A Última Chance escrita por Gaby Molina
Notas iniciais do capítulo
Desculpem pela demora, eu passei uma semana fora e estou tentando colocar tudo em dia, hehe :3 Espero que gostem do capítulo!
Annie já estava começando a bocejar quando um garoto desconhecido sentou-se à sua frente, sorrindo.
— Nome?
— Ryder Will, Alteza.
Ela forçou-se a sorrir:
— Ah, então você é o Ryder!
— Suponho que tenha recebido minhas flores?
— Todos os sete buquês — concordou ela. — Na verdade, eu gostaria mesmo de falar com o senhor sobre eles.
— Sim?
— Eu aprecio muito sua dedicação — disse ela, calma. — Mas, no futuro... Tente... Controlar-se um pouco, sim?
Ryder parecia ter levado um soco no estômago, mas assentiu.
— Claro. Claro, claro. Não acontecerá de novo.
— Ótimo. Pode sair da sala, sr. Ryder.
Annie já estava cansada de ser cordial, e ficou feliz por saber que Charlie era o próximo.
— Alteza — disse ele já se sentando.
— Sr. Charles. Há algo que venho querendo lhe perguntar...
Ele sorriu.
— Vossa Alteza faz muitas perguntas.
A Princesa deu de ombros.
— Você não contou aos outros rapazes sobre já termos conversado, contou?
Seu tom não era acusatório, apenas levemente entretido.
Charlie corou um pouco.
— Eu... Hm, não. Não vi muita utilidade em gritar aos quatro ventos. Considerando o que fizeram com Jasper, que é um cara muito legal, e...
— Jasper — ela repetiu, curiosa. — Acha que ele é um cara legal?
— Acho. Não parece ser um idiota.
— Está dizendo isso porque confia no próprio taco?
— Bem... Se eu conseguir a façanha incrível de fazer com que a senhorita goste de minha companhia — ele a fitou com aqueles olhos acizentados incomuns. — Não vou precisar me preocupar tanto com os outros caras. E não acho que inventar mentiras sobre eles vá fazer com que você goste mais de mim. Mas posso estar errado. De qualquer forma, não pretendo mudar tal pensamento
Annie sorriu.
— Você é um garoto esperto, sabia disso? — ela o fitou. — Sensato. Admiro isso.
— Obrigado, Alteza. Ah, e quanto àquele Mi menor com sétima...
A Princesa sorriu mais uma vez, entretida.
— Vamos ver. Pode sair da sala, e trate de dormir bem.
Charlie assentiu e se retirou.
Depois de ter falado com todos os Selecionados — e mandado três para casa por motivos que lhe pareceram óbvios —, ela desabou em sua cama de dossel ao pensar que ainda havia trinta e um esperando por seu veredito.
Ela ouviu uma batida na porta.
— Senhorita — Lucius entrou no quarto. — A Rainha pediu que fizesse algumas anotações manuscritas para que ela possa enviar o progresso ao Conselho.
— Ah... Certo, certo... — concordou Annie, pegando a prancheta e a caneta que Lucius havia trazido. Ela rasgou um pequeno pedaço e escreveu algumas palavras nele. Quando o homem estava saindo da sala, ela o chamou: — Espere! Lucius! — ele se virou. — Pode entregar isto ao sr. Charles?
Annie podia ver o descontentamento no olhar censurador de Lucius, mas ele não podia negar algo à Princesa:
— Claro, Alteza. Devo dizer quem enviou?
Ela sorriu.
— Ele vai saber. Dispensado.
Lucius fez uma reverência e saiu do quarto. Caminhou até o quarto de Charlie, apertando o bilhete em sua mão. Uma parte dele pensou em ler, mas sabia que tal coisa seria totalmente inapropriada, então se segurou. Bateu na porta e o garoto atendeu na mesma hora.
— Lucius — disse ele, surpreso. Não usara o pronome de tratamento, mas Lucius não se surpreendeu, se tratando de Hutton, que não era educado como Jasper ou tímido como Michael. A Princesa tendia a se encantar com pessoas que diziam o que pensavam, mas Lucius não. — O que o traz aqui?
— Um bilhete para o senhor — disse Lucius, entregando a Charlie o pedaço de papel da Princesa. — Boa noite.
