A Última Chance escrita por Gaby Molina


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Ideia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/388551/chapter/1

O aniversário de 18 anos de Annabelle Shreave se aproximava. Sua mãe, a Rainha America, havia feito seu café-da-manhã naquele dia. Não era um costume comum entre a realeza, mas America crescera como uma 5, então não seguia exatamente todos os costumes.

— Mãe — Annabelle fitou-a, séria. Sempre fora próxima da mãe.

— Sim, Annabelle?

As pessoas geralmente a chamavam de Annie, mas não havia acordo com sua mãe.

— Eu não quero me casar com o Príncipe Edwin.

O Príncipe Edwin era o Príncipe de alguma região próxima de Iléa — ela não fazia questão nenhuma de saber exatamente — com a qual seu país precisava fazer as pazes. Aparentemente, isso queria dizer que era perfeitamente aceitável casar sua única filha com um total desconhecido. 

America não respondeu

— Isso é tão injusto! — Annie bufou. — Você pôde encontrar seu amor verdadeiro! 

— Eu não era da família real, Annabelle. 

— Papai era!

— Mas seu pai era h... — a voz da mãe falhou. — Filha, você sabe muito bem que...

— Papai era o quê? Papai era homem? Não posso acreditar que você seja machista o suficiente para usar esse argumento.

— Eu não faço a Lei, querida. Sabe disso.

— Essa Lei foi feita éons atrás. Que tipo de mãe obrigaria a filha a casar com um desconhecido?

— O Príncipe Edwin não é um desconhecido. Ele veio jantar aqui em casa naquele dia, lembra-se?

Annie bufou novamente.

— Nem me lembre disso.

Se havia no mundo a dádiva de entediar todos os seres humanos à sua volta num raio de cem quilômetros, Príncipe Edwin certamente a possuía. Ele só falava sobre a situação econômica mundial, o que, bem, não é exatamente a melhor opção se você estiver tentando fazer uma garota casar-se com você.

Mas ele não estava tentando. Porque, na cabeça dele, Annie não tinha escolha. Talvez não tivesse, mesmo. Mas lutaria até a morte.

— Querida, o que diabos você quer que eu faça? Sabe que eu amo você. Mas... não temos escolha.

Uma ideia brilhou na cabeça da garota. Louca, possivelmente problemática, mas ainda assim uma ideia.

— Poderíamos promover uma coisa.

— Sou toda ouvidos.

Annie a encarou por um minuto, reunindo a coragem final para falar.

— Eu quero minha própria Seleção.

* * *

Obviamente, o assunto acabou se tornando uma discussão na hora do almoço.

— Annie, isso nunca ocorreu antes — o Rei Maxon, seu pai, disse sério.

— Não quer dizer que não possa ocorrer — Annie sorriu. — Iléa é um país relativamente jovem, suas leis não estão exatamente concretas. Além do mais, eu pesquisei. Não há nenhuma lei que impeça a Seleção de ocorrer com uma princesa.

— Annie, mesmo assim... Já falamos com a Itália, nós...

Ah, sim. Então Edwin era italiano, ela pensou.

— Afinal. Não vejo qual é o grande problema. Pare de inventar desculpas, qual é a verdadeira razão para você não querer que eu tenha uma Seleção?

Maxon baixou a cabeça, hesitante.

— Annie — ele começou, cauteloso. — A Seleção... é difícil, filha. Falo por experiência própria. E nela acontecem... coisas. Com os Selecionadas e o príncipe.

A princesa encarou seu pai e riu um pouco. No começo achara que Maxon não queria falar daquilo perto dela, mas, na verdade, não queria que a Rainha ouvisse tais coisas.

— Ai meu Deus — Annie o encarou, incrédula. — Você tem medo de que eu saia por aí beijando 35 garotos às escondidas no castelo.

— Isso, e também... tenho medo de que eles a convençam a fazer coisas... que uma princesa não deveria fazer.

Annie sorriu e assumiu sua expressão angelical, a que sempre usava para convencer os pais de alguma coisa.

— Paai... Eu já estou bem grandinha para saber o que é certo e errado, não estou? Além do mais, vocês não confiam em mim? — ela fingiu estar magoada. — Deem uma chance. Não estou fazendo isso para ser cortejada por garotos, nada disso. É pelo meu futuro. Pela minha felicidade. Vocês arruinariam a única chance de felicidade que eu tenho?

O Rei e a Rainha se entreolharam, constrangidos por um momento. Mas o Rei ainda não estava convencido.

— Annabelle Shreave — ele a encarou. — Nós dissemos que não.

Annie os encarou por um minuto, esperando que mudassem de ideia. Quando não o fizeram, ela sorriu.

— Como quiserem.

E saiu do salão.

America encarou o marido.

— Maxon. O que Annie vai fazer?

— O que ela sempre faz. Conseguir as coisas do jeito dela.

Annabelle não era uma princesinha mimada, que se trancava no quarto chorando quando não conseguia o que queria. America se orgulhava dela por isso, mas ao mesmo tempo sabia que a princesa não era uma garotinha indefesa. Nunca fora. Annie era uma estrategista, e era boa com palavras. 

Seria uma ótima rainha e sabia disso, e America também sabia disso, mas não queria tal peso nas costas da filha.

Mas tinha de admitir que a filha sabia conseguir o que queria.

* * *

Era uma sexta-feira, o que queria dizer que haveria transmissão do Jornal Oficial de Iléa naquela noite. Quando suas três criadas — Leah, Ruth e Sabrina — lembraram a princesa desse fato, mais uma ideia surgiu em sua cabeça.

