de uma cadeia, garota.- respondeu bem-humorado.- Preso significa a época de quando eu não podia ter minhas próprias escolhas, quando eu tinha uma rotina sem-graça, sem sal, quando meus pais me controlavam, quando eu não podia ser o que eu queria ser... As pessoas esperavam de mim um futuro médico ou advogado... Era decepcionante, frustrante.

- Eu te entendo.- sorri.- Então não quer que eu te chame de Matthew?

- Vamos ver... Henri é um nome legal. Chame-me de Henri.- sorriu rapidamente voltando ao seu cigarro.- E o seu carma?

- Meu nome não é nenhum carma.- esbravejei.- É Jane, Marie Jane.

- Certo... Jane.

  Outras pessoas entraram no local pedindo para serem pintadas. Pagavam um bom dinheiro por isso, e, por um momento fiquei receosa sobre ter que pagar o quadro. Não tinha todo aquele dinheiro.

- Ér... Henri...- murmurei enquanto ele pintava uma mulher com sua filhinha junto.- Sobre o quadro... eu...

- É seu.- indagou com sua emoção rotineira.

  Não respondi, pois meu celular começou a tocar.

“Por que não deixei essa merda em casa?”- pensei.

- Alô?

- Jane? Sou eu... Leni.- senti sua voz um pouco tensa.

- Ah... Oi, você está bem?

- Não mais do que você.- respondeu com ironia.

- Ãhn?- assustei-me.- O que aconteceu?

- Ah não se faça de sonsa Marie Jane, só me diga como foi à noite... Com o meu futuro namorado!- rosnou.- Como teve coragem?

  Droga, mais essa agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!