A Arte Maior escrita por Fernanda Lima


Capítulo 2
Palavras - Parte I




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A noite ficava cada vez mais profunda. Lia podia ouvir o som de seus passos pesados amassando a grama debaixo de seus pés, enquanto corria em direção à pequena casa de madeira que tomava forma sob a alva luz do luar. 

Ela sentia o peso daquele enorme livro ficar cada vez maior em seus braços frágeis. Seu corpo tremia de frio, e cada vez que ofegava uma pequena nuvem se formava no ar à frente de sua boca.

Quando finalmente chegou ao seu destino, precisou agachar-se por alguns segundos até que o fôlego voltasse a seus pulmões. Ela encarou a pesada porta à sua frente por breves instantes, e bateu nela três vezes com o rude anel de metal que a ela se afixava. Ela pôde ouvir o som das batidas ecoando sinistramente dentro da casa. 

Esperou por alguns minutos, estes que pareceram horas para seu corpo exausto. Estava prestes a cair no chão, quando escutou o som de passos vindo em direção à entrada. 

Sentiu as batidas de seu coração se tornarem mais intensas. A porta se abriu lentamente, deixando aparecer na escuridão a figura conhecida do homem alto e grisalho de talvez 40 ou 50 anos de idade, com uma expressão pesada, mas com um quê de bravura. 

Ele sorriu para ela.

- Que bom que você chegou. Entre.

Ela adentrou a soturna casa onde sombras de móveis se erguiam pelos cantos, talvez sendo estes os responsáveis pelo forte cheiro de umidade que o local possuía. 

- Sente-se. - Disse ele, apontando para a sombra do que devia ser um sofá.

Ela fez o que ele pediu. Assustada, deixou-se finalmente falar algo do que estava sentindo.

- Por favor, me diga o que aconteceu na nossa casa. Quem era aquela pessoa que apareceu lá? O que ela queria com a minha mãe? E o que esse livro tem a ver com isso tudo?

Ele deu uma breve risada.

- Calma, vamos por partes. Em primeiro lugar, há uma coisa que você já deveria saber há algum tempo. Mas penso que sua mãe não te disse apenas para te preservar. - Sua expressão se tornou séria. - Deixe-me ver esse isto.

Ela passou o livro para ele. Ele o abriu, examinando suas primeiras páginas com atenção.

- "A Arte Maior"... há quanto tempo eu não ouvia esta expressão. Desde aqueles tempos... - Sua voz se tornava baixa e misteriosa. - Onde você encontrou isso?

- Bom... - Lia se envergonhou diante da pergunta. - Eu estava sozinha em casa, e achei a chave do porão no armário da minha mãe... Entrei lá e vi uma enorme pilha de livros velhos, um maior do que o outro. Mas por algum motivo, este me chamou mais a atenção, apesar de por fora não ter nada de especial. Levei-o para o meu quarto na mesma hora, e quando comecei a ler me deparei com isso... 

- Você provavelmente já deve ter deduzido que deve ter tido algum motivo especial para que você o achasse justamente naquele dia.

- Sim. - Ela assentiu com a cabeça. - Eu o achei exatamente dois dias antes... antes dessa noite. - Engoliu em seco ao pensar no que havia acontecido. - Pude ler todo o capítulo de introdução. Vi palavras que nunca tinha ouvido antes... mas, eu não sei explicar como, essas palavras me pareceram estranhamente familiares. Como se eu já soubesse sobre elas muito antes de tê-las conhecido propriamente.

- E que palavras são essas? - Seu olhar era de curiosidade.

- No primeiro parágrafo ele se refere a ela como Arte Maior... porém, logo no terceiro parágrafo, ele já fala exatamente o que é.

- E o que é? - Encarou-a pacientemente.

- Magia.

Os dois permaneceram em silêncio por alguns instantes.

- E o que mais?

- Bom, ele as chama no início de Artes Ocultas. Logo depois, as lista. - Ela fez uma breve pausa, como se estivesse se recuperando para prosseguir. - Astrologia.

Seu tio assentiu, para que ela continuasse.

- Numerologia... Cartomancia.

- Prossiga.

- Alquimia.

Ele se tornou mais sério.

- Só isso?

- Não. - Ela engoliu em seco mais uma vez antes de falar a última. - Necromancia.

Ele se levantou. Pôs as mãos atrás das costas e começou a vagar pela sala onde se encontravam. Deu um longo suspiro, e finalmente falou:

- Então é agora que a história começa.


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