A Filha Do Sol - Parte II escrita por Taty B, Let B Aguiar


Capítulo 15
Capítulo XIV


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Como vocês estão? Let aqui! Faz muuuuito tempo que eu não posto então hoje decidi sair da seca! Esse capítulo tem muitos feelings e preparem seus coraçõezinhos!



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CAPÍTULO XIV

PATTIE
 

Terminei de colocar as tornozeleiras e munhequeiras sozinha , após a saída de Leo . Eu fiz tudo no ‘modo automático’, porque meus pensamentos se encontravam distantes. Na verdade, nem tão distantes assim, já que o motivo deles esperava me ver lutando na arena de combates.
Ao terminar de ajeitar e endireitar cada parte daquele monte de peças douradas, fitei meu reflexo no espelho de corpo inteiro do chalé. Eu bem que tentava, mas o sorriso persistente (e impertinente) que se instalara nos meus lábios desde o momento em que ele me beijou, não abandonava minha expressão. Eu toquei meus lábios com as pontas dos dedos, revivendo cada sensação que eu havia sentindo há minutos atrás. E, deuses, eu juro que gostaria de me sentir assim a vida toda.
Amaldiçoei-me infindavelmente por minha própria falta de percepção. Poderia ter poupado muito sofrimento e fatídicas decepções se tivesse a habilidade de enxergar as coisas quando elas estão bem debaixo do meu nariz. Tudo teria sido bem mais fácil se eu conseguisse ser sincera comigo mesma mais vezes. O sentimento me acompanhou o tempo todo durante dois meses a fio, crescendo e se transformando em algo indomável. Por que eu achei que era errado estar apaixonada pelo meu melhor amigo quando, na realidade, não há nada melhor do que isso? A amizade e o companheirismo foram fatores ausentes em meu relacionamento anterior. Este, por sua vez, não fora totalmente inútil para mim: se não fosse pelo término com Ryler e sua falta de consideração, não teria me dado conta de como o que eu sentia por ele era ínfimo se comparado ao que eu sinto por Leo. E, também, não me daria conta de que o que realmente precisava era de um cara que tinha vontade de dar cada passo em rumo à felicidade ao meu lado. Meu melhor amigo e meu verdadeiro amor. No final das contas, sempre se tratou dele. E de mais ninguém.
Eu observei o isqueiro cujo meus dedos da mão direita seguravam com firmeza. Abri o objeto, mas pela primeira vez, ele não se transformou numa espada. Uma chama trêmula, igual a de qualquer outro isqueiro, se fez presente viva e avermelhada. A sensação foi a mesma de ter respondido corretamente aquela questão dificílima de matemática no exame anual. As peças do quebra- cabeças se encaixaram de uma só vez. Até Kallistei me mostrava a verdade que eu demorei tanto para perceber. O isqueiro, o fogo, a alma gêmea... Minha cabeça começou a girar e eu decidi que era hora de rumar para a arena, antes que eu fosse desclassificada por não comparecer à luta.
Eu corri para alcançar meu destino. Os campistas faziam uma algazarra tão grande que era possível ouvi-los das extremidades do acampamento. Eu conseguia distinguir a voz dos meus irmãos cantando ‘We Will Rock You’, do Queen, a plenos pulmões. Adentrei as coxias ofegante, dando de cara com um Percy sorridente.
- Feliz aniversário! – ele exclamou e correu para me abraçar. Esse Cabeça de alga era único. Eu correspondi o abraço sorrindo. – Me desculpe, mas seu presente de aniversário vai ser uma viagem só de ida para o chão da arena.
- Você é tão convencido, sr. Cérebro de sushi, que me dá sono. – fingi que bocejava e Percy riu, jogando a cabeça para trás.
- Continue alimentando suas falsas esperanças. – ele falou, tirando Contracorrente do bolso da bermuda jeans. Percy sempre estava com os cabelos cuidadosamente desgrenhados, usava calças e bermudas largas, tênis de skatista e esboçava uma expressão travessa. Poderia ser facilmente confundido com um dos skatistas do meu bairro, em L.A. Mas quando destampava aquela caneta esferográfica, ele se engrandecia e era capaz de derrotar qualquer oponente.
