Quando chegamos ao Acampamento meio-Sangue eu entreguei a lança e a caixinha vermelha de Ares para Lara. Que tinha voltado ao Acampamento, antes de nós. Ela ficou um pouco receosa quando soube de quem era a caixa. Mas fez questão de abri-la ali no mesmo momento.

A caixa era vermelho sangue, e tinha um desenho de um javali na tampa. Ela abriu, e de dentro tirou um bracelete dourado, ela revirou os olhos. Eu fiquei olhando para o bracelete.

-Ok! Agora ele acha que só porque eu perdi uma amiga filha de Afrodite eu tenho de me vestir como uma? Fala sério! - ela resmungou.

-Não, olhe!- eu apontei para o bracelete, nele tinha uma inscrição quase ilegível.

Ela olhou mais perto. "Quem um dia possuir o bracelete, saberá o quão forte és na batalha." ela leu, depois fez uma cara que entendeu tudo eu, contrariamente, não compreendi nada.

-Como assim? - falei ainda o bracelete.

Ela riu e o colocou no braço, depois ela piscou para mim e empunhou o bastão, presente de Zeus. Lara pôs a mão sobre o artefato dourado no seu braço, e logo em seguida eu não via mais a Lara usando a comum blusa do Acampamento Meio-Sangue, seu casaco de couro preto e suas calças jeans. Não. Ela usava uma bela armadura que reluzia à luz do sol, me ofuscando.

-Tcharam! - zoou ela.

-Nossa! Essa ganhou até dos grampo de Fernanda. Uau! Quer dizer que o bracelete vira  uma armadura? - eu pisquei com o brilho que ofuscava meus olhos.

-Não é lá essas coisas!

-Claro que é! Ora! Olha isso agora a pouco você estava usando uns tênis e calças jeans, agora você está com uma armadura!- disse - Sabe o quanto você pode ser forte com apenas isso? Você pode ferir alguém só com um soco bem dado, usando essa armadura, ela pode ser tão dura quanto diamante!

Ela sorriu. Sabia disso. Então era aquilo que a legenda no bracelete queria dizer. Eu ri junto com ela, e nós chamamos Fernanda, que já estava se recuperando pela perda de Milena. Ainda chorava, ainda lembrava as coisas boas vividas com ela. Mas estava mais forte, tentava levar as coisas para frente, mesmo muito para baixo ultimamente.

-Fernanda! Vamos! Precisamos nos arrumar!- disse esperando sua reação, Lara riu ao meu lado, ela sabia do que eu falava.

-Nos arrumar, para quê? - A morena disse se aproximando.

-Ora! Não se lembra? Vamos para a festa no chalé de Apolo! Metade do acampamento estará lá! - eu falei a puxando pela mão, na direção dos chalés.

-Mas eu não estou em condições...- ela tentou negar o pedido.

-Nada de mas. Você está muito caída pro meu gosto! Sinto falta da Fernanda maluca que conheci! Venha Lara, você também precisa alevantar o astral, está muito certinha para uma filha de Ares!

-Ham! Desde quando? - Lara reclamou.

-Desde que riu de minhas palavras! - eu disse rindo.

Nós três rimos, sem saber ao certo porque. Não havia motivos. Eu acho que era porque estávamos recomeçando. Tentando nos reerguer das cinzas que havíamos nos transformado depois da grande perda. Milena sempre estará conosco. Estando viva ou não. Eu me perguntava o que aconteceu com seu corpo depois que abrimos a caixa dos deuses. Aconteceu tanta coisa que até tinha mês esquecido. Provavelmente os deuses a cremaram, ou a enterraram em algum lugar qualquer, para eles a perca de um semideus não era mais tão novidade. Eu senti repulso deste pensamento, mas resolvi deixar isso para depois, e retomei a corrida até os chalés. Com Lara correndo atrás de nós, já não mais com a armadura pesada, que já havia sido "guardada" dentro do bracelete novamente. Fernanda ria de minha atitude, tomara que não chorasse na festa, eu esperava uma atitude digna dela hoje. Que nem a última festa que frequentamos, que ela voltara com uma garrafa de vinho vazia nas mãos, e eu tendo de carregar a garota até o seu chalé! Aquele dia foi digno de um prêmio! O melhor dia para carregar uma filha de Dionísio fora de si! Ora! Isso é muito bom não? Eu sorri pensando na ideia de fazer isso de novo! Seria engraçado, ver novamente Fernanda daquele jeito, fico imaginando o que seu irmão pensaria disso.

