A Filha Do Sol - Parte II escrita por Taty B, Let B Aguiar


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Vocês pediram e eu atendi a pedidos! Postei o capítulo II antes de segunda-feira rs
Eu sou a autora mais linda e fofa desse mundo, não é?
Brincadeira, gente!!!
Bem, espero que vocês gostem do primeiro POV do Leo. Cara, confesso que está sendo um desafio escrever da perspectiva de um personagem que já existe... Mas eu adoro desafios!
Enfim, chega de falação. Boa leitura!



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CAPÍTULO II

LEO

Ela definitivamente não iria aparecer para jantar. Todo mundo já comia suas sobremesas e a Pattie ainda não havia dado as caras. Os irmãos dela não paravam de olhar para a entrada do refeitório, na esperança de que apareceria. Se eu conhecia a Patricia, ela não iria dar as caras até o dia seguinte. Ou então se meteria em alguma outra confusão. A segunda opção era a mais provável.
Eu me levantei da mesa sem terminar de comer meu sundae. Estava inquieto demais para isso (qual a novidade, Leo?). Fui até a mesa de Afrodite e puxei Piper para um canto do salão.
–Pipes, a Pattie deve estar se metendo em confusão em 1, 2,3... – eu falei, e Piper pareceu pensar na hipótese.
– Acho que não, Leo! Os meninos disseram que ela estava no quarto quando eles vieram jantar.
– Você não conhece a figura? A essa altura ela deve ter saído do quarto dela e caminhado metade da floresta, porque quer ficar sozinha. Aposta um dracma? – arqueei uma sobrancelha e Piper deu de ombros.
– Ok, vamos ver se ela está no quarto dela ou não. –Piper e eu rumamos para o chalé de Apolo. Adentramos o lugar, e eu bati mais de cinco vezes na porta do quarto da Pattie. Não obtive resposta. A minha certeza de que tinha dado o fora dali só aumentou. Contornamos o chalé e fomos olhar pela janela do quarto dela. Nada de Patricia. Piper soltou um resmungo.
– Droga, a Pattie é muito dramática às vezes! Precisamos avisar os irmãos dela, Leo. E rápido.
– Rápido mesmo. É perigoso deixar uma garota de quinze anos de idade, filha de Apolo, com o coração partido, sozinha em uma floresta. Ela pode convidar os monstros e os animais silvestres para ouvi-la recitar poemas sobre decepções amorosas. – pelo menos era assim que eu gostaria que as coisas funcionassem. Apesar de ser uma boa lutadora, Pattie sempre estaria em desvantagem dentro da floresta e, sem dúvidas, permanecer lá por muito tempo era algo perigoso.
– Idiota! Se ela ouvisse você falando isso, te socaria. – Piper tentou não dar risada, mas não conseguiu. Às vezes nem eu acreditava nas coisas que saiam da minha boca. Na verdade, eu quase sempre não acreditava.
Voltamos correndo para o refeitório e avisamos o resto do chalé de Apolo. E a briga de egos começou no momento em que todos queriam entrar na floresta para procurar a donzela perdida.
– Não! Eu, Will e Matt vamos, somos os mais velhos, caramba! – Johnny protestava. Adam dizia que deveria ir porque era o mais forte e saberia se defender caso um monstro atacasse. O ministério da saúde adverte: quanto mais massa muscular você possui, mais acéfalo e autoconfiante você é.
– Enquanto vocês discutem, a Pattie pode estar em perigo! – Piper tentou apaziguar a discussão.
– Certo, crianças. – Quíron decidiu intervir – Percy, Will, Johnny, Matt, Piper e Leo vão procurar pela Pattie. Sem mais protestos.
Percy nem estava prestando atenção na conversa, e só levantou a cabeça de seu prato quando ouviu seu nome.
– Oi? – ele perguntou totalmente alheio a situação.
– Precisamos achar a Pattie, Percy. Achamos que ela está na floresta. Vamos precisar de sua ajuda. – Will, o amável e educado arqueiro bonitão, colocou o filho de Poseidon a par da situação. Percy concordou em ajudar e então finalmente fomos procurar por Pattie.
Alguma coisa me dizia que Pattie não fez tal coisa por drama. Ela morria de medo do escuro e a floresta era bem escura, acredite. Deveria estar muito abalada. Não deve ser muito legal ver a pessoa que você gosta beijando outro alguém.
Ah, espera aí.
Eu vi esse tipo de cena o verão inteiro. A diferença é que não tinha como falar ‘Ei caras, cuidem desses ciclopes por mim! Vou ali me lamentar por ser um total covarde e ter perdido a garota mais incrível desse mundo e já volto. ’
