Acho que a partir de hoje minha vida está destinada a mudar, mudar para a melhor. Eu tinha uma filha tão linda quanto a luz do luar. Claro, obviamente ela havia puxado à mim. Hoje ganhei dois grandes presentes, minha filha e o amor concreto de Alessandro.

Quando meu olhar fitou minha pequena, eu sabia, já a amava profundamente. A enfermeira trouxe-a para sua primeira amamentação e me impressionei ao observar tanta beleza. Seus olhos eram verdes como os meus, seus cabelos negros e sua pele branca como a neve. Uma verdadeira princesa.

– Minha Aurora - Sussurrei, enquanto ela sugava o liquido de meu seio. Meus dedos acariciavam sua bela e frágil pele e eu observava seus traços bem desenhados.

– Ela se parece tanto com você - Afirmou Alessandro, que nos observava a um certo tempo.

– Que bobagem, ela é linda - Falei e um sorriso brotou espontaneamente em meus lábios.

– E você também! - Disse ele, aproximando-se e beijando-me na testa.

Não havia palavras adequadas para descrever aquele momento. Alessandro olhava para nossa filha com tanto amor. Foi realmente único estar com minha família pela primeira vez. Porque era isso que éramos, uma família, ou pelo menos eu nos via assim.

~Narrador

"O amor talvez seja isso. Encontro de partes que se complementam, porque se respeitam. E, no ato de se desrespeitarem, ampliam o mundo um do outro."

Agora Alessandro estava disposto a abandonar todos esses anos que se passaram para viver ao lado da mulher amada. Essa mulher que trocou-o por ambição, que viveu anos ao lado de outro homem, fazendo-o sofrer por completo. Seria correto? Eis a questão.

Já passava das nove horas da noite e naquela cama branca Rubi percebia como Alessandro estava ligado à ela. Ele balançava calmamente sua filha de um lado para o outro e a olhava, todo babão. Certamente estava imaginando-a com quinze anos, andando pelas ruas da cidade e chamando a atenção de todos, como Rubi costumava fazer.

– Tão linda - Sussurrou ele, deitando-a no pequeno e aconchegante berço que se encontrava ao lado da cama.

~Alessandro narrando

Rubi soltou uma baixa e suave gargalhada, fazendo-me aproximar.

– Estou mimando-a demais, não é? - Indaguei, tentando descobrir o motivo daquele riso repentino.

– Não, eu gosto assim. Quero que minha filha tenha tudo o que não tive quando criança - Respondeu ela e um tremendo nó se formou em minha garganta.

– Assim será. Ela vai ser muito mimada - Afirmei e gargalhamos juntos.

Em seguida deixei o quarto em que ela estava e vaguei até a recepção do hospital. Era estranho Maribel não ter aparecido por aqui, com certeza ela havia percebido a realidade dos fatos. Por mais que me doa fazê-la sofrer não posso seguir ao lado de uma mulher que não amo. Esbarrei de leve em alguém que ainda permanecia parada em minha frente.

– Me des-desculpe - Gaguejei ao fitar meus olhos nos daquela moça de provocante aparência.

– Não foi nada - Concluiu ela, esticando o braço para um aperto de mão - Prazer, me chamo Sarah.

– O prazer é todo meu, Sarah - Correspondi o cumprimento - Me chamo Alessandro.

– Então é você o famoso ortopedista Alessandro Cardenas? - Indagou, abrindo um imenso e brilhante sorriso.

– Ortopedista sim, famoso não - Respondi, fazendo-a gargalhar.

Trocamos mais algumas curtas palavras, nos despedimos e fui até minha sala, onde fui possuído por numerosos pensamentos. Eles eram curiosos e indagavam o por que daquela desconhecida mulher ter me deixado tão confuso.

Me levantei, sacudindo a cabeça e mandando todos os pensamentos inoportunos embora. Em seguida me dirigi até o quarto onde Rubi estava.

~Rubi narrando

Despertei ao escutar o forte barulho da porta se fechando. Alessandro parecia insatisfeito com algo, palavras faltavam-lhe a boca.

– Meu amor, aconteceu algo? - Indaguei, fazendo-o voltar à realidade.

– Não, nada - Respondeu, ainda irritado, mas se aliviando com meu toque em sua face.

– A enfermeira falou que pela manhã vou receber alta - Relatei e um espontâneo sorriso nasceu eu seus lábios.

Ele permaneceu em silêncio e apenas acariciou meus braços, em seguida me puxou rapidamente para perto do berço em que se encontrava nossa filha. Nosso olhar se trassou e se desfez para o rostinho da bebe. Era um momento único, estar com ele, sentir seu afeto, seu amor.

Continua {...}