A Filha Do Sol - Parte II escrita por Taty B, Let B Aguiar


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE, é o que vocês devem estar dizendo rs! Está aqui o primeiro capítulo da FDS parte II! Espero que vocês gostem, mas antes de devorarem, preciso dizer umas coisinhas.
Nossa intenção, nessa segunda parte, é trabalhar e desenvolver os personagens. Haverá ligeiramente menos aventura do que na primeira parte e um novo foco nos pensamentos, sentimentos e no caráter dos personagens. Torço muito para que isso não desanime vocês e nem os deixe desinteressados com a leitura. Estamos dando nosso melhor para trazer à vocês uma continuação digna e recheada de tudo o que vocês amaram (e também o que vocês queriam que tivesse acontecido rs) na primeira parte.
Ah, e desde já aviso que alguns capítulos serão bem grandes rs.
Enfim, leiam e deixem suas opiniões, se puderem ^^



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CAPÍTULO I

PATTIE

O resto do meu verão tinha tudo para ser perfeito.
Sobrevivi a minha primeira missão como semideusa. Joguei uma feiticeira imortal nas profundezas do tártaro. Comecei a namorar com um dos caras mais heroicos e bonitos do acampamento. Ganhei uma espada mágica que se transformava num isqueiro. Fiz amigos para toda a vida.
Quer entender o motivo de eu utilizar o verbo ter no pretérito imperfeito? Oh, a lei de Murphy. Até o tempo verbal combina com o que eu vou contar para você.

Apenas duas semanas haviam se passado desde que eu, Ryler e Leo voltamos vivos da nossa missão. Tirando a parte em que recebi uma benção da deusa do amor, Afrodite, e fiquei parecida com uma atriz de Hollywood em pleno verão americano diante do acampamento inteiro, a missão me garantiu um certo respeito em frente aos meus colegas campistas. Ou devo dizer, uma parte deles. Como é impossível agradar a gregos e troianos, havia aqueles que faziam questão de dizer que eu estava me promovendo por causa da missão e por ter recebido a benção de uma deusa olimpiana. O que não chegava nem perto de ser verdade.
Foi bom voltar às atividades rotineiras do acampamento, mas vamos excluir o dia depois da missão em que basicamente não levantei da minha cama nem para comer, de tão cansada que estava. Passar por tantas situações de perigo (como ter que duelar com mulheres de tailleur e salto e atingir flechas em abutres em pleno ar) me ajudou a melhorar minhas habilidades com a espada e o arco e flecha. E por falar em Kallistei, ela estava chamando quase tanta atenção quanto a dona, que ressurgiu em plena hora da fogueira usando um vestido longo perolado e joias tão caras que deviam valer mais do que a própria casa. Percy não conseguiu esconder uma pitada de inveja. Do bem, é claro.
– Um isqueiro sem dúvidas é muito mais legal do que uma caneta. – Percy observava Kallistei, depois de uma aula básica de esgrima durante a semana. – E sem falar que essa espada brilha tanto que nem precisa ser polida. Incrível! Tyson vai achar o máximo.
– Quem é Tyson? – perguntei, porque não fazia nem ideia de quem poderia ser.
– Meu meio-irmão ciclope. Você vai conhecê-lo. Ele deve chegar daqui alguns dias! – Percy respondeu, sorrindo. E é óbvio que ganhou de mim na batalha, mais uma vez.
Eu tinha tantas atribuições durante o dia que mal parava para respirar. Por isso, duas semanas passaram voando. A companhia maravilhosa dos meus irmãos e dos meus amigos também contribuía para que o tempo passasse rápido. E eu não podia deixar de falar de Ryler, que estava agindo como um príncipe comigo. Depois de tanta turbulência nas nossas primeiras semanas de namoro, as coisas se acalmaram e agora tudo estava um mar de rosas.
Até a tempestade chegar, e transformar o mar de rosas em uma montanha de bosta de pégaso.
Sim, a comparação foi ridícula mesmo. Quando diziam que se algo está bom demais, é melhor desconfiar e se preparar para o pior, eu não acreditava. E então eu vivenciei o pior.
Piper, Leo e eu voltávamos de uma aula de artesanato com o chalé de Hefesto. Eu havia feito uma escultura de argila tão legal que nem parecia que minhas mãos moldaram aquilo. Mas é claro que Leo e Piper caçoavam minha obra de arte, dizendo que parecia um Pokémon deformado.