- Meus queridos. – Quíron adentrou as coxias. Ele sorria. – Chegou a hora. Estão preparados?
Nós assentimos, trocando um olhar cúmplice. A verdade é que encararíamos essa luta como só mais um treino juntos, onde Percy me derrotaria e me faria cair de bunda no chão. Eu tinha plena consciência de que não era melhor do que ele, e que seria extremamente difícil derrota-lo. Ele era o semideus mais incrível daquele acampamento, e eu apenas uma novata sem nenhum poder especial. Mas não entregaria a luta de braços abertos. Isso não fazia o estilo Patricia. Desistir fácil não estava na lista dos meus méritos.
Quíron nos revistou, como fizera nas lutas anteriores. Colocou as mãos sobre nossos ombros, e disse:
- Façam com o que os campistas não se esqueçam do dia em que se enfrentaram.
- Vamos lhe proporcionar um espetáculo, Quíron. – Percy assegurou. O centauro deu mais um sorriso satisfeito e saiu do local. Segundos depois, o som da corneta invadiu nossos ouvidos e então, passo a passo, saímos em direção a luz do sol e ao urro da plateia que nos esperava.
Percy foi para o lado esquerdo da arena. Eu fiquei com o direito. Os campistas gritavam tanto que Travis e Connor não conseguiam falar. Eu dei uma olhada rápida nas arquibancadas e pude ver meus irmãos pirando. Eles pulavam e tocavam os instrumentos de precursão, oito abdomes pintados com uma letra do meu nome. Leo estava entre eles, sorrindo como um débil e agitando uma faixa junto com Piper que dizia ‘Você arrasa, Pattie’.
Ver essa cena fez meu coração se aquecer mais ainda e sofrer uma injeção instantânea de confiança e coragem. Eu me posicionei e encarei Percy, que retribuiu meu olhar.
- E aqui estamos! – Connor Stoll teve de berrar ao microfone para ser ouvido – A luta mais esperada das últimas décadas: Patricia Veloso versus Perseu Jackson.
- Os dois tem muitas semelhanças... Seus nomes começam com P, nasceram no mesmo mês, ambos possuem espadas mágicas... Mas só um vai levar o prêmio de 50 dracmas e a coroa de louros vinda diretamente dos loureiros do olimpo! – Travis completou o discurso do irmão, e eu pude ouvir meus irmãos entoando um coro de ‘Chalé 7, Chalé 7, Chalé 7!’
- As apostas já foram feitas. O Acampamento Meio-Sangue quer ver essa arena explodir! O filho de Poseidon contra a mais nova filha de Apolo. Sr. D, é com você. – Travis deu a deixa, e o Sr. D se levantou de sua poltrona, empertigando-se. Poderia arriscar que vi um brilho roxo enlouquecido perpassar seus olhos.
- Eu gostaria de ver sangue, mas não me deixariam elaborar as regras do jeito que eu gostaria de ter as elaborado. – ele bufou, revirando os olhos. – Então... Que a luta comece!
Eu mal tive tempo de ver Percy destampando Contracorrente. E o mais engraçado é que eu previ que o ritmo da luta seria ditado por ele. Por isso, não perdi tempo em também destampar Kallistei e usar o escudo para me defender do primeiro golpe. A força de Percy era tanta que meus pés se arrastaram alguns centímetros para trás na areia, mas eu segurei firme. E esperei a chance de devolver a gentileza.
Ele ergueu Contracorrente para o segundo golpe quando eu o atingi na barriga com meu escudo. Provavelmente pensara que eu iria apenas bloquear o ataque, o que o levou a não se defender. Percy me lançou um olhar repreendedor; o olhar do mestre que desaprova a pretensão de sua pupila.
O filho de Poseidon voltou a desferir golpes com sua lâmina, visando a região dos meus ombros. Graças às inúmeras horas de treinos compartilhados, eu notei que, por mais versátil que fosse, Percy não era um esgrimista que se concentrava muito nos membros inferiores. Sua intenção não era me desestabilizar, e sim encontrar uma brecha na minha defesa para me levar ao chão em uma fração de segundo.