Não sabia decidir se estava gostando ou não do que aconteceu mais cedo. O rompimento de Pattie e Ryler possuía seu lado positivo e seu lado negativo. O positivo: ao beijar a vadiazinha do chalé de Afrodite, Ryler fez o favor de sair do meu caminho e me dar uma segunda chance com Pattie. O negativo: Pattie agora iria ficar com o coração partido e talvez eu fosse o próximo a levar um soco na cara se tentasse algo com ela dias depois de ter visto seu ex-namorado beijando outra.
Esses pensamentos me colocaram fora de órbita por alguns instantes, e só lembrei-me do que tinha que fazer quando ouvi a voz de Percy dizer:
– Vamos nos dividir em dois grupos de três, ok? Leo, Piper, Johnny, é melhor vocês irem procurar naquela direção, enquanto eu, Will e Matt vamos procurar depois do riacho.
Ninguém discordou
– Leo, você pode tirar dois sinalizadores do seu cinto? – Will perguntou e eu assenti. Coloquei a mão e um dos bolsos do meu cinto e tirei dois sinalizadores vermelhos de dentro dele. Porque no cinto mágico de Leo Valdez se acha de tudo, até um coelho falante, se esse for seu desejo. Entreguei um na mão de Will e dei o outro para Piper. Percy, Matt e Will não perderam tempo e tomaram a direção oposta a nossa.
– Alguém pode dar a luz, por favor? – Johnny pediu. Ele tirou o arco das costas e preparou uma flecha, ficando com o mesmo em riste. Olhando assim, ele poderia protagonizar a versão Disney do Robin Hood. Eu evoquei o fogo com a mão direita, e nós fomos adentrando o lado leste da floresta.
– Impressão minha ou está frio pra caramba? – Piper comentou, esfregando os braços numa tentativa de se aquecer.
– Na parte mais densa da floresta sempre faz mais frio. – eu respondi, com os ouvidos atentos. Sinceramente, não sei dizer como nunca fui atacado ao voltar do Bunker de madrugada. Eu não devo ter o porte certo para servir de ração de monstro.
– Ah, fala sério... Quando eu encontrar a Pattie vou dar um peteleco nela! – Johnny bufou – Eu poderia estar na minha cama linda, quentinha, confortável, macia, aconchegante...
– Tá bom, Johnny! Já entendemos o quanto você se sente atraído pela sua cama. – o interrompi, e Johnny mostrou o dedo do meio para mim. Um lorde inglês.
Andamos pelo que pareceram vinte minutos. Meus pés já estavam começando a ficar cansados. Na verdade, meu corpo todo implorava por cama. Só que as tão desejadas horas de descanso poderiam esperar. Achar Pattie era mais importante do que qualquer coisa.
Piper bocejava e Johnny parecia estar mais para lá do que para cá. Mas ninguém estava disposto a desistir.
De repente, algo iluminou a copa das árvores. Olhei para cima e vi o sinalizador explodir no céu, apontando um local próximo ao Bunker. Meus ombros até se relaxaram. Eles tinham encontrado Pattie.
– Acho melhor corrermos. – Johnny falou sinistramente, sem tirar os olhos do céu – Eles estão em perigo.
Piper e eu nos entreolhamos, e eu mexi os lábios sem fazer nenhum som, formando a palavra ‘ Vidente’. Quem não conhecia Johnny direito, sempre se assustava ao saber que seu dom era a clarividência. Ela olhou surpresa para o garoto, mas assim como eu, concordou e saiu em disparada para o local onde o sinalizador havia sido disparado.
Corremos tanto para acompanhar Johnny que em poucos minutos chegamos aonde queríamos. Pude ouvir barulhos de flechas zunindo e xingamentos típicos de uma batalha que não estava indo bem. Nada bem.
Quando a luta entrou no meu foco de visão, eu vi Percy, Will e Matt tentando vencer um drakon do tamanho de um caminhão de lixo. Meus olhos imediatamente procuraram por Pattie, e eu a vi recostada numa árvore, de cabeça baixa, evitando olhar nos olhos do bicho, com a perna direita ensanguentada. Tive o ímpeto de correr até ela, e foi isso que fiz. Piper gritou meu nome e Johnny começou a lançar flechas contra o monstro, se posicionando no flanco traseiro, assim como seus irmãos estavam fazendo. Eu corri rápido; mas o bicho pareceu ter me notado, porque ele cuspiu um galão de veneno em minha direção. Eu me joguei no chão e consegui desviar. No mesmo momento, uma flecha certeira atingiu o olho do drakon. Cara, quem foi o mestre das flechas que fez isso sem olhar para a besta? Consegui me levantar de novo e chegar até Pattie, que me encarava boquiaberta.
– Você é louco. – foi o que ela disse. O que significava que estava bem, apesar do corte em sua perna ter uma aparência horrível.
