A Última Chance escrita por Gaby Molina


Capítulo 6
Capítulo 6 - O Que Você Vê?


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, eu passei uma semana fora e estou tentando colocar tudo em dia, hehe :3 Espero que gostem do capítulo!



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Annie já estava começando a bocejar quando um garoto desconhecido sentou-se à sua frente, sorrindo. 

— Nome?

— Ryder Will, Alteza.

Ela forçou-se a sorrir:

— Ah, então você é o Ryder!

— Suponho que tenha recebido minhas flores?

— Todos os sete buquês — concordou ela. — Na verdade, eu gostaria mesmo de falar com o senhor sobre eles.

— Sim?

— Eu aprecio muito sua dedicação — disse ela, calma. — Mas, no futuro... Tente... Controlar-se um pouco, sim?

Ryder parecia ter levado um soco no estômago, mas assentiu.

— Claro. Claro, claro. Não acontecerá de novo.

— Ótimo. Pode sair da sala, sr. Ryder.

Annie já estava cansada de ser cordial, e ficou feliz por saber que Charlie era o próximo. 

— Alteza — disse ele já se sentando.

— Sr. Charles. Há algo que venho querendo lhe perguntar...

Ele sorriu.

— Vossa Alteza faz muitas perguntas.

A Princesa deu de ombros.

— Você não contou aos outros rapazes sobre já termos conversado, contou?

Seu tom não era acusatório, apenas levemente entretido.

Charlie corou um pouco.

— Eu... Hm, não. Não vi muita utilidade em gritar aos quatro ventos. Considerando o que fizeram com Jasper, que é um cara muito legal, e...

— Jasper — ela repetiu, curiosa. — Acha que ele é um cara legal?

— Acho. Não parece ser um idiota.

— Está dizendo isso porque confia no próprio taco?

— Bem... Se eu conseguir a façanha incrível de fazer com que a senhorita goste de minha companhia — ele a fitou com aqueles olhos acizentados incomuns. — Não vou precisar me preocupar tanto com os outros caras. E não acho que inventar mentiras sobre eles vá fazer com que você goste mais de mim. Mas posso estar errado. De qualquer forma, não pretendo mudar tal pensamento

Annie sorriu.

— Você é um garoto esperto, sabia disso? — ela o fitou. — Sensato. Admiro isso.

— Obrigado, Alteza. Ah, e quanto àquele Mi menor com sétima...

A Princesa sorriu mais uma vez, entretida.

— Vamos ver. Pode sair da sala, e trate de dormir bem. 

Charlie assentiu e se retirou.

Depois de ter falado com todos os Selecionados — e mandado três para casa por motivos que lhe pareceram óbvios —, ela desabou em sua cama de dossel ao pensar que ainda havia trinta e um esperando por seu veredito.

Ela ouviu uma batida na porta.

— Senhorita — Lucius entrou no quarto. — A Rainha pediu que fizesse algumas anotações manuscritas para que ela possa enviar o progresso ao Conselho.

— Ah... Certo, certo... — concordou Annie, pegando a prancheta e a caneta que Lucius havia trazido. Ela rasgou um pequeno pedaço e escreveu algumas palavras nele. Quando o homem estava saindo da sala, ela o chamou: — Espere! Lucius! — ele se virou. — Pode entregar isto ao sr. Charles?

Annie podia ver o descontentamento no olhar censurador de Lucius, mas ele não podia negar algo à Princesa:

— Claro, Alteza. Devo dizer quem enviou?

Ela sorriu.

— Ele vai saber. Dispensado.

Lucius fez uma reverência e saiu do quarto. Caminhou até o quarto de Charlie, apertando o bilhete em sua mão. Uma parte dele pensou em ler, mas sabia que tal coisa seria totalmente inapropriada, então se segurou. Bateu na porta e o garoto atendeu na mesma hora.

— Lucius — disse ele, surpreso. Não usara o pronome de tratamento, mas Lucius não se surpreendeu, se tratando de Hutton, que não era educado como Jasper ou tímido como Michael. A Princesa tendia a se encantar com pessoas que diziam o que pensavam, mas Lucius não. — O que o traz aqui?

— Um bilhete para o senhor — disse Lucius, entregando a Charlie o pedaço de papel da Princesa. — Boa noite.

