Voltamos para DC antes que tivesse tempo de notar como terminávamos o caso. Tinha trabalhado arduamente nisto, mas não sabia o que houvera, me sentia miserável e exausto.

Emily se negava a falar comigo, ou mesmo me ver. Meus olhos jamais encontravam com os dela e esta sensação me fazia sentir pior. A equipe notava que algo se passava, mas ainda não comentavam nada, como se dessem um pouco mais de tempo para nós.

Pousamos quando passava do meio dia, dois dias depois de nossa partida. Estávamos cansados e sem termos dormido muito, mas concordamos em terminar toda a papelada antes de ir para casa. Poderia ter sido uma tarde normal de trabalho, não fosse por sua aparição...

Por volta das duas horas Haley entrou na UAC, para surpresa de todos. Entrou lentamente sem deixar de sorrir, sabendo que todos a olhavam. Eu, que inconscientemente tinham voltado a olhar para Emily a cada cinco minutos, só a vi quando estava quase em minha sala. E somente notei pelos olhares que os outros lançavam para minha sala e pela palidez que tomou conta do semblante de Emily.

A presença de Haley ali era demais para mim, um golpe realmente duro. Ao vê-la caminhar para onde me encontrava me invadiram muitas sensações de uma vez só. Vi minha realidade de muito perto, minha nova realidade. E me senti devastado em todos os sentidos. O que estava fazendo?

- Olá, amor. – Ela disse ao entrar na sala.

- Que está fazendo aqui? – Perguntei me levantando alterado.

- Somente vim te ver, pensei que como estava regressando de um caso sairia antes e poderíamos ir juntos. Jack está ansioso por sua volta. – Explicou com um sorriso.

- Haley, tenho muito trabalho ainda... E... Não devia ter vindo aqui.

Neste momento uma movimentação onde ficava a equipe fez com que perdesse totalmente o interesse na presença de Haley. Emily tinha levantado e juntou suas coisas numa desesperada tentativa de fuga, mas os demais estranharam e a confusão começou.

Sai de minha sala intrigado pelo caos, mesmo suspeitando do que estava chateando Emily. Neste momento ela estava encurralada por Dave e interrogada por Morgan, que a olhava com apreensão.

- Que houve? – Perguntei distanciando-me o máximo de Haley. – Prentiss, está bem?

- Sim, senhor. – Ela respondeu sem me olhar. – Só preciso ir agora, sei que não mencionei e que concordei em acabar, mas surgiu algo repentino.

- Emily, que está acontecendo? – Perguntou Reid preocupado.

-Tem algo que não está nos contando? – Morgan perguntou. – Tem algo acontecendo faz alguns dias, algo estranho.

- Só preciso ir. – Ela insistiu.

Tentava desesperadamente se manter firme, não fraquejar em nenhum momento, esconder sua dor, mas eu a conhecia o suficiente para saber que estava a ponto de se render, que nem todo seu orgulho e bom senso a manteriam em pé por muito tempo. Se ela se quebrasse, eu também acabaria por me quebrar.

- Tudo bem. – Respondi para assombro de todos.

Isto foi o suficiente para ela, pegou suas coisas e se libertou da equipe sob seus olhares assombrados. Estava magoada, estava suportando tudo sem ninguém para apoiá-la, mas isto deixava-a extremamente fragilizada e a presença de Haley era uma lembrança dolorosa de tudo que estava passando.

- Hotch, o que está acontecendo? – Perguntou Morgan.

- Desculpem um momento, vou falar com ela. – Disse e a segui.

Sabia muito bem que não queria falar comigo, mas de qualquer modo precisava estar seguro de que estava bem. Corri até ela e a alcancei quando chegava ao elevador, trêmula e com os olhos úmidos.

- Prentiss? – Ela não se voltou ou parou. – Emily! Espere por favor.

Ela se deteve antes de chamar o elevador, mas não me olhou. Conheci dela o suficiente para saber o que tinha. Tivemos tempo para nos conhecermos muito bem, para entender o que nos passava sem necessidade de palavras. Sabia o que lhe acontecia e me sentia horrível por isto.

- Está bem? – Perguntei preocupado, mesmo sabendo que era uma pergunta estúpida e desnecessária.

- Preciso ir. Realmente preciso, Hotch.

- Eu sei... – Não sabia mais o que dizer.

Por um momento ficamos calados, frente a frente, mas sem nos olharmos. Era a primeira vez que estávamos relativamente sozinhos nos últimos dez dias. Não éramos capazes de nos olharmos nos olhos, era mais do que podíamos lidar no momento. Tudo por minha culpa.

Estando ali, sentindo sua falta e a tendo tão perto, apenas alguns centímetros, tudo se tornou insuportável. Olhei de lado e vi Haley conversando feliz com a equipe, como se isto fosse o mais natural. Tudo era uma besteira. Olhei para Emily e senti muita dor, sua dor, nossa dor...

- Deixe-me ir... – Falou ao sentir meu olhar.

- Não posso, Em... –Sussurrei sem pensar.

- Deixe-me ir, Aaron... – Disse me olhando nos olhos afinal.

- Nunca te deixarei ir.

Ela pareceu entender o que queria dizer com aquilo, pois por um segundo a sombra de um sorriso surgiu em seus lábios enquanto uma lágrima escapava de seus olhos. Baixou a cabeça e finalmente chamou o elevador sem me dizer mais nada. Aproximei-me mais dela, de novo nos olhamos e ela me deu as costas.

Por seu rosto perfeito corriam lágrimas silenciosas, finalmente havia se rendido. No fundo isto não devia me surpreender, apesar de sua valentia, inteligência e força, era uma pessoa muito frágil, frágil demais para o que a estava fazendo passar.

Ela parou quieta sem voltar para me olhar, somente sentindo minha proximidade. O elevador chegou, abriu as portas e ela se apressou a entrar. Um segundo antes das portas fecharem ou que apertasse qualquer botão, ela murmurou ainda sem me olhar:

- Sinto sua falta.

- Eu também sinto a sua... – Sussurrei de volta.

As portas se fecharam levando-a para um pouco mais longe de mim. Voltei diretamente para minha sala, sem olhar para ninguém. Estava tão triste quanto furioso. A única palavra que me ocorria para me descrever pelo que estava passando era "idiota". Uns minutos depois Haley entrou para me perguntar se voltaria para casa com ela.

Não, não voltaria para casa com ela. Conhecendo minha equipe ainda tinha muitas coisas para esclarecer com eles antes de sair do escritório.

Sim, iria voltar para casa. Tinha que fazer as coisas certas desta vez e conversar com seu filho sobre o que estava acontecendo. Desta vez se despediria corretamente de Jack.

Continua.