O sol já se punha e ao chegarmos na área comum dos chalés vi algo que, sinceramente, tenho vontade de excluir da minha memória para sempre.
Ryler estava de mãos dadas com uma garota loira do chalé de Afrodite. O nome dela era Stacy. A garota sorria para ele, e Ryler retribuía o sorriso, hipnotizado. Ao observar essa cena, eu parei de andar abruptamente. Piper e Leo olharam de mim para o que eu observava e também pararam de andar.
A vadia colocou os braços em volta do pescoço de Ryler e o beijou como se não houvesse amanhã. E ele não moveu sequer um músculo do seu corpo de aspirante a fisiculturista para evitar esse beijo. Pelo contrário! Ryler depositou suas mãos na cintura da menina e correspondeu o beijo com a mesma vontade.
As pessoas saiam de seus chalés e olhavam aquela cena tão atônitas quanto eu. Meu corpo enrijeceu-se, meu cérebro pareceu ficar sem irrigação por segundos indeterminados e eu não sabia como reagir a essa situação arrasadora e humilhante. O que mais doía é que Ryler fingia nem me notar. Era como se eu não existisse. E talvez eu nunca devo ter existido de verdade para ele.
Eu não conseguia pensar e nem agir racionalmente. A decepção se misturou com a dor e o resultado foi uma raiva incontrolável. Andei a passos largos e pesados em direção aos dois, e só depois disso que Ryler parou de beijar a menina e fingiu estar surpreso.
Ele tentou abrir a boca para dizer algo, mas foi impedido pela minha mão fechada, que acertou em cheio seu rosto malditamente bonito. Eu não pronunciei uma palavra sequer. As pessoas em volta arfaram com o soco, alguns até colocaram as mãos em cima da boca, espantados. Empreguei tanta força que o nariz de Ryler começou a sangrar. Virei-me para a loira aguada, que me encarava debochada.
– Faça bom proveito dos meus restos, vadia. – cuspi as palavras e senti Ryler segurar bruscamente em meu ombro. Eu me voltei para ele, a contragosto, meu rosto contorcido de frieza e raiva.
– Você acha que pode chegar aqui, me dar um soco e sair sem falar nada? – ele praticamente gritou, e eu notei que tinha o enfurecido. Minha expressão não se alterou.
– Posso sim. A partir do momento em que você me humilhou e me fez de idiota, eu tenho todo o direito de retribuir a gentileza. Eu deveria ter escutado o que meus amigos e irmãos me diziam. Você é um bosta. E por falar nisso, obrigada por ter me ensinado alguma coisa útil. – em momento algum eu gritei ou tive a intenção de dar início a um escândalo. Ryler não respondeu nada de imediato, e então eu dei as costas novamente e fui andando estupefata para meu chalé. Os outros campistas começaram a aplaudir e dar risada da cara de Ryler, como se estivessem em um daqueles realities shows de casais que passam na tv paga.
O estado de torpor em que me encontrava era tão grande que não ouvi Piper e Leo me chamando. E também não entendi porque minhas pernas estavam me levando para meu chalé. Não queria conversar, não queria ter que responder as perguntas dos meus irmãos. Eu apenas entrei no chalé como um furacão e me tranquei dentro do meu quarto. Will, Matt e Leroy nem tiveram tempo de dizer alguma coisa. Ouvi batidas na porta e pedidos para que eu a abrisse. Eu não a abri. Logo depois, também ouvi a voz de Piper e Leo. Com certeza eles estavam explicando o ocorrido para meus irmãos.
Eu fechei os olhos e afundei meu rosto no travesseiro. Não iria derramar nenhuma lágrima por Ryler. A partir daquele momento, ele seria um nada para mim. Da mesma forma que eu fui um nada para ele.
Perdi a noção do tempo e do espaço. Meus irmãos insistiram em me chamar para ir jantar, mas eu não os respondi. Se eu não tinha vontade nem de me mexer, com fome é que eu não estava. A noite foi caindo, e eu fiquei perdida em meus pensamentos, tentando entender o que levou Ryler a me trair daquela forma tão explícita e humilhante. Eu sabia que Stacy, a periguete, era uma filha de Afrodite e poderia muito bem ter usado seu charme com Ryler, mas a dor da humilhação era grande demais para que eu o perdoasse, se esse fosse realmente o caso.