E saiu do quarto. Charlie se sentou em sua cama e desdobrou o bilhete. "Quase me esqueci: Obrigada pelo conselho."

Charlie sorriu levemente. Estava surpreso por a Princesa ter reagido tão bem aos seus pitacos acidentais, mas ao mesmo tempo aliviado.

— É de Vossa Alteza, sr. Charlie? — perguntou Reyna, curiosa.

— Sim — respondeu ele, distraído. — Ela está agradecendo meu conselho.

— Que conselho?

— Sugeri que ela falasse com os Selecionados um a um, e ela o fez.

As três criadas arregalaram os olhos. Estavam atônitas por Charlie ter tomado tal liberdade com a Princesa, e ainda mais por ela ter agradecido.

— Eu deveria responder?

— Já está tarde, senhor.

— Mas ela está acordada. Do contrário, não teria me mandado isto. Como faço para entregar um bilhete?

— Não acho que haja mais criados no corredor, senhor.

— Então vou ter que fazer as coisas à moda antiga. 

Charlie escreveu no verso do papel e saiu do quarto. Depois de algum tempo andando pelo corredor, se deu conta de que não sabia onde eram os aposentos da Princesa.

— Ei! — ele chamou uma moça que viu andando pelo corredor. — Por favor, qual é a porta da Princesa? Estou perdido.

— Senhor, já está ficando tarde para...

Ele sorriu.

— Não vou incomodar. 

A criada apontou para uma das portas. Charlie agradeceu e ela se distanciou. Ele deslizou o papel por debaixo da porta e voltou para o quarto.

* * *

— Senhorita — Sabrina fitou a Princesa enquanto esta prendia o cabelo num rabo de cavalo alto. — Um garoto deixou esse bilhete por debaixo de sua porta ontem à noite...

Annie pegou o bilhete da mão de Sabrina e logo o reconheceu. "Disponha! Só estou feliz por você não me matar por ser honesto. Gosto de ser honesto com você".

— Não identifiquei o garoto quando o vi ontem à noite, senhorita. Ele era moreno, e me pareceu gentil. — Ruth disse.

— Ah, aquele é o sr. Charles.

— Eu disse a ele que já estava tarde para bilhetes, mas, como pode ver...

Annie sorriu.

— Não é como se ele ligasse muito para formalidades.

— E isso é um atributo positivo, senhorita?

— Não sei. Mas com certeza é uma raridade por aqui...

Foi quando ela viu um buquê de flores que tinha certeza de que não estava ali na noite anterior.

— Como isso entrou aqui?!

As criadas se entreolharam, hesitantes. A Princesa as encarou.

— Ordeno que me digam agora como isso entrou aqui.

— Esse é o problema, senhorita — Leah entrelaçou os próprios dedos, nervosa. — Não sabemos. Quando chegamos ao quarto de Vossa Alteza pela manhã, a porta estava aberta.

Annie caminhou até o buquê, irritada. Havia um cartão anexado. "Bom dia, Alteza. Espero que esteja sentindo-se bem. —Ryder"

A Princesa soltou o maior grito que conseguiu, com apenas uma palavra:

— LUCIUS!

— Senhorita, tenho certeza de que todo o castelo ouviu vossa indignação...

— Ótimo — Annie sentou-se em sua cama. — Com um pouco de sorte, Lucius terá ouvido também.

O Assistente Real logo chegou ao quarto, um pouco sem ar por causa da corrida até os aposentos da Princesa o mais rápido possível.

— Ryder Will — disse ela, amassando o bilhete que viera com a flor. — Quero ele fora. Agora.

— Mas senhorita, o que devo diz...

— AGORA!

Lucius assentiu e, com uma reverência final, deixou os aposentos. 

— Se me dão licença — a Princesa se levantou. — Eu vou descobrir como um Selecionado conseguiu acesso às chaves do meu quarto.

* * *

— Nem tentem — disse Michael, se jogando no pufe enquanto conversava com Jasper e Zack. — A Princesa não está de bom humor hoje. 

— É? — Charlie esticou a cabeça para se intrometer na conversa, nervoso. Teria algo a ver com o bilhete?

Michael não pareceu muito feliz com a intromissão, mas não censurou.

— É. Passei por ela no corredor.

— Ela falou com você? — perguntou Jasper.

— Pareceu perceber que eu ia falar com ela, porque virou pra mim e disse "Agora não, Nigel".

