A Última Chance escrita por Gaby Molina


Capítulo 5
Capítulo 5 - Conselhos




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— Só é tão... Tão terrível! Eu não entendo como eles podem dizer coisas tão horríveis sobre a moça com quem almejam se casar. Eles nunca falaram com ela, mas se qualquer rapaz triunfar, automaticamente a Princesa está envolvida em alguma esquema por dinheiro, poder... — Charlie desabafava com Naomi, Jane e Reyna enquanto elas ajustavam seu terno para o jantar.

Naomi sorriu para ele como se tivessem alguma piada interna.

— A Princesa é uma moça encantadora, não é, senhor?

Charlie foi pego de surpresa com a pergunta, que não era bem uma pergunta.

— Sim — ele respondeu. — Sim, e a moça não foi nada além de gentil com nenhum deles. E o Jasper é um cara legal. Tipo, dá para ver que ele não quer passar por cima de ninguém ou contar vantagem, só...

— Senhor Charlie — Reyna o fitou. — Lembre-se de respirar.

— Eu já fui a criada da Princesa, senhor Charlie — Jane sorriu. — Ela também tinha o costume de desabafar conosco. Nunca nos tratou como inferiores. O palácio pode ser solitário às vezes, sr. Charlie. Pode fazê-lo sentir como se não pudesse confiar em ninguém.

— Desculpem-me — ele corou levemente. — Não pretendia ser um pé no saco.

— Muito pelo contrário.

— De qualquer forma... Não é como se eu tivesse autorização para me meter nos assuntos da Princesa. 

— Ninguém tem autorização — disse Naomi. — Mas todos o fazem.

— Preciso de ar.

E então Charlie apenas pegou seu violão e saiu do quarto.

 * * *

— Como foi com o senhor Jasper, Alteza? — perguntou Ruth quando Annie entrou no próprio quarto. 

— Divertido — Annie sorriu. — Ele parece ser um bom homem.

— Se me permite, Princesa — Leah a fitou por um momento. — O sr. Jasper é um rapaz muito bonito.

Annie parecia um pouco distraída.

— Sim. Sim, ele é.

Depois que as criadas a ajudaram a vestir-se para o jantar, Annie se sentou por um momento, apenas devaneando.

Foi quando começou a ouvir música. Ela reconheceu a canção imediatamente e foi para a janela.

— Ei! — ela gritou, vendo que Charlie estava no jardim com o violão. — Esqueceu-se de mim tão facilmente?

Charlie se virou para ela, surpreso.

— Jamais! Apenas nunca sei como encontrá-la, Alteza.

— Essa é uma desculpa terrível, sr. Charles. Mas admito que passei a tarde um pouco ocupada.

— A senhorita está livre agora?

Annie o fitou por um minuto.

— Suponho... Sim. Está se sentindo especialmente com vontade de ensinar?

— Nada poderia me agradar mais, Alteza.

Annie sorriu e se virou para as criadas.

— Alteza, Mestre Lucius pediu que a senhorita permanecesse no quarto, e... — começou Sabrina.

— Diga a ele que estou em aula.

— Como quiser, senhorita.

Annie levantou um pouco a barra do vestido e desceu as escadas rapidamente até o jardim.

— Escapei — ela suspirou, fitando Charlie. — E nem faça a coisa da reverência. Não é necessário.

Charlie sorriu, agradecendo silenciosamente.

— Bem, se puder sentar-se...

Annie o fez.

— Qual o nome daquela canção que você estava tocando?

— Lágrimas de Ouro — disse ele. — É uma de minhas favoritas.

— É tão bonita.

— E bem simples, na verdade. O quanto a senhorita sabe sobre violão?

Annie abriu um sorriso torto culpado.

— É parecido com violino?

Charlie, que nunca havia tocado violino na vida, tentou formular uma resposta plausível:

— Bem... Suponho... Quero dizer, o violão não tem aquela... haste, então...

Annie riu um pouco. Seu riso era doce e aconchegante.

