- Nossa mais que maluco você é! - Eu ri

Eu estava no porão com Daniel, e ele me contava algumas de suas história de quando era vivo.  Pensando bem, ele não era um fantasma tão ruim, mas as vezes grosso.

Eu já havia posto o plano em prática. Pedi para o meu pai deixar eu passar um final de semana lá. Agora era só esperar, pois ainda é quarta.

- E já aprontei muito - Falou Daniel.

- Dá pra perceber.

- Mas você também não é santa.

- Eu não sou que nem você.

- Não mesmo. Não é legal como eu.

- Não se gabe! E eu sou legal sim.

- Prove!

Fui desafiada naquele momento. Depois falamos sobre alguns esportes. Mas o resto da tarde fiquei pensando no que eu podia fazer pra demonstrar que eu também sou legal. No outro dia, na aula de matemática, perguntei pra Bia.

- Bia.

- Que foi?

- O que em mim você acha legal?

Ela pensou um pouco e me analisou.

- Tudo. Você sincera, amiga, divertida, canta e compõe surper bem... E é meio louca.

- Ser louco é legal?

- Claro!  Você não é chata. Não tem como não ver isso. Mas algumas pessoas nem ligam, só veem elas mesmas.

Quando cheguei em casa olhei para o meu quarto. Olhei pra mim mesma. Respirei fundo  e disse:

- Eu sou legal.

Peguei meu caderno de música e me concentrei ali, na minha música. Eu sempre escrevi música que fossem verdadeiras, de como eu me sinto, como penso e vivo. Ali estava claro. Eu escrevera falando do Daniel. Cantei a estrofe várias vezes, mas só quando começaram a bater na minha mesinha que encontrei um ritmo. Era o Felix.

E era isso! Eu tinha uma música! Daniel também.. Parece que ele escreve músicas!

Terminei de compor a música e fui ao porão com o violão cantar, mas só uma parte da música. Não porque Daniel escreve músicas, e eu também. Mas porque eu sou boa nisso, e eu sou legal. Bia não é minha amiga atoa assim como outras pessoas também não são.

Coloquei o papel na mesa e peguei o meu violão. Comecei a tocar e depois cantei:

Impossível

 

Quem sabe essa história esteja bastante confusa para você

E só eu sei como está sendo pra mim

Somos vidas diferentes

Quem sabe inexistentes

Pra mim

Mas é real

Talvez eu não me acostume a saber

Que você estava do meu lado sem eu poder ver

Não vou voltar atrás

Você apareceu pra mim

É difícil aceitar

Meio impossível

Mas vou continuar 2x

Assim que terminei de cantar, Daniel me olhava sereno, calmo... Parecia bom.

- Você criou essa música? - O fantasma perguntou.

- Criei.

-Tem mais coisas em você do que me disseram.

- Também tem em você coisas a mais que... Grosseria.

Daniel se levantou e estendeu a mão e disse:

- Você fez uma música ótima Julie. Me parece mais legal agora. Porque escreve o que vive - entendi que sabia que eu falava dele.

Abri um sorriso e dei o violão pra ele. Daniel também sorriu, e sorriu lindo.

Passei algumas horas vendo ele tocar, e sem cantar. Mais foi bom. Esse fantasma estava demonstrando bem mais do que aparentava ser, e eu estava gostando bastante disso. Senti o meu coração bater um pouco mais forte. Foi quando notei que eu não pensava no Nicolas, não que fosse importante pensar nele, mas toda vez que eu venho aqui pra baixo e me enrolo em alguma conversa louca com o Daniel, esqueço do que o Nicolas me fez.

- Eu tenho que subir - Falei cortando o clima do Daniel com o violão.

- Por que? Não pode ficar mais um pouco?

- Agora quer que eu fique?

- Eu nunca disse que eu queria que você embora.

- É verdade, mas preciso... Ah, eu deixo o violão aí com você. Amanhã eu pego.

- Não.

- Que foi?- Perguntei sem entender nada.

- Quero que fique.

Aquilo me fez congelar. Era estranho.

- Por que?

O fantasma abaixou a cabeça.

- Pode ficar?

- Posso - Falei quase sussurrando.

E ele abriu um sorriso grande.