Ficar no meu quarto começou a me sufocar. Eu precisava sair dali, porém, não queria me deparar com algum dos meus irmãos, ou Leo e Piper. Aproveitei a hora do jantar para sair silenciosamente do meu quarto, apenas com Kallistei no meu bolso, e andar em direção à floresta.
Por favor, não me pergunte por que eu fiz essa idiotice. Eu não sei responder. A explicação por ter me machucado tanto é que Ryler não foi o primeiro garoto em que eu depositei minhas esperanças. Que criei expectativas e esperei que fosse continuar ao meu lado. Mas, como sempre, tratando-se da minha vida, tudo foi apenas uma ilusão. Esse tipo de decepção já tinha acontecido antes e agora estava acontecendo de novo.
Kallistei iluminou o meu caminho. Seu brilho era tão intenso que eu nem senti medo por estar andando na floresta, à noite, na escuridão. Meu cérebro ainda continuava sem controlar minhas pernas e andei tanto que passei pelo Bunker e pelo riacho, atingindo a parte mais profunda da floresta. Sentei-me num aglomerado de pedras e suspirei, desejando que alguém estivesse pregando uma peça em mim, ou que uma equipe de tv aparecesse e dissesse que eu estava participando do Punk’d.
Infelizmente, a realidade era outra, e eu deveria encará-la. Apenas queria ficar sozinha antes de voltar ao mundo real de Patricia Veloso, onde as coisas não costumam dar muito certo.
Você deve estar me xingando de idiota ou de retardada por dizer que as coisas não costumam dar muito certo para mim. Afinal, eu tenho uma mãe que está viva e faz de tudo por mim (diferente de muitos dos meus amigos), tive uma infância sem monstros e fui reconhecida e bem tratada pelo meu pai, o deus do Sol (outro fato atípico, pois os deuses não costumam ser muito afetuosos com sua prole)... Sinto dizer que realmente sou uma boa atriz e sei transformar os sentimentos ruins em risadas e bom humor.
É óbvio que minha vida foi muito mais fácil do que a de Leo ou Johnny, por exemplo. Mas isso não significa que nunca passei por situações e momentos difíceis nesses meus quase dezesseis anos de vida.
Por mais que Apolo tenha me protegido dos monstros e olhado por mim desde que nasci, só há menos de dois meses atrás é que descobri ser sua filha. Durante todo esse tempo em que acreditei que meu pai havia me abandonado, senti na pele como é viver com a ausência de uma figura paterna.
Minha mãe me criou e sustentou a nós duas sozinha. Na época em que nasci, ela trabalhava de garçonete numa lanchonete suburbana de Los Angeles e vivia como imigrante ilegal nos Estados Unidos. A princípio, ela se mudou para os EUA em busca de seu sonho: tornar-se uma modelo famosa. Apostou todas as suas fichas nisso, arriscou-se. E acabou levando vários ‘não’, por ter ‘curvas demais’. A partir daí, ela teve que se virar como podia; fez bicos de faxineira à garçonete, e no meio de toda essa dificuldade, ela engravidou e deu à luz a mim. Mamãe voltou para o Brasil para me ter com mais segurança e contar com a ajuda dos meus avós. Ela sabia que teria que encarar tudo sozinha, porque meu pai, sendo um deus e tendo coisas mais importantes para se preocupar, acompanhou a sua gestação e a alertou que, depois disso, apareceria com muito menos frequência. Ela poderia ter ficado no Brasil, mas não deu ouvidos à razão e retornou comigo para os EUA quando eu completei três meses de vida. A vida na América não era fácil. Entretanto, continuava sendo melhor do que no meu país de origem. Assim que chegou, mamãe precisou voltar ao trabalho, se não seria impossível pagar as contas do apartamento de um cômodo em que morávamos e garantir o sustento de um bebê.
Ela se esforçava para trabalhar e me dar atenção simultaneamente. Durante o dia, eu ficava com uma baby-sitter que costumava ser nossa vizinha no prédio (mantemos contato com ela até hoje), e à noite, apesar da exaustão, mamãe me estimulava e até me ensinou a falar duas línguas diferentes: inglês e português. Não possuíamos luxo nenhum. A maioria das roupinhas que eu tinha foi presente das minhas tias e outros parentes brasileiros. O salário de garçonete supria o básico.