E saiu do quarto. Charlie se sentou em sua cama e desdobrou o bilhete. "Quase me esqueci: Obrigada pelo conselho."
Charlie sorriu levemente. Estava surpreso por a Princesa ter reagido tão bem aos seus pitacos acidentais, mas ao mesmo tempo aliviado.
— É de Vossa Alteza, sr. Charlie? — perguntou Reyna, curiosa.
— Sim — respondeu ele, distraído. — Ela está agradecendo meu conselho.
— Que conselho?
— Sugeri que ela falasse com os Selecionados um a um, e ela o fez.
As três criadas arregalaram os olhos. Estavam atônitas por Charlie ter tomado tal liberdade com a Princesa, e ainda mais por ela ter agradecido.
— Eu deveria responder?
— Já está tarde, senhor.
— Mas ela está acordada. Do contrário, não teria me mandado isto. Como faço para entregar um bilhete?
— Não acho que haja mais criados no corredor, senhor.
— Então vou ter que fazer as coisas à moda antiga.
Charlie escreveu no verso do papel e saiu do quarto. Depois de algum tempo andando pelo corredor, se deu conta de que não sabia onde eram os aposentos da Princesa.
— Ei! — ele chamou uma moça que viu andando pelo corredor. — Por favor, qual é a porta da Princesa? Estou perdido.
— Senhor, já está ficando tarde para...
Ele sorriu.
— Não vou incomodar.
A criada apontou para uma das portas. Charlie agradeceu e ela se distanciou. Ele deslizou o papel por debaixo da porta e voltou para o quarto.
* * *
— Senhorita — Sabrina fitou a Princesa enquanto esta prendia o cabelo num rabo de cavalo alto. — Um garoto deixou esse bilhete por debaixo de sua porta ontem à noite...
Annie pegou o bilhete da mão de Sabrina e logo o reconheceu. "Disponha! Só estou feliz por você não me matar por ser honesto. Gosto de ser honesto com você".
— Não identifiquei o garoto quando o vi ontem à noite, senhorita. Ele era moreno, e me pareceu gentil. — Ruth disse.
— Ah, aquele é o sr. Charles.
— Eu disse a ele que já estava tarde para bilhetes, mas, como pode ver...
Annie sorriu.
— Não é como se ele ligasse muito para formalidades.
— E isso é um atributo positivo, senhorita?
— Não sei. Mas com certeza é uma raridade por aqui...
Foi quando ela viu um buquê de flores que tinha certeza de que não estava ali na noite anterior.
— Como isso entrou aqui?!
As criadas se entreolharam, hesitantes. A Princesa as encarou.
— Ordeno que me digam agora como isso entrou aqui.
— Esse é o problema, senhorita — Leah entrelaçou os próprios dedos, nervosa. — Não sabemos. Quando chegamos ao quarto de Vossa Alteza pela manhã, a porta estava aberta.
Annie caminhou até o buquê, irritada. Havia um cartão anexado. "Bom dia, Alteza. Espero que esteja sentindo-se bem. —Ryder"
A Princesa soltou o maior grito que conseguiu, com apenas uma palavra:
— LUCIUS!
— Senhorita, tenho certeza de que todo o castelo ouviu vossa indignação...
— Ótimo — Annie sentou-se em sua cama. — Com um pouco de sorte, Lucius terá ouvido também.
O Assistente Real logo chegou ao quarto, um pouco sem ar por causa da corrida até os aposentos da Princesa o mais rápido possível.
— Ryder Will — disse ela, amassando o bilhete que viera com a flor. — Quero ele fora. Agora.
— Mas senhorita, o que devo diz...
— AGORA!
Lucius assentiu e, com uma reverência final, deixou os aposentos.
— Se me dão licença — a Princesa se levantou. — Eu vou descobrir como um Selecionado conseguiu acesso às chaves do meu quarto.
* * *
— Nem tentem — disse Michael, se jogando no pufe enquanto conversava com Jasper e Zack. — A Princesa não está de bom humor hoje.
— É? — Charlie esticou a cabeça para se intrometer na conversa, nervoso. Teria algo a ver com o bilhete?
Michael não pareceu muito feliz com a intromissão, mas não censurou.
— É. Passei por ela no corredor.
— Ela falou com você? — perguntou Jasper.
— Pareceu perceber que eu ia falar com ela, porque virou pra mim e disse "Agora não, Nigel".