O barulho das lâminas se chocando incansavelmente era sufocado pelos gritos dos campistas. Percy poderia estar a um nível superior ao meu; mas não conseguiria me acertar com tanta facilidade. Cansei de não fazer nada além de me defender, então fiz uma manobra de esquiva para a direita a fim de atingi-lo. E eu consegui, por incrível que pareça.
Kallistei deixou um risco enorme na armadura de Percy. A plateia soltou um urro. Ele balançou a cabeça negativamente e se afastou um pouco, reerguendo seu escudo.
- Foi você quem pediu. – ele sibilou irônico e correu para cima de mim. Eu sabia o que viria a seguir, assim como sabia que não adiantaria me defender. Ou seja, eu fiz a única coisa que me daria uma chance de continuar na luta: desviar.
Percy pulou alto, brandindo Contracorrente, e ao notar no meio do pulo que eu havia desviado, seu rosto se contorceu em desgosto. Ele caiu com força no chão e enfincou Contracorrente acidentalmente na areia, o que me proporcionou a primeira real oportunidade de atacá-lo com destreza.
Ele retirou a espada da areia e se virou para me atacar, mas eu já estava preparada; Kallistei passou a milímetros da cimeira dele, que se agachou, e ao se reerguer, tentou me atacar, mas só encontrou meu escudo e mais uma estocada rápida e evasiva. O meu momento de ditar o ritmo da lua havia chegado, por mais improvável que fosse. Eu tentei dar uma rasteira em Percy, porém, ele pulou por cima das minhas pernas e acertou o punho de Kallistei no meu elmo, o que me deixou um pouco aturdida.
- Jackson! – eu grunhi, e tal fato só me fez golpeá-lo com mais vontade ainda. Era estranho estar lutando com um amigo, admito. Só que não devia levar a luta para o lado pessoal; ambos havíamos chegado com mérito as finais e desejávamos muito vencer. Competições são assim. O mundo é uma competição constante.
Percy tinha a habilidade de se recuperar rapidamente de qualquer desestabilização que sofria e logo eu voltei a bloquear os ataques em vez de desferi-los. O suor escorria em gotas pela minha pele. Eu estava me esforçando ao máximo para permanecer na luta. Percy continuava a não me atingir efetivamente, a ponto de me derrubar ou me desarmar, mas o esforço que empregava para bloqueá-lo era imenso. Eu dei uma rápida olhada para a arquibancada e meus olhos encontraram um Leo apreensivo, os olhos inquietos, roendo as unhas ao observar a luta. Ele acreditava em mim. Não só ele, mas como todos meus irmãos e amigos, que também estavam vidrados. O problema é que, por mais que eu fosse boa, por mais que eu tivesse chegado até ali, eu conhecia meus limites. E acima de tudo, reconhecia quando alguém era superior a mim.
Percy, por fim, conseguiu me derrubar. Eu fui ao chão com um golpe atrevido dele, que lançou o escudo contra as minhas pernas. Cai de costas, sentindo uma dor duplamente agonizante: as das pernas, que ardiam e latejavam, junto com a dor desencadeada pelo tombo.
E mesmo numa situação nem um pouco heroica, eu continuei a defender seus golpes. Ali no chão, fui bloqueando os ataques de Contracorrente, rolando e tentando me levantar, sendo aplaudida pela multidão. Sim, Percy era superior e eu de fato não merecia aquela coroa de louros. Faltava-me maturidade, experiência e um banho de realidade. Mas não desistiria de uma forma tão covarde e nem um pouco honrosa. Eu desistiria como uma verdadeira guerreira.
Consegui me erguer com dificuldade, usando o escudo para proteção. Até que joguei a peça para o lado, e inegavelmente vulnerável diante do meu adversário, me ajoelhei na arena, enfincando a espada na areia e abaixando a cabeça. Uma demonstração de honra e respeito a quem era notavelmente mais habilidoso e superior. O destino do derrotado agora estava nas mãos do vencedor, como nos tempos antigos. Não existia gesto mais nobre.
- Pattie. – Percy balbuciou, abaixando Contracorrente. – Pattie, levanta. V-você não pode fazer isso. Vamos terminar a luta.
- Percy, a luta já terminou. – respondi de volta. – Você é o verdadeiro vencedor. Você é o herói desse acampamento. Eu sou apenas uma aspirante.
