A Última Chance escrita por Gaby Molina


Capítulo 16
Capítulo 16 - Divergência de Conotação




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— But now there's no way to hide...

— Alteza — Ruth franziu o cenho, fitando a Princesa. — A senhorita está cantarolando.

— Posso estar — respondeu Annie, abrindo as janelas. — Michael realmente me surpreendeu ontem à noite. Eu nunca imaginaria que ele fosse ao menos um pouco ousado.

— E a senhorita apreciou isso?

— Sabe como eu sou.

As criadas perceberam que ela estava olhando para o jardim, então apenas fingiu que nada havia acontecido e sentou-se na própria cama.

— Treze rapazes — disse Annie. — Acho que as coisas estão finalmente começando a caminhar.

* * *

— Acho que aconteceu alguma coisa ontem — disse Michael diante dos outros Selecionados, no salão de jogos. — A Princesa disse que ontem foi um dia muito especial, e falou sobre a deusa do amor.

Zack procurou Charlie no salão a fim de encará-lo, mas não o encontrou. Então foi procurá-lo. Encontrou-o dormindo no próprio quarto.

— Bom dia, Charles — disse o ruivo, escancarando as janelas.

— Zack, o que raios... — o outro rapaz resmungou, enfiando a cara no travesseiro.

— Hora de acordar, raio de sol.

— O que você quer de mim?

— O que quero de você? Quero seu corpo nu, é claro. — Zack revirou os olhos. — Droga, Charlie, o que acha? Os outros Selecionados estão começando a desconfiar que alguém — ele apontou para Charlie. — finalmente fisgou o coração de uma certa princesa ruiva, audaciosa e linda.

— Não seja ridículo. Ela nem gosta de mim. Bem, não desse jeito.

Zack ergueu uma sobrancelha. Charlie enrubesceu.

— Ah... Você viu, né?

— Sua bela língua na garganta dela? Basicamente. Situação bonitinha, porém dispensável a meus olhos sensíveis.

— Foi só um beijo — Charlie defendeu, dando de ombros. — Não aja como se fosse grande coisa.

— Tudo uma questão de conotação.

— Sem essa. Foi só por causa do francês idiota. Não significou nada.

Zack ergueu uma sobrancelha.

— Vossa Alteza sabe disso?

Charlie abriu a boca e depois fechou. Abriu de novo e disse:

— É claro que sabe. Não é como se ela estivesse apaixonada por mim ou algo do tipo. Tenho certeza de que nossa cabeça está no mesmo lugar. E vou provar para você. — completou ele, notando que Annie estava no jardim.

Charlie correu até o pequeno oásis, sorrindo levemente ao acenar para Annie.

— Entãão... — ele a puxou pela mão até um dos bancos de pedra. — Não sei se eu deveria te dizer isso. Enfim. Zack sabe sobre o beijo.

Ela riu um pouco.

— Eu sei.

— Você... sabe?

— Ele me viu logo depois. E dava para perceber no olhar dele. Pelo menos não me perguntou nada.

— É, quero dizer, não foi grande coisa.

Annie hesitou, mas tentou soar descontraída:

— Claro. Certo.

— Tudo por causa daquele francês energúmeno.

— Certo.

— Zack acha que nós nos gostamos, ou algo do tipo. Eu e você. Mas eu disse a ele que o beijo não significou nada.

Annie tentou não fazer parecer que tinha acabado de levar um soco no estômago, apesar de essa ser exatamente a sensação.

— Disse, é?

— Mas ele acha que você poderia pensar diferente — continuou Charlie, parecendo achar a ideia extremamente ridícula e improvável. — Nada a ver, certo?

Annie não aguentava ouvir aquilo, então se levantou.

— Tenho que ir.

Enquanto se distanciava, Charlie a chamou:

— Tudo bem?

Ela se virou.

— Eu nunca achei que fosse dizer isso — a moça o encarou. — Mas você deveria realmente começar a ouvir o Zack. E você estava errado. Charles Hutton definitivamente não está sempre certo. Ou talvez esteja. Afinal, qual a diferença? Não significa nada.

Ignorando os chamamentos do rapaz, ela saiu correndo.

* * *

— Você estava certo — Zack zombou, segurando um riso. Charlie correu para o salão de jogos, mas o ruivo logo o encontrou. — Tudo correu perfeitamente bem.

— Eu realmente não quero ter essa conversa agora.

— Como quiser. Mas, afinal, o que ela disse? Eu não consegui ouvir, mas ela parecia bem alterada.

— Parecia irritada?

— Não. Só um pouco...

— Decepcionada?

— Sinceramente, parecia mais uma mistura de ultraje e atordoamento.

— Bela combinação — Charlie suspirou, se jogando em um pufe.

* * *

Annie percebeu depois de alguns momentos de corrida que não tinha para onde ir. Então se sentou no chão, encostada na parede dos arredores do castelo, alterada demais para ligar para o fato de estar de calça jeans, ou algo do tipo.