Zack riu.
— Ao menos ela acertou o "el".
— Talvez ela não quisesse falar com você, especificamente — sugeriu Brad, abrindo um sorriso prepotente.
— Vá em frente, então — desafiou Zack.
— Charlie... Você está bem? — Jasper fitou o garoto, que parecia meio verde.
Charlie, que estava tão nervoso por ser a possível causa de irritação da Princesa, não ouvira nada da conversa no último minuto. Apenas levantou-se e saiu correndo para fora do salão.
Na metade do caminho, parou para perguntar a si mesmo o que diabos estava fazendo. Rondaria pelo castelo até encontrar a Princesa? E então o quê? Arriscaria falar com ela enquanto estava irritada e acabaria sendo mandado para casa?
Soava como um plano excelente. Ele apenas bufou e sentou-se num banco de pedra no jardim, sua única diversão sendo jogar pedras pequenas num arbusto. Foi quando ouviu uma voz feminina falar de algum lugar ali perto:
— Maldição...
Apenas uma garota que ele conhecia usaria tal coisa como um xingamento. Cautelosamente, ele se aproximou do outro lado do jardim, onde encontrou a Princesa Annabelle sentada num banco. Mexia nervosamente nos próprios dedos das mãos e os esfregava em sua calça jeans. Seus cabelos ruivos lhe caíam no rosto, e ela parecia alterada, sim. Não brava. E sim triste.
Charlie não ligava se ela ia mandá-lo para casa ou xingá-lo, aproximou-se mesmo assim. E sentou-se ao lado dela sem pedir permissão para tal.
— Alteza? — fitou-a por um minuto.
Ela o encarou, seus olhos azuis parecendo um pouco brilhosos.
— Charles, o que raios você está fazendo aqui?
— Bem — ele tentou sorrir para ajudá-la. — Eu estava sentado logo ali no meu mundinho, jogando pedras num arbusto quando percebi a presença da senhorita e não suportei deixá-la aqui sozinha.
— Talvez eu queira ficar sozinha.
— É completamente uma opção — concordou ele. — Mas eu estava contando com a possibilidade de que talvez eu pudesse fazê-la sorrir.
— Fazer-me sorrir?
— É, bem... — ele enrubesceu um pouco. — É o que eu gostaria que fizessem se eu estivesse mal.
— Suponho que Nigel tenha...
— O nome dele é Michael — Charlie sorriu. — E ele disse que a senhorita estava irritada. Não acho que esteja irritada. Acho que está carregando muita coisa sozinha. E sabe... Eu não tenho nada para fazer a manhã toda. Posso ficar aqui simplesmente sendo um idiota ao seu lado o tempo que precisar.
— Você não é um idiota, Charles.
Ele fingiu estar decepcionado.
— Nem um pouquinho?
Ela sorriu levemente.
— Certo — e o fitou. — Acho que vocês ainda não sabem... Ér... Sabe o Ryder? Ryder Will?
— Sim, sim. Sujeito estranho, se me permite. Um pouco...
— Obsessivo?
— Exatamente.
— Eu mandei ele para casa hoje.
Charlie arregalou os olhos.
— Seria ousadia minha perguntar o motivo?
— Ele, de alguma forma, invadiu meu quarto ontem à noite.
— Santo Deus. Por quê?
— Para deixar um buquê de flores. O oitavo nas últimas doze horas.
— É por isso que você está mal?
A Princesa o encarou por um minuto.
— Desculpe — ele desviou o olhar. — Não quero que pense que estou tomando liberdades, nem mesmo com o bilhete de ontem, que achei que pudesse ter causado parte de sua irritação, ou...
— Bem, acho que inconscientemente dei a você a liberdade de ser sincero — ela deu de ombros. — Não planejo revogá-la. É só que... sinto essa coisa dentro de mim toda vez que mando alguém embora. Essa coisa de "E se ele fosse o cara certo? Talvez eu apenas devesse ter dado mais tempo...", mesmo que eu tivesse motivos que me deram a certeza absoluta de que eu deveria dispensá-lo.
— Alteza.
— Sim?
Charlie sorriu.
— Nunca te deram muita permissão para errar, não é?
— O que disse?
— É, tipo... Só ser jovem, sabe. Não ligar para as consequências. Só fazer as coisas e pensar "Que se dane".