– Não tão louco quanto você! O que te deu na cabeça de vir até aqui sozinha? Achou que os monstros iriam se solidarizar com a sua desilusão amorosa? – eu me ajoelhei na frente dela e encarei seus olhos assustadoramente azuis. Eles não emitiam a mesma luz de sempre.
– Cala a boca, Valdez. – oh, oh. Eu não deveria ter dito isso – Eu sei que você deve estar feliz porque eu terminei com aquele ogro.
Pois é. Pattie conseguia ser mais astuta do que eu, às vezes. E acima de tudo, me fazia ficar sem respostas, porque normalmente despejava a verdade sem dó.
– Esse corte está feio. Você precisa voltar logo para o acampamento! Piper, uma ajudinha aqui seria bom! – eu falei a última sentença um pouco mais alto. Piper tentava se esquivar para onde eu e Pattie estávamos. Os garotos gritavam para ela tomar cuidado com o veneno que o monstro expelia e para não encarar o bicho. Ela finalmente chegou até nós e se ajoelhou do lado de Pattie também.
–Vamos lá, senhora chamariz de problemas, se apoie em mim e no Leo. Temos que dar o fora daqui. – Piper falou e Pattie se apoiou nos nossos ombros. Nós a levantamos e ela gemeu um pouco ao encostar a perna machucada no chão.
– Os garotos precisam de ajuda! Eu... é tudo culpa minha. – ela observava Percy montar no bicho e desferir vários golpes com Contracorrente em sua couraça. Eu tinha certeza que aqueles quatro caras iam fazer o drakon virar pó, precisavam só de mais alguns segundos. Pensei em ajudar, é claro, mas eu não podia incendiar uma parte da floresta, e não seria muito útil com uma chave de fenda em mãos. Não contra um monstro tão grande daqueles.
– Pattie, desencana. – tentei reconfortá-la – Eles pediram para te tirar daqui. Viemos para isso.
– Não sei por que me meti nisso... eu poderia ajudar, mas ele me atacou e me machuquei... – por mais que tentasse disfarçar, dava para notar que Pattie estava à beira de um surto. Devagar, nos afastamos da luta. Instantes depois, foi possível ouvir o urro de desespero do monstro quando se transformou em pó. Johnny soltou um dos seus ‘ Pega essa, seu monte de cocô!’ e esperamos os quatro virem ao nosso encontro.
– Matt vai me matar! – Pattie resmungou de novo.
Percy, Will, Matt e Johnny surgiram com as roupas em farrapos e suando como porcos. O veneno do drakon tinha derretido metade da bota de couro de Johnny.
– Pattie, você está nos devendo essa. – Will não parecia muito feliz e lançou um olhar repreendedor à irmã. Acho que nem o próprio Apolo conseguia ser tão paternal.
– Cara, aquele réptil lazarento estragou a minha bota preferida! – Johnny reclamou, pendurando o arco nas costas e observando seus próprios pés.
– Você precisa ir para a enfermaria. – Percy foi categórico ao notar o sangue que escorria da perna de Pattie para o chão.
– Podem deixar, nós carregamos ela. – Matt e Will se prontificaram a assumir a minha posição e de Piper. Eles carregariam a irmã com bem mais facilidade que nós.
– Eu sinto muito! – Pattie esganiçou-se. Seu rosto assumiu um tom avermelhado, que deveria ser de vergonha – N-não... Não queria causar tantos problemas. Me desculpem!
– Se você pedir desculpa mais uma vez, nós vamos te deixar aqui, sozinha. No escuro. – eu falei, tentando descontrair. Ela me pulverizou com os olhos, mas não retrucou.
Demoramos mais do que o normal para sair da floresta, pois Pattie mal conseguia encostar o pé no chão e os garotos tiveram que praticamente pegá-la no colo. Ao sairmos, eles a levaram direto para a enfermaria. Eu troquei um olhar significativo com ela, tentando demonstrar que eu não a achava uma idiota por ter entrado na floresta à noite e se machucado. Eu a entendia. Conseguia compreender o que estava sentindo.
Pattie deu um sorriso fraco de volta e Piper colocou uma mão sobre meu ombro. Talvez eu tivesse olhado seus irmãos a carregarem por tempo demais.
– Ela vai ficar bem. Não há nenhum corte que Will não possa curar. – graças ao charme, as palavras de Piper sempre eram reconfortantes.
Eu suspirei, e disse:
– Você tem razão, Pipes. Agora, acho que as nossas camas nos chamam...