- Não! – ele protestou, mas os murmúrios começaram a se alastrar pelas arquibancadas e os campistas nos encaravam boquiabertos. Pude ouvir Quíron se aproximar, o barulho de seus cascos ecoando pela arena devagar enquanto eu não movia nem um músculo do meu corpo.
Ele parou ao lado de Percy e estendeu seu braço no ar, dizendo:
- Salve Perseu Jackson, filho de Poseidon, o deus dos terremotos, pai dos cavalos e detentor dos mares. Salve Perseu Jackson, o verdadeiro mestre das lâminas.
A arena explodiu em aplausos e gritos de viva. Annabeth e Tyson pulavam tanto nas arquibancadas que poderiam ser capazes de derrubá-las. Já eu, levantei a cabeça e me ergui, tirando o elmo e guardando Kallistei. Mas não conseguia encarar os rostos de meus irmãos. Muito menos Leo.
- É, acho que temos um vencedor! Patricia Veloso entregou a luta! Não há empates nesse torneio, meus queridos! Viva Percy Jackson! – Travis Stoll exclamou ao microfone.
E então, Percy fez algo inesperado. Ele se desvencilhou de Quíron e me puxou forte pela mão, erguendo meu braço como o centauro fizera com o seu. Os campistas (grande parte deles, devo dizer) levantaram-se e me aplaudiram de pé, assobiando e gritando ‘timē’ , que mais tarde fui entender como ‘honra’ em grego.
Piper, Leo, Annabeth e todos meus irmãos e amigos também me aplaudiam. Até Jenna Wade, que tinha se juntado a eles, aplaudia veemente. Eu enxergava um brilho repleto de orgulho nos olhos de todos, especialmente nos do meu amor. Ele assobiou com força e piscou para mim. Aquela piscadela que sempre era capaz de me reconfortar e que, silenciosamente, dizia ‘eu estou aqui com você, independente da situação, independente do que aconteça’.
E aí a algazarra foi liberada. Tyson desceu das arquibancadas e correu de encontro com o irmão, o levantando no mínimo uns dois metros do chão. Os campistas mais chegados a Percy e a mim o acompanharam, ajudando Tyson a carregá-lo até o pódio que havia sido erguido no canto da arena. Quando eu menos esperava, fizeram o mesmo comigo, e de repente nós dois estávamos sendo carregados por uma multidão incandescente. Mal tive tempo para observar as expressões de todo mundo, muito menos para raciocinar. Até esqueci da dor resultante da luta e dos golpes de Percy.
Eles nos colocaram no pódio de três lugares. Ryler estava de pé lá, no seu merecido terceiro lugar. Sua expressão não demonstrava nada; ele olhava apenas para frente, evitando qualquer tipo de contato visual com os seres meio deuses, meio humanos que se amontoavam embaixo dele. Eu subi, com a ajuda de um de meus irmãos, no lugar reservado ao segundo colocado. E Percy, obviamente, no do primeiro.
Os campistas abriram alas para Quíron e o sr. D, este visivelmente desapontado, que carregavam uma coroa de louros colocada sobre uma almofada vermelha e um saquinho bege e uma caixa de bronze, respectivamente. O sr. D se aproximou de Ryler, bufando, e abriu a caixinha de bronze que carregava.
- A este filho de Ares aqui, o terceiro lugar. Uma medalha de bronze para você. Isto é, se você quiser tê-la.
Ryler travou o maxilar e Dionísio colocou a medalha no pescoço dele, a contra gosto. Ele não olhou para o deus em nenhum momento. Somente seu chalé lhe aplaudiu.
O sr. D, então, arrastou seu traseiro corpulento até mim. Ele parou em minha frente, analisando-me com um falso interesse, como sempre fazia. Suspirou, e por fim, disse:
- À Penny Valdoso, filha de Apolo...
- Patricia Veloso. – corrigi. Os campistas caíram na risada.
- Que seja, sua pequena insolente! – o deus do vinho resmungou. – Entrego a medalha de prata pelo segundo lugar. Não pense que vou te parabenizar pela sua atitude milimetricamente calculada.
- Obrigada. – retribui mesmo assim. Ele se aproximou e colocou a medalha em meu pescoço. Nesse momento, meus irmãos, Leo e Piper começaram a fazer uma algazarra, misturada aos aplausos dos outros campistas.