— Você não faz ideia do que está falando, faz?

Charlie corou.

— A senhorita deve achar que nunca sei o que estou fazendo ou dizendo.

— Isso não é verdade — ela o encarou por um momento. — Quando você sorri e elogia alguém para se esquivar... Acho que você sabe o que está dizendo. Mas quando você toca... Esse é o único momento onde tenho certeza de que você sabe o que está fazendo.

Ele sorriu.

— Então talvez devamos tocar.

E então ele começou a explicar o básico para ela. Annie já sabia a maioria daquelas coisas, mas deixou que ele explicasse, pois o fazia com tanta paixão que era impossível não se encantar. Charlie obviamente amava música.

— Estas são chamadas de casas — disse ele, passando os dedos pelos retângulos divididos por uma barrinha de metal. — As cordas são contadas de baixo para cima. Hãã... Vamos começar com algo simples. Vou ensiná-la a construir um Sol maior. Aqui, pegue o violão.

Annie apoiou o violão em uma das pernas, afastando o cabelo ruivo que lhe caía no rosto. Era a primeira vez que Charlie a via com o cabelo solto, e achava que combinava muito mais com ela.

O que era idiotice, pois ele mal a conhecia.

— Certo. Coloque o dedo indicador na quinta corda da segunda casa. Isso. Agora coloque o dedo médio na sexta corda da terceira casa. E por fim, coloque o dedo anular na primeira corda da terceira casa. Agora toque uma vez para baixo.

Annie o fez. O som saiu até ligeiramente agradável aos ouvidos dela.

— Vamos fazer esse ritmo que é meio que padrão. A maioria das músicas funciona com ele, eu acho, apesar de nem sempre ser o melhor. Enfim. Duas para baixo, duas para cima, baixo, cima. É... Posso?

Ela assentiu e entregou-lhe o violão. O rapaz demonstrou o ritmo e lhe devolveu o instrumento. Calmamente, ela repetiu o feito, apesar de se perder algumas vezes.

— Vamos chegar lá — ele prometeu. 

— Sr. Charles.

— Hm, sim?

— Posso lhe fazer uma pergunta?

— Eu não posso impedi-la.

— Bem... Como é lá dentro, com os rapazes? — ela o fitou, curiosa. — Quero dizer, vejo que você não passa muito tempo com eles.

— Para a informação de Vossa Alteza — ele se defendeu. — Eu passei a tarde inteira com eles hoje. Mas Vossa Alteza estava cavalgando ao pôr-do-sol, então imagino que tal fato não chegou a vossos ouvidos.

Annie ergueu os braços, fingindo se render.

— Ponto para você, Pêssego.

— Muito obrigado por acabar de retirar qualquer vantagem minha com esse comentário, Alteza. — ele sorriu.

— Afinal, como sabe sobre minhas atividades vespertinas? O sr. Jasper falou?

— É, ele falou. O que levantou um monte de suspeitas de alguns caras do tipo "Será que ele falou a verdade?", e também tem os idiotas que acham que Vossa Alteza está priorizando-o de alguma forma, ou...

— Acham que estou priorizando-o? — ela interrompeu, franzindo o cenho. — É porque ele é um Dois, não é? Eu deveria saber.

Charlie recuou, percebendo o que havia dito.

— Bem... Alguns acham, sim.

— E o que você acha, sr. Charles?

— Eu acho que Jasper apenas foi mais corajoso e esperto do que o resto de nós e aproveitou uma oportunidade — ele deu de ombros. — E também acho que, no meio de tudo isso, as pessoas se esquecem de que você também é uma pessoa, e é uma pessoa que eles ainda não tiveram o prazer de conhecer o suficiente para serem aptos a um julgamento.

— Você se referiu a mim como "você". — ela sorriu. Ao perceber que Charlie havia enrubescido, continuou: — Não, não. Tudo bem. Os pronomes formais soam estranhos saindo de sua boca, mesmo. 