Despedi-me de Piper e fui para meu chalé, sozinho. Ao chegar lá, é claro que nenhum dos meus irmãos tinha ido dormir. Cara, quando cheguei no acampamento, pensei que o problema fosse apenas comigo. Mas o chalé 9 sem dúvidas era o mais sonâmbulo e hiperativo de todos. Harley (sorte que seu sobrenome não era Davidson, porque ele seria zoado em dobro por mim) jogava videogame no seu beliche e aparentemente competia com Sarah, que por sua vez estava muito irritada.
– Que merda, Harley! Faça isso de novo e eu vou até aí te dar um soco! – Harley apenas riu e pausou o jogo.
– Acharam a Pattie? – ele indagou.
– Sim, achamos. Ela só se machucou um pouco. Um drakon tentou atacá-la.
– Um drakon? – Sarah se surpreendeu – E quem matou o monstro?
– Percy, Matt, Will e Johnny – respondi, bocejando – É claro que fui eu, não é mesmo? Se me dão licença... Preciso me retirar para a caverna do Leo.
– Boa noite, Batman. – Harley falou, voltando a dar play no jogo. Desejei boa noite de volta e pedi educadamente pela beliche 1-A. O chalé estremeceu e minha cama surgiu de uma sessão circular no chão. Ah, como eu amava aquela cama. E meu quarto também. Me deitei e cliquei num botão que ficava na cabeceira, e a cama começou a se recolher para baixo. A luz se acendeu automaticamente quando a passagem se fechou e, falando sério, eu estava tão cansado que quase não levantei da cama para escovar os dentes e colocar o pijama. O quarto que Beckendorf construiu era tão incrível que eu tinha um banheiro só para mim.
Ao me deitar de novo, dessa vez propriamente vestido com meu pijama limpo e de dentes escovados, eu voltei a pensar em Pattie.
Na verdade, pensar nela todo dia ao encostar a cabeça no travesseiro já havia virado rotina.
Porém, naquele dia em especial, eu havia notado algo diferente em Pattie. Ela não era tão forte e tão segura de si quanto aparentava. Não conseguia manter o sorriso no rosto o tempo todo. Seu excesso de ‘brilho’, vamos dizer assim, era um mecanismo de defesa. Eu usava minhas piadas e meu humor para disfarçar os sentimentos ruins; Pattie usava seu sorriso confiante e a pose de inabalável para que as pessoas não descobrissem suas fraquezas.
Ela nunca havia conversado comigo sobre situações difíceis ou problemas que enfrentou durante sua vida. Analisando por esse ponto de vista, eu nunca imaginei que Pattie já poderia ter passado por maus bocados, apesar de não ser órfã e viver uma vida razoavelmente boa em Los Angeles. Pattie sempre se preocupou mais em saber da minha história e tentar me mostrar o quanto incrível eu era do que falar sobre ela mesma e expor suas inseguranças.
Não duvidava que Pattie soubesse mais de mim do que eu mesmo. Ela foi a primeira pessoa para quem contei sobre os lares adotivos e os dias na rua. Nunca me abri para ninguém da maneira que me abri para ela, nem para Piper, que eu conhecia há muito mais tempo. Pode parecer falta de senso e loucura, mas eu me sentia confortável e seguro em compartilhar minhas experiências nos lares abusivos e as noites mal dormidas em caixas de papelão com ela. Pattie era uma excelente ouvinte e uma conselheira imparcial. Em nenhum momento ela falou ‘Ah, coitadinho de você’ ou ‘Sinto muito por tudo o que aconteceu, Leo’. Ela compreendia o vazio de tais palavras e preferia me incentivar a seguir em frente, traçando um novo caminho e carregando o passado em forma de experiências, não somente em forma de sofrimento.
E então eu comecei a me sentir péssimo. Fui egoísta sem perceber. Não me lembro de ter questionando-a mais a fundo em relação a sua infância, a escola e o fato de também ser latino-americana... Como queria me aproximar ainda mais de Pattie se eu me concentrava tanto no que eu já passei, já sofri e já vivi? Nós podíamos ter histórias completamente diferentes, mas uma coisa em comum nos conectava: tentávamos esconder o que sentíamos de verdade a todo custo.
Não faço ideia de que horas fui dormir. Na última vez em que olhei, o painel de controle da minha cama mostrava duas e meia da manhã. Meu cérebro não parava de funcionar. Eu rolava de um lado pro outro e um pernilongo maldito insistia em zumbir no meu ouvido. A noite não foi fácil. Mas eu tinha esperanças de que o dia recompensaria as horas de sono perdidas.


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Notas finais do capítulo

E aí? Ai meus deuses, estou rezando para não ter decepcionado vocês! Me digam o que acharam, por favor!
Até o próximo capitulo! (vou tentar postá-lo no meio da semana).

Beijinhos,

Taty x