A Última Chance escrita por Gaby Molina


Capítulo 15
Capítulo 15 - Procurando Significados




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— Podem me ajudar com o cabelo? — Annie sorriu levemente para as três criadas, que pareciam dispostas a fazer uma greve de "Não até a senhorita nos dizer o que está acontecendo". Mas ajudaram.

Lucius invadiu o quarto no mesmo instante. Sem bater. Sem hesitar. Annie estava prestes a berrar algo sobre como o que ela fazia em questões pessoais não era da conta dele (apesar de ser, sim, da conta de todos, considerando que refletia no futuro de Iléa) quando percebeu que não era esse o motivo da presença do homem.

— Ai meu Deus — a Princesa mordeu o lábio. — O que elas fizeram?

— Está lembrada do espelho em cima do sofá do Salão de Visitas?

— Filhas da mãe — e, tirando todos os grampos do cabelo, desceu correndo até o salão para avaliar o estrago.

O Rei e a Rainha já estavam conversando no estilo "sussurro gritado". Aqueles sussurros de quando você quer muito gritar, mas não pode elevar a voz. Pierre e Augustine pareciam aflitos. Alexandre resmungava alto e para ninguém em particular. Falava em um Francês rápido e cheio de palavrões que Annie não conseguiu acompanhar.

Catherine e Danielle agiram novamente. Annie permitiu-se observar o estrago.

Elas haviam derrubado o espelho que ficava pregado na parede sobre o sofá. O espelho havia se quebrado, e pedaços dele estavam infincados no sofá, enquanto o resto estava espalhado pelo chão.

Alguns empregados pediram para limpar a bagunça, mas o Rei ordenou que a Princesa Annabelle deveria ver primeiro. 

Surpresa, ela constatou que todos olhavam para ela. Esperavam sua decisão, o que era novidade.

Ela tinha apenas um pensamento na cabeça:

— Quero Brad Cavanaugh e Rick Jillian na minha frente. AGORA!

* * *

— Você mandou Rick para casa — Charlie disse ao vê-la duas horas depois.

Sem "oi". Ela também não sentia essa necessidade. Então apenas continuou andando. Ele a seguiu.

— Mandei, mesmo.

— E Brad?

— Era o turno de Rick. Ele admitiu ter estragado tudo. Chegou a essa conclusão por si próprio.

— Duvido — Charlie resmungou para si mesmo.

— O que disse?

— Mas Brad não...

— Droga, Charlie, eu sei o que estou fazendo. Você não está facilitando as coisas. Eu sei que você se importa, mas a sua ajuda não é útil agora.

Ele recuou.

— Sinto muito.

Ela suspirou, percebendo o que havia dito.

— Não. Você está certo. Me desculpe. Eu só... tive um dia bem cheio. A culpa não é totalmente sua.

Ele sorriu.

— Ah, então tudo bem. Já que a culpa não é TOTALMENTE minha.

— Eu falo demais perto de você. Não consigo pensar direito. É muita coisa, ok? Eu tenho treze caras, algumas semanas, um Conselho inteiro querendo a minha cabeça, um pai muito descrente e meu povo espera um veredito, eu... — ela o fitou por um minuto. — Meu Deus. O que estou dizendo? Droga, preciso pensar. Como você faz isso?

— Como faço o quê?

— Você faz com que o filtro de palavras na minha cabeça pare de funcionar instantaneamente.

— Eu realmente preciso entender como a sua cabeça funciona.

— Somos dois. 

— Então... Você fica pensando e nos vemos depois?

Ela assentiu.

— Estou realmente começando a odiar essa coisa de pensar.

— Por quê?

— Porque preciso ficar longe de você para fazer isso — ela disparou. Depois percebeu o que havia dito e xingou baixinho. Não exatamente um palavrão, porque Charlie duvidava que ela conhecesse algum, mas algo como "Maldição!". Ela falava com tanta convicção que soava parecido. — Eu fiz de novo. Droga, qual é o meu problema?! Eu preciso ir. 

Charlie sorriu.

— Até depois, Annie.

Ela piscou com os dois olhos repetidas vezes numa espécie de tique, e depois saiu andando. Foi até seu quarto e estirou-se na própria cama.

Não. Não estava bom. Trocou o vestido pesado por uma calça jeans e camiseta. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo. E voltou a deitar-se.

Bem melhor. 

Já estava escurecendo quando bateram em sua porta. Lucius ou Charlie, sem dúvida. Não se importava que nenhum dos dois a visse de calça jeans, então atendeu a porta.

E se deparou com Jamie Beaumont.

— O que você...?

— Vou simplificar — ele a fitou com aquele olhar que derretia qualquer garota. — Sinto sua falta. E sinto essa vontade irrefreável de beijar você.

Ela se afastou.

— Não é tão fácil assim ganhar um beijo meu.

— Essa regra também se aplica ao tal Chuck?

— Pare de fingir que não sabe o nome dele — ela cerrou os dentes. — Além do mais, não é da sua conta. 

— Ah, qual é. Quer que eu acredite que aquilo não foi uma simples tentativa de vingança?

Annie abriu a boca para falar, mas percebeu que não sabia o que dizer. Não sabia por que beijara Charlie.