— Não estou acostumado — ele esboçou um sorriso. — Bem... Se me permite, Alteza, talvez seja a hora de conversar com os Selecionados um a um. — Logo ele se arrependeu, percebendo que estava dando pitacos no trabalho da Princesa, então apenas ajeitou o violão e disse: — Pronta para construir um Mi menor com sétima?

Antes que ela pudesse responder, eles ouviram um pigarreio alto atrás dele.

— Lucius — Annie se virou, encarando-o. — O que foi?

— A Rainha deseja falar um minuto com a senhorita antes do jantar, Alteza.

Annie se virou para Charlie.

— Preciso ir. O Mi menor com sétima vai ter de esperar. Até depois, sr. Charles.

— Até, Alteza.

A Princesa se levantou e seguiu Lucius para dentro do palácio.

— Estava conversando com o mesmo rapaz novamente? — Lucius ergueu uma sobrancelha para ela. — Princesa, os outros rapazes vão...

— Sentir como se eu estivesse beneficiando o sr. Charles, já me disseram. Minha mãe disse o que ela queria?

— Apenas conferir o andamento das coisas, Alteza.

Annie assentiu e entrou na sala de reuniões. Sua mãe era a única presente na mesa. Lucius e a Princesa sentaram-se perto dela.

— Majestade — Lucius fez uma reverência.

— Obrigado por trazer minha filha, Lucius. — a Rainha se virou para Annie. — Onde estava?

— Bem, eu preciso falar com os rapazes, se você quiser algum progresso — a Princesa ergueu uma sobrancelha.

— Queira relatar o progresso, então.

— Bem... O senhor Charles. É um rapaz muito inteligente e talentoso com o violão. Ele é gentil e humilde, além de ter olhos muito bonitos.

— Parece que você teve muito tempo para analisar.

Annie não sabia o que dizer, e ficou surpresa quando Lucius a salvou:

— Fale agora sobre o sr. Jasper, Alteza.

— Claro, claro... O senhor Jasper é muito cortês e bem-educado, além de gentil e confiante. — Quando sentiu os dois olhares sobre si, Annie continuou: — Os olhos dele são legais também. Já está na hora do jantar, não está? 

A Princesa estava deixando a sala quando a mãe a chamou:

— Annabelle — Annie se virou. — Precisa fazer mais eliminações. Cortar o grupo em metade na próxima semana.

— Está dizendo que tenho uma semana para mandar metade deles para casa?

— Exato.

Annie suspirou.

— Certo.

A Princesa caminhou até seu quarto. Quando entrou, fitou as três criadas.

— Lucius estava procurando pela senhorita — disse Ruth.

— É, ele me achou — Annie suspirou. — Minha mãe queria falar comigo. Aparentemente, tenho que dispensar metade dos rapazes na próxima semana.

As moças a fitaram, incrédula.

— Pois é. Não faço mais ideia do que vou fazer, mas... — ela se jogou em sua cama de dossel. — Que seja. Afinal, de quem são aquelas flores? 

A Princesa se levantou, indo até um novo buquê inserido no meio de outros dez que já havia recebido.

— Do sr. Ryder, Alteza.

— De novo? — ela suspirou. — Esse é o quarto nas últimas dez horas! E eu nem sei quem é Ryder!

Annie jantou com seus pais, e depois foi até a mesa dos Selecionados.

— É... Imagino que já tenha passado da hora de eu conversar de verdade com cada um dos senhores — disse ela. — Então... Vou sentar ali — ela apontou para uma cadeira que havia posto no fundo da sala. — E vou chamar um a um para que venham conversar rapidamente comigo. Acho que tal coisa faria algum bem. É... Podem vir pela ordem que estão sentados na mesa.

Annie sentou-se na cadeira e esperou até que o primeiro Selecionado se sentasse na cadeira posta em frente a ela.

— Brad, não é? — perguntou ela ao garoto. Ele assentiu. — Conte-me o que achar pertinente contar.