Zack riu.

— Ao menos ela acertou o "el".

— Talvez ela não quisesse falar com você, especificamente — sugeriu Brad, abrindo um sorriso prepotente.

— Vá em frente, então — desafiou Zack.

— Charlie... Você está bem? — Jasper fitou o garoto, que parecia meio verde.

Charlie, que estava tão nervoso por ser a possível causa de irritação da Princesa, não ouvira nada da conversa no último minuto. Apenas levantou-se e saiu correndo para fora do salão.

Na metade do caminho, parou para perguntar a si mesmo o que diabos estava fazendo. Rondaria pelo castelo até encontrar a Princesa? E então o quê? Arriscaria falar com ela enquanto estava irritada e acabaria sendo mandado para casa?

Soava como um plano excelente. Ele apenas bufou e sentou-se num banco de pedra no jardim, sua única diversão sendo jogar pedras pequenas num arbusto. Foi quando ouviu uma voz feminina falar de algum lugar ali perto:

— Maldição...

Apenas uma garota que ele conhecia usaria tal coisa como um xingamento. Cautelosamente, ele se aproximou do outro lado do jardim, onde encontrou a Princesa Annabelle sentada num banco. Mexia nervosamente nos próprios dedos das mãos e os esfregava em sua calça jeans. Seus cabelos ruivos lhe caíam no rosto, e ela parecia alterada, sim. Não brava. E sim triste.

Charlie não ligava se ela ia mandá-lo para casa ou xingá-lo, aproximou-se mesmo assim. E sentou-se ao lado dela sem pedir permissão para tal.

— Alteza? — fitou-a por um minuto.

Ela o encarou, seus olhos azuis parecendo um pouco brilhosos.

— Charles, o que raios você está fazendo aqui?

— Bem — ele tentou sorrir para ajudá-la. — Eu estava sentado logo ali no meu mundinho, jogando pedras num arbusto quando percebi a presença da senhorita e não suportei deixá-la aqui sozinha.

— Talvez eu queira ficar sozinha.

— É completamente uma opção — concordou ele. — Mas eu estava contando com a possibilidade de que talvez eu pudesse fazê-la sorrir. 

— Fazer-me sorrir?

— É, bem... — ele enrubesceu um pouco. — É o que eu gostaria que fizessem se eu estivesse mal.

— Suponho que Nigel tenha...

— O nome dele é Michael — Charlie sorriu. — E ele disse que a senhorita estava irritada. Não acho que esteja irritada. Acho que está carregando muita coisa sozinha. E sabe... Eu não tenho nada para fazer a manhã toda. Posso ficar aqui simplesmente sendo um idiota ao seu lado o tempo que precisar.

— Você não é um idiota, Charles.

Ele fingiu estar decepcionado.

— Nem um pouquinho?

Ela sorriu levemente.

— Certo — e o fitou. — Acho que vocês ainda não sabem... Ér... Sabe o Ryder? Ryder Will?

— Sim, sim. Sujeito estranho, se me permite. Um pouco...

— Obsessivo?

— Exatamente.

— Eu mandei ele para casa hoje.

Charlie arregalou os olhos.

— Seria ousadia minha perguntar o motivo?

— Ele, de alguma forma, invadiu meu quarto ontem à noite.

— Santo Deus. Por quê?

— Para deixar um buquê de flores. O oitavo nas últimas doze horas.

— É por isso que você está mal?

A Princesa o encarou por um minuto.

— Desculpe — ele desviou o olhar. — Não quero que pense que estou tomando liberdades, nem mesmo com o bilhete de ontem, que achei que pudesse ter causado parte de sua irritação, ou...

— Bem, acho que inconscientemente dei a você a liberdade de ser sincero — ela deu de ombros. — Não planejo revogá-la. É só que... sinto essa coisa dentro de mim toda vez que mando alguém embora. Essa coisa de "E se ele fosse o cara certo? Talvez eu apenas devesse ter dado mais tempo...", mesmo que eu tivesse motivos que me deram a certeza absoluta de que eu deveria dispensá-lo.

— Alteza.

— Sim?

Charlie sorriu.

— Nunca te deram muita permissão para errar, não é?

— O que disse?

— É, tipo... Só ser jovem, sabe. Não ligar para as consequências. Só fazer as coisas e pensar "Que se dane".