E, mais do que isso, não fazia ideia de por que Charlie a beijara.

— Eu volto para a França amanhã bem cedo. Ninguém precisa saber.

— Eu vou saber.

— Droga, Annie, você vai mesmo ficar guardando rancor? Supere isso! Siga em frente!

— Não me chame assim. E, não se preocupe, já superei. Superei VOCÊ. E estou seguindo em frente! Só estou esperando que você saia da droga do caminho!

— Alteza? — disse uma voz calma e conhecida se aproximando no corredor. Jasper. — Tudo bem?

— Ah, é. Eu havia me esquecido de que você tem todo um exército esperando para ter os corações pisoteados.

— Não fale assim com ela — ordenou Jasper no tom autoritário e confiante que lhe parecia natural.

Jamie se virou para ele e ergueu uma sobrancelha.

— Faz ideia de quem eu sou?

— Faz ideia de quem ELA é?

Jamie bufou e se virou para Annie.

— Você nunca vai encontrar alguém como eu.

— Essa é justamente a ideia.

— E, só para o seu governo, foi a russa que deu em cima de mim.

— Ai, meu Deus, eu não mereço isso — ela deu de ombros e entrou no próprio quarto, batendo a porta atrás de si.

* * *

— Vossa Alteza — Annie ouviu a voz de Sabrina chamando-a de madrugada.

— Deixe-me dormir!

— O rapaz quer muito falar com a senhorita, não consegui fazê-lo ir embora.

— Jamie?

— Não, senhorita. É um Selecionado — explicou Ruth, nervosa.

Annie vestiu o roupão e abriu a porta do quarto, já exclamando:

— Charles Hutton, o que diabos você está fazendo na minha porta a... — ela parou de falar quando percebeu que não era Charlie na porta dela. — Michael.

O rapaz sorriu com a incredulidade e embaraço na voz dela, e ajeitou os óculos. Ficava mais charmoso com eles.

— Deixe-me recomeçar — ela o encarou. — Michael Waysen, o que diabos o senhor está fazendo na minha porta a essa hora?!

— "Porque o meu coração é tão iluminado? / Porque as estrelas estão tão brilhantes? / Porque o céu é tão azul / Desde a hora em que conheci você?"

— Certo, por que você está citando Charles Chaplin?

Michael sorriu.

— Eu não podia dormir sem ter certeza de que você havia visto o céu esta noite.

Ele puxou a moça para fora do quarto, levando-a até o topo de uma das torres.

— Eu não conseguia dormir. Fui olhar o céu. Lembrei de todos os poemas sobre o céu e as estrelas que você gosta. Sério, veja isso.

Annie olhou para o céu e sorriu instantaneamente. Havia muitas estrelas. Muitas! Mais do que ela jamais vira ou achou que fosse ver. 

— O que é aquilo sobre a Lua?

— Vênus — respondeu ele.

— Até mesmo a deusa do amor resolveu assistir o dia de hoje... De ontem, quero dizer — ela abriu um sorriso bobo, mas logo se arrependeu do que havia dito.

— O que teve de especial no dia de ontem?

Ela não respondeu. Pela primeira vez em dias, parou e pensou. Pensou sobre tudo. Deixou sua mente vagar por cada um dos treze rapazes, por Lucius, pelos pais, por Jane... De novo para os treze rapazes.

E por um em especial.

— No que está pensando? — perguntou Michael.

— Estou pensando que estamos todos perdidos em gritos no vácuo de nossa própria existência.

— O que isso significa?

— Não faço ideia.

* * *

— Você sinceramente me acordou às cinco da manhã para perguntar isso? — Charlie ergueu uma sobrancelha, abotoando a camisa quando Annie bateu em sua porta para perguntar o que eram "gritos no vácuo de nossa própria existência".

— Exatamente.

— Não vai embora até que eu responda?

— Exatamente.

— Você é inacreditável.

— Nem tanto, se você mesmo já fez duas deduções corretas sobre as minhas ações.  — replicou ela e entrou no quarto dele. Sentou-se no tapete, encostando as costas na cama. Charlie se sentou ao lado dela.

— Certo. Vamos por partes — ele a fitou. — O vácuo de nossa própria existência é o vazio que passamos a vida tentando preencher, a sensação de que tem alguma coisa faltando. Chegamos a um ponto onde não acreditamos mais que é possível preencher, então começamos a apenas gritar nesse vácuo. E, como qualquer grito num lugar completamente vazio, não forma nada além de eco. Mas estamos perdidos. Não conseguimos sair desse ciclo vicioso. Parar de gritar no vácuo. Tentar outro método.

Annie fitava-o, levemente admirada.

— Entendeu? — ele a fitou de volta.

— Aprendemos a amar a desesperança. — deduziu ela.

— Mas nos recusamos a admitir tal vício.

Eles ficaram em silêncio por um minuto.

— Está irritado porque eu te acordei?

— Annie, eu jamais ficaria irritado com você.

— Uma promessa perigosa, se tratando de uma princesa tão impulsiva.

— O perigo de uma promessa não a invalida.

— Mas diz muito sobre a pessoa que promete. Comprometimento e coragem.

— Ou apenas estupidez.

— É, é uma alternativa.


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