-Lira! - chamou Fernanda.

Me virei para ela.

-Obrigada, por fazer me sentir melhor, você está tentando me fazer esquecer da perda! - ela disse sorrindo

-Não! Eu só estou tentando fazer a Fernanda louca e que se entendia por nada encarnar nesse teu corpo, pois a versão melancólica é muito chata!- eu brinquei, mesmo não sendo engraçado ela riu.

Nossa!

-Obrigada, mesmo assim! Mas vamos lá que a festa já via começar.

-Ei! Me esperem! - gritou Lara lá de trás.

-Ora! Corra mais rápido, se puder! - gritei em resposta e olhei para Fernanda que assentiu com a cabeça.

Nós começamos a correr mais rápido disputando com Lara que vinha logo atrás bufando. Era bom voltarmos a ser as mesmas. Porém o trio não era mais o mesmo, era diferente, mas o antigo tinha deixado sua marca. Eu ri alto vendo Fernanda tropeçar, a ajudei a levantar, e nesse momento Lara saiu em disparada na nossa frente rindo.

-Duvido me alcançarem! -ela riu novamente sarcasticamente e tropeçou também, não se machucou evidentemente, pois se levantou olhou para trás, fez uma careta e voltou a correr. - Quero ver quem ganha essa, lerdas!

Ai! Comecei a correr na sua direção com Fernanda em meu encalço. Aquele dia tinha sido cansativo, mas esse cansaço a mais valia a pena! E como!

*POV Héstia

Zeus esperou para que as semideusas fossem embora, para começarmos a conversa. Eu não chamaria aquilo de conversa, era uma conversa mais desenvolvida a discussão. Eu podia sentir a tensão de Dionísio, e fiquei pensando no que ele aprontara. Ficara novamente com a  ninfa? E qual seria seu castigo? A palavra 'castigo' ecoou em minha mente. Eu não deveria estar pensando na de Dionísio, e sim na minha. Eu tinha cometido um erro, muito grave. Eu colocara a lealdade que Zeus, meu irmão, tinha sobre mim. Eu fora a burra, que perdera completamente a cabeça ficando com um homem. Ele tinha me ganhado, com as mais velhas cantadas, eu não caíra em seus pés, dei um gelo nele, se é assim que posso dizer. Ele me conquistou, de uma forma simples e bonita. Eu me deixei encantar. Fui burra! Mas ele era tão fiel e arrumado de uma forma que me dava até arrepios. Não era sua beleza e sim sua personalidade, seu jeito. Eu não saberia explicar a Zeus e ao demais deuses, como eu deixara aquilo acontecer. Para falar a verdade, no dia em que eu o conheci, eu nem deveria ter saído do Olimpo. Mas como eu tinha terminado mais cedo os meus deveres, resolvi preencher meu tempo, passando um tempinho visitando alguns lugares que as pessoas chamavam de lindos, belos, magníficos... Alguns eu reconheci como obras de Atena, normalmente eles estavam na Grécia.

Meus pensamentos foram interrompidos pela voz formal e bem definida de Zeus.

-Todos os deuses estão aqui? - ele perguntou e rodeou os olhos pelo lugar.

-Sim, Zeus. - Quíron disse. Ele estava em um canto, fora chamado pelo próprio deus para ser testemunha do que aconteceria ali.

-Pois então comecemos o julgamento de Héstia! - era próprio o termo. - Héstia. Você cometeu um erro descumprindo sua promessa. Prometeu diante de nós deuses e diante do Olimpo.

Baixei um pouco a cabeça, mas não tirei meus olhos da expressão séria de Zeus, que agora se distorcia para uma de desapontamento.

-Não entendo como se deixou levar por uma paixão, depois da jura. Você foi muito irresponsável nesse momento, irmã. - ele fez uma pausa de efeito, depois continuou - Penso que compreende perfeitamente o erro que cometeu, mas me pergunto se assumes a irresponsabilidade?

-Sim, eu assumo. - respondi firmemente, sentindo a emoção das minhas próprias palavras, e segurando as lágrimas. - Assumo os erros, as irresponsabilidades, assumo tudo de que me for acusado.

-Oh, não, Héstia! Não julgue como acusada de um crime sem volta! Julgue como uma decisão de como nós iremos tratar do assunto, como esse assunto é muito difícil de compreender, visto que nunca fora esperado vindo de sua parte. - ele disse tentando esclarecer uma coisa que não precisava ser esclarecida.

