Samantha começou seu dia bastante agitado indo a pé para a empresa, pois seu carro estava no concerto, o tamanho da batida foi um tanto grande, mas o mecânico havia certificado que ficaria novo como antes. Chegou à empresa e Yako estava concentrada no computador, em algumas horas os entregadores começariam a chegar com recibos em mãos todos apavorados para serem os primeiros, Samantha se aproximou da japonesa cumprimentando-a.

— Bom dia Yako.

— Bom dia Samantha, quer dizer, senhorita Klein.

— Pode vir até minha sala?

— Sim. –disse se levantando e arrastando a cadeira para trás.

A morena abriu a porta e colocou a bolsa em cima da mesa.

— Senhorita Klein, a empresa de colchoes “Lo Dom” está convocando uma reunião para tratar de assuntos patrocinadores.

— Mande que eles convoquem uma reunião.

— A gerente convocou uma reunião com a senhorita fora do ambiente de trabalho.

—Ah sim, claro, marcaram data?

— Sim, hoje as 14h00.

— Esta bem.

Samantha ligou seu computador para checar a adicionar mais um compromisso em sua agenda pessoal.

— Merda! – disse chamando a atenção de Yako que ainda permanecia na sala arrumando um armário.

— Tenho que buscar o xodó às 14h00. Yako terá que ir para mim.

— Senhorita, hoje tenho hora extra e uma hora de almoço, desculpe.

— Vou ter que chamar a imprestável da Quinn.

— Vou chamá-la.

— Não precisa Yako, vou eu mesma, volte para seu trabalho.

Foi em direção à sala da loira que era uns corredores dali, bateu na porta e entrou.

— É melhor você não estar com alguém ai.

Encontrou uma Quinn perdida sentada na cadeira com os pensamentos muitos distantes.

— Quinn?

Isso fez a loira despertar e olhar para a morena.

— Sam? Tudo bem? –falou e passou os dedos nos olhos.

— Sim e você? – falou a morena sentando na cadeira a frente da mesa.

— Bem.

— Vim ver se esta livre as 14h00.

— Acho que estou por quê?

— Preciso que vá buscar o xodó tenho uma reunião muito importante.

— Ok, eu vou para você.

— Obrigada.

Samantha olhou para Quinn e a encarou.

— O que foi? –perguntou a loira.

— Olheiras...

— Não dormi.

— Por que?

—Estou preocupada com você Sam.

— Comigo?

— Veronica, ela é perigosa, sei que a policia não vai fazer nada, pois você não tem as provas, ela te ameaçou com uma arma Sam, juro que se eu tivesse visto ela eu não tinha saindo do estacionamento.

— Eu sei que não Quinn, não se preocupe, sei me cuidar. – olhou com um olhar sincero. — Busca meu carro que a divida esta paga. – riu e tirou um sorriso de Quinn.

— Agora vamos trabalhar daqui a pouco chega mais entregas, quero que marque as entregas para resto da semana, não esqueci as horas extras.

— Em falar nisso, como vão as coisas com a hot blonde?

— Bem, resolvi agir.

— Hm, estava na hora.

— Sei que tenho muitas chances de me magoar, mas vou fazer de tudo.

— Assim que se fala.

— Agora ao trabalho!

— Sim capitão. –Samantha saiu sem se virar, mas imaginou que Quinn tivesse feito a continência com a mão.

Entrou em sua sala e procurou sites de floriculturas que entregavam coisas românticas e do jeito que o cliente pedia, não sabia se Anne era uma pessoa que gostava ou não ligava para isso tudo, lembrou-se dos ‘’La Cucaracha’’, isso era algum tipo de romantismo, ou não, mas que Anne amou talvez uma serenata? Samantha pensou em algo mais simples que expressasse não só o amor que sentia por ela, mas também a gratidão por ser uma pessoa incrível.

— Olá, queria fazer um pedido, sim, para entregar, margaridas brancas [...].

Desligou o telefone e continuou com seu trabalho, em tempos e tempos Anne invadia sua mente como um enxame de abelhas às vezes doce às vezes zumbindo, mas sempre invadia, usava o termo invadia, pois muitas vezes nem pedia permissão com seu sorriso e seu belo par de olhos azuis.

Toc Toc

— Entra. – falou sem tirar os olhos do computador.

— Senhorita já são 15h30. – disse da porta.

— Obrigada por avisar Yako.

A oriental sorriu e fechou a porta, Samantha abriu seu armário na sala e trocou de blazer colocando um verde esmeralda, aquela cor combinava com sua pele, colocou um colar prateado pegou a bolça e partiu dali para o restaurante onde a gerente havia marcado. Demorou alguns minutos andando até chegar ao local escolhido, o lugar não era tão requintado quanto os que Samantha costumava frequentar, era com algumas mesas e cadeiras na calçada na frente do verdadeiro restaurante logo ao lado da rua, era bem arejado, mas era aconchegante. Logo avistou a gerente, seu nome era Clare haviam se encontrado algumas vezes em reuniões para premiações de vendas.

— Olá. – a mulher de estatura mediana com fisionomia de latina se levantou esticando a mão Samantha notou o belo sorriso, era muito atraente.

— Olá, como vai Clare?

— Muito bem obrigada e você?

— Ótima.

— Você esta mais linda do que nunca Samantha Klein.

­— Que isso Clare, obrigada. – disse um pouco sem jeito.

— Senta, já pedi um suco para você, tudo bem?

— Esta ótimo. – sentou.

— Samantha gostaria muito que nossas empresas seguissem juntas daqui para frente, sinto dizer que soube que sua empresa não esta aquelas coisas, mas estou oferecendo uma ajuda se juntarmos as duas podemos ser muito mais fortes no mercado.