- VAI CHALÉ 7! – Johnny gritou quando todos já haviam silenciado, o que fez Leo tapar a boca dele. Não pude conter um sorriso.
- E finalmente...- Quíron se aproximou do pódio. – A Perseu Jackson, filho de Poseidon, a medalha de ouro e a coroa de louros pelo primeiro lugar. Além, é claro, do prêmio de 50 dracmas.
Percy foi ovacionado. Minhas mãos doeram de tanto aplaudi-lo. Os olhos de Annabeth marejaram de tanto orgulho. Ele abaixou a cabeça para Quíron colocar a medalha em seu pescoço e a coroa de louros verdinhos e bem cuidados em seus cabelos. Aquela coroa emitia uma aura diferente, e aí eu me lembrei de que tinha sido feita dos loureiros do próprio Olimpo...
Percy ergueu os braços, segurando a sacola com os dracmas, comemorando. Tyson voltou a puxá-lo do pódio para um abraço, e quando se desvencilhou, ele trocou um beijo apaixonado com Annabeth. Ryler saiu imediatamente do local, atravessando a multidão. Eu estava distraída quando senti uma mão pegar na minha. Era Leo. Só de fitar seus olhos castanhos e o sorriso gigantesco que iluminava mais ainda seu rosto, meu coração disparou e meu corpo se aqueceu por dentro.
- Abaixe a cabeça. – ele falou, soando travesso como habitual.
Eu abaixei, e ele tirou uma coroa de louros de bronze de seu cinto de ferramentas. Eu fiquei incapaz de reproduzir alguma reação digna quando ele colocou a coroa de louros na minha cabeça e os demais semideuses voltaram a aplaudir. Lancei lhe o sorriso mais sincero que já havia dado na vida e ele me puxou pela mão, fazendo com que eu caísse direito do pódio para seus braços, que me envolveram pela cintura.
- Você é a minha vencedora, Patricia Veloso.
Nenhuma palavra seria capaz de fazer justiça a um momento tão surreal e perfeito em cada detalhe. Por isso ele preferiu me beijar, lenta e intensamente, sem vergonha, sem medo, sem insegurança, na frente de todos nossos amigos e companheiros de acampamento. E aí o mundo girou com mais velocidade, e apesar de estarmos envolvidos no meio de tantos, era como se fôssemos só nós dois, finalmente prontos para nos entregarmos a um sentimento explosivo e incapaz de ser contido por mais tempo.
Nossos amigos e irmãos acabaram com o clima, gritando enlouquecidamente que estávamos namorando e que Leo tinha deixado de ser um bundão. Travis, Connor e Johnny o levaram para longe, carregando-o como se ele fosse o vencedor do torneio. Só pude dar risada e refletir sobre como eu jamais deveria ter protelado tamanha felicidade, que me assolava sem pausa. Eu queria que aquele dia se estendesse para a eternidade.

 

- Você sabe o nome de alguma constelação? – Leo perguntou. Estávamos deitados, lado a lado, as mãos entrelaçadas, num dos lugares mais improváveis possíveis: o telhado do chalé de Hefesto. Havia uma escada na parte anterior do chalé que levava a aquele pequeno refúgio. Era apenas um buraco retangular no telhado, onde as saídas do sistema de ventilação ficavam. Leo tirou uma toalha de mesa do seu cinto de ferramentas e a estendeu pelo local, para não nos sujarmos. O céu cintilava junto com as constelações, tão perfeitamente visíveis que emanavam uma aura hipnotizante. Eu ainda podia ouvir música ao longe, vinda do anfiteatro... Meus irmãos não iriam parar o show tão cedo. Eu fiz minha parte; cantei até minhas cordas vocais dizerem chega e meus dedos pedirem arrego de tanto deslizarem pelas cordas da guitarra. O último dia da temporada de verão mereceu uma comemoração digna de seu aproveitamento. E apesar de nunca ter me sentido tão acolhida, em meio a todos meus amigos e irmãos, eu precisei escapar de todo o movimento e agitação para desfrutar de um singelo momento a sós com Leo. Eu tinha que aproveitar as últimas horas que me restavam ali.