— Bem... Sou um Dois. Cresci em uma cidade grande ao Norte — Brad sorriu. — Fiz alguns ensaios fotográficos. Gosto de poesia e livros, além de esportes. Eu poderia contar mais à Vossa Alteza em um piquenique, o que acha?

Annie sorriu.

— Seria ótimo — disse ela. — Foi um prazer conhecê-lo. Pode sair pela porta e descansar. O dia de amanhã será um pouco mais puxado, foi o que me disseram.

Brad assentiu e, com uma reverência final, saiu da sala.

Zack era o próximo. Nervoso, ele tropeçou ao levantar-se, mas a Princesa não pareceu ter notado. Ele sentou-se em frente a ela.

— Olá — ela sorriu. — Nome?

— Zack. Zack Woodsen. Zachary, na verdade, mas não combina muito comigo — ele torceu o nariz. 

— Muito bem, sr. Zack. O que você gosta de fazer?

— Ah, ufa — ele suspirou. — Achei que a senhorita fosse fazer uma daquelas perguntas bomba do tipo "Me dê cinco motivos para que eu não o mande embora agora mesmo", ou algo assim — ele riu. — Estou brincando, é claro. Só consigo pensar em um motivo. 

Annie o fitou, curiosa

— E qual seria?

— Ruivos devem apoiar uns aos outros, é a única forma de sobrevivermos nesse mundo opressor — ele sorriu. — A não ser que você seja a Princesa. Infelizmente, eu não sou a Princesa. Ao menos, é o que dizem.

Ela riu.

— Vejo que não. 

— Teve essa vez, no jardim de infância — ele a fitou, sorrindo. — que minha classe fez uma encenação sobre a família real. Eu era um figurante. Só que a garota que ia interpretar Vossa Alteza ficou doente e não pode vir. Então meus colegas...

Annie soltou uma exclamação e riu um pouco, entretida.

— Não me diga que eles...

— Sim — Zack olhou para baixo, fingindo estar triste. — Eu interpretei a Princesa na peça da escola. Sabe, atores realmente entram no personagem quando o interpretam, então sinto como se fôssemos velhos amigos. Também tem a coisa do cabelo, claro. Apesar do seu cabelo ser muito mais bonito que o meu, é claro...

— Não diga isso! Se ajuda, o seu cabelo é bem fabuloso também — ela sorriu. — Depois conversamos mais. Ainda tenho mais 32 caras para entrevistar, e tenho certeza de que nem todos vão me manter entretida, então...

— Ah, boa sorte — desejou Zack, fazendo um aceno cordial de cabeça.

— Pode sair do salão. Vá descansar. 

Zack se levantou.

— Boa noite, Alteza.

— Boa noite, sr. Zack.

Jasper estava sentado em frente a Charlie, esperando calmamente sua vez. Ele se virou para o moreno, que parecia distraído:

— Zack saiu da sala. Acha que isso é ruim?

— Não sei.

— Não está nervoso?

Charlie não sabia bem. Sentia que possuía uma pequena vantagem por já ter falado com a Princesa — duas vezes, por sinal —, mas aprendera a não tentar prever os movimentos de Vossa Alteza.

— Um pouco, acho. E você?

— Menos do que estaria se nunca tivesse falado com ela, acho. 

— Faz sentido. É a sua vez.

Jasper pareceu ter acordado de sopetão com a notícia. Levantou-se rapidamente e sentou-se em frente à Princesa depois de fazer uma leve reverência.

— Alteza.

— Senhor Jasper. Ah, devo dizer que me diverti hoje à tarde.

Jasper sorriu.

— Eu também. 

— Então... Cabelos sedosos, monta a cavalo... — ela sorriu. — Mais alguma coisa que eu precise saber sobre o senhor?

— Bem... Tenho uma paixão secreta por desenhar — confessou ele. — Não tenho certeza se sou bom, mas...

— Eu adoraria ver seus desenhos qualquer hora!

Os olhos claros de Jasper brilharam.

— É mesmo?

— Claro, por que não?


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