— Sinto dizer que esta errada. – a latina mordeu os lábios parecendo estar gostando do jeito mandão da morena. — Nossas vendas estão aumentando cada vez mais, e também temos uma marca há anos se juntarmos não ia dar muito certo, teríamos que mudar de nome e várias outras coisas.

— Por que não tentamos, fazemos um teste e se não conseguirmos poderíamos voltar a separarmos.

— Não posso fazer isso, ficariam muitas entregas sem fazer e a mercadoria teria que mudar, não, pensei que iria nos patrocinar.

— Vim para isso, mas estava pensando em nos juntar e apenas falei, se é isso que quer irei patrocinar vocês. Não trouxe nenhum documento hoje, pois pensei em algo mais informal nessa semana ainda eu mesma vou até sua empresa com todos os documentos.

— Tudo bem. – deu um gole no suco.

A latina repetiu a ação de Samantha e bebericou seu suco de goiaba, a mulher abaixou o olhar e reparou que a mão da morena estava em cima da mesa, Samantha ainda se deliciava com o suco quando a mulher colocou sua mão sobre a dela. Neste exato momento Anne atravessava a rua com um livro em mãos e uma mochila nas costas, notou rápido de quem se tratava sentada ao lado de uma mulher muito bonita, era Samantha seguiu com o olhar os traços de seu braço chegando a sua mão aonde a mulher com esmalte vermelho tentava cruzar seus dedos com os dedos delicados de Samantha, concentrada em toda a ação que acontecia ali naquela mesa Anne não viu um carro que freou bruscamente fazendo um barulho auto com os dois pneus traseiros chamando a atenção de todos que estavam sentados à frente do restaurante incluindo Samantha que arregalou os olhos e tirou rápido a mão sob a da latina olhando para o lado observou Anne desculpando-se com o motorista que gritava algo com os braços para cima, suas bochechas estavam vermelhas destacando sua pele branquinha. Samantha se despediu rapidamente da latina combinando o horário que ela estaria na empresa e logo saiu apressada atrás de Anne que cada vez andava mais rápido parecia que estava fugindo de algo ou de alguém, Samantha correu para alcança-la chamando seu nome repetidamente.

— Ei, espera!

Anne finalmente parou, Samantha a alcançou ofegante.

— Por que saiu correndo? – perguntou a morena respirando fundo.

— Não estou correndo. – a loira não olhou nos olhos da morena e voltou a andar.

— Anne espera, estou de salto.

Anne andando mais devagar abriu o livro e fingiu que estava lendo para evitar qualquer tipo de explicação de Samantha mesmo que no fundo estava morrendo para saber quem era a bonitona e o que fazia ali com ela.

— Esta saindo da faculdade agora?

— Sim. – respondeu balançando a cabeça.

— Então não chegou em casa ainda?

— Não, por quê?

— Nada. -Ainda não entregaram pensou.

— Vai ver a Bia hoje?

— Sim, daqui a pouco.

— Queria muito ver ela, podemos nos ver mais tarde?

— Claro.

— Gostou dos waffles?

— Maravilhosos.

Samantha sabia que algo estava errado Anne não era de ter poucas palavras. Pararam em uma esquina e Anne atravessou com a cara no livro, por sorte Samantha a puxou antes que o sinal abrisse.

— Anne! Acho que você esta um pouco distraída hoje.

— É. – passou a mão no cabelo e guardou o livro.

— Gosta de flores?

— Amo flores.

— Ótimo.

Anne não puxava assunto, mas estava odiando o silêncio, Samantha foi mais rápida e falou.

— Estava fechando um contrato de patrocínio, a empresa vai estar bem posicionada agora.

— Com aquela mulher?

— Sim, ela e a gerente encarregada.

— Já a conhecia?

— Sim, em festas e premiações.

— Ela gosta de você? Percebi o clima. – as bochechas de Anne começaram a mudar de cor.

— Não sei, mas eu não estou interessada.

— Hm.

Elas não se falaram mais até Anne ter que virar em uma rua e ir para sua casa, Samantha se despediu.

— Tchau, nos vemos depois?

— Sim, vai até minha casa?

— Ok.

Samantha ia dar um beijo mais demorado na bochecha de Anne mais ela saiu do beijo rápido sem olhar para os olhos de Samantha.

Anne andou uns quarteirões tentando imaginar como e por que aquele sentimento a invadiu ao ver Samantha com aquela mulher desconhecida, talvez estivesse gostando da morena, não podia ser, ela não gostava de mulheres, mas não era “mulheres” era a Samantha. Chegou na varanda da sua casa e um homem se aproximou entregando um buquê de margaridas brancas, pensou que era para sua mãe, pois vários pacientes a mandavam como forma de agradecimento, mas esse pensamento foi embora quando o homem disse que era para ela, Anne.

— Obrigada.

O homem sorriu e entregou o grande buquê para ela, Anne abriu a porta e entrou, colocou as flores em um vaso com agua e abriu rapidamente o bilhete.

“ Anne,

Obrigada por ser você mesma a todo tempo, você uma pessoa maravilhosa, linda, inteligente, carinhosa, atenciosa, não vou ficar aqui citando suas qualidades, pois ficarei horas citando cada uma. Com essas margaridas que representam paz, pureza, bondade, sensibilidade e afeto queria lhe falar o quanto sou grata por ter você em minha vida, todo dia agradeço pelo sorvete que derrubou em minha blusa mesmo que a mancha ainda não saia, irei ser grata por você para sempre.

Samantha”

Anne terminou de ler o bilhete com um sorriso que ia de orelha a orelha, seus olhos azuis marejados brilhavam como estrelas numa noite muito estrelada.