- Bom, eu sei os nomes das constelações ligadas aos signos do Zodíaco... – comecei. Uma brisa leve soprava, trazendo consigo um aroma delicioso de dama-da-noite e jasmin - E também de algumas constelações conhecidas, como a Ursa Maior e a Ursa Menor, Orion, Andrômeda, Pégaso... Mas nunca tinha reparado nessa caçadora. – apontei para a figura de uma caçadora, (aparentemente se tratava se uma) que segurava um arco e flecha em riste e se destacava no céu, como se fosse mais nova do que as outras constelações. - Nunca mesmo.
- Os campistas dizem que é uma caçadora de Ártemis. – Leo explicou. Sua mão quentinha se entrelaçava na minha com suavidade. – Que, ao morrer durante a guerra contra Cronos, foi transformada nessa constelação. Eu acho que, se eu morresse, meu pai me transformaria em uma chave de fenda philipps, no máximo. E me colocaria junto com sua coleção de chaves philipps preferidas, em homenagem ao meu heroísmo.
Eu dei risada. Leo conseguia falar mais absurdos do que eu.
- Você daria uma ótima chave philipps. O porte esguio e diminuto você já tem. – eu adorava provocá-lo. Adorava quando soltava essas tiradas e ele me enchia de cócegas ou desarrumava meus cabelos. Qualquer gesto que trouxesse meu corpo mais pra perto do dele.
- Caramba, Patricia! – ele reclamou, virando o rosto pra mim, fingindo estar bravo. – Será que nem te namorando eu vou ter um desconto?
- Você me pediu em namoro? – eu arqueei uma sobrancelha, replicando. Leo me encarou por uma fração de segundos e começou a gargalhar. – O que foi?
- Você sempre foi minha namorada. Desde o dia em que eu te derrubei de bunda a caminho da casa grande. Você só não sabia disso. – os olhos inquietos dele brilhavam como se refletissem a luz proporcionada pela lua e pelas estrelas. Eu abri um sorriso imenso, embasbacada com a naturalidade com que ele encarava a situação. Eu havia libertado um Leo totalmente novo, e acreditava que ele também se sentia livre para esquecer suas inseguranças ao meu lado.
- Eu teria sido informada desse fato há muito tempo, se você tivesse me dito. – nossos narizes estavam quase se encostando. Ele suspirou, seu hálito de bala de menta se encontrou com o meu.
- Eu acredito que as coisas tem hora e data certa para acontecer. E acredito, também, que não vale a pena ficar pensando no que passou e no que deixamos de fazer. Estamos aqui agora. Eu estou apaixonado por você. Eu finalmente posso te ter. E é nisso que eu quero me concentrar.
Não pude controlar o impulso de unir nossos lábios mais uma vez. Os dele eram quentes, assim como o resto do seu corpo, macios, e faziam-me adquirir um novo vício aos poucos. Ele trouxe nossos corpos mais para perto, se inclinando levemente sobre mim, seguindo meu ritmo necessitado e visceral. Deuses, eu precisava demais senti-lo. Passava as minhas mãos pelas costas dele que, devagar, ia aprendendo a controlar sua natureza. Não conseguia distinguir essa explosão de sentimentos e sensações que ele estava disparando dentro de mim.
Quebramos o beijo e eu passei a mão pelo seu rosto, apenas tentando absorver sua imagem, para que tivesse algum conforto durante o tempo em que ficaríamos separados.
- Cada vez que você me beija, é como se um pedacinho meu já estivesse indo pra longe. –eu confessei. – Me desculpe por ter sido tão lerda. Nós poderíamos ter aproveitado mais. Eu...
- Pattie. – Leo me cortou. – Não. Estraga. O. Clima.
Soltei uma risada nasalada.
- Você tem razão.
Ele ficou em silêncio, e depois disse:
- Eu fiquei esperando você dizer que eu sempre tenho razão.
- Não tão fácil assim, Valdez. Já que eu concordei com você, cala a boca e ...
Eu não precisei completar a frase. Ele me beijou e fez todas as constelações que brilhavam no céu, bem acima de nós, parecem mais próximas da Terra.
 

Tenho que admitir: não foi fácil dizer adeus ao Acampamento Meio-Sangue.