— "Que se dane"? — ela repetiu como se tal expressão fosse nova para ela.

— Lá em casa, isso quer dizer algo próximo de "Não ligo para as consequências nem para o que ninguém pensa, estou fazendo isso porque me deu na telha".

— Definição grande para uma expressão tão pequena.

— Foi o que sempre pensei, mas me pareceu fazer jus — ele deu de ombros. — Então... Confie em seu coração. Se você mandou alguém embora, é porque sabia que não era a pessoa certa, então... Por que se preocupar? Mas entendo que deve ser frustrante.

— O quê?

— Ter só essa chance para encontrar o amor de sua vida. Por que quis a Seleção?

Ela suspirou.

— Bem... Antes da Seleção eu tinha apenas uma chance de ser feliz, com um Príncipe idiota da Itália viciado em Economia Nacional. Agora eu tenho trinta e cinco chances — Annie o encarou. — Pareceu-me visivelmente menos ruim. Aprendi a me contentar com pouco quando se trata de felicidade aqui dentro.

— Conformação estranha para uma princesa.

Annie sorriu.

— Mas você não está pensando em mim como a Princesa, está?

Charlie enrubesceu. Tinha aquela coisa de ver a Princesa como apenas uma garota de jeans com muita coisa na cabeça e sem ideia do que fazer, e não como uma superior ou governante, ou alguém que ele devesse temer. Mas temia por isso. Talvez tal ideia fosse inadequada, mas...

— Você não está dirigindo-se a mim como a Princesa, está?

Ela o fitou por um minuto, mas pareceu satisfeita.

— Às vezes penso que você consegue diferenciar os dois. Acho que estou certa.

— Espero que esteja, Alteza. No final de tudo, só consigo pensar em uma coisa.

— No fato de que já estamos conversando há algum tempo e você já cansou de ouvir meu drama real?

— Nunca cansarei de ouvir seu drama real — ele sorriu. — Eu estava pensando que consegui fazê-la sorrir, Alteza. 

— Eu tenho essa sensação estranha de que você não entende nada do que eu digo, mas ao mesmo tempo sabe exatamente como fazer uma pessoa sentir-se melhor e como dar a ela uma ideia de o que fazer depois, sem saber. 

— Eu só... gosto de ouvi-la falar como se fosse uma garota de dezoito anos revoltada com a pouca liberdade que tem e que sente a necessidade de fazer o que é certo. O que a caracteriza muito como uma garota de dezoito anos de qualquer Casta em que posso pensar. Acho que é menos assustador do que pensar na senhorita como a Princesa, para ser sincero.

Ela sorriu.

— Me acha assustadora?

Charlie queria admitir que poder o assustava. Sendo de uma Casta baixa, poder era algo que nunca experimentara, nunca fizera ideia de como era ter alguém que esperasse ordens dele. A Princesa tinha o país inteiro esperando ordens dela desde que aprendera a falar. Obviamente isso o intimidava. Mas ele imaginou que tal atitude não seria muito plausível em um Rei, então calou a boca.

— Eu não sei exatamente onde a parte Princesa Governante de você reside — ele a fitou. — Por um momento pensei que ela poderia ser você por inteiro, mas não é. Tem outra parte, que sinto-me honrado quando você a compartilha comigo.

— Por quê? Você não ganha nada com isso.

— Gosto de me sentir útil — ele admitiu. — Gosto de sentir como se as minhas ações fizessem alguma diferença boa na vida das pessoas com que convivo.

— Elas fazem. Sempre fazem.

— Vou aceitar tais palavras de fé, Alteza.

Ela se levantou.

— Eu preciso ir. Não deveria ter ficado conversando tanto tempo, mas... — ela sorriu. — Que se dane.

— Não diga isso no Parlamento — Charlie aconselhou. — Foi um prazer, Alteza.

Annie sabia que provavelmente se arrependeria de tal pedido, mas as palavras queimavam na garganta dela e ela precisava dizer:

— Annie.

— O quê?

— Por favor, me chame de Annie.

Charlie quase caiu do banco de surpresa com tal coisa, mas assentiu.

— Com uma condição.

— Suponho que vou me arrepender de perguntar "Qual"?

— Pelo amor de Deus, pare de me chamar de Charles.

— Certamente, Pêssego.


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