Eu era a acusada, eu era a perigosa, eu tinha cometido a falta grave. Eu deveria ser castigada. Bom, nesse ponto eles não haviam chegado ainda.

-Cara Héstia! Deve ser muito ruim para você estar nessa posição agora. Compreendo seu posto, e entendo que não fez por gosto, nenhum de nós fez. - ele parou e pensou por um instante observando os rostos dos deuses - pelo menos eu acho que a maioria dos deuses aqui presentes, nunca quis de fato, só por querer, ter relações afetivas com humanos. Muitos de nós aqui, também não deveriam ter filhos, mas tiveram por descumprimento de promessa. - ele engoliu em seco, assim como Hades e Poseidon. - Mas como nós não estamos aqui para colocar papo sobre filhos de deuses com humanos. Convenhamos resolver seu caso primeiro. Bom, vamos começar com uma votação.

Já? Suspirei, esperava que a votação ocorresse um pouco mais adiante. Me sentei no meu trono novamente, nem era mais como um trono, fazia muito tempo que eu não me acomodava no Olimpo num desses, só agora que resolveram fazer a maldita diversão da televisão, eu não gostava muito da ideia, já que tinha, de certa forma, concebido o meu à outro deus. Bom. Se assim é para ser, que assim seja.

-Quem vota a favor do perdão de Héstia, que levante o braço. - Zeus disse firmemente.

Seis mãos se levantaram, eu engoli em seco.

-Quem vota a favor do acusamento de Héstia, porém com um leve castigo, que levante o braço.

Me assustei com as 12 mãos, não de todos os Olimpianos, mas dos deuses em geral.

-E por fim quem vota a favor do acusamento de Héstia, feito de forma normalmente sem muitas exceções, que levante a mão.

O restante do grupo, poucas mãos, ergueram e deram o voto, não parei para contar, mas com certeza eram bem menos que 12.

-Então foi decidido que Héstia será acusada e punida sem rigor. - ele fez uma pausa e me olhou sincero - Héstia você, por ter descumprido uma promessa tão importante, será punida com a obrigação de... - a voz dele falhou, me surpreendi por ele ainda não ter pensado antes de dizer qual seria minha punição.

-Irmão, se me permite dar uma ideia. Eu acho que ela cometeu um erro muito parecido com o de Dionísio.- Poseidon tomou a palavra, e Dionísio revirou os olhos e ergueu uma sobrancelha -  Mesmo com muitas diferenças. Sendo que Dionísio descumprira uma regra sua, e Héstia uma jura. O que certamente é mais grave. Mas cabe a essa semelhança um castigo parecido, se é que posso chamar de castigo. Então, porque não lhe punimos com algo que seja relacionado.

Dionísio espremeu os olhos, tentando imaginar aonde isso chegaria, mas depois deu de ombros e murmurou algo sobre tédio.

-Poseidon, é uma ideia boa. Tem uma relação sim, mas no caso de Dionísio foi um outro assunto bem diferente. Mas... - ele pensou um pouco - eu tenho uma ideia na cabeça, que pode ser bem prática, se soubermos utiliza-la como punição de Héstia. - ele suspirou - Se Héstia descumpriu uma promessa perante o Monte Olimpo  então a sua punição tem que ser um pouco rigorosa quanto a de Dionísio...

-Eu estou pensando em como Héstia ficaria legal como uma vice diretora do Acampamento Meio-Sangue... Sei lá já que ela gosta tanto de ficar observando as aventuras das semideusas! - Artémis falou aliviando o "clima de pensamentos" da reunião, e piscando para mim. - Mesmo que punição, normalmente seja uma coisa que a pessoa não gosta muito, mas...

-Bom. É uma ideia. Só penso quanto tempo ela terá de ficar lá para cumprir a punição e quais deveriam ser as decisões a serem tomadas.

-Que tal um século? - arriscou Afrodite.

Para mim um século era muito, mas já que eu era imortal...

-Não. Dois é melhor! - disse Ares.

-Então está decidido, mesmo que eu ache que ainda estou um pouco indeciso. - Como assim? Zeus indeciso? - Héstia, pelo seu descumprimento da promessa, você está levando a punição de permanecer no Olimpo por um século e meio, junto de Dionísio como vice-diretora geral do Acampamento Meio-Sangue, para que assim compreenda a confusão que causou. - essa última frase, soou como um improviso, e eu me assustei mais ainda. Zeus improvisando.

Okay. Então agora eu teria de ficar como diretora-geral do Acampamento Meio-Sangue! Poderia ser uma coisa até boa... Poderia...