Não tínhamos um homem em casa para ajudar nas despesas e pagar um almoço fora no final de semana. Ninguém ajudava minha mãe a trocar minhas fraldas, a me fazer dormir e a me levar no médico quando eu ficava doente. Eu imagino como deve ter sido complicado para ela; mas a teimosia não lhe permite admitir isso. Ela garante que nunca precisou e nem vai precisar de um homem dentro de casa.
Conforme eu fui crescendo, ela conseguiu regularizar sua condição de imigrante no país, e a minha também. Creio que meu pai ajudou-a nessa questão. Graças a isso, ela pode arrumar um emprego melhor (de atendente numa loja de roupas) e nos mudamos para um apartamento de dois cômodos. Entrei para a o jardim de infância público mais próximo, que era frequentado em sua maioria por imigrantes hispânicos e asiáticos. Até aí, tudo ok. O problema é que eu nunca fui uma criança parecida com as outras. E também não tinha um pai legal e engraçado para comparecer no dia da profissão.
Eu não gostava de me misturar com as minhas coleguinhas de sala; não gostava de bonecas, brincar de casinha ou outras coisas de garotas. Meu negócio era jogar futebol ou queimada com os meninos. Estes, por sua vez, achavam isso bizarro, e não me incluíam no seu círculo de amizades. Comecei a ler e escrever bem depois dos demais. Minha dificuldade era explícita e nessa época, não sabia que tinha dislexia e TDAH. As crianças zombavam de mim impiedosamente. Resumindo: eu era aquela garotinha deslocada, que sentava no fundo da sala sozinha e que causava problemas. Muitos problemas. Para ajudar, eu era (e ainda sou) a pessoa mais desastrada do mundo.
Devo ter passado por todos os jardins de infância da parte norte de Los Angeles.
Eu atraia confusão. E o agravante é que jamais abaixei a cabeça para aqueles que tentavam me atacar com ofensas e brincadeiras sem noção, como esconder minha mochila no banheiro ou me fazer tropeçar a caminho do refeitório. Sempre me defendi, e acabei desenvolvendo um senso de humor pejorativo, que irritava os professores. Isso quando não revidava aprontando coisas bem piores que colocar o pé para fazer alguém tropeçar.
Mamãe encarava as reuniões com os diretores e coordenadores sozinha. Ela me repreendia e me colocava de castigo, mas sua repressão não me colocava nos eixos. Obedecer regras não estava na minha personalidade, e a hiperatividade piorava essa característica.
Com o passar dos anos, nossa situação financeira melhorou e nos mudamos para o apartamento em que moramos hoje. A dona Olivia finalmente conseguiu um emprego em uma loja de renome, a Victoria’s Secret, e tirava uma boa grana de comissão. Ela me pagou um tratamento para a dislexia e hiperatividade... É preciso dizer que não surtiu efeito nenhum em mim?
Continuei pulando de escola em escola, usando minha impertinência para fingir que não me importava com as brincadeiras de mau gosto. Só que era difícil não sentir um peso no peito cada vez que alguém soltava algo do tipo ‘ Então, Pattie, você vai trazer seu pai para assistir sua apresentação do clube de teatro? Ops... Espera aí, você não tem pai!
E durante todo esse tempo, eu convivi com um cara muito divertido e bonito, chamado Fred. Melhor amigo da minha mãe, descolado, médico, viajado e bem apessoado... Que na verdade era meu pai. E que podia ter me privado de ouvir certas piadas que me machucavam, por mais que eu fingisse não me importar.
Deixando os ressentimentos de lado... Com as mudanças constantes de escola, eu nunca consegui manter amizades longas e duradouras. E normalmente quem participa do clube de música e teatro não tem uma grande quantidade de amigos. Afinal, quem queria ser visto ao lado de uma garota esquisita, que se vestia como um garoto, jogava futebol e não curtia Backstreet Boys?
E você deve estar se perguntando por que eu mencionei que Ryler não foi o primeiro a me iludir. Porque, obviamente, um idiota fez isso antes dele.