— Alteza? — ela ouviu aquela voz masculina conhecida. Jasper a fitava com os olhos azuis bonitos, claramente confuso. — A senhorita... está bem?

— Essa é uma pergunta verdadeiramente estúpida.

— Eu posso ajudar?

— Não.

Ignorando a convicção dela, ele se sentou no chão ao lado da Princesa.

— Jasper. Sério, vai embora.

— Isso não vai acontecer — ele sorriu para ela e a abraçou. — Se sente melhor agora?

— Deveria.

— Então como se sente?

— Estúpida.

— Acho difícil.

— Bem, você não é nenhum especialista.

Jasper deu de ombros e apenas a abraçou mais firme, pressionando as costas dela contra seu peito.

— Quer me contar o que houve?

— Não.

— Tudo bem.

Ela ergueu os olhos para fitá-lo, surpresa.

— "Tudo bem"?

— Claro. Sinta-se à vontade para desabafar o que quiser. Mas se não quiser, não vou te fazer falar.

— Ótimo jeito de fazer uma moça se apaixonar por você.

Jasper suspirou.

— Podemos esquecer a competição por, tipo, cinco minutos? Estou fazendo isso porque me preocupo com você. De verdade. E quero me certificar de que você está bem. Não tem nada a ver com a Seleção. Eu faria o mesmo se a senhorita fosse... Sei lá. Zack. — ele fez uma pausa. — Bem, eu provavelmente não ia te abraçar assim se a senhorita fosse Zack, mas suponho que entendeu aonde quero chegar.

Annie sorriu, assentindo.

— Pode me chamar de 'você'. Eu realmente não me importo. Principalmente agora.

— Certo. Você deu esse privilégio a Charlie também, não é?

Ela desviou o olhar, suspirando.

— Podemos não falar de Charlie?

— Entendido.

— Na verdade, podemos só não falar?

— Entendido também.

Eles ficaram ali por longos minutos, em silêncio. Num determinado momento, Annie sussurrou:

— Tudo bem, talvez eu me sinta um pouquinho melhor agora.

Jasper riu um pouco, notando que ela havia enrubescido.

* * *

— E aí? — Charlie sorriu para Annie no dia seguinte, depois do café da manhã.

Ela o fuzilou.

— "E aí"? — bufou e começou a andar mais rápido.

— Eu disse alguma coisa errada?

— Não sei, Charles — ela não parou de andar. — Não. Quer saber, você não disse nada errado. — e o encarou. — Só acho que nossas cabeças não estão no mesmo lugar agora.

— Annie, o beijo...

— O que você vai dizer agora? Além de que não significa absolutamente nada. Porque, sabe, eu desenvolvi experiência nessa coisa de "beijos sem significado". Mas tem um problema: eu nunca sei diferenciar, até que esfregam isso na minha cara. Então, obrigada Charlie. Vai dizer que me beijar foi um erro também?

— Não, eu...

—... Porque eu acho que foi.

Charlie a fitou durante alguns segundos. Annie não identificou sua expressão.

— Está esperando que eu me desculpe, ou algo do tipo?

— Não estou esperando nada vindo de você.

Annie saiu andando. Acabou em seu próprio quarto, onde entrou e bateu a porta.

— A senhorita está bem? — Leah a fitou, preocupada.

— Fantástica — resmungou a Princesa.

— Quer falar sobre isso? — tentou Sabrina.

— Na verdade, podem me deixar sozinha? Não quero companhia agora.

As criadas hesitaram.

— Estão dispensadas.

Com uma reverência final, elas deixaram o quarto.

— O que acham que aconteceu? — Ruth sussurrou com as outras.

— Seja lá o que for, ela não vai nos contar — Leah deu de ombros.

— Eu sei de alguém a quem ela contaria — disse Sabrina.

* * *

Annie estava tentando cavalgar, mas até o cavalo deixava de obedecê-la. Por um minuto, teve vontade de chamar Jasper. Mas depois se lembrou de que ela provavelmente não seria uma companhia agradável no momento.

Mas Jane nunca ligara. E certamente não ligava quando apareceu nos estábulos.

Annie suspirou.

— Sabrina falou com você, não foi?

— Ela está preocupada. Todas elas estão.

A Princesa desceu do cavalo.

— Como sabia que eu estava aqui?

— Posso saber uma coisa ou duas sobre a senhorita, Alteza.

— Charlie não me encontraria — resmungou a moça. — Na verdade, não tenho certeza de que ele sequer procuraria.

— Ah, então esse é o nosso tópico? — Jane sorriu. — Certo, achei que fosse a aliança com o Oriente Médio. Mas tenho certeza de que o seu problema é muito mais complicado. Bem, tem câmeras em todo o palácio agora, então acho que deveríamos conversar nos seus aposentos.

E lá foram elas. Annie se jogou na própria cama e Jane se sentou numa cadeira.

— Muito bem, Alteza. Conte-me tudo.


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