Eu pensei que estava acostumada com despedidas. Perdi a conta de quantas vezes tive que me despedir de colegas nas escolas das quais era convidada a me retirar... Mas deixar o acampamento para trás não se comparava a nem 1% disso.
Acordei tão cedo que o sol mal tinha nascido. Meus irmãos não estavam acordados. Naquele dia, não vesti a camiseta laranja com estampa de pégaso, e sim uma regata preta do AC/DC e uma calça jeans detonada. A minha vontade de me arrumar era a mesma de ir embora: nenhuma.
Tive meus motivos para acordar com as galinhas. Na noite passada, durante as comemorações, Percy insistiu em dividir os 50 dracmas que ganhara comigo. Eu recusei a oferta até o último segundo, porque não soava justo e eu não precisava do dinheiro. Mas quando cheguei ao meu dormitório, ele de alguma maneira havia colocado os 25 dracmas em cima da minha cama. Eu não detinha nenhum direito de ficar com aquele dinheiro, mas Percy não o aceitaria de volta nem se eu passasse por cima do seu cadáver. Então, resolvi passa-lo para a frente, para alguém que realmente o usaria. Me dirigi até o Bunker antes das sete horas da manhã e adentrei o local, pois tinha a senha da fechadura que Leo instalou (só os filhos de Hefesto conseguiam abrir o Bunker da forma tradicional). Deixei o pacote com os 25 dracmas em cima da mesa de trabalho preferida dele, assim como três das seis fotos que tiramos com a Polaroid de Annabeth na noite passada. Eu fiquei com outras três. Sorri ao observar os retratos mais uma vez. Saímos tão ridiculamente felizes que nossos sorrisos até se pareciam.
Quando voltei ao meu chalé, meus irmãos já tinham acordado. Eles me ajudaram a arrumar a mala. Mamãe não preparara uma mala tão grande, então foi fácil organizá-la. Tomei cuidado ao esconder o presente que eu pai me deu. Um sentimento triste invadiu-me ao ver a carinha dos meus irmãos ao analisarem o dormitório feminino novamente vazio. A maioria deles iria embora depois do almoço, tirando Johnny, que morava ali. Isso tudo fez com que eu não me sentisse ansiosa para ver o presente de aniversário da mamãe, que, pelas minhas suspeitas, era um carro. Só queria poder passar mais dois meses ali.
O último café da manhã da temporada de férias foi uma experiência deprimente. Comecei a sentir saudade daquele pavilhão apinhado de mesas e das comidas maravilhosas antes mesmo de partir. Na verdade, eu estava sem fome, e só decidi tomar café para acompanhar meus irmãos. O refeitório estava mais silencioso do que nos outros dias, como se eu não fosse a única a sentir saudades por antecipação. Os garotos, que eram sempre tão falantes, não pareciam muito dispostos a conversar, só reclamavam de ter de voltar as suas rotinas no colégio e na faculdade.
Meus olhos procuravam por Leo, mas ele não aparecera no refeitório até o momento em que levantei da mesa, incomodada com sua ausência, e fui em direção ao chalé de Hefesto.
Eu sabia que vê-lo e ter que dizer adeus depois do que aconteceu entre nós seria doloroso. Mas eu encararia tudo como mais um dos desafios que me foram impostos nesses dois meses de férias. Talvez, o maior deles.
Não precisei me direcionar ao chalé todo metalizado e que mais parecia uma escotilha gigante. Leo estava na varanda do meu chalé, o dourado e chamativo, que por ventura, ficava ao lado do seu. Ele se escorava em uma das pilastras douradas, cabisbaixo, suas mãos trabalhando em alguma coisa.
- Ei. – chamei ao me aproximar, e só de encarar seus olhos entristecidos eu já senti vontade de chorar. – Ah, não, Leo...
- O que foi? – ele perguntou, puxando-me pela mão esquerda para um selinho demorado.
- Se você ficar me olhando desse jeito, não vai ajudar em nada a minha partida. – confessei, evitando encará-lo. Eu só podia estar me aproximando da TPM.
- É culpa sua. Você me deixou muito mal acostumado. Muito elevado à centésima potência. – ele começou a brincar com o meu mais novo colar, que continha uma conta de argila, cujo desenho era um pequeno cupido, além do amável pingente que ganhei de aniversário. A mesma conta se fazia presente no colar dele, que possuía mais duas.