Eu não sei o que eu tenho na cabeça para me sentir atraída por garotos-problema. No começo do primeiro ano do colegial, eu bati os olhos em um dos garotos do time de futebol americano e me interessei. Seu nome era Phillip, mais conhecido como Phil. Não conseguia definir o que me atraia mais nele; se os cabelos castanhos esvoaçantes, o sorriso bonito ou os olhos cor de mel. Phil era super popular, quarterback do time, e jamais se interessaria por uma garota recém-chegada e tão excluída de qualquer grupo social da escola.
Estava enganada. Nós conversamos pela primeira vez no final da festa de homecoming oferecida pelos veteranos (a qual eu fui forçada a ir). Ninguém prestava atenção, a maioria já tinha ido embora e pelo jeito não havia mais nenhuma garota interessante por ali. Apesar de ter conhecimento de tudo isso, eu tremi na base por ter um garoto tão bonito conversando comigo. E melhor: gostando do meu papo. Inesperadamente, ele me levou para fora do ginásio... e me beijou. Esse foi meu primeiro beijo. Aquele que a gente nunca esquece, mas que eu daria tudo para esquecer.
Phil, para minha surpresa, não me ignorou no dia seguinte. Pelo contrário! Ficamos conversando depois da aula, no jardim da escola, e ele me beijou novamente.
Ficamos assim por uma semana. Na segunda-feira, eu cheguei na escola sorrindo, esperando encontrar Phil pelo corredor antes de cada um ir para sua sala. Na realidade, o que eu encontrei foi Phil abraçado com outra menina, rindo com seus amigos, que lhe passavam notas de dez dólares e conversavam sobre uma aposta. Ao me aproximar mais, todos olharam para mim e começaram a rir abertamente. Eu concluí que a aposta se referia a mim. A única coisa que consegui fazer foi dar as costas e voltar para a casa a pé. Humilhada, desgostosa e terrivelmente decepcionada.
E com a ajuda de Ryler, a história se repetiu. Por mais que eu não quisesse, meu estado de espírito ficou tão abalado que todas as memórias ruins e todos os sentimentos infelizes que sempre tentei camuflar vieram à tona. Eu não gostava de me lembrar dos maus bocados que passei nas escolas. Nem de quando minha mãe tinha que pedir dinheiro emprestado para pagar o aluguel. E muito menos de como fui enganada por quinze anos, pensando que fora abandonada pelo meu pai.
Para piorar ainda mais minha deplorável situação, eu lembrei-me das palavras do filho do deus do amor, Voluptas, que havia conhecido há algumas semanas atrás.
Não se preocupe, filho de Ares. Essa garota já tem um dono. E ele não é você, muito menos eu.” dissera ele. Até um deus que eu jamais encontrara antes sabia que Ryler e eu não fomos feitos um para o outro.
Também resgatei outra lembrança desagradável. A maneira como Psiquê pareceu desapontada quando lhe contei que eu e Ryler namorávamos.
Digamos que vocês são um casal... interessante.” A deusa deixou escapar enquanto conversava conosco em seu palácio.
Os avisos de Leo e Piper ecoavam no silêncio da floresta, como sussurros escapando de minha consciência.
Ryler é um idiota. Não sabe valorizar as coisas que tem e muito menos as pessoas que tem. Ou a pessoa, que no caso é você [...] se você soubesse o histórico desse cara, terminaria com ele na hora.”
E no final das contas, eles estavam certos. Eu me amaldiçoei por nunca ter dado ouvidos.
Fitei Kallistei, a qual eu continuava a segurar, iluminando a paisagem ao meu redor. Seu punho de ouro maciço era adornado de frisos e detalhes delicados, que formavam pequenas flores. Observei meu reflexo na lâmina, resignada. O gosto amargo que tomou conta dos meus lábios desde mais cedo se intensificou. Aquela arma não possuía um significado banal. Ela assumiu uma forma que remetia a minha alma gêmea. E se essa pessoa não era Ryler, por favor, que aparecesse logo e evitasse outras futuras decepções.
Uma lágrima escorreu do meu olho direito. Ninguém consegue ser forte o tempo todo, eu pensei. Enxuguei a lágrima e me controlei para que mais não caíssem dos meus olhos. O motivo do choro não era Ryler, e sim cada dificuldade, decepção e má lembrança que voltaram a estremecer minhas fundações.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Se entristeceram junto com a Pattie? Estão ansiosas para o próximo capítulo (que vai ser um POV do Leo)? Deixem-nos a par de tudo o que vocês pensam!
E até o próximo capítulo!
Beijinhos
Taty x