— "Que se dane"? — ela repetiu como se tal expressão fosse nova para ela.
— Lá em casa, isso quer dizer algo próximo de "Não ligo para as consequências nem para o que ninguém pensa, estou fazendo isso porque me deu na telha".
— Definição grande para uma expressão tão pequena.
— Foi o que sempre pensei, mas me pareceu fazer jus — ele deu de ombros. — Então... Confie em seu coração. Se você mandou alguém embora, é porque sabia que não era a pessoa certa, então... Por que se preocupar? Mas entendo que deve ser frustrante.
— O quê?
— Ter só essa chance para encontrar o amor de sua vida. Por que quis a Seleção?
Ela suspirou.
— Bem... Antes da Seleção eu tinha apenas uma chance de ser feliz, com um Príncipe idiota da Itália viciado em Economia Nacional. Agora eu tenho trinta e cinco chances — Annie o encarou. — Pareceu-me visivelmente menos ruim. Aprendi a me contentar com pouco quando se trata de felicidade aqui dentro.
— Conformação estranha para uma princesa.
Annie sorriu.
— Mas você não está pensando em mim como a Princesa, está?
Charlie enrubesceu. Tinha aquela coisa de ver a Princesa como apenas uma garota de jeans com muita coisa na cabeça e sem ideia do que fazer, e não como uma superior ou governante, ou alguém que ele devesse temer. Mas temia por isso. Talvez tal ideia fosse inadequada, mas...
— Você não está dirigindo-se a mim como a Princesa, está?
Ela o fitou por um minuto, mas pareceu satisfeita.
— Às vezes penso que você consegue diferenciar os dois. Acho que estou certa.
— Espero que esteja, Alteza. No final de tudo, só consigo pensar em uma coisa.
— No fato de que já estamos conversando há algum tempo e você já cansou de ouvir meu drama real?
— Nunca cansarei de ouvir seu drama real — ele sorriu. — Eu estava pensando que consegui fazê-la sorrir, Alteza.
— Eu tenho essa sensação estranha de que você não entende nada do que eu digo, mas ao mesmo tempo sabe exatamente como fazer uma pessoa sentir-se melhor e como dar a ela uma ideia de o que fazer depois, sem saber.
— Eu só... gosto de ouvi-la falar como se fosse uma garota de dezoito anos revoltada com a pouca liberdade que tem e que sente a necessidade de fazer o que é certo. O que a caracteriza muito como uma garota de dezoito anos de qualquer Casta em que posso pensar. Acho que é menos assustador do que pensar na senhorita como a Princesa, para ser sincero.
Ela sorriu.
— Me acha assustadora?
Charlie queria admitir que poder o assustava. Sendo de uma Casta baixa, poder era algo que nunca experimentara, nunca fizera ideia de como era ter alguém que esperasse ordens dele. A Princesa tinha o país inteiro esperando ordens dela desde que aprendera a falar. Obviamente isso o intimidava. Mas ele imaginou que tal atitude não seria muito plausível em um Rei, então calou a boca.
— Eu não sei exatamente onde a parte Princesa Governante de você reside — ele a fitou. — Por um momento pensei que ela poderia ser você por inteiro, mas não é. Tem outra parte, que sinto-me honrado quando você a compartilha comigo.
— Por quê? Você não ganha nada com isso.
— Gosto de me sentir útil — ele admitiu. — Gosto de sentir como se as minhas ações fizessem alguma diferença boa na vida das pessoas com que convivo.
— Elas fazem. Sempre fazem.
— Vou aceitar tais palavras de fé, Alteza.
Ela se levantou.
— Eu preciso ir. Não deveria ter ficado conversando tanto tempo, mas... — ela sorriu. — Que se dane.
— Não diga isso no Parlamento — Charlie aconselhou. — Foi um prazer, Alteza.
Annie sabia que provavelmente se arrependeria de tal pedido, mas as palavras queimavam na garganta dela e ela precisava dizer:
— Annie.
— O quê?
— Por favor, me chame de Annie.
Charlie quase caiu do banco de surpresa com tal coisa, mas assentiu.
— Com uma condição.
— Suponho que vou me arrepender de perguntar "Qual"?
— Pelo amor de Deus, pare de me chamar de Charles.
— Certamente, Pêssego.
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