— É isso — ela sorriu. — Meninas, preciso de um vestido especial. Precisa ser um vestido que mostre que sou madura e capacitada, mas ao mesmo tempo elegante e simpática. 

— Como um dos vestidos da Rainha, senhorita? — indagou Leah.

— Sim. Exatamente como um dos vestidos da Rainha.

Depois de algumas horas, as criadas trouxeram o vestido da princesa. Era azul-marinho, de mangas longas. Sua barra era toda cheia de adornos em prateado, e um leve cetim cobria toda a saia do vestido longo.

— Vocês se superaram — Annie sorriu, feliz. — Ajudem-me a vesti-lo.

As criadas o fizeram e depois a ajudaram com seu cabelo, que prenderam em uma trança um pouco complicada. Annie levantou-se para observar o resultado no espelho e abriu um grande sorriso. Com os cabelos ruivos presos para trás, presos pela coroa e pela trança, seu rosto delicado tinha mais destaque. O vestido era perfeito, encaixava-se no corpo dela com perfeição. Tudo estava exatamente como planejado.

— Muito obrigada. Vocês são incríveis!

Antes que percebesse, Annie estava sentada com os pais no estúdio do Jornal Oficial de Iléa, que estava prestes a começar. Gavril Fadaye, o apresentador, estava passando por ali, fazendo as últimas checagens. Ele adorava Annie, então talvez...

Ela esperou seus pais se dispersarem e então chamou Gavril.

— Sim, Alteza? — ele sorriu para ela, o sorriso doce que sempre dirigia à princesa. Ela era uma boa garota.

— Depois das notícias, eu gostaria que me chamasse e dissesse que tenho um pronunciamento a fazer. — quando Gavril estava prestes a contestar, ela continuou: — Por favor, não faça perguntas. Só faça o que pedi.

O apresentador lhe lançou um sorriso cúmplice. Conhecia a princesa desde que esta era um bebê, portanto tinha certeza de que ela estava armando alguma coisa.

— Como desejar, Alteza.

Gavril cumpriu o combinado. Depois das notícias — mais um ataque rebelde ao Norte, alguma coisa sobre um homem do Dois —, ele se virou para Annie e disse ao microfone:

— Agora, ao vivo no Jornal Oficial, um pronunciamento especial da Princesa Annabelle!

Annie sentiu seu pai tossir no trono, atônito. A princesa se levantou, sorrindo.

America pensou que a filha fosse apenas impor A Seleção, mas era óbvio que havia muito mais. Annie sabia que o Rei poderia cancelar A Seleção tão rápido quanto. 

— Boa noite, povo de Iléa — Annie sorriu novamente, dizendo ao microfone. — Venho a vocês com um pequeno apelo. Não como a Princesa, mas como uma cidadã. Como alguém que se importa com o país. É de conhecimento da maioria, suponho, que há a possibilidade de casamento entre mim e o Príncipe Edwin, da Itália. O casamento ainda não ocorreu por apenas um motivo: meus esforços para que não ocorresse.

A princesa ficou em silêncio, deixando o povo absorver a nova informação.

— E por quê? Vou dizer-lhes por quê! Caso o casamento ocorresse, o Príncipe Edwin ficaria responsável por ambas Itália e Iléa. E a quem vocês acham que ele daria preferência? Para quem iriam as verbas? Para seu país natal, a quem ele jurou lealdade e sacrifício, ou a nós? Vamos mesmo deixar um estrangeiro tomar nosso país, assim tão fácil, depois de toda a história de guerra e sacrifício de Iléa? VAMOS DESISTIR DE NOSSA AUTONOMIA TÃO FACILMENTE?

Murmúrios altos de concordância tomaram o estúdio. Annie sorriu.

— Venho a vocês hoje propor uma solução. Dar ao país a chance de continuar sendo governado por um cidadão de Iléa. O que proponho a vocês é A Seleção. — Novamente, a princesa fez uma pausa para a absorção. — É um pouco... incomum, eu sei — ela riu um pouco e o público riu com ela. — Mas nos daria a chance de escolher nosso governante. Eu, a Princesa Annabelle Shreave, estou disposta a passar pelo processo de selecionar um Rei para o nosso país. Tudo o que peço a vocês hoje é que me deem uma chance. Uma chance de mudar o rumo de tudo isso. Acima de tudo, gostaria de apenas um voto de confiança do povo em mim. Não sou mais uma criança. Tenho consciência da história linda de Iléa, de seus costumes... Fui criada aqui. Amo este lugar. Tudo o que peço é que acreditem em mim. Por favor, acreditem que posso comandar esta iniciativa. É uma iniciativa séria, que estou tomando conta como tudo o que Iléa sempre fez: de braços abertos, mas com seriedade. É claro que não tomarei tal decisão completamente sozinha, ai de mim. Prometo ouvir todo o Conselho Real, mas principalmente, prometo ouvir vocês. Faremos pesquisas semanais sobre qual dos 35 homens o povo acha adequado ao cargo. O povo sempre teve meu apoio, então... será que tenho o apoio de vocês também? — ela sorriu. — E se nada disso os convenceu... Bem... Essa coroa em minha cabeça não me torna diferente da sua filha de dezoito anos que quer fazer o que é certo. A Seleção também é a minha chance de encontrar o meu próprio final feliz, que sempre pareceu tão longe. Então acreditem quando digo que estou levando tudo isso mais a sério do que qualquer outra coisa que já fiz na vida. E agora, povo de Iléa... Vocês fariam isso? Me dariam uma chance?

Annie ficou parada, confiante, por mais uns instantes. Depois entregou o microfone a Gavril e voltou a sentar-se.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!