- Eu não vou aparecer só no próximo verão. Confie em mim. Vou fazer tudo o que eu posso para voltar antes do que você imagina. Prometo. – as palavras escaparam dos meus lábios com facilidade. Nem que eu tivesse de implorar por uma carona do meu pai, ou polir o carro do sol nos finais de semana, ou então gastar as milhas do cartão de crédito da mamãe, eu voltaria o mais rápido possível para Nova York.
- Me sinto mal por não ter condições de fazer o mesmo por você. – Leo falou, um pouco embargado. Eu não aguentei ver aquilo e lhe puxei para um abraço, antes que um nó mais intenso se formasse em minha garganta.
- Não, não, não! – exclamei. – Chega disso. Vamos pegar minha mala. Já tenho que me encontrar com Percy e Annabeth. Infelizmente...
Ele concordou e nós adentramos o chalé de Apolo. Tentei guardar a imagem daquele lugar com todas as forças, certa de que as lembranças poderiam alegrar qualquer dia ruim. Ficamos sentados na minha cama vazia por alguns minutos, apenas curtindo um ao outro e dando risada das fotos da noite passada. Até a hora em que meus irmãos e Piper adentraram o chalé e anunciaram que Percy e Annabeth já me esperavam na colina.
Me despedi de cada um dos meus irmãos. Todos basicamente me esmagaram, mas os que pareciam mais sentidos era Johnny e Will. Pedi para Johnny que cuidasse de Leo por mim, por mais que isso soasse muito insano, pois Johnny tinha um terço dos neurônios de uma pessoa normal. Piper também chegou perto de quebrar minhas costelas, mas estava certa de que nos veríamos sempre em L.A, graças à proximidade dos bairros em que morávamos. De qualquer forma, tive que dar um último aceno e subir rumo ao pinheiro de Thalia, que delimitava os limites do acampamento. Leo insistiu em carregar minha mala, e de mãos dadas, alcançamos o topo da colina, onde Peleu, o dragão, dormia um sono pesado enrolado ao pinheiro.
- Adeus, Patricia Veloso. – Leo disse sem desentrelaçar seus dedos dos meus. Ele segurava minha mão com tanta firmeza que tinha dúvidas se a soltaria de fato.
- Isso não é um adeus. É um até breve. Se cuida, garoto dos reparos. E não se esqueça, aqui ou em Los Angeles, eu sou sua namorada. Não vou deixar de ser.
Eu abri um sorriso que foi acompanhado, e logo depois ele me puxou para um abraço apertado e demorado. Inalei seu cheiro mais uma vez antes de entrar no carro, que me esperava lá embaixo. Percy e Annabeth olhavam a cena a alguns metros de nós.
- Eu vou me cuidar pra ver esse sorriso de novo. – trocamos o tão esperado beijo de despedida, que não foi nem mais ou menos intenso que os outros, mas teve um gosto diferente, como se através dele pregássemos que não nossas almas não iriam se distanciar. Leo acenou para Percy e Annabeth, e então eu peguei a mala do chão e dei as costas para descer a colina, relutante. Olhei para trás apenas para registrar sua imagem naquele momento, parado no alto ao lado de um pinheiro, os cabelos cacheados balançando levemente com o vento, as mãos nos bolsos dos jeans esfarrapados, vestindo uma camiseta branca, suspensórios e sua bota de trabalho. Ainda bem que eu tinha provas de que ele e tudo o mais que vivi, foi real. Era difícil acreditar que consegui ser tão feliz em tão pouco tempo.
Percy me deu um tapinha nas costas e Annabeth sorriu quando me juntei à eles, me encorajando a continuar. Ao entrar no carro, já não podia mais ver Leo e nem o dragão enrolado no pinheiro. Mas sabia que não tinha vivido um sonho; e mesmo que tivesse, teria sido o mais incrível de toda minha vida.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Deixe-nos um comentário, please! Preciso adicionar que, não sei vocês, mas Lettie é meu OTP hahahaha! Enfim, vejo vocês no próximo capítulo e não pensem que não leio os comentários, porque sim! Eu leio! Obrigada desde já ♥
Beijinhos xxx Let